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Alexitimia, processamento emocional, regulação emocional e sintomatologia

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE PSICOLOGIA

ALEXITIMIA, PROCESSAMENTO EMOCIONAL,

REGULAÇÃO EMOCIONAL E SINTOMATOLOGIA

Sara Bernardo da Fonseca Teixeira

MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA

Secção de Psicologia Clínica e da Saúde

Núcleo de Psicoterapia Cognitiva-Comportamental e Integrativa

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE PSICOLOGIA

ALEXITIMIA, PROCESSAMENTO EMOCIONAL,

REGULAÇÃO EMOCIONAL E SINTOMATOLOGIA

Sara Bernardo da Fonseca Teixeira

Dissertação orientada pela Professora Doutora Ana Catarina Nunes da Silva

MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA

Secção de Psicologia Clínica e da Saúde

Núcleo de Psicoterapia Cognitiva-Comportamental e Integrativa

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i Agradecimentos

Gostaria de deixar o meu agradecimento sincero à minha orientadora, Professora Doutora Ana Catarina Silva pela transmissão de conhecimento, apoio e tutoria neste trabalho.

Uma palavra de profunda gratidão ao Professor Doutor Telmo Mourinho Baptista e à Professora Doutora Ana Catarina Silva, enquanto meus orientadores de estágio, por todo o apoio, partilha e disponibilidade incondicional que me

proporcionaram durante o presente ano letivo, que contribuíram para o meu desenvolvimento pessoal e académico.

Ao Professor Doutor António Branco Vasco pela enorme sabedoria

psicoterapêutica proporcionada ao longo do percurso académico, potenciadora de um ensino de excelência.

À minha família, pelo apoio e amor incondicional. Em particular à minha querida mãe, pelo seu tamanho envolvimento e crença neste trabalho.

Aos meus amigos, Catarina, Raul, Manel, Pedro, Jorge, Lorina, Inácio, Mariana, Ricardo, Tiago, Maria, Frederico, por fazerem a diferença na minha vida!

Às minhas colegas e companheiras destes cinco anos, Rita, Ana Maria e Carol que enriqueceram o meu percurso.

À minha colega de investigação Sofia Nunes pelo apoio estatístico. E a todos os que de alguma forma partilharam comigo estes cinco anos.

Ao Tiago, pelo amor e companheirismo: que assim perdure.

Um agradecimento especial a todos aqueles que se disponibilizaram a participar nesta investigação.

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ii Resumo

À luz da literatura, o funcionamento alexitímico é representativo de défices ao nível do processamento e regulação emocional. São conhecidas as dificuldades

inerentes ao processo psicoterapêutico com pacientes classificados como alexitímicos. Neste pressuposto, este estudo propõe-se a explorar as relações entre as caraterísticas alexitímicas e os construtos relacionados com o funcionamento emocional –

dificuldades de regulação e processamento emocional e sintomatologia. Importa contribuir para a compreensão das relações entre as variáveis e compreender

implicações destas relações para a conceptualização e práticas psicoterapêuticas. Para tal, procedeu-se à comparação de subamostras que se distinguem em termos de

funcionamento emocional: (1) alexitímicos; (2) não alexitímicos. Os resultados apoiam o pressuposto da presença significativa de sintomatologia e dificuldades ao nível do processamento emocional na alexitimia. No que respeita aos impactos diferenciais ao nível das amostras, os resultados apontam para o papel diferenciador de todas as variáveis em estudo. Sugere-se a importância de ter em conta esta dimensão na intervenção psicoterapêutica, no sentido de compreender os processos emocionais subjacentes ao funcionamento alexitímico, de modo a potencializar o trabalho clínico.

Palavras-chave: Alexitimia, regulação emocional, processamento emocional,

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iii Abstract

To the eyes of literature, the alexithymic functionality is representative in deficits at the processing level and emotional regulation. There are known difficulties inherent in the psychotherapeutic process with patients classified as alexithymics. In this assumption, this study proposes to explore the relationships between the

alexithymic characteristics and the constructs related to the emotional functioning - difficulties of regulation and emotional processing and symptomatology. It is important to contribute to the understanding of the relations between the variables and understand the implications of these relationships for the conceptualization and psychotherapeutic practices. For such, we compared the subsamples that distinguish in terms of emotional functioning: (1) alexithymics; (2) non-alexithymic. The results support the presumption of the significant presence of symptomatology and difficulties in emotional processing in alexithymia. Regarding the differential impacts at the sample level, the results point to the differentiating role of all variables under study. It is suggested the importance of taking this dimension into account in the psychotherapeutic intervention, in the sense of understanding the emotional processes underlying the alexithymic functioning, in order to enhance clinical work.

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iv Índice Geral

INTRODUÇÃO………... 1

Alexitimia... 1

Processamento Emocional e Regulação Emocional ………. 3

Presente estudo ………. 7 Objetivos e Hipóteses MÉTODO ………...…. 8 Participantes.………. 8 Instrumentos ...……….. 9 Procedimento ...………... 12 RESULTADOS ..………... 12

Diferenças entre grupos …...………... 13

Associações entre variáveis ...………. 14

Predição de variáveis ...………... 16

DISCUSSÃO ...………... 19

CONCLUSÃO .………. 26

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS …..………...……… 29

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v Lista de Anexos

Anexo A – Caraterização da amostra

Anexo B – Ficha de recolha de dados sociodemográficos

Anexo C - Consentimento Informado

Anexo D – Média, desvio-padrão e amplitude das diferentes escalas

Anexo E – Escala de Dificuldades na Regulação Emocional

Anexo F – Escala de Dificuldades no Processamento Emocional

Anexo G – Escala de Processamento Emocional

Anexo H – Sintomatologia

Anexo I – Correlações subescalas na subamostra não-alexitimicos

Anexo J – Correlações subescalas na subamostra alexitimicos

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1 Introdução

Alexitimia

De etiologia grega, alexitimia deriva da junção da forma verbal “lex” (“falar”) e “thymos” (“coração/alma”), com o prefixo “a” indicando “privação ou ausência de”, que traduzem o sentido de ausência de palavras para as emoções ou sentimentos (Freire, 2010).

Originalmente referido por Sifneos (1973) para designar um conjunto de atributos cognitivos e afetivos representativos de pacientes com sintomatologia psicossomática e dificuldades em representar simbolicamente as suas emoções, reconheceu-se a transversalidade do conceito a um espectro de várias perturbações.

Taylor, Bagby e Parker (1997) fundamentam, mais tarde, o conceito de alexitimia, que combina caraterísticas que implicam: (1) a dificuldade em identificar sentimentos e em distingui-los das sensações corporais da emoção; (2) dificuldade em descrever/comunicar sentimentos/emoções e; (3) o pensamento orientado para o exterior.

Sendo esta a definição aceite deste construto, este tipo de funcionamento carateriza-se pelas dificuldades nos processos de consciência emocional,

experienciação, expressão, diferenciação e regulação emocional (Silva & Vasco, 2010), como também pelas consequências das mesmas. Quando falamos das consequências referentes às dificuldades assumidas nos processos emocionais explícitos anteriormente, falamos de consequências a nível interpessoal e simbólico. Ao nível interpessoal, pelas dificuldades na resolução de problemas, pela dificuldade em sentir empatia e por não conseguir detetar ou reconhecer estados emocionais no outro, tornando o contacto social desadequado e empobrecido. Ao nível simbólico, indivíduos com um funcionamento alexitímico demonstram uma capacidade criativa diminuída, com repercussões na compreensão e expressão de sonhos e fantasias (Krystal, 1979).

De acordo com as alterações presentes neste tipo de funcionamento, autores como Taylor e colaboradores (1997), defendem que a alexitimia é representada pela presença de défices ou dificuldades ao nível do processamento cognitivo e da regulação emocional, baseando-se na assunção geral de que a expressão emocional e a sua

regulação envolvem diferentes sistemas – neurofisiológico, motor e

cognitivo/experiencial (Dodge & Garber, 1991). Sabemos que a alexitimia aparece associada a níveis diminutos de resposta emocional, quer em termos experiencial, quer

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em termos fisiológico (Luminet, Rime, Bagby & Taylor, 2004), corroborando a perspetiva da existência de uma natureza inata das próprias emoções, que permite a experiência emocional a qualquer individuo. Assim, a alexitimia não é sinonimo de ausência de emoções, é antes fruto da incapacidade do individuo em reiterar a passagem da emoção ao sentimento, no seu todo, não sendo capaz de tomar consciência das sensações subjetivas à emoção (Freire, 2010).

Ao preconizar que, indivíduos com funcionamento alexitímico são menos conscientes dos seus estados emocionais, acresce a presença de maiores índices de psicopatologia nos mesmos. A investigação tem vindo a correlacionar este construto com diferentes condições clinicas como a depressão (e.g. Burke & Haslam, 2001; Honkalampi et al., 2010), ansiedade (e.g. Parker, Taylor, Bagby, & Acklin, 1993), as perturbações de stress pós-traumático (e.g., Brady, Bujarski, Feldner, & Pyne, 2016) as perturbações psicossomáticas, como as perturbações do comportamento alimentar (e.g. Strien & Ouwens, 2007), do comportamento sexual (e.g. Wise, Osborne, Strand, Fagan & Schmidt, 2002) e algumas perturbações da personalidade (e.g. Singh, Arteche, & Holder, 2011).

Tendo em consideração uma visão integrativa, é sugerido que se avalie a

alexitimia sob uma lente de múltiplos fatores envolvidos na sua etiologia (Silva, Vasco, & Watson, 2013), sejam eles, fatores hereditários (e.g., Jørgensen, Zachariae, Skytthe, & Kyvik, 2007), fatores relacionais como o estilo e qualidade de vinculação, a

qualidade da socialização (e.g., Taylor et al., 1997; Troisi, D’Argenio, Peracchio, & Petti, 2001) e a exposição a eventos traumáticos, mesmo na vida adulta (e.g.,

Freyberger, 1977).

Uma vez que os estudos nos têm demonstrado que existe uma prevalência de pacientes com funcionamento alexitímico na população clínica, variável esta,

tendencialmente não considerada em termos interventivos (Silva et al., 2013), parece essencial pensar neste construto enquanto caraterística psicológica influenciadora do processo psicoterapêutico. Primeiramente, pela incapacidade de pacientes alexitímicos transmitirem as suas dificuldades/problemas, dado o défice experiencial, prejudicando a comunicação entre paciente-terapeuta e condicionando o estabelecimento da relação terapêutica e de objetivos de intervenção ajustados ao paciente (Silva et al., 2013). Por outro lado, por esta caraterística funcionar enquanto inibidor de emoções de valência negativa (e.g. Helmes et al., 2008; Busch, 2014) e, sobretudo, inibidor do

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processamento das mesmas, influenciando a própria relação terapêutica e, mais uma vez, o alcance da intervenção.

A própria investigação releva que a alexitimia, enquanto dificuldade em expressar sentimentos, é preditora de piores resultados psicoterapêuticos e prevalência de sintomatologia pós-terapêutica (e.g. Ogrodniczuk, Piper, & Joyce, 2004). Para além de funcionar enquanto variável modificadora da perceção do próprio terapeuta em relação ao seu paciente e ao processo em si (Ogrodniczuk, Piper & Joyce, 2008), predizendo resultados terapêuticos menos conseguidos.

Mais uma vez, salienta-se a importância de adaptar a intervenção

psicoterapêutica às necessidades e caraterísticas dos indivíduos (Norcross, 2002). No estudo em questão, tal apenas é possível conhecendo de forma profunda o funcionamento “alexitímico” e que processos emocionais o influenciam, para que, posteriormente, sejamos capazes de aumentar igualmente a compreensão relativamente ao tipo de intervenção e tarefas psicoterapêuticas adequadas a estes pacientes.

Processamento Emocional e Regulação Emocional no Funcionamento Alexitimico

A emoção, entendida enquanto tendência de ação protetora, auxilia à regulação física e psicológica (e.g., Greenberg, 2004). Integrada numa gama de componentes fisiológicas e cognitivas imediatas, a emoção tem a sua origem evolutiva na necessidade de resposta rápida, promovendo a aprendizagem e construção de novas associações e significados.

Carateriza-se por respostas fisiológicas, cognitivas, expressivo-motoras e comportamentais, ajudando o organismo a processar a informação recolhida (Elliott et al., 2004; Gross, 1998; Gross, 2014), funcionando como “pistas” que nos permitem comunicar e agir, servindo de mediador entre os indivíduos.

Numa perspetiva evolutiva são as emoções que orientam o nosso

comportamento enquanto tendências de ação potencialmente adaptativa, tendo uma relação direta com a sobrevivência, pois permitem estabelecer prioridades, atribuir significados à experiência, tomar decisões e colocar as ações em prática (Schwarz, 1990). Assim, a funcionalidade do sistema emocional relaciona-se com o bem-estar e adaptação dos indivíduos (Greenberg, 2010), tendo em consideração as necessidades psicológicas de cada um.

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Segundo Elliott e colaboradores (2004), existem diferentes estruturas

responsáveis pelo funcionamento adequado do sistema emocional geral. São elas, os esquemas emocionais, o tipo de resposta emocional e a regulação emocional. Os esquemas emocionais, enquanto estruturas compostas por memórias de vivências emocionais, formam o pilar do processamento emocional (Greenberg, 1996). Este conceito é percebido como o processo de atender à informação emocional, a partir destas mesmas estruturas – esquemas emocionais (Greenberg, 1996) – que nos permitem compreender a experiência emocional de modo particular.

O construto de dificuldades no processamento emocional integra-se na Teoria e Terapia Focada nas Emoções (Elliot et al., 2004; Greenberg, Rice & Elliott, 1996), que postula a emoção como construtora de significado e comportamento humano

(Greenberg, 2010). Os seus autores (Greenberg, 2010; Greenberg et al., 1996) identificam determinados tipos de dificuldades no processamento emocional,

nomeadamente, reação problemática, ausência de significado, assunto inacabado, self crítico, self interruptivo e vulnerabilidade.

De acordo com teorias previamente concetualizadas (e.g. Rachman, 1980) o processamento emocional ativo surge pela necessidade de atribuição de significado ao evento ou estimulo, significado este que será modulador da emoção que é

experienciada, permitindo a sua expressão (resposta emocional).

Baker (2001) formalizou, a partir de diversas observações clínicas, um modelo de processamento emocional que especifica as operações cognitivas, comportamentais e emocionais que impedem que este processamento seja eficaz. Segundo o mesmo, uma experiência emocional negativa funciona como “pista” registada, consciente ou

inconscientemente. A partir dela são realizadas uma série de operações: uma avaliação cognitiva do significado da “pista” que permitirá moldar e catalogar a emoção sentida, de forma automática (o que implica a consciência e integração da experiencia emocional do evento/situação), culminando na expressão física da emoção. No entanto, nem

sempre estas experiências emocionais são processadas de forma esperada, dando origem a pensamentos ou sensações desagradáveis que, fruto deste processamento equivocado, impedem a resolução e integração destas mesmas experiências.

Quando os esquemas emocionais são ativados em situações desadequadas, devido ao processamento incorreto da experiência emocional ou pela desregulação do sistema emocional, a experiência subjetiva da emoção pode ser desajustada. Assim, é necessário haver uma regulação da mesma para que a resposta e a consequente ação,

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tenha em vista a satisfação das necessidades e o bem-estar individual (Gross, 2014). Neste sentido, sabendo que as emoções permitem-nos aceder às nossas necessidades psicológicas (e.g. Vasco, 2009), de modo a regula-las, uma vez estando o

processamento emocional comprometido, também a regulação e satisfação se encontra obstruída.

Gratz e Roemer (2004) sugeriram uma conceptualização integrativa da regulação emocional que explica que, para conseguir regular as emoções, o individuo precisa de compreender e consciencializar-se das próprias emoções, aceitando-as e monitorizando-as de forma a controlar os impulsivos e ser capaz de orientar comportamentos por objetivos aquando da experiência emocional desagradável, adaptando as estratégias ou recursos disponíveis, tendo em consideração os objetivos individuais e as exigências da própria situação.

Deste modo, é a regulação emocional que permite aos indivíduos influenciar as emoções que experienciam (e.g. aumentar ou diminuir a componente comportamental da resposta emocional), influenciando diretamente as vastas dimensões do

processamento emocional (dimensão cognitiva, fisiológica, social, comportamental) (Gross, 2002). Quando estas competências não são conseguidas surgem dificuldades na regulação emocional (Gratz & Roemer, 2004; Gross, 2002).

Os mesmos autores (Gratz & Roemer, 2004) operacionalizam seis dificuldades principais da regulação das emoções: não-aceitação da resposta emocional, falta de consciência das emoções, dificuldade em manter um comportamento dirigido para objetivos, dificuldade em controlar os impulsos, acesso limitado a estratégias de regulação emocional e a falta de clareza emocional.Considerava-se que as possíveis interrupções do processo de regulação emocional poderiam estar relacionadas com o funcionamento alexitímico, pelas reduzidas competências ao nível comunicativo e comportamental deste tipo de funcionamento (e.g. dificuldade em atribuir significado, dificuldade em expressar emoções (e.g., Silva & Vasco, 2010).

Mais tarde, Silva, Vasco e Watson (2016) confirmaram que a relação entre alexitimia e a regulação emocional era mediada pelo processamento emocional, mais concretamente pela capacidade de consciencialização e diferenciação das emoções. Sabe-se assim que estes domínios do processamento emocional afetam o acesso a estratégias de regulação emocional adaptativas.

A literatura demonstra que os indivíduos com elevado funcionamento

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20, Prazeres, Parker, & Taylor, 2000), apresentam uma menor consciência da experiência emocional, ou seja, processam em menor quantidade a informação

emocional, sobretudo quanto à identificação e processamento de emoções de valência negativa (Vermeulen et al., 2006; Luminet et al., 2004). Não havendo a componente primária da consciência, como supracitado, torna-se incapaz de distinguir e diferenciar as emoções e consequentemente regular-se de forma ajustada. São as dificuldades nestes dois domínios que explicam a presença de dois dos fatores autores do construto de alexitimia: (1) dificuldade em identificar sentimentos e; (2) dificuldade em comunicar sentimentos/emoções.

Concretamente, estes indivíduos apresentam um défice na avaliação do conteúdo de estímulos emocionais (e.g., Berthoz et al., 2002; Franz, Schaefer, Schneider, Sitte, & Bachor, 2004), quer ao nível da transformação e codificação da informação emocional verbal (e.g., palavras relacionadas com emoções) (e.g., Taylor et al., 1997) e não-verbal (e.g., identificação de expressões faciais) (e.g., Lane, Sechrest, Reidel, Weldon,

Kaszniak, & Schwartz., 1996). O pensamento orientado para o exterior – outro dos fatores do construto de alexitimia – explica o foco atencional, pelo indivíduo, a pistas externas ao invés de internas (como a ativação emocional), o que corrobora a possível presença de estratégias de regulação desadaptativas como o evitamento emocional em indivíduos com caraterísticas alexitimicas, a fim de evitar a experiência interna.

Um estudo realizado por Swart, Kortekaas e Aleman (2009) pretendeu clarificar diferenças de estratégias de regulação emocional entre pessoas com diferentes níveis de alexitimia e verificou, que pessoas com alto funcionamento alexitimico obtêm baixas pontuações na subescala “Reavaliação Cognitiva” e elevadas na subescala “Supressão Emocional”. Confirmando a hipótese de que caraterísticas alexitimicas estão associadas a estratégias de regulação emocional desadaptativas, com tendência à supressão das próprias emoções, ao invés da avaliação das próprias cognições e emoções (Prazeres et al., 2000). Do mesmo modo, as dificuldades dos indivíduos alexitimicos no

processamento emocional comprometem a eficácia do processamento interpessoal, ou seja, da capacidade de percecionar, compreender e inferir emoções ou estados

emocionais nos outros indivíduos.

Sabe-se à partida, que as aptidões de deteção e identificação de expressões faciais emocionais são uma ferramenta essencial à comunicação e interação social adequada. A expressão não-verbal funciona quase como uma pré-linguagem que auxilia o individuo a receber mensagens do outro e a adaptar a sua resposta rapidamente,

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podendo assim ajustar o seu comportamento de forma a evitar conflito e sobretudo predizer as ações dos outros.

A literatura revela, mais uma vez, que indivíduos alexitimicos são, não só, menos precisos na identificação emocional, como mais lentos e mais cognitivos na sua análise (e.g., Kano et al., 2003; Franz et al., 2004), o que lhes retira qualidades

emocionais indispensáveis ao desenvolvimento de interações ou relacionamentos de qualidade, como a empatia, a compreensão do ponto de vista do outro, a capacidade de partilhar afetos e a expressão destes mesmos afetos. Assim, dada a ausência do

conhecimento emocional, o resultado visível é a não expressão de emoções e a inadequação do funcionamento psicológico e interpessoal.

Presente estudo

Apesar de este ser um campo de investigação apelativo do ponto de vista da relevância psicoterapêutica, sobretudo porque os processos de regulação emocional possuem um valor adaptativo (e.g., Vasco, 2009; John & Gross, 2004), a investigação atual sobre os processos emocionais subjacentes a um tipo de funcionamento

alexitímico parece ser ainda inconclusiva. Deste modo, o presente estudo tem como objetivo explorar e compreender quais os processos emocionais predominantes em indivíduos com um estilo de funcionamento alexitímico, numa amostra da população geral. A ampliação do conhecimento em relação aos processos emocionais

preponderantes na alexitimia, poderá resultar numa melhor compreensão da alexitimia enquanto variável psicológica e do seu impacto na interação psicoterapêutica, com auxilio do recurso a medidas válidas e atuais, que avaliam diferentes domínios do processamento emocional e da regulação emocional.

Objetivos e Hipóteses

Foram delineados vários objetivos gerais e respetivas hipóteses de investigação. Objetivo 1: Identificar que processos da regulação emocional estão dificultados no funcionamento alexitímico.

Hipótese 1 – Indivíduos com níveis mais elevados de alexitímia terão níveis mais elevados nas dificuldades de regulação emocional.

Objetivo 2: Analisar as dificuldades no processamento emocional, segundo Greenberg (2010), no tipo de funcionamento alexitimico.

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Hipótese 2 - Indivíduos com níveis mais elevados de alexitimia terão igualmente mais dificuldades no processamento emocional.

Objetivo 3: Analisar quais as alterações no processamento emocional segundo a conceptualização de Baker (2001) envolvidas no funcionamento alexitímico.

Hipótese 3 - Indivíduos com maiores níveis de alexitimia terão alterações no processamento emocional adequado.

Objetivo 4: Analisar que sintomatologia específica (depressão, ansiedade, somatização, obsessivo-compulsivo, psicoticismo, ideação paranoide, sensibilidade interpessoal, ansiedade fobica) está associada a um tipo de funcionamento

predominantemente alexitímico.

Hipótese 4 – Indivíduos com níveis mais elevados de alexitimia terão maior presença de sintomatologia depressiva e ansiosa.

Objetivo 5: Caraterizar a associação entre alexitimia e a regulação emocional, processamento emocional e sintomatologia psicopatológica.

Hipótese 5 – Espera-se encontrar associações positivas entre a alexitimia e as dificuldades na regulação emocional, as dificuldades no processamento emocional e a sintomatologia psicopatológica.

Método Participantes

A presente investigação contou com a participação de 196 participantes sendo que, a omissão de resposta a mais do que dez itens numa única escala exigiu a

eliminação de vários participantes do estudo. Ficando a amostra com 128 sujeitos, sendo 92 do sexo feminino (71.9%) e 36 do sexo masculino (28.1%). A idade variou entre os 18 e 74 anos (M=29.82 e DP=10.25). A grande percentagem dos participantes tinha concluído o 12º ano (32%) ou o grau de Licenciatura (38.5%). Relativamente ao acompanhamento psicoterapêutico cerca de 7.8% dos participantes mantinham

acompanhamento psicoterapêutico, assim como, cerca de 3.1% dos participantes permanece em acompanhamento psiquiátrico.

Os participantes foram distribuídos por duas amostras: (1) amostra não alexitímicos (2) amostra alexitímicos e indeterminados, segundo o ponto de corte definido previamente (R ≥ 54). Com base nos critérios da Escala de Alexitimia de Toronto (TAS-20), o ponto de corte assumido, capaz de diferenciar não alexitímicos de indeterminados é .51. Uma vez que, na amostra do nosso estudo, muitos participantes

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situavam-se próximo do ponto de corte assumido pela escala, considerámos mais válido assumir um ponto de corte superior, a fim de não categorizar abusivamente indivíduos como alexitimicos. Assim, a amostra alexitimicos assume-se com um ponto de corte ≥ 54 pontos, no score total.

Esta amostra é constituída por 30 participantes, sendo 18 (60%) do sexo

feminino e 12 (40%) do sexo masculino, com idades compreendidas entre os 20 e os 74 anos (M=32.14; DP=11.84), sendo que, 3 participantes (10.3%) revelam estar a ter acompanhamento psicológico.

A amostra não alexitímicos é constituída por 98 participantes, sendo 74 (75.5%) do sexo feminino e 24 (24.5%) do sexo masculino, com idades compreendidas entre os 18 e os 62 anos (M=29.11; DP=9.69). Dos 98, 7 participantes (7.1%) encontram-se em acompanhamento psicológico.

Para mais detalhes sobre as descrições das amostras, consultar anexo A.

Instrumentos

Questionário sociodemográfico (Anexo B) construído de modo a recolher

dados para caraterização da amostra, nomeadamente idade, género, estado civil,

habilitações literárias, profissão, estatuto profissional, bem como variáveis importantes segundo a literatura, mais especificamente se tem acompanhamento psiquiátrico, medicação psiquiátrica e internamentos psiquiátricos, se tem acompanhamento psicoterapêutico, história de consumos de álcool e substâncias, que remetem para aspetos mais clínicos que podem influenciar diretamente as variáveis em estudo.

Escala de Alexitimia de Toronto (TAS-20) usada para medir a alexitimia e

adaptada para a população portuguesa (Bagby, Parker, & Taylor, 1994; Prazeres, Parker & Taylor, 2000). Instrumento constituído por 20 itens, composta por três fatores: (1) Dificuldade em identificar sentimentos (DIF); (2) Dificuldade em descrever sentimentos (DDF); (3) Estilo de pensamento orientado para o exterior (EOT). Os itens são

classificados numa escala de likert de 5 pontos, entre 1 (discordo totalmente) a 5 (concordo totalmente). Resultados nesta escala menores que 51 pontos refletem

ausência de alexitimia, uma pontuação entre 51-60 coloca a possibilidade de existência de caraterísticas alexitimicas e uma pontuação igual ou superior a 61 aponta para a presença de alexitimia.

A TAS-20 é apontada como a escala que apresenta melhor validade de construto e fiabilidade no estudo da alexitimia, sendo o instrumento de avaliação mais utilizado,

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quer na investigação, quer na prática clinica (Taylor et al., 1997). A consistência interna do total da TAS-20 na adaptação portuguesa foi de .79 (Prazerers, 1996).

No presente estudo apresentou um α =.825. Quanto às subescalas, a subescala da Dificuldade em Identificar Emoções (α =.832) e a subescala da Dificuldade em

Descrever Emoções (α =.737) apresentam uma consistência interna aceitável, o que não acontece com a subescala Pensamento Orientado para o Exterior (α =.524).

Escala de Dificuldades na Regulação Emocional (EDRE) criada por Gratz e

Roemer (2004) e adaptada para a população portuguesa por Vaz, Vasco e Greenberg (2010). É uma medida constituída por 36 itens que avaliam os diferentes aspetos da regulação emocional desadaptativa em seis grandes domínios: (1) Não aceitação das respostas emocionais; (2) Dificuldade em se envolver em comportamentos orientados por objetivos quando experienciadas emoções negativas; (3) Dificuldade no controlo de impulsos, perante a experienciação de emoções negativas; (4) Acesso limitado a

estratégias de regulação emocional percebidas como eficazes; (5) Ausência de consciência emocional das respostas emocionais; (6) Ausência de clareza emocional.

Os itens são classificados numa escala de 5 pontos, entre 1 (quase nunca) a 5 (quase sempre). A escala apresenta uma consistência interna de .75 na versão

portuguesa (Vaz et al., 2010), na sua apreciação global. Em cada domínio, os valores são indicativos de uma boa precisão: Não-aceitação (.85); Objetivos (.88);

Impulsividade (.84); Estratégias (.83); Consciência (.85) e Clareza (.76).

No nosso estudo, o Alfa da escala global é de α =.923, o que representa uma excelente consistência interna. Os Alfas das subescalas são todos maiores que α =.7, o que revela uma consistência interna aceitável, sendo que alguns deles, têm uma ótima consistência interna (Alfa superior a α =.8), nomeadamente, as subescalas Consciência (α=.803), Objetivos (α =.840), a Não-aceitação (α =.831) e os Impulsos (α=803). Sobram as subescalas Estratégias (α =.794) e a Clareza (α =.773).

Escala de Processamento Emocional (EPS-25, Baker, 2000) adaptada e

validada para a população portuguesa (Leitão & Torres, 2009) composta por 25 itens que identificam os estilos de processamento emocional, através de cinco grandes fatores: (1) Supressão; (2) Desregulação emocional; (3) Experiência emocional empobrecida; (4) Processamento emocional inadequado; (5) Evitamento. Os itens são classificados numa escala de 8 pontos, desde 1 (discordo totalmente) a 8 (concordo totalmente). Em termos globais, a escala apresenta uma consistência interna de .92 (Baker et al., 2010). Na versão portuguesa apresenta uma consistência interna de .913

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(Leitão & Torres, 2009), na sua apreciação global. Em cada domínio, os valores são indicativos de uma boa precisão: Supressão (.817); Emoções não processadas (.813); Controlabilidade (.769); Experiência emocional empobrecida (.743), à exceção da subescala Evitamento (.648).

No nosso estudo, o Alfa da escala global é de α=.922, o que representa uma consistência interna superior ao estudo da versão portuguesa. Os Alfas das subescalas revelam uma consistência interna aceitável, concretamente, as subescalas Supressão (.745), Emoções não processadas (.795), Controlabilidade (.778), Experiência emocional empobrecida (.751) e o Evitamento (.727).

Escala de Dificuldades de Processamento Emocional (EDPE) desenvolvida

por Barreira e Vasco (2015), é constituída por 22 itens subdivididos em seis marcadores de processamento emocional, segundo o modelo de terapia Focada nas Emoções (Elliot et al., 2004): (1) Reação problemática, que reflete a perplexidade face a respostas emocionais; (2) Ausência de significado ou de clareza face a uma experiência em particular; (3) Clivagem do self I, que é a expressão de autocrítica a um aspeto do self; (4) Clivagem do self II, que refletem a constrição da experiência ou expressão

emocional; (5) Assuntos inacabados como um sentimento prolongado e doloroso face a outro significativo e (6) Vulnerabilidade, que sugere sentimentos de fragilidade ou insegurança face ao próprio. Com uma escala de resposta de 5 pontos, em que 1 (nunca) a 5 (sempre).

O estudo original (Barreira & Vasco, 2015), revela uma elevada consistência interna ao nível da escala total (α=.902) e das subescalas (α≥.723). Na presente investigação a escala global apresenta um alfa bastante consistente (α=.900). A subescala Reação problemática (.784), a Ausência de significado (.860), Clivagem do self I (.812), Clivagem do self II (.799), Assuntos inacabados (.858) e a subescala Vulnerabilidade (.573) apresentam uma boa consistência.

Brief Symptom Inventory (BSI, Degoratis, 1993) adaptado para a população

portuguesa, Inventário de Sintomas Psicopatológicos por Canavarro (1999) composto por 53 itens - versão reduzida do SCL-90 - nos quais os indivíduos avaliam em que medida e com que intensidade se sentiram incomodados por vários sintomas, na última semana, onde 0 é nunca e 4 é muitíssimas vezes. O BSI avalia vários sintomas segundo nove dimensões de sintomatologia (Depressão, Ansiedade, Somatização, Obsessivo-Compulsivo, Ideação Paranoide, Psicoticismo, Hostilidade, Ansiedade Fóbica e Sensibilidade Interpessoal) e três índices globais.

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12

A adaptação portuguesa demonstra boas propriedades psicométricas, em termos específicos, todos os domínios apresentam uma consistência interna superior a .70, excetuando o domínio Psicoticismo e Ansiedade Fóbica que apresentam valores ligeiramente inferiores (.62) (Canavarro, 2007). No nosso estudo, a escala global apresenta uma ótima consistência interna (.967), com o domínio Somatização (.824), Obsessivo-Compulsivo (.731), Depressão (.890), Ansiedade (.844), Sensibilidade Interpessoal (.770), Hostilidade (.765), Ansiedade Fóbica (.815), Ideação Paranoide (.787) e Psicoticismo (.724), com valores de consistência interna superiores.

Procedimento

O presente estudo segue uma metodologia de natureza quantitativa, que procura identificar marcadores emocionais que caraterizam o funcionamento alexitimico, concretamente a ideia de que o funcionamento alexitimico se relaciona com

determinadas dificuldades na regulação emocional, no processamento emocional e a sintomatologia psicopatológica.

Para a sua realização, através de uma plataforma online para recolha de dados (Qualtrics) dispôs-se um conjunto de cinco instrumentos, durante o período de Maio a Julho de 2017. A participação tinha a duração média de 30 minutos. Os participantes foram recrutados utilizando uma amostra de conveniência da população em geral. Os participantes da investigação teriam de cumpriu determinados requisitos,

nomeadamente, idade equivalente ou superior a 18 anos, nacionalidade portuguesa, ter o português como língua materna e ter no mínimo o 4º ano de escolaridade. Antes de avançarem para o preenchimento dos instrumentos, os participantes assinalavam o seu consentimento informado para a participação na investigação (Anexo C).

Resultados

O estudo estatístico dos resultados foi realizado com o software de análise estatística Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 22.

A descrição das médias, desvio-padrão e amplitude para as seguintes variáveis: EPS global, EDPE global, BSI global e DERS global, para as duas amostras, podem ser consultadas no Anexo D.

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13 Diferenças estatísticas nos tipos de funcionamento

Dificuldades na Regulação Emocional: Com o propósito de analisar as

diferenças entre as duas amostras nas dificuldades na regulação emocional apresentadas pela EDRE, utilizou-se o procedimento estatístico de comparação de grupos, após se assumir o Teorema do Limite Central (N≥30) para a utilização de testes paramétricos generalizáveis a todas as análises (Anexo E). Foram encontradas diferenças

estatisticamente significativas nas dificuldades de regulação emocional: “Estratégias” (t=11.199, p=.001), “Não aceitação” (t=22.150, p=.000), “Consciência” (t=26.087, p=.000) “Impulsos” (t=12.213, p=.001) e “Clareza” (t=39.922, p=.000) entre indivíduos alexitímicos e indivíduos não alexitimicos. Estas dificuldades sobressaem nos

participantes caraterizados como alexitimicos, sobretudo na componente Consciência e Clareza. A subescala “Objetivos” (t=1.708, p=.194) não se mostra significativamente diferente entre grupos.

Dificuldades no Processamento Emocional: Com o propósito de analisar as

diferenças entre os tipos de funcionamento quanto às dificuldades no processamento emocional apresentadas pela EDPE, utilizaram-se testes paramétricos apelando ao Teorema do Limite Central (Anexo F). Foram encontradas diferenças estatisticamente significativas nas dificuldades de regulação emocional: “Reação problemática”

(t=27.657, p=.000), “Ausência de significado” (t=34.870, p=.000), “Clivagem do self I” (t=5.767, p=.018), “Assunto inacabado” (t=13.909, p=.000) e “Vulnerabilidade”

(t=18.139, p=.000) entre indivíduos com funcionamento alexitimico e indivíduos não alexitimicos. A subescala “Clivagem do self II” (t=3.855, p=.052) não se mostra significativamente diferente entre grupos. Estas dificuldades sobressaem nos

participantes caraterizados como alexitimicos, sobretudo quanto à dimensão Reação problemática e Ausência de significado.

Processamento Emocional: Com o propósito de analisar as diferenças entre os

tipos de funcionamento no que diz respeito às componentes do processamento emocional apresentadas pela EPS, utilizou-se o teste paramétrico de comparação de grupos, a partir do teorema do limite central (Anexo G).

Foram encontradas diferenças estatisticamente significativas nas diferentes componentes do processamento emocional: “Supressão” (t=18.281, p=.000), “Emoções não processadas” (t=16.430, p=.001), “Controlabilidade” (t=20.471, p=.000)

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14

“Evitamento” (t=12.894, p=.001) e “Experiência emocional empobrecida” (t=17.774, p=.001) entre indivíduos com funcionamento alexitimico e indivíduos não alexitimicos. Estas dificuldades sobressaem nos participantes caraterizados como alexitimicos, sobretudo quanto à dimensão Controlabilidade, Supressão e Experiência emocional empobrecida.

Sintomatologia Psicopatológica Com o propósito de analisar as diferenças

entre os tipos de funcionamento quanto às dimensões psicopatológicas apresentadas pelo BSI, utilizaram-se testes paramétricos apelando ao Teorema do Limite Central (Anexo H). Foram encontradas diferenças estatisticamente significativas em todos os domínios sintomatológicos: “Somatização” (t=15.640, p=.001), “Obsessão-Compulsão” (t=22.666, p=.000), “Sensibilidade Interpessoal” (t=23.238, p=.000) “Depressão” (t=26.386, p=.000), “Ansiedade” (t=28.246, p=.000), “Hostilidade” (t=13.369, p=.002), “Ansiedade fóbica” (t=21.826, p=.001), “Ideação paranoide” (t=15.448, p=.000) e “Psicotiscismo” (t=31.078, p=.000) entre grupos. A presença de sintomatologia

psicopatológica parece ser mais evidente nos sujeitos caraterizados como alexitimicos, sobretudo no domínio da Depressão, Ansiedade e Psicoticismo.

Associação entre as variáveis

Através das correlações lineares de Sperman, procurou-se encontrar o grau de associação entre as cinco escalas usadas (EDPE global, EDRE global, BSI global, EPS global e TAS global). Os Quadros 1 e 2 ilustram as correlações significativas para ambos os grupos.

Quadro 1. Correlações entre valores globais do processamento emocional (EPS-25),

dificuldades na regulação emocional (EDRE), dificuldades no processamento emocional (EDPE), sintomatologia (BSI) e alexitimia (TAS-20) na amostra não alexitimicos (N=98).

Variáveis EDRE BSI EDPE EPS TAS

EDRE 1 ,619** ,533** ,608** ,540**

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EDPE ,533** ,592** 1 ,524** ,440**

EPS ,608** ,672** ,524** 1 ,500**

TAS ,540** ,385** ,440** ,500** 1

** p-value < 0.01

Como ilustrado no Quadro 1, encontram-se correlações significativas entre todas as escalas, nesta amostra, nomeadamente, uma correlação forte entre a sintomatologia e o processamento emocional (r.=672, p<.001), assim como entre as dificuldades na regulação emocional e o processamento emocional (r=.608, p <.001). Todas as escalas se encontram correlacionadas moderadamente.

Quadro 2. Correlações entre valores globais do processamento emocional (EPS-25),

dificuldades na regulação emocional (EDRE), dificuldades no processamento emocional (EDPE), sintomatologia (BSI) e alexitimia (TAS-20) na amostra alexitimicos (N=30).

Variáveis EDRE BSI EDPE EPS TAS

EDRE 1 ,571** ,281 ,437* ,253 BSI ,571** 1 ,378* ,430* ,547** EDPE ,281 ,378* 1 ,104 ,008 EPS ,437* ,430* ,104 1 ,002 TAS ,253 ,547** ,008 ,002 1 ** p-value < 0.01. * p-value < 0.05

No Quadro 2 encontram-se correlações significativas moderadas (entre r=.378 e r=.547) em várias relações: entre as dificuldades de regulação emocional e a

sintomatologia (BSI), entre as dificuldades de regulação emocional e o processamento emocional, entre a sintomatologia e todas as escalas. A sintomatologia e o

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p<001), no entanto, o funcionamento emocional parece ter uma relação mais fraca e não significativa com o processamento emocional (r=-.002) e as dificuldades de

processamento emocional (r=.008). Nota-se que as correlações são mais elevadas para a amostra não alexitímicos do que para a amostra alexitímicos, em todos os casos.

Considerando os fatores que compõem a Escala de Alexitimia de Toronto e que categorizam o funcionamento alexitímico em três grandes dimensões de dificuldades: Dificuldade em Identificar Sentimentos (F1); Dificuldades em Expressar Sentimentos (F2) e Estilo de Pensamento Orientado para o Exterior, considerou-se pertinente analisar o funcionamento alexitímico a partir destes três grandes domínios. No anexo H e J apresentam-se as correlações entre as várias subescalas em estudo e os três domínios de funcionamento alexitímico, para cada amostra.

De modo geral, na amostra não alexitímicos, o Fator 1 e o Fator 2 aparecem relacionados com a maioria das escalas. Por sua vez, o Fator 3 associa-se apenas com subescalas que apelam ao processamento emocional (Consciência, Evitamento,

Experiência emocional empobrecida e reação problemática). Nos alexitímicos, o Fator 1 aparece apenas relacionado com algumas subescalas da sintomatologia. O Fator 2 aparece não só relacionado com subescalas da sintomatologia, como com a subescala Emoções não processadas e a subescala Não aceitação. Por fim, o fator 3 aparece correlacionado com subescalas que apelam ao processamento emocional (Clivagem, Emoções não processadas, Consciência).

Predição das variáveis

Realizaram-se diferentes tipos de análise (regressão linear simples, regressão múltipla stepwise) com o intuito de compreender, respetivamente, o valor preditivo das VI’s sobre a VD para cada amostra, isoladamente e em interação.

Para se perceber o valor preditivo da EDRE na TAS realizaram-se regressões lineares simples. Na amostra não alexitimicos, evidenciou-se que a EDRE prediz 28.5% [F=39.589, p=.000] da variância na TAS. Através de uma regressão linear múltipla

stepwise entre as subescalas da EDRE (Anexo I) verificou-se que a subescala Clareza,

Não aceitação e Consciência explicam 43.4% da variância na TAS [F=25.808, p=.000]. Na amostra alexitimicos, a EDRE não prediz a variância na TAS [F=1.927, p=.176] e, portanto, nenhuma subescala explica a variância na TAS, nesta amostra.

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Para se perceber o valor preditivo da EDPE na TAS, realizaram-se regressões lineares simples. Na amostra não alexitímicos, evidenciou-se que a EDPE prediz 18.4% da variância na TAS [F=23.080, p=.000].

Na amostra alexitímicos, a EDPE não prediz a variância na TAS [F=.012, p=.913], nem nenhuma das suas subescalas isoladamente.

Para se perceber o valor preditivo do processamento emocional na TAS, realizaram-se regressões lineares simples. Na amostra não alexitimicos, evidenciou-se que a EPS prediz 24.2% da variância na TAS [F=31.966, p=.000]. Através de uma regressão múltipla stepwise verifica-se que são as subescalas Experiência emocional empobrecida e Controlabilidade que explicam cerca de 25.4% da variância na TAS [F=17.538, p=.000].

Na amostra alexitímicos, a EPS não se apresenta como preditor significativo da variância na TAS, nem nenhuma das suas subescalas.

Quanto à sintomatologia, na amostra não alexitímicos, verifica-se que o BSI prediz 13.9% da variância na TAS [F=16.684, p=.000]. Através de uma regressão linear múltipla stepwise entre as subescalas do BSI e a TAS verificou-se que é a subescala Psicoticismo que explica cerca de 14.4% da variância na TAS [F=17.362, p=.000].

Na amostra alexitímicos, o BSI prediz cerca de 27.4% da variância [F=12.068, p=.002]. Através de uma regressão linear múltipla stepwise entre as subescalas do BSI e a TAS verificou-se que, igualmente, é a subescala Psicoticismo que explica cerca de 40% da variância na TAS [F=19.656, p=.000].

Posto isto, realizou-se uma regressão linear múltiplas stepwise para perceber quais as subescalas das várias medidas (EDRE, EDPE, EPS e BSI) que, em interação, melhor predizem o funcionamento emocional, nas diferentes amostras.

Concluiu-se que, na amostra não alexitimicos, a sequência aditiva de variáveis com melhor poder preditivo é a seguinte: subescala Clareza da EDRE; subescala Reação problemática da EDPE; subescala Experiência emocional empobrecida da EPS; e, por último, a subescala Consciência da EDRE. O modelo explica um total de 48.4% da variância na TAS [F=23.739, p=.000].

Na amostra alexitimicos verificou-se que, enquanto melhor modelo preditivo, temos numa sequência adicional as seguintes variáveis: subescala Psicoticismo do BSI, subescala Clivagem do Self I da EDPE e, por último, com a subescala Evitamento da EPS que explica 55% da variância na TAS [F=12.793, p=.000].

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Utilizando uma regressão logística, com o objetivo de perceber o efeito

diferencial da EDRE, EDPE, EPS e do BSI (em interação) nas diferenças entre as duas amostras verificou-se que são as dificuldades no processamento emocional (EDPE) a melhor preditora das diferenças entre as amostras [β =.091, p=.008].

Paralelamente, considerou-se relevante analisar o funcionamento alexitimico preconizado nas suas três grandes dimensões, em ambas as amostras. Para isso, recorreu-se à analise de regressão múltipla stepwise.

Na amostra não alexitimicos percebeu-se que, a predizer a variância do Fator 1 – Dificuldades na identificação de sentimentos – em 39.6% estão as subescalas Clareza, Estratégias e Impulsos da EDRE [F=22.184, p=.000], em 20.3% estão as subescalas Sensibilidade Interpessoal e Hostilidade do BSI [F=13.363, p=.000]; em 33.5% as subescalas Ausência de significado e Vulnerabilidade da EDPE [F=25.395, p=.000] e, por fim, em 19.8% a subescala Emoções não processadas da EPS [F=24.990, p=.000]. Nesta amostra percebemos que são as subescalas da EDRE que predizem, em maior valor, a variância deste fator.

Na amostra alexitimicos, a variância do Fator 1 é predita em 29.1%, exclusivamente, pela subescala Psicoticismo [F=12.914, p=.001].

A predizer o Fator 2 – Dificuldade na expressão de sentimentos – na amostra não alexitimicos estão as subescalas Clareza e Consciência da EDRE [F=18.429, R=.264, p=.000]; em 12.2% a subescala Psicoticismo [F=14.494, p=.000], a subescala Reação problemática da EDPE em 22% [F=28.280, p=.000] e, ainda, a subescala Experiencia emocional empobrecida da EPS, em 12.2% [F=14.423, p=.000]. Mais uma vez, são as subescalas da EDRE que predizem maior variância neste fator.

Enquanto que na amostra alexitimicos, a subescala Não aceitação prediz em 11.2% este fator [F=4.665, p=.039], a subescala Psicoticismo prediz cerca de 19.4% da variância [F=7.974, p=.009] e a subescala emoções não processadas prediz em 12% este fator [F=4.675, p=.034].

Quanto ao Fator 3 – Pensamento orientado para o exterior – na amostra não alexitimicos, a sua variância é predita em 10.9% pela subescala Consciência [F=12.813, p=.001], em 6.6% pela subescala Reação problemática e Assunto inacabado da EDPE [F=4.454. p=.014] e pelas subescalas Experiência emocional empobrecida e supressão em 12.2% [F=7.748, p=.001].

Por sua vez, na amostra alexitimicos, a variância neste fator é predita pela subescala Consciência em 14.3% [F=5.824, p=.023], pela subescala Clivagem do Self I,

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em 14.8% [F=6.042, p=.020] e pela subescala Emoções não processadas [F=4.258, p=.048] em 10.1%.

Discussão

Relativamente às diferenças encontradas nos vários domínios emocionais avaliados entre os grupos, alexitimicos e não alexitimicos, como esperado, indivíduos com funcionamento alexitimico demonstraram maior presença de dificuldades ao nível da regulação emocional, do processamento emocional e da sintomatologia, sendo estas diferenças significativas.

Relativamente às dificuldades de regulação emocional, a nossa H1 foi

tendencialmente confirmada, elevando-se os padrões de dificuldade na compreensão da resposta emocional, na consciência da resposta emocional, na aceitação das respostas emocionais, dificuldade em controlar os impulsos e o acesso limitado a estratégias de regulação emocional. Parece que, a dificuldade na compreensão e consciência das respostas emocionais foram os domínios que diferiram mais significativamente. Esta elevação poderá ser explicada tendo em consideração que ambos os domínios se ligam à incapacidade de atender às próprias emoções e conseguir atribuir-lhes significado, competências que estão diminuídas naquilo que se concebe em definição por

“alexitimia” (Taylor et al., 1997). O envolvimento em comportamentos orientados por objetivos quando são experienciadas emoções negativas não se revelou estatisticamente significativo entre os diferentes tipos de funcionamento. Esta permissa pode ser

sustentada pelo facto desta subescala apelar a uma regulação mais cognitiva, ao invés de se associar à componente mais emocional, como as subescalas que vimos anteriormente e que, tendencialmente, está mais diminuída nos alexitímicos.

No que toca às dificuldades no processamento emocional, a H2 foi confirmada, demonstrando que sujeitos com funcionamento alexitimico têm maior presença de padrões associados à perplexidade face às respostas emocionais, sentimentos dúbios ou de ausência de clareza em relação a uma experiência interna, autocrítica em relação ao que sente ou faz, restrição da experiência emocional, sentimentos inacabados

potenciadores de sofrimento psicológico em relação aos outros e autoperceção ou sensação de vulnerabilidade. São as dimensões relativas à perplexidade face à resposta emocional e a ausência de clareza em relação à experiência que diferem mais

significativamente nos indivíduos alexitimicos. O que pode ser explicado à luz do que foi verificado no domínio da regulação emocional, onde, assumindo-se como

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caraterísticas do funcionamento alexitimico (Taylor et al., 1997) a perceção da experiência emocional é deficitária, devido ao não processamento da mesma (Vermeulen et al., 2006; Luminet et al., 2004). E mesmo atendendo ao seu processamento, esta não se torna compreendida pelo próprio individuo.

Em relação ao processamento emocional a H3 foi corroborada pelas diferenças significativas encontradas entre as duas amostras. Estas diferenças refletem a presença, em maior dimensão, da dificuldade na regulação das emoções, do não processamento das emoções vivenciadas, sensação de intrusão face às mesmas, dificuldade no controlo dos impulsos e tendência a controlar a experiência emocional e expressão emocional, nos alexitímicos. De entre os domínios referidos salienta-se, em termos estatísticos, o constrangimento da expressão emocional (supressão emocional) e a dificuldade no controlo dos impulsos (controlabilidade). Esta diferença pode justificar-se segundo a permissa da inexistência de um leque de competências de regulação das emoções nos indivíduos alexitímicos, que lhes permita gerir adequadamente as emoções próprias e as emoções face aos outros, sobretudo quando desagradáveis (Vermeulen et al., 2006; Luminet et al., 2004). Fazendo com que, a forma de as gerir seja não adaptativa, devido à ausência de alternativas viáveis. Ou, inversamente, o facto de não serem capazes de processar a experiência emocional adequadamente leva-os a terem mais dificuldades em explorar e apreender estratégias de regulação emocional adaptativas.

Alusivamente à análise da sintomatologia psicopatológica nas amostras (H4), constatou-se que as várias dimensões psicopatológicas diferirem significativamente entre os indivíduos alexitimicos e os não alexitimicos, corroborando a nossa hipótese. Embora, se evidenciem no leque global, as perturbações de caráter ansioso e depressivo, como corrobora a literatura (e.g. Burke & Haslam, 2001).

Relativamente às correlações entre as dificuldades de regulação emocional (EDRE global) e de processamento emocional (EDPE global), o processamento emocional (EPS global) e a sintomatologia, na amostra alexitimicos percebemos que a H5 foi apenas parcialmente apoiada pelos resultados, verificando-se apenas correlações moderadas entre a sintomatologia e a TAS. A par de correlações moderadas entre a sintomatologia e as dificuldades de regulação emocional, a sintomatologia e o processamento

emocional, e ainda, as dificuldades de regulação emocional e o processamento

emocional. Exceção para a correlação muito fraca e não significativa das dificuldades de processamento emocional e dificuldades de regulação emocional. Importa revelar que, numa análise em que se utilizou a escala global da EDPE sem a subescala

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vulnerabilidade, motivada pela fraca consistência interna revelada pela mesma e

explicada na secção dos instrumentos, esta continuou a revelar correlações fracas ou não significativas com todos os outros domínios. As relações menos fortes ou significativas relativamente às dificuldades de processamento emocional poderão dever-se ao facto de, no nosso estudo, algumas das suas subescalas não contribuírem de forma elevada para a consistência interna da medida, no seu global. Por outro lado, em comparação com as restantes medidas utilizadas no nosso estudo, parece-nos que a resposta a esta escala exija, pela linguagem dos próprios itens, um nível de insight diferenciado de medidas como a EDRE.

Quanto à associação entre as várias escalas, na amostra não alexitimicos, todas elas apresentam correlações moderadas a fortes, sendo significativas num sentido positivo. No entanto, o mesmo não acontece, como vimos, na amostra alexitimicos. Nesta apenas a sintomatologia se correlaciona com as outras escalas, inclusive com a TAS, o que denota a centralidade da psicopatologia na regulação ou desregulação do funcionamento emocional. Assim, níveis mais elevados de dificuldades de regulação emocional,

funcionamento emocional alexitimico e alterações do processamento emocionais correspondem a níveis mais elevados de sintomatologia (Fonseca, 2012).

No geral, tanto as correlações como as regressões encontradas na amostra não alexitimicos são mais fortes do que as encontradas na amostra alexitimicos, podendo ser possível encontrar algumas hipóteses explicativas para isso. O facto de se tratar de uma população caraterizada por um funcionamento atípico ou desadaptativo poderão, eles próprios, não aceder conscientemente aos seus estados emocionais reais, tendo uma noção da vivência ou experiência emocional própria diminuída, fazendo com que a resposta aos itens não se correlacione com a vivencia emocional mais próxima do real, ainda que a média nesta amostra seja sempre superior, relativamente à média dos não alexitímicos. A discrepância do número de participantes em relação a cada amostra também poderá pesar significativamente nas diferenças dos resultados, isto porque, a amostra alexitimicos é bastante mais reduzida em relação à amostra não alexitimicos, e tal possa ter contribuído para a diminuição da associação e da predição entre as

variáveis desta amostra.

Por se tratarem de processos emocionais considera-se mais sustentável a sua avaliação a partir de tarefas específicas que facilitem o acesso ao mundo intrapsíquico. Esta assunção é ainda mais relevante quando falamos de indivíduos com funcionamento tipicamente alexitimico e que, per si, experienciam já um comprometimento a este

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nível. Ao se manter a dificuldade no acesso ao mundo emocional interno, a resposta a medidas de auto relato avaliadoras de processos emocionais poderá igualmente encontrar-se comprometida. Ainda que, no nosso estudo, os alexitimicos pontuem sempre mais nas dificuldades, do que os não alexitímicos. Reforçando assim o peso das diferenças amostrais enquanto influenciadores significativos dos resultados.

A partir da observação das regressões lineares simples conclui-se que, isoladamente, a sintomatologia consegue predizer, de forma significativa, a variância do

funcionamento emocional, na amostra alexítimicos. Neste sentido, é possível inferir que maiores graus de sintomatologia se associam a níveis mais elevados funcionamento emocional desadequado (alexitimia), o que parece confirmar, a H4. Torna-se importante salientar que a sintomatologia explica isoladamente 27.4% da variância do

funcionamento alexitímico, sendo que é a subescala Psicoticismo, a que mais contribui para a variância. Tal enfatiza o papel do isolamento interpessoal em associação à necessidade de controlo do pensamento, limitadores do acesso ao mundo interno e emocional, normalmente capacidades mais diminuídas neste tipo de população. Pois, é o acesso aos processos e experiências emocionais que permitem a sua regulação e a promoção de competências de comunicação e interação social. Estes resultados parecem sugerir que, para a amostra alexitimicos, o funcionamento emocional pode ser explicado pela presença de sintomatologia. Ou, por outro lado, que um tipo de funcionamento alexitímico possa influenciar positivamente a presença de sintomatologia

psicopatológica, reforçando o papel deste constructo naquilo que é a visão do funcionamento emocional atípico.

No entanto, para a amostra não alexitímicos, quer as dificuldades de regulação emocional, dificuldades de processamento emocional, o tipo de processamento emocional quer a sintomatologia permitem predizer o funcionamento emocional não alexitímico. Embora não tenhamos colocado nenhuma hipótese relativa à amostra não alexitímicos, este resultado discrepante face à amostra alexitímicos, esperar-se-ia que estes resultados fossem, no minino, mais semelhantes entre as amostras. Mais uma vez, podemos justificar esta discrepância com os argumentos já supracitados, relativos à caraterização e amplitude da própria amostra.

Através do modelo de sequências aditivas, podemos inferir que, na amostra não alexitimicos, a falta de clareza emocional, a perplexidade face a respostas emocionais, a experiência emocional empobrecida e a falta de consciência emocional conseguem predizer significativamente 48.4% da variância do funcionamento emocional. Na

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verdade, os quatro domínios referidos estão amplamente relacionados, no que diz respeito ao que avaliam, apelando globalmente à ideia de que a reação emocional é experienciada como enigmática ou confusa, daí poder explicar-se que todos eles contribuam para a variação do funcionamento emocional nesta amostra.

Mais uma vez salienta-se, em maior frequência, a presença de dificuldades na regulação emocional (subescalas Consciência e Clareza) na amostra, não alexitímica. O que nos alerta para a presença de dificuldades globais quanto à perceção e compreensão da experiência emocional e, consequentemente, a redução do leque de respostas

adequadas à mesma. Quando usamos os valores da TAS assumimos a presença de alexitimia, no entanto, esta é uma variável contínua e, assim sendo, é natural a presença de associações com estas dificuldades.

Sendo que, na amostra alexitimicos são o psicoticismo, a dimensão autocritica (clivagem do self I) e o evitamento da expressão emocional que conseguem predizer significativamente (55%) o funcionamento emocional alexitímico. Concluímos, olhando para os itens que compõem cada domínio, que existe nesta amostra uma tendência para o evitamento da experienciação de emoções de valência negativa, como comprovado em anteriores estudos (e.g. Vermeulen et al., 2006; Luminet et al., 2004; Prazeres et al., 2000). A par da tendência para o isolamento, numa linha de menor identificação ao outro, que poderá ser explicada segundo a dificuldade, dos sujeitos caraterizados como alexitímicos, em identificar estados emocionais em si e no outro que comprometem a vinculação interpessoal.

Estes resultados dão importantes contributos para a enfatização da capacidade de processar e regular as emoções, no sentido de se atribuir ao sistema emocional o papel de sinalizador do grau de adequação, bem-estar e sintomatologia (Vasco, 2013). Isto porque, os resultados citados demonstram que, mesmo indivíduos caraterizados como não alexitimicos, não tendo as capacidades de identificação, expressão e regulação emocional, todas elas, em défice, podem apresentar dificuldades na funcionalidade sistema emocional. Porque, quando falamos de funcionamento alexitimico não esquecemos que esta é uma variável continua, e portanto, os indivíduos caraterizados como não alexitimicos podem, como demonstrado pelos resultados, também eles apresentar dificuldades quer na regulação emocional, na identificação ou expressão de emoções e sentimentos.

Segundo os resultados da regressão logística sugere-se que, em interação, as dificuldades no processamento emocional (EDPE) se apresentam como o melhor

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preditor das diferenças entre as amostras. Sabemos que, é a promoção da consciência das emoções que facilita o processamento emocional e consequentemente o

funcionamento adaptativo dos indivíduos (Silva, 2008). Embora esta dimensão do processamento emocional pareça ser a mais afetada nos indivíduos alexitímicos, os indivíduos não alexitímicos também demonstram dificuldades neste tipo de processo. Mais do que ao nível de competências de regulação emocional, podemos considerar que as maiores dificuldades, em ambos os grupos, se situam ao nível de processos (e.g. processamento emocional). Não podendo, à partida, carateriza-los como populações com diferenças no processamento emocional, per si, mas sim, na “qualidade” ou percurso do mesmo. Como se, na alexitimia em geral, enquanto variável contínua, existissem bloqueios do processamento emocional mas, nesta última, esses bloqueios fossem a um nível mais primário.

A necessidade de compreender melhor o construto alexitimia, e as suas possíveis implicações para as práticas psicoterapêuticas, levou-nos a olhar individualmente para cada fator. Quando analisamos o fator Dificuldade em Identificar Emoções ou

Sentimentos (F1) percebemos que as diferenças entre os dois grupos se situam na subescala Psicoticismo, sendo esta a única que prediz variância nos alexitimicos. Sabemos que este fator apela à atentividade e autoanálise e à capacidade em diferenciar emoções. E embora, não se relacione diretamente com a dimensão psicoticismo por apelar a uma dimensão mais interna (como eu estou comigo próprio), a verdade é que, a forma como me compreendo e como identifico estados emocionais em mim, se pode repercutir na dimensão eu/outro, como identifico emoções nos outros ou como comunico com os outros sobre as minhas emoções.

Se olharmos para o Fator 2 – Dificuldade em Expressar Emoções ou Sentimentos – enquanto continuidade do fator anterior, podemos inferir que o fator anterior é como a base mais primária do funcionamento alexitimico. No caso de não conseguimos

identificar emoções, teremos consequentemente mais dificuldade em descreve-las. Este fator é predito a partir das subescalas Não aceitação, Emoções não processadas e Psicoticismo, na amostra alexitimicos. Por apelar a uma componente mais comunicacional das emoções faz sentido que seja explicada pela dimensão Psicoticismo, de nível mais interpessoal, associando-se assim a dificuldade em descrever emoções ao défice nas competências comunicacionais dos indivíduos

alexitimicos. As outras subescalas que explicam este fator, nesta amostra, demonstram a presença de uma nuance de rejeição das emoções negativas por parte dos alexitímicos

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(Não aceitação) e uma ruminação e persistência do mesmo conteúdo emocional

incompreendido (Emoções não processadas). Isto pode significar que, olhando de forma contínua para as variáveis em estudo, indivíduos alexitímicos parecem ter dificuldades na descrição das emoções por conta da sua incompreensão ou renuncia ao

processamento daquela emoção ou sensação, podendo considerar que, eventualmente, estes indivíduos identificam em si um estado alterado (e.g., sensação de mal-estar, estranheza) mas não conseguem identifica-la ou nomeá-la enquanto emoção (e.g., tristeza, zanga).

O fator 3 – Pensamento orientado para o exterior – conceptualizando-se como um foco no exterior, em termos estatísticos, aparece menos correlacionado com o todo, em comparação com os fatores anterior, possivelmente pela menor consistência interna com a escala global, neste estudo. Este fator é predito, na amostra alexitímicos, pelas

subescalas Emoções não processadas, Clivagem do Self I e Consciência – esta ultima semelhante no outro grupo. Olhando para as mesmas, os indivíduos alexitimicos parecem reforçar esta visão focada no exterior pela dimensão autocritica relativamente ao que é sentido, como se a dimensão sentir os tornasse mais fracos e, por esse motivo, renunciassem esta expressão e processamento emocional (emoção não processada), acabando por sair reforçado o processamento superficial e cognitivo dos acontecimentos ou situações. Contudo os resultados relativamente a esta subescala deverão ser

considerados com cautela dado o valor da consistência interna ter sido baixo.

Eventualmente, os indivíduos alexitímicos podem até conseguir identificar emoções previamente (F1) mas essa identificação pode não ser produtiva, ou seja, pode não lhes permitir conseguir expressá-la (F2), podendo até potenciar emoções secundárias (e.g., frustração, zanga). Essas mesmas sensações de mal-estar ou incómodo secundárias podem levar-nos à dimensão mais autocritica que demonstram os resultados. Isto é, não sendo eu capaz de descrever o desconforto que sinto ou não aceitando esse mesmo desconforto, posso passar a criticar a forma como o sinto. Como se, mesmo não sabendo como se sentem, reconhecem-se que não querem sentir-se mal e por isso rejeitam essa hipótese e autocriticam-se caso sintam esse desconforto, o que alimenta o desconforto.

Esta ligação, aparentemente, direcional a partir do F1 até ao F3 pode também ser vista como bidirecional. Uma vez que já considerámos, em termos de hierarquia, que existindo dificuldades num fator de nível mais primário (F1) poderão existir

dificuldades nos outros, a verdade é que, perante os resultados podemos também conceptualizar a ideia de que há uma espécie de retroalimentação destes fatores. Se

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analisarmos o ultimo fator – Pensamento orientado para o exterior – e as dimensões que o predizem (e.g. Clivagem), de acordo com os itens correspondentes, podemos

considerar que a própria ideia de autocritica face ao que é sentido ou como é sentido, nos alexitímicos, reforça o não processamento ou a negação de emoções – patentes no fator 2 – e, consequentemente, a identificação das mesmas (F1), podendo cada um deles ser uma causa ou efeito de.

Por outro lado, a partir dos resultados parece ser possível considerar que o funcionamento alexitimico está dependente da componente de aprendizagem do processamento emocional. Partindo do pressuposto que as aprendizagens, quer a nível do leque emocional, quer a nível interpessoal se fazem a partir das relações de

vinculação precoce, podemos considerar que é esta mesma vinculação promotora de estilos de funcionamento emocional e interpessoal ao longo do desenvolvimento do individuo e que pode, por sua vez, conduzir a diferentes nuances.

Mais, tendo em consideração os resultados que salientam a tendência para a

existência de dificuldades no processamento emocional, a um nível primário ou básico, nos alexitimicos e, ao reconhecer o papel primordial dos esquemas emocionais no processamento emocional (Greenberg, 1996) poderíamos aceitar a hipótese acerca da possível presença de esquemas emocionais de carater mais negligente/ausente de responsividade (e.g. esquema de privação emocional, esquema de abandono) (Young, Klosko & Weishaar, 2003) se relacionar com o funcionamento alexitimico, enquanto caraterística.

Conclusão

De forma geral, os resultados encontrados na amostra não alexitimicos sugerem que todas as variáveis em estudo, sobretudo as que remetem para o processamento e

regulação emocional predizem de forma significativa o funcionamento emocional não alexitimico. Na amostra alexitímicos, os resultados parecem não ser tão claros. A sintomatologia parece ser a única capaz de predizer, enquanto escala global, a variância no funcionamento alexitimico. No entanto, em termos de subescalas que compõe cada medida, um estilo de processamento emocional evitativo, a recorrência a estratégias de autocritica e um estilo interpessoal desligado (Evitamento, Clivagem e Psicoticismo) parecem, em conjunto, ser o melhor modelo de predição da variância do funcionamento emocional alexitimico. Em particular, nos diferentes fatores que caraterizam o

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