• Nenhum resultado encontrado

As formas "nós" e "a gente" em textos escolares/The forms "we" and "the people" in school texts

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2020

Share "As formas "nós" e "a gente" em textos escolares/The forms "we" and "the people" in school texts"

Copied!
8
0
0

Texto

(1)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 9, p.71728-71735 ,sep. 2020. ISSN 2525-8761

As formas "nós" e "a gente" em textos escolares

The forms "we" and "the people" in school texts

DOI:10.34117/bjdv6n9-569

Recebimento dos originais:08/08/2020 Aceitação para publicação:24/09/2020

Marcelo Alexandre Teodoro

Professor rede básica/SEE/MG E-mail:marcelouftmletras@gmail.com

Juliana Bertucci Barbosa

Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) E-mail:julianabertucci@gmail.com

RESUMO

Neste artigo, investigamos o uso das formas NÓS e A GENTE, na função de sujeito da oração, em uma amostra do português escrito pela comunidade de Uberaba. Para tanto utilizamos como corpus redações escritas por alunos do médio de uma escola pública da cidade de Uberaba. Assim, partindo das concepções de variação e mudança linguísticas laboviana (Weinreich; Labov; Herzog, 1968, Labov, 1972), pretendemos, rever esse fenômeno linguística na escrita, buscando identificar, além do fator extralinguístico “gênero”, os ambientes linguísticos que condicionam o uso de NÓS e A GENTE na função de sujeito.

Palavras-chaves: variação linguística, pronomes, redação escolar. ABSTRACT

In this article, we investigate the use of forms NÓS e A GENTE, the role of subject of prayer, in a sample of Portuguese written by Uberaba community. For this we use the corpus of essays written by students in a public middle school in the city of Uberaba. Thus, based on the conceptions of language variation and change Labovian (Weinreich, Labov, Herzog, 1968 Labov, 1972), we intend to revise this linguistic phenomenon in writing, seeking to identify, in addition to the extra-linguistic factor "gender", the linguistic environments that influence the use of NÓS e A GENTE.

Keywords: linguistic variation, pronouns- school writing.

1 INTRODUÇÄO

O português brasileiro é tem como uma característica os diversos modos de falar, assim, o jeito de falar do mineiro é extremamente discutido e comentado por apresentar peculiaridades, traços que são marcantes. Logo, é necessário que se realize uma pesquisa sociolinguística visando uma abordagem científica do tema.

(2)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 9, p.71728-71735 ,sep. 2020. ISSN 2525-8761

Algumas pesquisas na área de Sociolinguística já estão sendo realizadas no estado de Minas Gerais, como a de Ramos (2007), que coordenada um projeto, financiado pela FAPEMIG, que estuda o “mineirês” de Belo Horizonte e visa identificar aspectos característicos do português mineiro nessa região. O trabalho de Peluco (2011) intitulado “Fotografia sociolinguística de Uberaba: o estudo da alternância das formas “nós” e “a gente” comprovou a variação entre o pronome “nós” e a expressão “a gente” na fala da comunidade urbana uberabense.

Dessa forma, investigar os traços linguísticos típicos da escrita de estudantes uberabense é relevante, pois, além de contribuir para o levantamento de informações sobre o Português Mineiro, também possibilitará a reunião de peculiaridades da escrita da comunidade de Uberaba.

Partindo desse princípio, visamos analisar, neste projeto, a alternância das formas nós e a gente, na função de sujeito da oração, no português escrito pela comunidade discente da Escola Estadual Quintiliano Jardim, na cidade de Uberaba, e em contra partida também será analisado alunos que frequentam aulas na Escola Municipal Vicente Alves, que se situa em um bairro rural da cidade de Uberaba, porém pertencem a Escola Estadual Quintiliano Jardim por uma convenção governamental.

Pretendemos, assim, rever essas posições na escrita, buscando identificar, além do fator gênero, os ambientes linguísticos que condicionam o uso de nós e a gente na função de sujeito. Para isso partiremos dos estudos de variação e mudança linguísticas laboviana (Weinreich; Labov; Herzog, 1968, Labov, 1972).

2 VARIAÇÄO LINGUÍSTICA E O USO DE “NOS” E “A GENTE”

Sob o ponto de vista da Teoria da Variação, a língua é estudada em seu uso real, observando-se as relações entre a estrutura linguística e os aspectos sociais e culturais para a produção linguística dos falantes segundo Bagno (2011). Os estudos a cerca da expressão A GENTE nos estudos (sócio)lingüística apontam para uma variação linguística, demonstrando o caráter adaptativo da língua de acordo com as necessidades dos falantes.

Cabe ressaltar que as gramáticas normativas do português não apresentam uma posição coerente e única sobre o uso de A GENTE. A classificação é, em geral, controvertida, pois ora consideram A GENTE como pronome pessoal, ora como forma de tratamento, ou ainda como pronome indefinido, comentando-a apenas em notas de rodapé (LOPES,1998,p.2).

Por outro lado, Omena (1986), em seu estudo sobre NÓS e A GENTE no falar carioca, argumenta que alguns fatores linguísticos, que condicionam o uso dessas formas, são, praticamente, os mesmos, tanto para os falantes com pouca escolaridade, quanto para os de formação universitária

(3)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 9, p.71728-71735 ,sep. 2020. ISSN 2525-8761

completa. O processamento da mudança linguística nos dois grupos, entretanto, está ocorrendo de forma diferenciada. Nos falantes com pouca escolaridade (Omena, 1986) a substituição de nós por a gente encontra-se em um estágio mais avançado que entre os falantes mais escolarizados. Estes últimos – homens e mulheres de meia-idade — por sofrerem pressões sociais maiores, em função de suas atividades profissionais, estão, talvez, retardando a efetivação da mudança.

Outros estudos, como de Lopes (1998), que analisou o português falado culto do Brasil, destacam algumas tendências gerais quanto ao uso de nós e a gente:

a) numa seqüência discursiva, a forma a gente ocorre quando precedida de outra forma a gente ou verbo na 3ª pessoa do singular, sem sujeito explícito. O mesmo acontece com o pronome nós que tende a se repetir no paralelismo discursivo. Entretanto, quando o referente é outro, a forma escolhida pelo falante também se altera;

b) existe uma diferenciação no uso de nós e a gente em relação a um emprego mais restrito ou mais genérico. O falante utiliza preferencialmente o pronome nós para se referir a ele mesmo e mais o interlocutor (não-eu), ou a não-pessoa: referente [+perceptível] e [+determinado]. No momento em que o falante estende a referência, indeterminando-a, há maior favorecimento para a forma a gente.

c) ao lado dos tempos verbais não-marcados e o presente encontramos mais o emprego de a gente (formas [-salientes]), enquanto ao lado de formas do futuro e do o pretérito perfeito e os tempos do subjuntivo há uma predominância de nós (formas [+salientes]);

d) Os falantes jovens utilizam com maior frequência a forma a gente e os falantes idosos, a forma nós. Os adultos, com formação universitária completa, segundo Lopes, estão utilizando as duas formas;

e) as mulheres tendem a usar mais a forma a gente do que os homens;

Outro trabalho, de Peluco et al (2011), realizado na fala de moradores da região central da cidade de Uberaba, MG, Brasil, identificou a variação entre o pronome “nós” e a expressão “a gente” na fala da comunidade urbana uberabense (região urbana): apontou uma tendência a substituição de “nós” (17%) por “a gente” (83%).

Partindo desses – e de outros – resultados e apoiados nos estudos de Labov, ou seja, a “sociolinguística variacionista”, torna-se justificável um estudo da alternância do uso do pronome pessoal nós e da expressão a gente no português escrito de Uberaba, que leve em consideração aspectos linguísticos e extralinguísticos da língua e que possa contribuir na caracterização no português mineiro contemporâneo.

(4)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 9, p.71728-71735 ,sep. 2020. ISSN 2525-8761

3 METODOLOGIA E MONTAGEM DE CORPUS

Esta pesquisa analisou as ocorrências da forma A GENTE e do pronome NÓS no português escrito contemporâneo da comunidade urbana e rural de Uberaba. Lembramos que a metodologia tem um papel primordial dentro do modelo teórico da sociolinguística quantitativa (cf. LABOV, 1972). Ela é composta de vários estágios, dentre os quais destacam-se:

(i) seleção de informantes;

(ii) identificação das variáveis linguísticas e suas variantes;

(iii) processamento dos números, visto que se trata de uma análise estatística;

(iv) interpretação dos resultados, analisando os possíveis fatores condicionadores (linguísticos e extralinguísticos) que favorecem o uso de uma variante sobre outra.

Como a metodologia utilizada nesta pesquisa segue esse modelo teórico-metodológico da sociolinguística quantitativa, fez-se necessário o levantamento de um corpus de língua escrita, que represente adequadamente a comunidade de Uberaba. Sendo assim, como já mencionado, a análise foi realizada por meio de análise de textos produzidos por alunos do ensino médio da Escola Estadual Quintiliano Jardim, ou seja, tanto da região urbana

(A) como da região rural (B), como pode ser observado na figura abaixo:

Figura I: escolas de Uberaba

É importante ressaltar que se os informantes são selecionados aleatoriamente, entretanto, os recortes (a escolha do fenômeno analisado, por exemplo) e a escolha dos fatores extralinguísticos, não. Tais fatores são controlados. A variável linguística, no caso a variável extralinguística, é entendida como um elemento variável interno ao sistema e controlada por uma única regra. Na Teoria Variacionista, geralmente, são selecionados informantes dos sexos masculino e feminino –

(5)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 9, p.71728-71735 ,sep. 2020. ISSN 2525-8761

como é o caso desta pesquisa –, de diferentes graus escolaridade (de acordo com os objetivos de cada pesquisa).

Quanto ao gênero, cabe ressaltar que serão utilizados textos produzidos por indivíduos do gênero masculino e feminino, pois segundo Cezario: “pesquisas mostram que as mulheres tendem a usar as formas padrões de uma língua com maior frequência do que os homens” (2006, p.149). Para montagem do corpus, aplicamos o seguinte exercício nas escolas selecionadas:

(a) Quadro social

Gênero: Masculino ________ Feminino ____________ Idade __________ Serie ___________

Escola: ______________________________________________________ Você nasceu na cidade de Uberaba – MG ? Sim ___ Não ____ Caso não tenha nascido em Uberaba-MG, a quanto tempo reside na cidade? a. A proposta de redação

b. Leia a carta e elabore uma resposta da Branca de Neve ao Peter Pan. Nessa carta, a Branca de Neve deverá contar ao Peter Pan como é a sua vida, atividades que os dois podem fazer juntos etc.

(6)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 9, p.71728-71735 ,sep. 2020. ISSN 2525-8761

Como pode ser observado acima, apôs aplicado a proposta de redação descrita acima, recolhemos as redações e passamos a analisá-las. Cabe mencionar que os participantes assinaram um termo de autorização de pesquisa (menores de idades foram autorizados pelo responsável legal). De posse desse material, as ocorrências das formas de NÓS e A GENTE foram selecionadas. Posteriormente, essas ocorrências foram analisadas quantitativamente e qualitativamente de acordo com fatores extralingüísticos – gênero (sexo), e faixa etária (tempo aparente) – e os seguintes grupos de fatores linguísticos:

» Concordância verbal » Eu-ampliado

A fase final da análise variacionista consistiu na interpretação dos resultados numéricos, definindo a importância das variáveis por meio da frequência com que ocorrem e quais fatores linguísticos e extralinguísticos são condicionantes indícios para a realização das formas NÓS e A GENTE no português mineiro escrito da cidade de Uberaba. Neste artigo, apresentaremos apenas alguns resultados parciais.

4 ANÁLISE DOS DADOS

Após selecionarmos e analisarmos as ocorrências, verificamos que já pode ser observado, na escrita dos alunos de Uberaba, a variação no uso de NÓS e A GENTE, como já foi observado na fala de moradores desta comunidade (Peluco et al, 2011). Além disso, também constatamos que os fatores linguísticos que condicionam o uso de NÓS e A GENTE, são, praticamente, os mesmos, tanto na escrita de moradores da zona rural como urbana.

Vejamos alguns exemplos:

(01) Sábado você vem aqui floresta vamos juntos nós reunião como derrotar capitão gancho. (D.A) [I32,A,3,F]

(02) Sim nós podiamos combater o capitão gancho e a madrasta malvada [I52,A,1,M]

(03) Não podem com a gente nem o capitão nem a minha madrasta [I53,A,1,M] (04) To contando com a sua presença para a gente elaborar nosso plano [I21,B,1,F]

Outra observação relevante é a frequência do uso da forma NÓS de maneira oculta. Este fenômeno pode ocorrer de forma proposital, para a manutenção da coesão textual, evitando assim diversas repetições.

(7)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 9, p.71728-71735 ,sep. 2020. ISSN 2525-8761

5 CONSIDERAÇÖES FINAIS

Como podemos observar, há indícios da presença da forma A GENTE na escrita dos alunos da cidade de Uberaba, ou seja, podemos afirmar que a variação linguística estudada neste artigo pode estar presente tanto na escola quanto fora dela. Por isso, nas palavras de Scherre (2005, p.141): “para se ensinar a escrever com eficiência, os professores, as escolas, os pais, a comunidades e a mídia têm de estar engajados num efetivo exercício de formação de cidadãos competentes”, não ignorando fenômenos em variação.

(8)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 9, p.71728-71735 ,sep. 2020. ISSN 2525-8761

REFERÊNCIAS

Bagno,M. (2011) Gramática pedagógica do português brasileiro. São Paulo: Parábola Editorial.

Beline, R. A variação lingüística. In: Fiorin, José Luiz. (Org). (2002) Introdução à Lingüística. Vol I. São Paulo: Contexto, p.121-140.

Benveniste, E. (1988) Problemas de lingüística geral I. Campinas: Pontes e Editora da UNICAMP.

Labov, W. (1994) Principles of linguistic change: internal factores. Oxford: Blackwell. Lemle, M. & Naro, A. J. (1977) Competências básicas do português. Rio de Janeiro: MOBRAL.

Lopes, C. R. S. (1998) Nós e a Gente no português falado culto no Brasil. D.E.L.T.A., v. 14, n. 2, p. 405-422.

Martelotta, M.E.(org.) (2009) Manual de lingüística. São Paulo: Contexto.

Mollica, M. C.; Braga, M L. (2003) Introdução à Sociolingüística: o tratamento da variação. São Paulo: Contexto.

Naro, A. et al. (1983) Uma mudança lingüística em curso: a concordância com o sujeito nós/a gente. Em Seminário sobre variação em sintaxe. UFRJ, Rio de Janeiro.

Omena, N. P. (1986) A referência variável da primeira pessoa do discurso no plural. In: Naro, Anthony et al. Relatório Final de Pesquisa: Projeto Subsídios do Projeto Censo à Educação. Rio de Janeiro, UFRJ, V. 2, p.286-319

PREFEITURA MUNICIPAL DE UBERABA. Disponível em: <http://www.uberaba.mg.gov.br/portal/>. Acesso em: 08.06. 2009.

Scherre, M. P. 1988: Reanálise da concordância nominal em português. Tese de Doutoramento, Rio de Janeiro, UFRJ.

Tarallo, F. 1997: A pesquisa sociolingüística. São Paulo: Ática (Série Princípios). Tarallo, F. 2000: A pesquisa sociolingüística. São Paulo: Ática.

Weinreich, U.; Labov, W.; Herzog, M.I.: 1968: Empirical foundations for a theory of language change, p.95-199. In: Lehmann, W.P.; Malkiel, Y. (Ed.). Directions for historical linguistics: a symposium. Austin: University of Texas Press.

Imagem

Figura I: escolas de Uberaba
Figura II: carta ao Peter 1

Referências

Documentos relacionados

A par disso, analisa-se o papel da tecnologia dentro da escola, o potencial dos recursos tecnológicos como instrumento de trabalho articulado ao desenvolvimento do currículo, e

segunda guerra, que ficou marcada pela exigência de um posicionamento político e social diante de dois contextos: a permanência de regimes totalitários, no mundo, e o

Para que este estudo procedesse de maneira efetivamente, buscando a conexão desta prática de recomposição de mata ciliar com os temas ambientais abordados, foi imprescind ível

EDITORIAL Em Montes Claros, segundo a secretária municipal de Saúde, já não há mais kits do exame para detectar o novo coronavírus reportagem@colunaesplanada.com.br

1 - Com o fim de examinar os progressos realizados na aplicação da presente Convenção, é constituído um Comité para a Eliminação da Discriminação contra as Mulheres (em seguida

(Pensamento Político). A primeira, e mais importante consequência decorrente dos princípios até aqui estabelecidos, é que só a vontade geral pode dirigir as forças do Estado de

Do amor,&#34; mas do amor vago de poeta, Como um beijo invizivel que fluctua.... Ella

Desde então, várias espécies de Passiflora têm sido amplamente utilizadas no sistema tradicional de terapêutica em muitos países (DHAWAN; DHAWAN; SHARMA, 2004).. Entre as décadas