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Um olhar para as emissões de gases de efeito estufa dos telhados das moradias do semiárido de Minas Gerais/ A look at greenhouse gas emissions from roof in semiarid region of Minas Gerais state

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.6, p. 34980-34994 jun. 2020. ISSN 2525-8761

Um olhar para as emissões de gases de efeito estufa dos telhados das

moradias do semiárido de Minas Gerais

A look at greenhouse gas emissions from roof in semiarid region of Minas

Gerais state

DOI:10.34117/bjdv6n6-149

Recebimento dos originais:08/05/2020 Aceitação para publicação:06/06/2020

Luciane Cleonice Durante

Doutora em Física Ambiental, docente da Faculdade de Arquitetura, Engenharia e Tecnologia, Universidade Federal do Mato Grosso, Cuiabá – MT

E-mail:luciane.durante@hotmail.com

Samira Gomes Alencar

Graduanda em Engenharia Civil, Faculdade de Arquitetura, Engenharia e Tecnologia, Universidade Federal de Mato Grosso, Universidade Federal do Mato Grosso, Cuiabá - MT

E-mail:samiragmes@gmail.com

Paulo Cesar Venere

Doutor em Genética e Evolução, docente do Instituto de Biociências, Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá - MT

E-mail:paulo.venere@gmail.com

Raoni Florentino da Silva Teixeira

Doutor em Ciências da Computação, docente do Instituto da Computação, Universidade Federal do Mato Grosso, Cuiabá -MT

E-mail:raoniteixeira@gmail.com

Onélia Carmem Rossetto

Doutora em Desenvolvimento Sustentável, docente do Instituto de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Federal do Mato Grosso, Cuiabá - MT

E-mail:carmemrosseto@gmail.com

Olivan da Silva Rabello

Doutor em Economia. Docente da Faculdade de Administração e Ciências Contábeis, Universidade Federal do Mato Grosso, Cuiabá – MT

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.6, p. 34980-34994 jun. 2020. ISSN 2525-8761

RESUMO

Os insumos da indústria da construção civil envolvem processos produtivos com elevados gastos energéticos. A adoção de materiais construtivos disponíveis no local, bem como os de baixo processamento industrial, são indicadores de desenvolvimento sustentável, pois minimizam os recursos com energia e transporte, evitando consequentes emissões de gases de efeito estufa. Assim sendo, o objetivo deste estudo é analisar comparativamente a emissão de dióxido de carbono (CO2) proporcionada por Sistemas de Vedação Vertical (SVV) convencionais adotados nas moradias dos assentamentos da reforma agrária – de telhas de fibrocimento e cerâmica, associadas à forro de PVC - e a tipologia cascaje, uma telha de ferrocimento moldada no local da obra. A metodologia consistiu na elaboração da contabilidade das emissões de carbono dos SVVs analisados, desde o processo produtivo dos componentes até o transporte do seu local de fabricação até um assentamento na região do semiárido mineiro. Os resultados obtidos revelam a cascaje com 12 e 29% a menos emissão, comparado ao SVV de telha cerâmica e de fibrocimento, respectivamente. Desta forma, os resultados subsidiam projetos futuros que com foco nas habitações de baixo impacto ambiental em assentamentos da reforma agrária brasileira.

Palavras – Chave: Emissão de CO2. Cascaje. Telhas convencionais.

ABSTRACT

The raw material of the construction industry involve production processes with high energy costs. The adoption of materials available at the site, as well as those with low industrial processing, are indicators of sustainable development, since they minimize resources with energy and transport, avoiding consequent emissions of greenhouse gases.Therefore, the objective of this study is to analyze comparatively the emission of carbon dioxide (CO2) provided by conventional Vertical Sealing Systems (SVV) adopted in the houses of the agrarian reform settlements - of fiber cement and ceramic tiles, associated with the PVC ceiling - and the cascaje typology, a ferrocement tile molded in the construction site. The methodology consisted of preparing the carbon emissions accounting for the SVVs analyzed, from the production process of the components to the transportation from their manufacturing site to a settlement in the semi-arid region of Minas Gerais. The results obtained reveal the slab with 12 and 29% less emission, compared to the SVV of ceramic tile and fiber cement, respectively. In this way, the results support future projects that focus on low-impact housing in Brazilian agrarian reform settlements.

Keywords: Emission of CO2. Cascaje. Conventional tiles.

1 INTRODUÇÃO

A preocupação com a liberação dos Gases do Efeito Estufa (GEE), não é hodierno, uma vez que em 1997 foi firmado o primeiro acordo entre os países desenvolvidos, considerados grandes responsáveis pelas mudanças climáticas, visando reduzir a emissão de poluentes - o Protocolo de Quioto (BRASIL, 2002).

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.6, p. 34980-34994 jun. 2020. ISSN 2525-8761 Mais recentemente, o Acordo de Paris ratificou a importância de diminuir a emissão de Gases de Efeito Estufa. Nele, o Brasil comprometeu-se a reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 37% e 43% abaixo dos níveis de 2005, em 2025 e 2030, respectivamente. Considerando que, segundo Benite (2011), a indústria da construção civil é responsável por um terço do total das emissões de gases de efeito estufa, esse setor deve repensar seus processos produtivos e o modo de construção das edificações, a fim de minimizar os impactos ambientais e os efeitos nas mudanças climáticas.

A avaliação dos impactos ambientais de um processo ou produto se dá por meio da avaliação do ciclo de vida, que consiste na compilação e análise das entradas e saídas de um sistema ao longo do seu ciclo de vida (ISO 14040, 2009). Entende-se por ciclo de vida de uma edificação a fase de produção dos materiais construtivos, a construção propriamente dita, o uso e manutenção da edificação e o descarte dos componentes, em todo ou em partes (TAVARES, 2006). O carbono embutido de um material ou energia incorporada compreende a quantidade de carbono a ele intrínseca, adquirida durante sua formulação química e seu processo de extração e fabricação (op. cit.).

Os sistemas de coberturas desempenham uma função importante nas edificações, proporcionando segurança e conforto. Atualmente, as tipologias de telhas mais utilizadas nas moradias brasileiras são as de fibrocimento e de cerâmica (IBGE, 2010). Existem outras tipologias, consideradas alternativas e de baixo impacto ambiental, por serem fabricadas com materiais disponíveis localmente e de processo produtivo que envolve menos energia e calor.

Nesse sentido, é importante analisar a aplicabilidade dessas tipologias alternativas de telhas nas habitações dos assentamentos da reforma agrária brasileira, sob a ótica do impacto ambiental. O amparo legal se dá pela Lei de Assistência Técnica (Brasil, 2010), que objetiva promover o desenvolvimento rural sustentável, a melhoria da qualidade de vida de seus beneficiários e a apropriação de inovações tecnológicas e organizativas adequadas ao público beneficiário, além da integração deste ao mercado produtivo nacional. Nesse sentido, buscam-se modelos de coberturas com menores geração de gabuscam-ses do efeito estufa, primordialmente, o gás carbônico (CO2).

O objetivo desse trabalho é analisar comparativamente as emissões de CO2, considerando a energia incorporada e a do transporte, de telhas comercialmente disponíveis (fibrocimento e cerâmica) e da tipologias moldadas in loco (telha abobadada autoportante – cascaje), subsidiando as decisões para aplicação em uma habitação de baixo impacto ambiental nos assentamentos da reforma agrária localizados no semiárido mineiro.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.6, p. 34980-34994 jun. 2020. ISSN 2525-8761

2 MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 CARACTERIZAÇÃO DAS TIPOLOGIAS DE TELHAS

Foram analisados os Sistemas de Vedação Vertical (SVV) apresentados no Quadro 1 e a seguir descritos, sendo adotada forro de PVC para os dois SVV comerciais, forro de madeira para o SVV em cascaje, que dispensa o forro.

Quadro 1 – Sistemas de Vedação Vertical objetos de estudo

Disponíveis comercialmente Moldada in loco Telhas de fibrocimento apoiadas em estrutura de madeira com

forro PVC

Cascaje: telhas abobadadas em ferro cimento estruturada em bambu

Telhas cerâmicas apoiadas em estrutura de madeira com forro PVC

Fonte: Autores

a) Disponíveis comercialmente

a.1) Telhas de fibrocimento apoiadas em estrutura de madeira

As telhas de fibrocimento são caracterizadas de acordo com a NBR 7581-1 (ABNT, 2014), como resultado da mistura homogênea de cimento Portland, na presença de água com agregados, adições ou aditivos de fibras minerais. Sua produção envolve processos produtivos com elevado gasto energético. Por ser leve, admite estrutura de madeira leve ou em perfis metálicos.

a.2) Telhas cerâmicas apoiadas em estrutura de madeira sobre forro de PVC

A telha cerâmica selecionada foi o modelo Plan, normatizada pela NBR 15310 (ABNT, 2005) com peso de 1,850kg e dimensões 13,5x45 cm. As telhas cerâmicas são fabricadas com argila, por prensagem ou extrusão, além de passarem pelo processo de queima para assegurar os requisitos assegurados pela sua normatização. É mais pesada que a telha de fibrocimento, e por isso, estrutura-se em madeira serrada de porte ligeiramente maior ou perfis metálicos. b) Telhas abobadadas em ferro cimento estruturada em bambu (cascaje)

As telhas do tipo cascaje consistem em uma peça curva, composta de ferrocimento e argamassa de cimento e areia estruturada com tela de aço ou de tecido, que após a cura é autoportante (LENGEN, 2004). O formato dessa tipologia é baseado na curva catenária (Figura 2), formulada por uma equação matemática (Equação 1), a qual consegue suportar esforços maiores, além de grandes vãos.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.6, p. 34980-34994 jun. 2020. ISSN 2525-8761 𝑓(𝑥) =𝑎 2∗ (𝑒 𝑥 𝑎+ 𝑒 −𝑥 𝑎) − 𝑎 (Equação 1)

Figura 2 – Perfil da cascaje determinada pela curva catenária.

Fonte: Os autores.

Os materiais utilizados para a composição da cascaje de 50x100cm, segundo Lengen (2004) são a madeira compensada para fazer o molde, tela metálica (de galinheiro) com abertura de malha não superior a 3cm ou saco de sisal, vergalhões de aço CA 50 ou bambu, areia e cimento.

No processo de fabricação, constrói-se o molde utilizando-se caibros, ripas, e o molde em compensado. O molde possui largura de 50cm, o comprimento 1m e a espessura pode varia de 1cm no topo a 3cm nas bordas. Após isso, deve-se unir as partes da forma da telha do tipo cascaje, além de fazer um gabarito para que, caso a telha ultrapasse as espessuras requeridas, possa haver a correção (Figura 3a e 3b).

Na argamassa da telha utiliza-se uma composição de ferrocimento, uma mistura de areia e cimento no traço de 2:1, respectivamente, adicionando água durante o processo de mistura até que adquira consistência plástica, facilitando, assim, sua aplicação no molde.

Na execução do processo de construção da telha, deve-se forrar o molde com uma lona plástica e, em seguida, aplicar a mistura inicialmente na base, com espessura de 1,5 cm, onde será apoiado o vergalhão ou bambu. Posteriormente, coloca-se a tela sobre a pasta aplicada ao molde, com o intuito de que a massa a atravesse e permaneça em uma posição que será a metade da espessura da cascaje. Adiciona-se, então, o restante do composto e após a secagem de três dias (Figura 3e), desforma-se mantendo-a úmida nos primeiros sete dias para evitar rachaduras (Figura 3d e 3f). Dispostas lado a lado, já na cobertura, são dispostas varas de bambu entre elas (Figura 3g) e preenchidos os vãos com concreto ciclópico (Figura 3h). O

-40 -35 -30 -25 -20 -15 -10 -5 0 -25 -22 -19 -16 -13 -10 -7 -4 -1 2 5 8 11 14 17 20 23 V a ri a çã o da a lt ur a Variação do raio

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.6, p. 34980-34994 jun. 2020. ISSN 2525-8761 produto final tem espessura de cerca de um dedo (Figura 3i) e dispensa o uso de forro (Figura 3j). Pode-se passar piche para impermeabilizar ou assentá-la no telhado com leve inclinação, evitando seu acúmulo, que pode, inclusive, ser coletada em calha-beiral e destinada para reuso.

Figura 3: Processo de fabricação da cascaje.

Fonte: Adaptado de Lengen (2004) e Rangel (2017).

2.2 LOCAL DE ESTUDO

Considera-se como local de estudo, o município mais ao norte do estado de Minas Gerais, Juvenília, de coordenadas geográficas 14°15'46"S e 44° 09' 36"O, localizado na microrregião de Januária, Mesorregião Norte de Minas (Figura 4). Segundo o INCRA (2017), o estado de Minas Gerais possui 15675 famílias em 339 assentamentos dos quais 26% estão no semiárido.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.6, p. 34980-34994 jun. 2020. ISSN 2525-8761 A precipitação em Juvenília é superior a 100mm mensais apenas em cinco meses do ano, de novembro a março, caracterizando um clima quente e seco, com amplitude térmica média mensal sempre superior a 10ºC (Quadro 2).

Figura 4: Delimitação do local de estudo

Fonte: IBGE Cidades (2015)

Quadro 2 – Condições higrotérmicas do local do estudo

Mês Minima (°C) Máxima (°C) Precipitação (mm)

Janeiro 21° 31° 148 Fevereiro 21° 31° 111 Março 21° 31° 131 Abril 21° 31° 49 Maio 20° 30° 6 Junho 18° 29° 3 Julho 18° 29° 1 Agosto 19° 31° 2 Setembro 21° 33° 13 Outubro 22° 34° 64 Novembro 22° 31° 154 Dezembro 21° 31° 220 Fonte: https://www.climatempo.com.br/climatologia/3826/juvenilia-mg 2.3 ETAPAS METODOLÓGICAS

Propõe-se a quantificação uma análise comparativa das emissões de dióxido de carbono (CO2) de 1m2 de área coberta de cada tipo de Sistema de vedação Vertical (SVV), que engloba a telha (fibrocimento, cerâmica e cascaje), a estrutura de sustentação necessária e forro nas duas primeiras, nas seguinte etapas: quantificação dos materiais por unidade de área e a quantificação do carbono embutido do processo de extração da matéria prima, da fabricação os materiais e do transporte dessas até uma determinada localização.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.6, p. 34980-34994 jun. 2020. ISSN 2525-8761 A quantificação dos materiais foi elaborada considerando a composição unitária de serviços (CEF, 2008), desconsiderando as perdas nos processos construtivos.

Para a quantificação do carbono embutido do processo de extração da matéria prima, da fabricação das telhas e do transporte dessas até uma determinada localização, adotou-se a metodologia de LIMA, FERNANDES e DANTAS (2018). Assim, a emissão total de carbono de cada tipologia de telhas (Equação 2) é a somatória da emissão do processo produtivo dos materiais (Emissãomat) adicionada a emissão do transporte até o local da edificação (Emissãotr).

Emissão𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = 𝐸𝑚𝑖𝑠𝑠ã𝑜𝑚𝑎𝑡 + Emissão𝑡𝑟 (Equação 2)

As emissões do processo produtivo do material consideram os processos de fabricação envolvidos, tais como extração, queima, extrusão, dentre outros, associando-os a um fator de emissão de CO2, que é maior, tanto maior sejam as emissões decorrentes, conforme Equação 3, na qual desprezam-se as perdas no processo produtivo do local da obra.

Emissões mat = QTi x FEPj (Equação 3)

Onde:

Emissões mat = emissões dos materiais

QTi = a quantidade de produto j desejada na obra, em toneladas;

FEPj = fator de emissão de CO2 devido a utilização do produto j nas edificações dado em toneladas (t CO2/t), o qual pode ser estabelecido a partir da análise das emissões de gás carbônico do material.

Realizou-se o levantamento dos valores do Fator de Emissão do Produto (FEP) de Tavares (2006) e Costa (2012), que consideram inventários para o Brasil; Hammond e Jones (2008), para o Reino Unido e Moya, Pardo e Mercier (2010), para Sri Lanka (Tabela 1).

Hammond e Jones apresentam dados de materiais, sendo muito semelhantes aos apresentados por Costa (2012), diferindo mais significativamente apenas na madeira em chapa compensada e telhas cerâmicas, sendo os valores do primeiro maiores que o do segundo. Em caso de diferenças, Lima, Fernandes e Dantas (2018) consideraram a média aritmética dos valores de emissão das diversas referências bibliográficas e Santos et al. (2016) consideram os valores de todas as referências.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.6, p. 34980-34994 jun. 2020. ISSN 2525-8761 Nesse estudo, adotaram-se os valores de conforme Hammond e Jones (2008), já que alguns materiais não constam em Costa (2012), permitindo padronizar o inventário e comparações futuras com dados locais.

Tabela 1 - Fator de emissão dos materiais (FEP).

Materiais Fator de emissão do produto

(FEP) Referência

Areia 0,005 Hammond e Jones (2008)

Aço

1,37 Hammond e Jones (2008)

1,845 Costa (2012)

Brita 0,005 Hammond e Jones (2008)

Cimento

0,375 Tavares (2006)

0,785 Moya, Pardo e Mercier (2010)

0,73 Hammond e Jones (2008)

0,652 Costa (2012)

Madeira em chapa compensada

0,81 Hammond e Jones (2008) 0,331 Costa (2012) Madeira serrada 0,46 Hammond e Jones (2008) 0,405 Costa (2012) 0,409 Costa (2012) 0,4966 Costa (2012) PVC 2,29 Hammond e Jones (2008)

Telha Fibrocimento 2,11 Hammond e Jones (2008)

Telha Cerâmica

0,74 Hammond e Jones (2011)

0,111 Costa (2012)

0,78 Kumanayake et al. (2018) Fonte: Autores.

As emissões de carbono durante o transporte dos materiais têm relação com a distância percorrida, o modal e o tipo de combustível utilizado (Equação 4). O fator de emissão do diesel para transporte de cargas pesada de 0,0121 L/t/km (Costa, 2012 apud Truck, 2004).

As distâncias foram obtidas por meio de pesquisa de fornecedores locais, destacando que a madeira serrada é certificada e proveniente de reflorestamento.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.6, p. 34980-34994 jun. 2020. ISSN 2525-8761 Emissõestr = km x CO2 x FECj (Equação 4)

Onde:

Emissões Tr = emissões de transporte

Km = distância percorrida pelo veículo de transporte de matérias primas e produto acabado. CO2 = fator de emissão de consumo médio de determinado tipo de veículo em L/t/km; FEC = fator de emissão corrigido de energia i, em t CO2/L.

Calculadas as emissões parciais e total de cada tipologia de Sistema de Vedação Vertical (SVV), procede-se análise comparativa. Destaca-se que, para a cascaje foi considerado o consumo dos materiais do molde para uma repetição de 30 vezes.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Nas Tabelas 2 a 4 são apresentados os consumos unitários dos materiais que compõem os SVV de telha de fibrocimento, cerâmica e cascaje, respectivamente.

Tabela 2 – Consumo de materiais por metro quadrado do SVV de telha de fibrocimento: telha de fibrocimento + estrutura de madeira leve + forro PVC

Ítem Serviço Unidade Consumo

1. Estrutura

1.1. Madeira serrada m3 0,01

1.2. Prego de aço 18x27 kg 0,12

2. Telhamento

2.1. Telha de fibrocimento ondulada 6mm espessura, 1,83 m de comprimento, peso de 16,3 kgm2, dimensões de 110x122x0,6cm.

unidade 0,56

2.2. Parafuso zincado rosca soberba 5/16”x110mm para telha fibrocimento unidade 4,28 3. Forro

3.1. Forro PVC m2 1,28

3.2. Prego 12x12 kg 0,15

Fonte: Adaptado de CEF (2008) e CEF (2019)

Tabela 3 – Consumo de materiais por metro quadrado do SVV de telha cerâmica: telha cerâmica + estrutura de madeira leve + forro de PVC

Ítem Serviço Unidade Consumo

1. Estrutura

1.1. Madeira serrada m3 0,018

1.2. Prego de aço 18x27 kg 0,20

2. Telhamento

2.1. Telha cerâmica plan comprimento 46 a 50cm unidade 33

3. Forro

3.1. Forro PVC m2 1,28

3.2 Prego 12x12 kg 0,15

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Tabela 4 – Consumo de materiais por metro quadrado do SVV de Cascaje: cascaje + cobrimento

Ítem Serviço Unidade Consumo

1. Molde

1.1. Sarrafos de madeira m 8,00

1.2. Chapa compensado m2 1,20

1.3. Tela de galinheiro m2 1,00

1.4. Pintura desmoldante

2. Cascaje feita em argamassa cimento e areia 1:2 (0,03m3/unidade)

2.1. Cimento Portland CP-32 (535kg/m3) kg 16,05

2.2. Areia (0,89m3/m3) m3 0,0267

3. Longarinas em bambu

3.1 Bambu m 2,0

Cobrimento em concreto fck 15MPA (1:2:3) (0,2m3/m2)

4.1. Cimento (340kg/m3) kg 6,8

4.2. Areia(0,54m3/m3) m3 0,108

4.3. Brita 1(0,89m3/m3) m3 0,178

Fonte: Adaptado de CEF (2008) e CEF (2019)

Esses materiais foram agrupados em categorias: madeira serrada, madeira em compensado, aço, cimento, PVC, fibrocimento, agregado e areia, para compor as emissões dos materiais, tendo sido desprezado o bambu, por considerar de disponibilidade local. A pintura desmoldante da cascaje foi considerada como sendo feitas a partir de resíduos de óleos de motores, desprezado, assim, seu transporte.

A Tabela 6 apresenta a menor distância de fornecedores até Juvenília, destacando que a madeira serrada foi considerada com certificação de origem.

Tabela 6 - Distâncias e fornecedores de materiais.

Materiais Distância (km) Procedência

Areia 94 Manga - MG

Brita 30 Montalvânia - MG

Aço 785 Contagem - MG

Cimento 368 Sete Lagoas - MG

Compensado 368 Montes Claros - MG

Madeira serrada 689 João Pinheiro - MG

Telha de Fibrocimento 761 Pedro Leopoldo - MG

Telha Cerâmica 882 Monte Carmelo - MG

Forro PVC 360 Barreiras - BA

Fonte: Autores.

As emissões dos materiais sem fator de perda, do transporte e totais são apresentadas na Tabela 7 e Figura 4, na qual verifica-se que o transporte é o item que mais contribui nas emissões de todos os SVVs.

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Tabela 7 – Emissões dos materiais, de transporte e totais de cada SVV.

Sistema de Vedação Vertical (SVV) Emat (tCO2/t) Etra (tCO2/t) Etot (tCO2/t)

Telha de fibrocimento 0,02731814 0,10078816 0,12810630

Telha cerâmica 0,05564508 0,10454400 0,10921560

Cascaje 0,02116864 0,08789440 0,10906304

Fonte: dos Autores.

Figura 4 – Emissões dos materiais, de transporte e totais de cada SVV.

Fonte: dos Autores.

As diferenças entre as emissões de materiais do SVV de telha de fibrocimento (0,02731814 tCO2/t) e cerâmica (0,05564508 tCO2/t) se justificam pelos próprios processos de fabricação, consumos de madeira serrada e pregos, além da distância dos fornecedores, que são maiores no segundo. A queima do processo produtivo da telha cerâmica eleva suas emissões ao dobro da telha de fibrocimento. A proveniência da telha de fibrocimento é de menor distancia que a telha cerâmica, produzindo emissões de 0,10078816 e 0,10454400 tCO2/t, respectivamente. As emissões totais do SVV de telha cerâmica é 16% menor se comparado ao SVV de telhas de fibrocimento.

As emissões dos materiais da cascaje são o de menor valor (0,02116864 tCO2/t) e, também, as emissões devido ao transporte (0,08789440 tCO2/t), com 12% e 29% a menos de emissões que o SVV de telha de cerâmica e de fibrocimento, respectivamente. Contribui para esse resultado o fator de reaproveitamento do molde de 30 vezes, considerado nessa avaliação. Também se destaca que a cascaje foi proposta com leve inclinação para evitar o acúmulo de água sobre o telhado, o que dispensa a impermeabilização em manta asfáltica. Essa proposta se justifica mais uma vez pelo clima do local do estudo.

0,000 0,020 0,040 0,060 0,080 0,100 0,120 0,140 0,160

Telha de fibrocimento Telha cerâmica Cascaje

Em is sõ es (tC O2 /t)

Sistema e Vedação Vertical (SVV)

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conclui-se que a cascaje é a que resultou em menores emissões de CO2, para as condicionantes desse estudo - localização e clima. Analisando comparativamente as emissões dos SVVs, a telha cerâmica e a telha de fibrocimento apresentaram 12 e 29% a mais que a cascaje.

A cobertura tem papel importante nessa moradia, já que o local é quente e seco. Deve oferecer isolamento térrmico adequado, impedindo o superaquecimento nas horas do dia em que a radiação solar é máxima e mantendo aa casa aquecida à noite, quando a temperatura atinge os valores mínimos. Nesse sentido, a proposta da cascaje se mostra também mais efetiva, pois é o SVV que apresenta maior densidade, o que proporciona maior inércia térmica, mantendo as temperaturas internas mais constantes.

Também é importante abordar o contexto socioeconômico dos assentados do semiárido mineiro, na região selecionada para o estudo, onde vivem cerca de 26% do total de famílias assentadas no estado. No contexto da reforma agrária brasileira, a qualidade das moradias se apresenta como um fator que colabora com a permanência do assentado no campo. Uma das primeiras providências a ser tomada pelo beneficiário é construir a casa para seus familiares, sendo eu, nem sempre, o crédito destinado a este fim, é possível de ser acessado. Na maioria das vezes, a moradia é concebida sem planejamento, com base no atendimento das necessidades mínimas, construída em etapas e permanecendo sem consolidação por muito tempo.

A cascaje permite que o morador execute as telhas, a partir de uma capacitação mínima, o que pode ser viabilizado em uma ação de tecnologia social, permitindo a organização comunitária em mutirões de trabalho, fortalecendo os laços com a casa, com a comunidade e com o local.

Desse modo, entende-se que a tipologia da cascaje é uma alternativa na busca da integração da moradia ao conceito de desenvolvimento sustentável, em prol de uma habitação de baixo impacto ambiental nos assentamentos da reforma agraria do semiárido mineiro.

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REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TECNICAS – ABNT. NBR 15310. Componentes cerâmicos — Telhas — Terminologia, requisitos e métodos de ensaio. Rio de Janeiro: ABNT, 2005.

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Figura 2 – Perfil da cascaje determinada pela curva catenária.
Figura 3: Processo de fabricação da cascaje.
Figura 4: Delimitação do local de estudo
Tabela 1 - Fator de emissão dos materiais (FEP).
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