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Qualidade Ecológica da Água: Monitoramento com bioindicadores e análise do uso e ocupação da terra em uma Bacia Hidrográfica Urbana / Ecological Water Quality: Monitoring with bioindicators and analysis of land use and occupation in an Urban Watershed

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 11, p. 88187-88200, nov. 2020. ISSN 2525-8761

Qualidade Ecológica da Água: Monitoramento com bioindicadores e análise do

uso e ocupação da terra em uma Bacia Hidrográfica Urbana

Ecological Water Quality: Monitoring with bioindicators and analysis of land use

and occupation in an Urban Watershed

DOI:10.34117/bjdv6n11-296

Recebimento dos originais: 20/10/2020 Aceitação para publicação: 15/11/2020

Maria Helena da Silva Andrade

Doutora em Ecologia pela Universidade de São Paulo (USP) - 2011 Instituição: Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS)

Endereço: Cidade Universitária, Av. Costa e Silva, s/n - Pioneiros, Campo Grande - MS, 79070-900 E-mail: mhelena.pantanal@hotmail.com

Sarah Couto de Freitas

Mestranda em Geografia Física (USP) Instituição: Universidade de São Paulo (USP)

Endereço: Av. Prof. Luciano Gualberto, 298-460 – FFLCH, Cidade Universitária - Butantã, São Paulo - SP, 05508-010

E-mail: sarahhcouto17@gmail.com

Alan dos Santos Eleutério

Graduando em Geografia – Bacharelado (UFMS)

Instituição: Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS)

Endereço: Cidade Universitária, Av. Costa e Silva, s/n - Pioneiros, Campo Grande - MS, 79070-900 E-mail: alaneleuteriocg@gmail.com

RESUMO

Historicamente, os cursos hídricos sofrem alterações a fim de satisfazer as necessidades humanas. Com o crescimento das áreas urbanizadas, tais alterações, muitas vezes, culminam em consequências drásticas para os assentamentos humanos. Assim, muitos corpos hídricos foram tamponados ou sofreram medidas estruturantes que os modificaram grandemente. Agora, com um maior entendimento cientifico acerca dos processos hídricos, há a busca pela recuperação da qualidade e biodiversidade dos mesmos. Na Bacia do Córrego Segredo, em Campo Grande/MS, várias alterações podem ser observadas, como canalização, desvio, tamponamento, criação de Áreas Úmidas Antropogênicas (AUAs). A partir dessa realidade, analisou-se por meio de índices bióticos a qualidade ecológica da água da bacia e a relação com as formas de uso e ocupação da terra. Foram avaliados diversos fatores, como pressão da urbanização, produção hortifrutigranjeira, AUAs, ocupações irregulares, entre outros. Para essa comparação, foi utilizado o índice BMWP (Biological Monitoring Working Party), aplicado em 5 pontos amostrais com tréplica em dezembro de 2018, época chuvosa. Constatou-se degradação de matas ciliares, erosão e assoreamento, descarte de resíduos sólidos, poluição. Os resultados atribuíram a classificação “péssima” pelo BMWP aos córregos da bacia hidrográfica, reforçando a necessidade e importância da utilização de bioindicadores e imagens de satélite no monitoramento, embasando ações dos planejamentos urbano e ambiental.

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Palavras-chave: Bacia Hidrográfica do Córrego Segredo, Macroinvertebrados bentônicos, Áreas

Úmidas Antropogênicas, BMWP, Planejamento Ambiental.

ABSTRACT

Historically, water courses have changed in order to satisfy human needs. With the growth of urbanized areas, such changes often culminate in drastic consequences for human settlements. Thus, many water bodies have been buffered or have undergone structural measures that have greatly modified them. Now, with a greater scientific understanding about water processes, there is the search for the recovery of their quality and biodiversity. In the Segredo Stream Basin, in Campo Grande/MS, several alterations can be observed, such as canalization, deviation, tamponade, creation of Anthropogenic Wetlands (AUAs). From this reality, the ecological quality of the basin water and the relationship with the forms of land use and occupation were analyzed through biotic indexes. Several factors were evaluated, such as urbanization pressure, fruit and vegetable production, AUAs, irregular occupations, among others. For this comparison, the BMWP (Biological Monitoring Working Party) index was used, applied in 5 sample points with a replica in December 2018, rainy season. Degradation of riparian forests, erosion and silting up, disposal of solid waste, pollution were found. The results attributed the BMWP's "bad" classification to the streams of the watershed, reinforcing the need and importance of the use of bioindicators and satellite images in monitoring, underpinning urban and environmental planning actions.

Keywords: Segredo Stream Basin, Benthic Macroinvertebrates, Anthropogenic Wetlands, BMWP,

Environmental Planning.

1 INTRODUÇÃO

A bacia hidrográfica como unidade de monitoramento e planejamento dos recursos hídricos foi legalmente proposta na Lei Federal nº 9.433/97, que instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) e criou o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. A unidade bacia hidrográfica é um instrumento indispensável e pode ser utilizado para trabalhar a participação social nas tomadas de decisão dos conselhos gestores (LEAL, 2000).

Nelas há a integração dos fenômenos e dinâmicas sociais, sendo considerada indispensável na análise por diversos autores (TUNDISI & MATSUMURA-TUNDISI, 2011) e, de acordo com Leal (2000), na abordagem sistêmica, apresentam interação entre os elementos naturais e sociais, além da indivisibilidade da água, em suas fases meteórica, superficial ou subterrânea.

Com isso, a gestão dos recursos hídricos e o planejamento ambiental foram facilitados pelo agrupamento de informações em um espaço natural definido. Os corpos de água podem modelar a paisagem, possibilitando a observação dos elementos naturais e sociais em um determinado espaço, sendo um reflexo do uso e ocupação existente na bacia (LEAL, 2000). Ainda, a paisagem é resultado das interações nos meios físico, biológico, político, social e cultural (TREVISAN E MOSCHINI, 2020).

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 11, p. 88187-88200, nov. 2020. ISSN 2525-8761 Tucci (2005) relata que a expansão urbana pode ocupar áreas muito próximas a mananciais e cursos de água, comprometendo a sustentabilidade hídrica das cidades. No município de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, essa afirmação é observada em todas as 11 bacias hidrográficas urbanas, culminando em processos de erosão e assoreamento, descarte inapropriado de resíduos sólidos, entre outras problemáticas ambientais.

Em função da identificação dos problemas supracitados, constatou-se a necessidade de aprofundar o estudo sobre qualidade ecológica da água, recurso essencial para a manutenção das dinâmicas natural e social, relacionando os resultados encontrados com os processos de uso e ocupação da terra. Assim, a qualidade ecológica da água foi avaliada por meio do índice biótico BMWP (Biological Monitoring Working Party), definido e explicado ao longo do trabalho.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

O município de Campo Grande é a capital de Mato Grosso do Sul (MS), Brasil, localizado entre as coordenadas geográficas S 20° 26’ 34 e W 54° 38’ 45”. O estado é conhecido por sua alta biodiversidade, com representações dos biomas Cerrado, Pantanal e fragmentos da Mata Atlântica. No entanto, na cidade de Campo Grande, apenas o Cerrado é identificado, com elementos naturais importantes como veredas e matas ciliares.

A cidade possui uma complexa rede hidrográfica e, das 11 bacias urbanas, 1 foi escolhida por, além de ser uma das maiores em extensão, é uma das principais contribuintes para o sistema de drenagem urbana: a Bacia Hidrográfica do Córrego Segredo (BHCS) – Figura 1. Nela estão, total ou parcialmente, 17 bairros dos 74 existentes no município. A bacia, que possui 45,38 km² (PLANURB, 2017), é considerada importante área de cabeceira, com dezenas de nascentes identificadas pelos órgãos da prefeitura e do estado.

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Figura 1 – Localização da Bacia Hidrográfica do Córrego Segredo, Campo Grande/MS

Fonte: De Freitas et al., 2020.

Com relação aos solos, a classe dominante é o Latossolo Vermelho-Escuro (CAMPO GRANDE, 2017). O clima é predominantemente tropical, quente e úmido no verão e menos chuvoso e mais ameno no inverno (BARBOSA e SILVA, 2015).

A população foi estimada em 855.711 no ano de 2018, com uma unidade territorial de 8.092,951 km² e densidade demográfica de 97,22 hab./km² (IBGE, 2018; IBGE, 2010). Na cidade, há 33 córregos distribuídos pelas 11 bacias (BARBOSA e SILVA, 2015). A BHCS possui 5 córregos, sendo o principal o Córrego Segredo, com 7 áreas de nascentes, seguido do Seminário, Cascudo, Furtuoso e Maracajú (CAMPO GRANDE, 2017).

A pesquisa foi desenvolvida com base em uma análise integrada da área de estudo, a BHCS, contemplando as seguintes etapas: revisão bibliográfica da temática e levantamento de dados primários e secundários. Os dados secundários foram adquiridos por meio de veículos oficiais da prefeitura e do estado, além de outras fontes oficiais.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 11, p. 88187-88200, nov. 2020. ISSN 2525-8761 Para calcular a qualidade ecológica da água, optou-se pela utilização do índice biótico BMWP, adaptado por Junqueira et al. (2000), de origem britânica. Utiliza macroinvertebrados bentônicos para a caracterização da qualidade da água, pois são organismos que, por viverem no substrato de rios, riachos e corredeiras, têm sua população aumentada ou diminuída quando há alteração na composição hídrica natural. Também, podem responder às perturbações no ambiente aquático, em qualquer período e de forma rápida.

Para a aplicação do índice, é necessário realizar coleta de sedimentos, triar e identificar os espécimes em nível de Família. A coleta foi realizada em dezembro/2018 (estação chuvosa), em 5 pontos da BHCS. Os pontos foram escolhidos com base nos locais onde a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano de Campo Grande (SEMADUR) realiza as coletas do Índice de Qualidade das Águas (IQA), por meio do programa “Córrego Limpo, Cidade Viva”. A prefeitura monitora as águas superficiais da bacia através de 10 pontos. No entanto, apenas a metade foi selecionada, pois, dos outros 5, 3 estão canalizados e 2 muito próximos de um dos pontos selecionados.

Utilizou-se o amostrador Surber, com malha de 0,250 mm e área de 0,09 m². Em cada estação de amostragem, foram coletadas três amostras, abrangendo diferentes microhabitats. O material coletado foi armazenado em sacos plásticos, fixado com formaldeído a 4% e preservado em álcool 70% (MONTEIRO et al., 2008).

Em laboratório, ocorreu a lavagem do sedimento, em peneira cuja malha de abertura é de 0,5 mm. Em seguida, foram realizados os seguintes procedimentos:

1. Triagem: realizada em mesa de luz e sob estereomicroscópio;

2. Identificação dos organismos: identificados até o nível taxonômico de Família, sendo para isso utilizadas chaves de identificação reconhecidas e avalizadas cientificamente, tais como Merritt & Cummins (1996), Fernández & Domínguez (2001) e Mugnai (2005).

Neste índice, há uma ordenação das Famílias encontradas, dividindo-as em 10 grupos, com valores numéricos pré-estabelecidos designados a cada grupo. O valor está de acordo com a capacidade de tolerância à poluição, sendo apenas um exemplar de cada Família considerado, separados por classe (Tabela 1). Quanto mais próximo o táxon estiver de 0, mais tolerante a poluição será; quanto mais próximo de 10, mais sensível.

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Tabela 1 – Valores atribuídos às classes de águas com método BMWP modificado por Junqueira et al. (2000)

CLASSE SCORE QUALIDADE DA ÁGUA

1 ≥ 81 Excelente

2 80 – 61 Boa

3 60 - 41 Regular

4 40 – 26 Ruim

5 ≤ 25 Péssima

Fonte: elaborado pelos autores, 2020.

Após a identificação dos organismos coletados, cada Família encontrada pontua de 0 a 10 na classificação de Junqueira et al. (2000), e as pontuações são somadas para definir o Score do ponto amostrado, indicando a qualidade ecológica da água.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A análise do uso e ocupação da terra indicou que, o alto curso do córrego principal apresenta, predominantemente, dinâmicas rurais em área urbana. Ainda, possui um número considerável de vazios na unidade, com o uso voltado às atividades rurais, com forte presença de produção hortifrutigranjeira, além de áreas de pasto para criação bovina. O médio curso está em transição, onde observa-se o processo de urbanização avançando em áreas antes ocupadas por chácaras com produção de subsistência. Já o baixo curso é caracterizado por dinâmicas totalmente urbanas, com 100% de impermeabilização do leito córrego principal e seus afluentes.

Em relação ao BMWP, foram encontrados 11 grupos taxonômicos (Famílias) de macroinvertebrados bentônicos: Chironomidae, Oligochaeta, Ceratopogonidae, Thiaridae, Ostracoda, Gomphidae, Glossiphonidae, Psychodidade, Elmidae, Baetidae e Planorbidae (Tabela 2).

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Tabela 2. Resultados dos grupos taxonômicos encontrados nos pontos de coleta na Bacia Hidrográfica do Córrego Segredo, Campo Grande/MS

PONTOS IQA BMWP GRUPOS CARACTERÍSTICAS

SEG 01 BOM PÉSSIMO 13

Chironomidae, Oligochaeta, Ceratopogonidae, Planorbidae,

Glossiphonidae

Erosão, assoreamento, ocupação irregular, presença

de mata ciliar, muitos resíduos sólidos

SEG 06 BOM PÉSSIMO 21

Chironomidae, Oligochaeta, Ceratopogonidae, Elmidae, Thiaridae, Ostracoda, Gomphidae

À jusante da produção hortifrutigranjeira, erosão,

assoreamento, grande quantidade de macrófitas

aquáticas

SEG 09 BOM PÉSSIMO 7

Chironomidae, Oligochaeta, Ceratopogonidae

Erosão, assoreamento, resíduos sólidos, mata ciliar

de espécies exóticas, à jusante da confluência dos

braços principais

CAS 01 BOM PÉSSIMO 14

Chironomidae, Oligochaeta, Ceratopogonidae, Psychodidae,

Glossiphonidae

Lavoura com uso de agrotóxicos, esgoto, erosão,

assoreamento, alteração do leito, ausência de mata ciliar

CAS 02 BOM PÉSSIMO 24

Chironomidae, Oligochaeta, Thiaridae, Ostracoda, Glossiphonidae, Baetidae,

Psychodidae

Erosão, assoreamento, alteração do leito, ausência

de mata ciliar, resíduos sólidos Fonte: elaborado pelos autores, 2020.

O resultado do BMWP foi comparado ao IQA adaptado pela CETESB (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) e disponibilizado em forma de relatórios anuais pela SEMADUR. Isso devido ao fato que, apesar do IQA ser um índice eficiente, utiliza parâmetros físicos e químicos, obtendo uma realidade pontual do ambiente, enquanto que o BMWP, por ser um índice biótico, indica os efeitos das ações antrópicas ou naturais através da flutuação (densidade e riqueza) das comunidades que ali habitam, permitindo a identificação dos fatores que atuam na bacia hidrográfica, a longo prazo (CHALAR, 1994).

Essa comparação foi realizada para demonstrar que, para que se possa inferir sobre a qualidade hídrica de uma bacia hidrográfica, não é indicado a utilização de apenas índices físicos e químicos, mas também a incorporação de índices bióticos, que “permitem caracterizar a qualidade da água não apenas no instante de sua medida mas refletindo também sua situação em um período de tempo consideravelmente mais longo, permitindo verificar-se os efeitos de um poluente de forma segura e precisa” (PAULA, 2008, p. 20).

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 11, p. 88187-88200, nov. 2020. ISSN 2525-8761 Quando comparados os valores dos índices IQA e BMWP, observa-se uma discrepância entre eles (Figura 2 e 3). Isso pode ser explicado pelo fato de os macroinvertebrados bentônicos responderem a uma série de distúrbios e poderem efetivamente sintetizar a recente história das condições ambientais em um rio (ROSENBERG & RESH, 1993 apud SILVEIRA, 2004, p.33). Também, o índice atua como ferramenta de vigilância, possibilitando o monitoramento dos ecossistemas aquáticos, detectando impactos pontuais ou devido às atividades produtivas (SILVEIRA, 2004).

Figura 2. Bacia Hidrográfica do Córrego Segredo e sua Rede de Monitoramento do Índice de Qualidade das Águas (IQA)

Fonte: De Freitas et al., 2020.

Todos os grupos identificados de macroinvertebrados bentônicos não pontuaram acima de 5 (Figura 3), seguindo o BMWP adaptado por Junqueira et al. (2000). Considerando a situação dos cursos hídricos observada in loco, os resultados do BMWP condizem mais com a realidade da bacia hidrográfica (Tabela 2).

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Figura 3. Classificação da qualidade ecológica da água através do índice Biological Monitoring Working Party (BMWP) na Bacia Hidrográfica do Córrego Segredo, Campo Grande/MS

Fonte: De Freitas et al., 2020.

Resíduos sólidos, erosão, assoreamento, aporte de sedimentos, ausência de mata ciliar em diversos trechos, uso do solo em Áreas de Preservação Permanente, desvio do leito, captação de água por meio de bombas para fins de irrigação, despejo clandestino de esgoto são alguns dos problemas observados durante os trabalhos de campo realizados. Essas poluições, boa parte provocadas pelo homem, causam prejuízos aos seres vivos e às diversas atividades ligadas aos recursos hídricos (MEYBECK & HELMER, 1996). Ao mesmo tempo, foi possível constatar que parte dos moradores de ocupações irregulares ao longo da bacia dependem exclusivamente da água desses córregos sem qualquer tratamento prévio, inclusive, para beber, cozinhar e garantir a higienização básica.

No que diz respeito a composição da fauna aquática dos corpos hídricos, observou-se uma diminuição da riqueza de famílias conforme a água percorre a bacia no sentido nascente-foz, à exceção do córrego Cascudo, onde a riqueza aumentou discretamente. Riqueza de espécies é o número de espécie/família que se tem em uma certa comunidade ou área (WILSEY et al., 2005).

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 11, p. 88187-88200, nov. 2020. ISSN 2525-8761 Sandin & Johnson (2000) afirmam que, quanto à ocupação do espaço, modificações na composição das populações de macroinvertebrados bentônicos têm sido empregadas eficientemente como ferramenta de monitoramento de poluição hídrica.

A Figura 4 compartimentaliza a bacia em 3 setores, possibilitando uma análise de cada enquadramento conforme seu tipo de uso e ocupação. Os setores foram divididos seguindo o nível de urbanização da bacia, ou seja, Setor A - baixo índice de urbanização, com dinâmicas rurais, Setor B - área de transição, com alto índice de vazios urbanos, porém, já mais urbanizada que o Setor C - alto índice de urbanização. Essas diferenciações podem ser visualizadas por imagens de satélite ou ortofoto.

Figura 4 – Setorização da Bacia Hidrográfica do Córrego Segredo de acordo com o grau de urbanização

Fonte: De Freitas et al., 2020.

No alto curso do Córrego Segredo, próximo às nascentes, acredita-se que a riqueza de taxa se apresenta mais elevada (7) devido às características das atividades predominantemente rurais, como áreas de pasto, lavouras, produção de verduras e frutas. Além disso, é a área da bacia onde se encontram fragmentos florestais em maior número, inclusive, uma área protegida por lei, o Parque Estadual Matas do Segredo.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 11, p. 88187-88200, nov. 2020. ISSN 2525-8761 Ainda assim, o resultado do BMWP apontou a qualidade ecológica da água como “péssima”. Isso pode estar relacionado, além das áreas de pasto e lavouras, ao desvio de leito e captação da água para Áreas Úmidas Antropogênicas (AUAs) que, de acordo com a legislação brasileira, são produzidas pelo homem, com o fim de atender suas necessidades, como, por exemplo, açudes, tanques de aquicultura e barragens (MMA, 2015).

As AUAs são definidas pelo Comitê Nacional de Zonas Úmidas (CNZU), Recomendação nº7 de 11 de junho de 2015 (MMA, 2015) e possuem diversos usos: irrigação, recreação, dessedentação animal, captação para uso humano, entre outros. Foram identificadas 32 AUAs na bacia, inclusive em Áreas de Preservação Permanente, sendo necessário maiores estudos sobre seus impactos na qualidade ecológica da água (DE FREITAS E ANDRADE, 2019).

No médio curso, registrou-se o menor valor de riqueza de taxa (3). É área de transição, uma vez que suas águas recebem o impacto do Setor A, mas, também, observa-se o processo de urbanização mais avançado, com a presença de importante atividade comercial, como postos de gasolina, muito próximos à rede hidrográfica.

O Córrego Cascudo está localizado no baixo curso da BHCS e, ao contrário do curso principal, teve discreto aumento na riqueza de taxa. Tal fato pode ser esclarecido considerando que na área de nascente do córrego o uso é caracterizado por lavouras, com utilização de agrotóxicos para o controle de pragas. Já na sua foz, apesar da ausência de mata ciliar, não há ocupação na APP, gerando menor pressão.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base nos resultados obtidos, evidencia-se a importância da inclusão de ferramentas bióticas em redes de monitoramento da qualidade de água urbana, sendo que estas têm baixo custo e fácil aplicabilidade. Apenas dados físicos e químicos podem não refletir a realidade da bacia. A bacia estudada urge de intervenções da gestão pública já que os problemas identificados interferem diretamente na qualidade da água.

O monitoramento deve ser contínuo, amostrando outras estações do ano, para que se possa inferir com maior confiabilidade sobre as águas urbanas de Campo Grande/MS. Assim, é possível garantir um planejamento urbano mais fiel a realidade e, consequentemente, mais eficaz. Além disso, o estudo dos impactos das Áreas Úmidas Antropogênicas que, como citadas, podem ter relação com o resultado “péssimo”, deve ser aprofundado, além do entendimento de suas dinâmicas.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 11, p. 88187-88200, nov. 2020. ISSN 2525-8761 A pressão urbana nas bacias hidrográficas é intensa e provoca diversos impactos negativos, portanto, é imprescindível que planejadores e gestores públicos passem a adotar mecanismos acessíveis e eficazes, como o monitoramento com bioindicadores, para que ações preventivas e mitigadoras sejam tomadas antes da situação tornar-se irreversível.

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REFERÊNCIAS

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Imagem

Figura 1 – Localização da Bacia Hidrográfica do Córrego Segredo, Campo Grande/MS
Tabela 1 – Valores atribuídos às classes de águas com método BMWP modificado por Junqueira et al
Tabela 2. Resultados dos grupos taxonômicos encontrados nos pontos de coleta na Bacia Hidrográfica do Córrego Segredo,  Campo Grande/MS
Figura 2. Bacia Hidrográfica do Córrego Segredo e sua Rede de Monitoramento do Índice de Qualidade das Águas (IQA)
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