Uma análise da importância do álcool, dos
seus processos e efeitos para um
nutricionista
An analysis of the importance of alcohol, its processes
and effects to a nutritionist
Autor: Teresa Santos Orientado por: Dr.ª Ana Monteiro
Monografia
Teresa Isabel Santos | 2009
Agradecimentos
Agradeço à minha família, em especial à minha irmã que sempre me apoiou e ajudou na realização deste trabalho.
Agradeço também a todas as pessoas que me ouviram e me ajudaram durante estes últimos meses.
“It has long been recognized that the problems with alcohol relate not to the use of a bad thing, but to the abuse of a good thing.” Abraham Lincoln
Teresa Isabel Santos | 2009
Índice
Agradecimentos ... i
Lista de Tabelas ... iv
Lista de Gráficos ... iv
Lista de Abreviaturas ... vii
Resumo ... v
Palavras-Chave ... vii
Abstract ... vi
Key-words ... viii
Introdução ... 1
1. Processo de Obtenção do Álcool ... 3
2. Farmacocinética do Álcool ... 4
3. Processos de Metabolização do Álcool ... 5
4. Álcool como Nutriente? ... 7
5. Álcool e o Sistema Cardiovascular ... 7
5.1 Álcool e o Enfarte do Miocárdio ... 9
5.2 Álcool e a Hipertensão ... 11
5.3 O papel do vinho nas Doenças do Sistema Cardiovascular ... 12
6. Álcool e as Neoplasias ... 13
6.1 Álcool e o Cancro Hepático ... 15
6.2 Álcool e o Cancro Pancreático... 16
6.3 Álcool e o Cancro Oral ... 18
6.4 Álcool e o Cancro da Mama... 19
7. Álcool e o Fígado ... 20
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9. Álcool e o Sistema Respiratório ... 23
10. Álcool e a Diabetes ... 24
11. Álcool e a Obesidade... 26
12. E em Portugal ... 26
Conclusão e Discussão ... 28
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Lista de Tabelas
Tabela 1. Quantidade de álcool de algumas bebidas por 100ml de produto.
Tabela 2. Consumo de álcool distribuído por idades em Portugal em 2001. Tabela 3. Resenha dos efeitos do álcool.
Lista de Figuras Figura 1. Vias de metabolização do álcool.
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Lista de Abreviaturas
Coenzima-A (Co-A)
Desidrogenase alcoólica (ADH)
Desidrogenase aldeídica (ALDH)
Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC)
)DFWRUGH1HFURVH7XPRUDOĮ71)-Į
Índice de Massa Corporal (IMC)
Organização Mundial de Saúde (OMS)
Síndrome Alcoólico Fetal (SAF)
Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS)
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Resumo
O álcool é uma das maiores drogas de consumo lícito, habitual e não poucas
vezes excessivo. O consumo de álcool tem vindo a aumentar, e
consequentemente os problemas com ele relacionados.
Embora o álcool forneça energia ao nosso organismo não pode ser considerado
um nutriente, pois a energia que oferece não é acumulável nem essencial para as
nossas actividades orgânicas, contrariamente à fornecida pelos nutrientes.
Os efeitos produzidos pelo consumo de álcool expressam uma relação
dose-efeito, por outras palavras, as suas consequências positivas ou negativas
relacionam-se com a dose ingerida. De entre os efeitos positivos salientam-se a
aumento do colesterol HDL, do risco de doenças coronárias e de enfarte do
miocárdio. Relativamente aos efeitos negativos podemos destacar o aumento do
risco de acidente vascular cerebral hemorrágico, de desenvolvimento de cirrose,
de neoplasias, um aumento da hipertensão, bem como a possibilidade de
desencadear alterações no metabolismo de vários elementos presentes na nossa
dieta, como é o caso do ferro, folato, niacina, etc.
O principal órgão responsável pela metabolização do álcool é o fígado, onde o
álcool é convertido em acetaldeído, um composto nocivo para o nosso organismo,
sendo este último prontamente transformado em acetato. Deve salientar-se o
facto de esta metabolização se encontrar dependente quer da idade, quer do sexo
do indivíduo.
Palavras-chave: álcool, nutriente, dependência, doenças
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Abstract
Alcohol is undoubtedly one of the legal drugs with the highest regular, if not
excessive, consumptions. The consumption of alcohol has up risen recently and
consequently the same can be said regarding the problems therein related.
Although alcohol provides our organism with energy, it cannot be considered a
nutrient since the energy it provides is neither accumulative nor essential for our
organic activities, contrary to the energy obtained through nutrients.
The consequences of alcohol consumption express a dose-effect correlation. In
other words, the positive or negative reactions vary according to the dose
ingestion performed by each individual. Among the positive effects, we may find
the increase of HDL cholesterol, the risk decrease of both coronary heart disease
and the myocardial infarction. In what concerns the negative effects, we may point
out the increase of the risk of an hemorrhagic attack, the development of cirrhosis,
of neoplasia, the raise of hypertension, as well as the possibility of unchaining
modifications in the metabolism of several elements of our daily diet, such as iron,
folate and niacin, etc.
The main organ responsible for the metabolism of alcohol is the liver, in which
alcohol is converted into acetaldehyde, a harmful compound for our organism,
promptly transformed into acetate. It is important to stress that this metabolism
process depends greatly on the age and the gender of each individual.
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Introdução
A presente monografia aborda apenas o álcool enquanto etanol, porquanto
sempre que nos referimos ao álcool, falamos, do etanol apenas.
O álcool é uma pequena molécula, solúvel em água e em lípidos, (1) constituída por: dois carbonos e um grupo hidroxilo, tendo como fórmula química CH3CH2OH.
Na nossa dieta o álcool surge mais como uma droga do que como um alimento,
apresentando-se como uma substância diferente de qualquer outra por nós
ingerida. (2) Depois da cafeína e da nicotina, o álcool é a droga mais consumida. (3,4)
A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 2 biliões de pessoas de todo
o mundo consumam bebidas alcoólicas, e que 76,3 milhões apresentem doenças
associadas com o consumo de álcool. (5) Segundo dados apurados pela OMS (2005) o consumo excessivo e descontrolado de álcool está na origem de 3% das
mortes totais, e de 4% da carga de doença, concentrando-se a maior proporção
na América do Norte e do Sul e na Europa. Note-se, ainda, que a proporção de
mortes nos homens com doenças ligadas ao consumo de álcool é de 5,6%
enquanto que nas mulheres é de 0,6%. (6,7)
Segundo o World Drink Trends 2003 o consumo de bebidas alcoólicas tem vindo
a aumentar, e consequentemente também os problemas a ele associados. No
caso Português, a OMS apurou que o consumo de álcool per capita em indivíduos
com idade superior a 15 anos se situava nos 12,49 litros. (5)
Álcool é um termo geral que comporta vários tipos, nomeadamente, (1) o metanol,
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O álcool como qualquer substância apresenta efeitos positivos e negativos para a
saúde. Estes efeitos dependem da dose ingerida, existindo uma relação
dose-efeito, (8) dado que uma quantidade moderada de álcool apresenta efeitos positivos, mas quando ingerido em excesso os seus efeitos são negativos. (9) Quando consumido em quantidades moderadas o álcool apresenta como efeitos
positivos a diminuição do risco de acidente vascular cerebral isquémico, (10-13) o aumento do nível de HDL, (10,11) a melhoria da sensibilidade à insulina, (10,11) a diminuição dos níveis de fibrinogénio, (10,11) a diminuição da incidência de enfarte do miocárdio (10,14-16) e de arteriosclerose (10) e a diminuição do risco de doenças coronárias. (17) Porém, em quantidades excessivas apresenta efeitos nocivos, entre os quais se salientam o aumento do risco hemorrágico, (11,17) de cardiopatias, de suicídio, de cirrose, de neoplasias, de síndrome alcoólico fetal
(SAF), de síndrome da apneia obstrutiva do sono (SAOS), de hipercolesterolemia,
de hipertrigliceridemia, de hipertensão, (8,10,18-20) de arritmias, (17) e de miopatias alcoólicas. (21)
Deve-se salientar o facto de o álcool produzir efeitos diferentes nos homens e nas
mulheres. Neste domínio, nas mulheres este encontra-se associado a uma
diminuição dos triglicerídeos, da hipertensão arterial, a um aumento do colesterol
HDL e a uma melhoria da sensibilidade à insulina. (19,22) Enquanto que nos homens, se encontra associado a um aumento do colesterol LDL, da apoproteina
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1. Processo de Obtenção do Álcool
O conhecimento do processo de fabrico de bebidas alcoólicas remonta aos povos
Egípcios, Gregos e Romanos. (25) Actualmente, sabemos que o fabrico de bebidas alcoólicas consiste na conversão de mono ou dissacarídeos em etanol, através de
reacções catalizadas por leveduras do género Saccharomyces. (26) As bebidas alcoólicas são obtidas através de dois processos: da fermentação e da destilação.
No primeiro caso as bebidas alcoólicas, obtêm-se através da fermentação
alcoólica do malte, como é o caso da cerveja, ou de frutos no caso do vinho.
Sendo ambas as fermentações alcançadas por acção das leveduras. As bebidas
resultantes da fermentação apresentam um teor alcoólico não superior a
10g/100ml. (25,26) No segundo caso, as bebidas destiladas são obtidas através de uma volatilização e posterior condensação do vapor formado através da
destilação, dando-se a separação e a concentração da fracção mais volátil das
bebidas, sendo nesta fracção onde se encontra o etanol, levando à formação de
bebidas com um teor alcoólico superior (Tabela1). (25,26)
A destilação vulgarizou-se na Europa no século XI, principalmente em França.
Este país foi dos primeiros a valorizar o aumento do consumo de álcool pela
população, considerando a partir daí o alcoolismo não apenas como vício mas
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Tipo de bebida Álcool (g)
Destiladas Aguardente 44,0 Gin-Rum-Whisky 31,7 Licor simples 28,0 Fermentadas Cerveja branca 3,7
Vinho espumante meio seco 8,9
Vinho generoso do Porto, meio seco 16,0
Vinho maduro tinto 9,2
Vinho maduro branco 9,6
Vinho verde tinto 8,0
Vinho verde branco 8,4
Tabela 1. Quantidade de álcool de algumas bebidas por 100ml de produto. (27)
2. Farmacocinética do Álcool
O álcool quando ingerido é mais rapidamente absorvido na mucosa duodenal do
que na mucosa gástrica. A velocidade do processo de absorção depende da
presença ou não de alimentos, pois quando estes se encontram presentes a
velocidade diminui devido ao aumento do tempo de esvaziamento gástrico. (26) Do álcool absorvido no tubo gastrointestinal apenas 2% a 10% é eliminado
através dos rins e dos pulmões, sendo o resto oxidado no corpo. Quando é
ingerido, este é parcialmente absorvido (39,4 ± 4,1%) durante a primeira hora no
estômago. (1,28) No processo de absorção deve-se ter em conta que se este for administrado pela via intravenosa o nível de álcool no sangue é superior, pois não
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nível de álcool no sangue não será tão elevado devido ao efeito de primeira
passagem. (1,29,30)
O álcool em quantidades de 400mg/100ml induz o estado de coma, mas caso
este valor aumente para 600mg/100ml, leva a uma insuficiência respiratória, e
consequentemente à morte. (26)
3. Processos de Metabolização do Álcool
O álcool quando é ingerido pode ser oxidado através de três vias: da
desidrogenase alcoólica (ADH), do Sistema Microssomal de Oxidação do Etanol
(MEOS) ou da catalase, no entanto esta última não adquire um grande relevo no
nosso organismo. (1,31) Nas restantes duas vias (Figura 1), o álcool é transformado, primeiramente, em acetaldeído, através da oxidação onde existe a
libertação de um hidrogénio do álcool, sendo este transferido para a
nicotinamida-adenina-dinucleótido (NAD), formando a nicotinamida-nicotinamida-adenina-dinucleótido
reduzida (NADH). O acetaldeído é rapidamente convertido, através de outra
oxidação, em acetato pela desidrogenase aldeídica (ALDH), uma vez que o
acetaldeído é uma substância tóxica para o nosso organismo. (1,2,26,31) No entanto, o processo de metabolização do álcool não acaba com a formação de acetato,
este combina-se com a coenzima-A (Co-A) formando o acetil Co-A, podendo este
seguir para o ciclo do ácido cítrico originando água e dióxido de carbono. Caso
este ciclo se encontre sobrecarregado, o acetil Co-A dará origem aos ácidos
gordos que estão na base dos triglicerídeos, os quais posteriormente se irão
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As diferenças entre estas duas vias prendem-se com o facto da via da
desidrogenese alcoólica (ADH), ser a responsável pela transformação do álcool
em acetaldeído. Já no Sistema Microssomal de Oxidação do Etanol (MEOS), são
as enzimas presentes neste sistema que transformam o álcool em acetaldeído.
Adicionalmente, refira-se que esta última via apenas é activada quando se
ingerem grandes quantidades de álcool. (2)
Figura 1. Vias de metabolização do álcool. (2)
Ainda no processo de metabolização do álcool, deve-se salientar as diferenças na
metabolização verificadas entre (i) o género masculino e feminino, e (ii) nas
diferentes idades, pois a capacidade de metabolização é diferente em função dos
sexos e diminui com o avanço da idade. (2) No que respeita à idade as diferenças vão surgir consoante a capacidade de metabolização do álcool para acetaldeído,
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mudando, deste modo, também a susceptibilidade da intoxicação, de danos nos
órgãos e do poder viciante que o álcool apresenta (2) em cada indivíduo.
Quanto às diferenças entre géneros, estas podem ser explicadas à luz das
diferentes composições corporais. Por um lado, a mulher metaboliza mais
lentamente o álcool, pois apresenta uma maior quantidade de gordura corporal do
que de água, quando comparada com o homem. (2,8,32) Por outro lado, outra possível explicação é a diferença de tamanho do corpo das mulheres e dos
homens. Como estas são, geralmente, mais pequenas, os seus órgãos são
também mais pequenos. Logo, sendo o fígado o responsável pela maior parte do
metabolismo do álcool, quando este for mais pequeno, terá, logicamente, uma
menor capacidade de metabolização do álcool. (1,2) Outra explicação para as diferenças de metabolização do álcool entre os sexos reside na menor actividade
da desidrogenase alcoólica por parte da mulher. (2,32) Deste modo, a mulher ingerindo a mesma quantidade de álcool que o homem, apresenta uma maior
concentração de álcool por kg de peso, e consequentemente, um efeito mais
prolongado de álcool no sangue. (33)
4. Álcool como Nutriente?
Como já foi mencionado supra o álcool constitui-se mais como droga do que
como alimento, uma vez que fornece muito poucos nutrientes. Quando é
metabolizado o álcool fornece 7 kcal/g, menos do que a gordura quando
metabolizada que oferece 9kcal/g. Porém, proporciona mais kcal do que as
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esta energia não é considerada essencial para o nosso organismo. (2,15,31,33) Em concreto, o álcool difere dos nutrientes por não ser armazenado no nosso
organismo, e quando em excesso origina consequências mais severas do que
com o consumo desmedido de um qualquer nutriente. (2)
O consumo de álcool comporta consequências para o estado nutricional, podendo
alterá-lo. Pode, inclusivamente, levar à má nutrição (1) primária, i.e., devida ao
défice de nutrientes causado por uma dieta rica em energia, ou (2) secundária,
devido a uma má digestão ou má absorção dos nutrientes em consequência de
uma possível complicação do álcool (ex: esteatose hepática). (1) A má nutrição conduz a défices de certos elementos, como é exemplo o folato, (1,2) tiamina, (1,2) niacina, (1) vitamina C, (1) Zinco, (1,2) Vitamina B6, (2) magnésio (2) e ferro. (2, 35)
Verifica-se, também, uma depleção das vitaminas D, E e K, devido ao papel que o
álcool consegue nas alterações metabólicas da absorção da gordura (ver infra
ponto 11). (2)
Em suma, o álcool não é um nutriente, na medida em que não regula os
processos do nosso organismo, nem contribui para a manutenção da nossa
estrutura corporal. (2)
5. Álcool e o Sistema Cardiovascular
As doenças cardiovasculares encontram-se intrinsecamente relacionadas com o
consumo de álcool. (36)
Os efeitos do álcool variam consoante a quantidade consumida. Deste modo,
quando se verifica um consumo elevado de álcool, a saúde cardiovascular sai
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traduzir-se numa redução dos riscos de doenças coronárias, e consequentemente
da mortalidade em geral, sendo que estas totalizam cerca de 17.528.000 das
mortes no mundo. (6)
Afigura-se como uma especificidade de suma importância, a influência da cultura
onde o indivíduo se insere no que respeita ao consumo de álcool. Assim, nos
países mediterrâneos a bebida alcoólica mais consumida é o vinho,
principalmente durante a refeição e em quantidades moderadas. (10,37) No que concerne à Europa de Leste, e em especial à Rússia, verificamos que apresentam
um maior consumo de bebidas alcoólicas destiladas e uma maior incidência de
doenças coronárias. (37)
A acção protectora desempenhada pelo consumo de álcool em quantidades
moderadas no sistema cardiovascular explica-se pela diminuição da agregação
plaquetária, pelo aumento da actividade fibrinolítica, pela melhoria na
sensibilidade à insulina e pela elevação do colesterol HDL. (10,11,37,39)
Com o propósito de clarificar a relação entre o álcool e o sistema cardiovascular,
iremos de seguida proceder a uma análise mais cuidada.
5.1. Álcool e o Enfarte do Miocárdio
Existem evidências epidemiológicas que relacionam o consumo moderado de
álcool com um menor risco de enfarte do miocárdio, (10,14-16) porém este efeito é eliminado pela ingestão de grandes quantidades de álcool. (15)
O enfarte do miocárdio apresenta como factores de risco principais: o tabagismo e
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Contribuem, também, para o aumento do risco de enfarte agudo do miocárdio,
embora de forma secundária (pois variam consoante as diferentes regiões do
Mundo), factores físicos como: a obesidade abdominal, a diabetes e a
hipertensão. (40)
Estes factores embora secundários não se devem subvalorizar. Neste domínio,
Hines et.al., num estudo de caso-controlo, onde comparou os seus casos
controlos com indivíduos que anteriormente sofreram um enfarte do miocárdio,
verificou que os últimos manifestavam uma elevada prevalência de diabetes
(p=0,01), angina (p<0,001), hipertensão (p<0,001), menor actividade física
(p=0,002), um dos pais com enfarte do miocárdio antes dos 60 anos (p=0,02),
níveis de colesterol total elevados (p<0,001) e níveis de HDL inferiores (p<0,001).
(41)
O mesmo autor comparou, também, os indivíduos do sexo masculino que
consumiam menos de uma bebida por semana, com os que bebiam pelo menos
uma bebida por semana mas menos de uma por dia. Estes apresentaram um
risco relativo de enfarte do miocárdio de 0,96 (95%, IC 0,7-1,32). Já os indivíduos
que consumiam pelo menos uma bebida por dia apresentavam um risco relativo
de 0,62 (95%, IC 0,43-0,91). (41) Podemos, deste modo, inferir que os efeitos positivos ou negativos do consumo de álcool, no caso do enfarte agudo do
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5.2. Álcool e a Hipertensão
O aumento da pressão é conseguido através de vários mecanismos que
influenciam não só o coração, a vascularização do músculo liso, a estimulação do
sistema simpático, mas também através da estimulação do mecanismo
renina-angiotensina-aldosterona. (15,20,23)
Para o aparecimento da hipertensão contribuem diversos factores, entre os quais
se encontram: a obesidade; o aumento do consumo de sal; a inactividade física; a
história familiar; a etnia; o sexo; os estilos de vida; a diabetes; o tabagismo; os
factores genéticos; os factores ambientais; o café e o álcool. (8,12,16,24,42)
A relação entre o consumo de álcool e a pressão sanguínea caracteriza-se pela
sua complexidade. (8,42) Com efeito, o álcool constitui-se como um factor de desenvolvimento de hipertensão, mas os seus mecanismos de relacionamento
ainda não são totalmente conhecidos. (8,20,42)
Estudos realizados indicam que um consumo superior a 3 bebidas por dia, ou 39g
de álcool aumenta a hipertensão arterial, verificando-se, deste modo, uma
correlação positiva entre estas duas variáveis. (19,20,24,43)
Sesso et al aferiu que ao ingerirmos 2 a 7 bebidas por semana se verifica uma
redução do risco de hipertensão. (20) Não obstante, outros estudos concluíram que ao ingerirmos 2 bebidas por dia a nossa tensão sobe entre 5% a 7%,
aumentando, por esta via, o risco de desenvolvimento de hipertensão. (24,44)
Já Zilkens et al demonstrou que o consumo diário de álcool aumentava a pressão
sistólica em cerca de 2 mmHg, em indivíduos normotensos, após terem tomado 4
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Saliente-se, ainda, que alguns componentes das bebidas alcoólicas, como por
exemplo os antioxidantes, poderem explicar o efeito paradoxal que o álcool e as
bebidas alcoólicas apresentam na regulação cardiovascular, principalmente o
vinho. (19,20,24,43)
5.3. O Papel do Vinho nas Doenças do Sistema Cardiovascular
O vinho é uma bebida alcoólica tipicamente associada à protecção da função
cardiovascular (cardioprotecção). (37)
A título de exemplo, refira-se o chamado “Paradoxo Francês” segundo o qual se
pensa que o vinho é o determinante da baixa incidência de doenças coronárias
em França. De igual modo, outras bebidas como a cerveja e as bebidas
destiladas, podem apresentar também funções protectoras cardiovasculares, uma
vez que também dispõem de actividade antioxidante. (37,43)
Em concreto, segundo Wannamethee et al, quando comparamos os níveis de
colesterol HDL entre os consumidores de vinho, cerveja e bebidas brancas, estes
apresentaram níveis semelhantes. Onde se verifica uma pequena diferença é no
colesterol total, que mostra valores superiores nos indivíduos consumidores de
vinho apenas, nos níveis de pressão sanguínea que são inferiores, e no menor
risco de doenças coronárias. (46)
De entre os constituintes do vinho, que se associam ao álcool oferecendo
consequências positivas, encontram-se os antioxidantes, como por exemplo os
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estes últimos sem a presença do álcool não produzem nenhuma alteração na
pressão sanguínea. (8,43)
Com o propósito de determinar possíveis efeitos positivos dos compostos
alcoólicos ou não alcoólicos do vinho, em especial, estudos testaram uma solução
de vinho sem álcool e outra com álcool. Verificaram existir um ligeiro aumento do
efeito positivo nos níveis lipídicos, através de uma diminuição do colesterol LDL,
quando se ingeria vinho contendo álcool, em comparação com a solução de vinho
sem álcool. Por conseguinte, quando apenas restam os polifenois, estes não
apresentam nenhuma alteração na pressão sanguínea. (37,43,45)
Por fim, salienta-se a importância das características sociais, demográficas,
culturais e até mesmo alimentares, associadas ao consumo de álcool, o que
sugere que estas se juntam ao consumo de álcool nas funções protectoras contra
as doenças cardiovasculares. (37)
6. Álcool e as Neoplasias
As neoplasias são a segunda causa de morte em indivíduos com doenças
crónicas, com um total de mortes de 7.586.000 em todo o Mundo. (6)
Hoje em dia a ligação que a alimentação apresenta com o desenvolvimento de
neoplasias é crucial. O papel dos fitoquímicos, da botânica e dos nutrientes
presentes na dieta na prevenção de neoplasias adquiriu um significativo interesse.
Despertou, também, interesse a relação entre o consumo crónico de álcool e o
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células cancerígenas são formadas por múltiplos defeitos genéticos, que podem
ser explicados através de causas ambientais, de razões dietéticas, de estilos de
vida e de agentes infecciosos. (47)
O consumo de álcool é uma das causas mais importantes do desenvolvimento de
neoplasias logo a seguir ao tabaco, às infecções crónicas e até, possivelmente, à
obesidade. O álcool apresenta uma evidência de carcinogénese mais forte do que
a aflotoxina, no entanto, pesquisas relacionam o álcool com a prevalência de
neoplasias, são ainda muito limitadas. (48)
A relação entre o consumo elevado de álcool, e os mecanismos promotores da
carcinogénese ainda não se encontra bem definida. Não obstante, é possível
concluir que o elevado consumo de álcool se encontra associado a uma alteração
das citocinas, as quais aumentam a actividade do factor de necrose tumoral - Į
(TNF-Į), que está envolvido na patogénese das doenças do fígado em alcoólicos,
principalmente, da hepatite alcoólica e do estado pré-cirrótico. (49,50)
No estudo que realizou, Bagnardi et al, verificou que o risco do desenvolvimento
de neoplasias aumentava significativamente com o consumo diário de 25g de
álcool. (51)
Aferiu-se que o aumento do risco do desenvolvimento de cancros, entre os quais:
da cavidade oral, da faringe, da laringe, do esófago, da mama, do fígado, do
ovário, do cólon, do recto, do estômago e do pâncreas, se relaciona com o
aumento do consumo de álcool. (6,48,50-53)
O álcool não é considerado como um carciogénio, mas sim um co-carcinogénio,
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uma vez que pode actuar como um carcinogénio, principalmente, no esófago e
em certas partes do estômago. (48, 50-57)
Atente-se, ainda, no estudo de Purohit et al, relativo à ingestão de álcool, o qual
verifica que o consumo de elevadas quantidades de álcool sem nada no
estômago, aumenta o risco de desenvolvimento de neoplasias na parte superior
do tubo digestivo. (50)
Não obstante o acima exposto, existem certos tipos de cancros que beneficiam
com uma quantidade moderada de álcool: o cancro da tiróide, o linfoma de
não-Hodgkin e o cancro das células renais. Allen et al verificou que os indivíduos que
bebiam apenas vinho apresentavam inferiores taxas de incidência destes tipos
específicos de cancro, em relação aos que bebiam cerveja, bebidas destiladas ou
uma mistura entre estes dois tipos e o vinho. (52)
6.1. Álcool e o Cancro Hepático
O cancro hepático é o 8º cancro mais frequentemente diagnosticado em todo o
Mundo. (58)
O risco do seu desenvolvimento aumenta com o avançar da idade, sendo mais
prevalente nos homens do que nas mulheres. (57)
Acrescem ao consumo de álcool outros factores que, por si só, podem
representar um papel importante na progressão tumoral (bem como no
desenvolvimento de cirrose), entre os quais se encontram (1) o tabagismo, (2) os
diferentes hábitos alimentares, (3) os tipos de bebidas alcoólicas consumidas, (4)
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As doenças do fígado ligadas ao álcool e à acumulação hepática de ferro
conduzem a um significativo stress oxidativo, o que se configura como um
promotor importante da iniciação e do desenvolvimento dos eventos da
carcinogénese. (60) O álcool, nomeadamente, o seu metabolismo, comporta efeitos para a integridade do DNA e para os seus mecanismos de reparação. Refira-se,
ainda, que o álcool afecta os mecanismos de sinalização celular a nível do
hepatócito, a sua proliferação e apoptose. (59)
6.2. Álcool e o Cancro Pancreático
O pâncreas é um órgão-chave na digestão dos alimentos e na subsequente
absorção dos mesmos. Este encontra-se dividido no pâncreas exócrino e no
endócrino, onde são segregadas inúmeras enzimas responsáveis pelas funções
fisiológicas do pâncreas. Quando, por alguma razão, estas segregações se
encontram alteradas, podem-se desenvolver quadros de pancreatites. (61)
À semelhança dos outros tipos de cancro, o cancro pancreático, apresenta
factores de risco ao seu desenvolvimento, entre os quais salientamos: (i) o
aumento da idade; (ii) a raça (maior risco nos indivíduos de raça negra do que nos
de raça branca); (iii) a obesidade; (iv) a inactividade física; (v) a diabetes; (vi) as
pancreatites hereditárias; (vii) os hábitos alimentares e comportamentais. (50,61,62) Relativamente ao último ponto referido, representa um importante factor no
desenvolvimento deste tipo de cancro. Com efeito, o consumo crónico de álcool, a
elevada quantidade de energia ingerida e o baixo consumo de fruta e de vegetais
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cancro. (61) Pensa-se que a cafeína possa, igualmente, aumentar a incidência deste tipo de cancro, mas os estudos até à data da escrita, permanecem
inconclusivos quanto a este ponto. (62, 63)
A pancreatite pode dever-se ao consumo crónico de álcool, e representa um
factor de risco para o desenvolvimento do cancro pancreático. Contudo, o álcool
pode apresentar-se como um factor confundidor para o desenvolvimento da
pancreatite e, desta feita, para o cancro pancreático. (61)
O aumento do consumo diário de frutas e vegetais para 400-600g, diminui o risco
de desenvolvimento de cancro em cerca de 20%. Este efeito protector, pode
provir de certos fitonutrientes, como por exemplo flavonoides e polifenois, os
quais actuam como antioxidantes e no caso do álcool, contrariam os subprodutos
metabólicos resultantes da oxidação deste.(47,61)
6.3. Álcool e o Cancro Oral
O cancro da cavidade oral, tal com os cancros do tubo digestivo superior,
apresenta entre os factores de risco o consumo de álcool e o tabaco, sendo que a
associação entre estes dois factores representa um importante risco para o seu
desenvolvimento. (50,53,64)
Em concreto, o que sustenta a associação entre o álcool e o cancro oral
prende-se com o facto de o consumo de álcool ter aumentado em paíprende-ses em que a
incidência de cancro oral também aumentou. (55,65) Uma possível explicação reside na maior penetração de carcinogénios, através da mucosa oral, em
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Um aspecto interessante é o facto de existirem indivíduos que mesmo não
bebendo, nem fumando desenvolvem cancros orais. Esta questão levantou,
naturalmente, a hipótese de existirem outras causas, para além do álcool e do
tabaco, na origem deste tipo de cancro. Neste domínio, surgiu como possível
causa o uso de elixires, uma vez que estes apresentam na sua constituição
álcool. Foram, desde logo, sujeitos a inúmeros estudos que procuravam
estabelecer uma relação entre estes e o cancro oral. Contudo, não encontraram
relações plausíveis entre o uso de elixires e o desenvolvimento destes tipos de
cancro. (55,66,67)
Algumas das limitações dos estudos elaborados com o objectivo de averiguar a
relação entre o cancro oral e os vários tipos de bebidas consumidas, prendem-se
com (1) as diferentes terminologias e medidas do álcool nos diferentes estudos,
com (2) o facto de os indivíduos não beberem unicamente um tipo de bebida e por
último com (3) a dificuldade em medir com exactidão a quantidade de álcool
consumida pelos indivíduos. (55)
6.4. Álcool e o Cancro da Mama
O cancro da mama apresenta como factores de risco o aumento da idade, a
história familiar, os factores hormonais, os estilos de vida e o consumo de álcool.
(38,68)
Note-se que cerca de 4% dos cancros da mama são devidos ao consumo de
álcool. (68)
A relação que o álcool apresenta com o cancro da mama, depende da dose de
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cancro da mama em cerca de 9% a 41%. Neste âmbito, verifica-se uma conexão
entre este tipo de cancro e o consumo de álcool, uma vez que por cada 10g de
álcool consumido, o risco de desenvolvimento de cancro da mama aumenta cerca
de 10%. (50,68,69)
A faculdade que o álcool dispõe para aumentar o risco deste tipo de cancro
deve-se à função inactivadora do Breast Cancer 1 Gene (BRCA1), e à alteração do
metabolismo dos estrogénios através do seu aumento. Podemos, então, dizer que
o aumento do risco de cancro da mama em mulheres pré e pós-menopausa se
encontra associado ao consumo de álcool. (50,68)
Segundo, Allen et al, os indivíduos que bebem 1 bebida alcoólica por dia,
apresentam um risco relativo de desenvolverem cancro da mama de cerca de
1,08 (95%, IC 0,95-1,22). Quanto aos que consomem 1 a 2 bebidas por dia o
risco relativo é de 1,21 (1,05-1,40, p=0,01), já os que consomem 3 ou mais
bebidas por dia o risco relativo aumenta para 1,38 (1,13-1,68, p=0,002). (52) Um estudo de revisão de literatura, Li et al, verificou que de 38 estudos de
casos-controlo e estudos de coorte, existiu um aumento da incidência de cancro da
mama de 11%, 24% e 38%, quando se bebe respectivamente 1, 2 ou 3 bebidas
por dia. Refira-se que estas diferenças não apresentam qualquer relação com o
tipo de bebida. Conclui-se deste modo, pela existência de uma relação entre o
número de bebidas ingeridas e o aumento do risco do desenvolvimento de cancro
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7. Álcool e o Fígado
O álcool é considerado uma das maiores causas para o desenvolvimento de
doenças do fígado (ex. esteatose hepática, hepatites alcoólicas, cirrose e
carcinoma hepatocelular) (71,72). Assim, 25% dos indivíduos que bebem grandes quantidades de álcool desenvolvem doenças do fígado associadas ao consumo
deste. (73)
O stress oxidativo assume um papel de relevo na patogenicidade desencadeada
pelo álcool neste tipo de doenças. (71,72,74,75) Acresce, ainda, o efeito negativo que o álcool apresenta noutros órgãos como é o caso do pâncreas, do tecido cerebral
e da membrana da mucosa gástrica. (76)
A nível hepático o álcool afecta a disponibilidade e o metabolismo de inúmeros
nutrientes, (66) como é o caso do ferro e do ácido fólico. (73)
Existem substâncias com um papel central na origem do dano provocado pelo
álcool em diversos órgãos, principalmente do fígado. Falamos das endotoxinas,
que são lipopolisacarídeos que se encontram na parede das bactérias
gram-negativas no intestino. (77) Estas sofrem uma translocação desde o lúmen intestinal através do epitélio intestinal para a circulação portal, quando se verifica
uma ingestão elevada de álcool, sendo levadas até ao fígado onde serão
capturadas pelas células de Kupffer, (77,78) cuja função é a remoção de bactérias e detritos do sangue. (12) Através destas endotoxinas, as células de Kupffer são activadas, iniciando, por esta via, o processo inflamatório do fígado. (77)
A patogénese das doenças hepáticas com origem no álcool desenvolve-se em
três estágios: (1) esteatose hepática, (2) hepatite alcoólica, e (3) cirrose. (12,79) A esteatose hepática é a primeira etapa, consistindo num aumento da acumulação
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de ácidos gordos e de triglicerídeos no fígado. (12,79) A hepatite alcoólica surge num estado mais avançado da doença, encontrando-se associada a uma lesão
hepatocelular. (79) Um aspecto interessante da hepatite alcoólica consiste na importância do álcool nas hepatites de origem viral, não estar totalmente
clarificado, pois estas são mais comuns em indivíduos que bebem cronicamente
álcool. (79)
Através do consumo de álcool o fígado apresenta uma fibrose, que se caracteriza
por uma deposição extracelular de certos componentes da matriz, especialmente
de colagénio. Caso o consumo de álcool se mantenha, esta evolui para cirrose,
constituindo a última etapa das doenças hepáticas ligadas ao álcool. (78,80) Os indivíduos que demonstram um consumo superior a 60g de álcool por dia,
apresentam um risco relativo de desenvolverem cirrose cerca de nove vezes
superior. (73)
Outro aspecto que pode levar à cirrose é a hemocromatose. Ao longo dos anos,
tem-se verificado uma associação entre o consumo de álcool e o desenvolvimento
da hemocromatose. Porém, na relação entre o possível aumento da prevalência
de hemocromatose e o consumo elevado de álcool, muito há ainda para
investigar. (73) A severidade da hemocromatose é devida ao aumento da fibrose hepática, desencadeada pelo incremento da produção de colagénio, causado pelo
acréscimo do stress oxidativo, cuja origem se prende no consumo exagerado de
álcool. (71,72) Logo, conclui-se que o consumo de álcool aumenta a severidade da hemocromatose. No entanto, não existe a necessidade de uma completa
abstinência, devendo-se apenas minimizar o consumo de álcool. (73)
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8. Álcool e o Sistema Imune
No que concerne à relação entre o álcool e o sistema imune, averiguou-se que o
consumo excessivo de álcool se encontra associado a diversas alterações no
referido sistema. O excesso de álcool conduz a uma autoimunidade, a uma
imunodeficiência e a uma imunodepressão, levando, consequentemente, a um
aumento da mortalidade e da morbilidade. (81, 82) Verificam-se, também, defeitos na nossa imunidade humoral com o abuso de álcool, em resultado da diminuição
das células B. (82) Deste modo, os alcoólicos apresentam uma maior prevalência de infecções bacterianas e virais, e de doenças infecciosas, (83) isto porque o seu sistema imune se encontra comprometido. (81,84,85)
Em concreto, este comprometimento resulta de alterações funcionais das células
do sistema imune inato, através dos efeitos imunomoduladores que o álcool
enceta. (84) Acresce, ainda, que estes efeitos estão directamente relacionados com o tempo de exposição e dose ingerida. (81) Neste âmbito, indivíduos que consumam álcool durante longos períodos de tempo, encontram-se mais
expostos ao desenvolvimento de sérias consequências imunológicas, como por
exemplo doenças infecciosas, doenças alcoólicas do fígado e pancreatites
alcoólicas. (86)
O álcool afecta também as células do sistema imune através da produção de
citocinas. No entanto, esta explicação não é totalmente aceite, uma vez que os
níveis de citocinas dependem da presença de doenças confundidoras, como as
doenças alcoólicas do fígado, pois estas promovem a libertação de citocinas,
interleucinas e de TNF-Į /RJR, os níveis destas substâncias estarão alterados,
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9. Álcool e o Sistema Respiratório
Os alcoólicos são frequentemente infectados com patogéneos respiratórios
altamente virulentos, o que resulta num aumento da mortalidade e morbilidade
destes. (82) Contudo, os efeitos apresentados pelo álcool dependem da duração e da concentração de álcool consumido. (87)
A relação entre o álcool e o sistema respiratório origina duas possíveis
consequências. Por um lado, o álcool apresenta um papel patogénico no
desenvolvimento de várias doenças das vias aéreas, dentre as quais se salienta o
aumento da incidência de síndrome de doença respiratória aguda (88,89) e pneumonias, (89) sendo a pneumonia bacteriana a maior causa de infecções do Sistema Respiratório, e a infecção mais reconhecida e associada com o abuso de
álcool. (82) Por outro lado, apresenta uma função protectora, (87,90) que se explica através do efeito broncodilatador, relaxando o músculo liso dos brônquios, (87) atenuando a inflamação das vias aéreas e a lesão observada na asma e na
doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC). (87,90)
10. Álcool e a Diabetes
Sobre a relação entre o consumo de álcool e as concentrações de insulina ou a
sua resistência ainda restam pontos por clarificar. (91) O estado actual da arte, permite concluir que o álcool pode apresentar um efeito supressivo sob a
gliconeogénese hepática, diminuindo, por esta via, a síntese de glicose. (92)
Os efeitos que o álcool produz nos níveis de glicose sanguínea em indivíduos
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presentes no sangue no momento da ingestão de álcool. Assim, quando os níveis
se encontram elevados o álcool não apresenta efeitos significativos, mas caso
estes se encontrem diminuídos, a ingestão de álcool irá diminuir ainda mais os
níveis de glicose no sangue, podendo levar, inclusivamente, a estados
hipoglicémicos. (93) O risco de desenvolvimento de estados de hipoglicémia devidos ao consumo de álcool, apenas se minimiza quando este se ingere com
moderação e durante as refeições. (94) Contudo, deve-se estar atento a uma possível diminuição da capacidade de reconhecimento dos sintomas
característicos do estado hipoglicémico. (93)
Existem evidências, que admitem que o consumo moderado de álcool promove a
sensibilidade à insulina no músculo esquelético, no entanto este mecanismo é
ainda desconhecido. (95,96)
Os efeitos positivos verificados na melhoria da sensibilidade à insulina dependem,
apenas, do estado em que o individuo se encontra antes da intervenção, ou seja,
se este já se apresenta insulino-resistente. No que se refere a indivíduos não
diabéticos, não há consenso quanto aos benefícios do consumo de álcool. Na
verdade, segundo Kim S.H., o consumo de álcool por não diabéticos, mesmo em
quantidades moderadas, não apresenta benefícios quanto à sensibilidade à
insulina. (97) Já Lazarus R. e Kiechl S inferem que indivíduos não diabéticos, quando ingerem uma quantidade de álcool moderada os seus níveis de insulina
são inferiores. (98,99) Podemos, então, afirmar a existência de resultados díspares quando se associa o álcool com o risco de Diabetes Mellitus Tipo 2. (100) Davis et al estudou o efeito do consumo moderado de álcool na concentração de insulina
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álcool por dia (2 bebidas), a concentração de insulina diminui, (96) tal como o risco de desenvolvimento de Diabetes Mellitus Tipo 2 e de Doenças Cardiovasculares.
(10,96,97,98)
Contudo, quando se consome álcool durante longos períodos de tempo,
este aumenta os níveis de açúcar no sangue, podendo mesmo levar a uma
insulino-resistência, o que irá aumentar o risco de desenvolvimento de
complicações relacionadas com o estado diabético. (93)
Adicionalmente, refira-se, ainda, que principalmente no caso dos jovens
diabéticos o abuso de álcool, apresenta-se como um factor que pode alterar o
controlo metabólico dos indivíduos com diabetes. (93)
11. Álcool e a Obesidade
A relação entre o álcool e a obesidade é bipolar. Por um lado, a energia
proveniente do álcool potencia um balanço energético positivo [acumulação de
energia], (101, 102, 103) através de uma supressão da oxidação lipídica de cerca de 49,4 ± 6,7g de gordura originada pelo álcool. Consequentemente, a gordura não
metabolizada é acumulada na região abdominal, levando à obesidade. (101) Por outro, cabe referir que os consumidores excessivos de álcool apresentam um
baixo peso. Uma possível explicação para este facto reside no consumo
associado de álcool e de tabaco, actuando, o último, como um factor confundidor,
pois verifica-se que os indivíduos onde estes dois factores se encontram
presentes, apresentam um baixo peso. (104)
Caso não exista esta associação (consumo de álcool e tabaco), podemos dizer,
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Massa Corporal (IMC), contribuindo, deste modo, para o acréscimo de peso, e
consequentemente, para a obesidade. (102, 105) Rodríguez-Martín, et al, num estudo desenvolvido com 2640 homens, de idade superior a 15 anos, constatou
um aumento da prevalência de obesidade em cerca de 20% nos homens que
consumiam diariamente álcool, em comparação com os que apenas bebiam
álcool ao fim-de-semana. (105)
12. E em Portugal…
Em 2001, segundo o Plano Nacional de Saúde 95,2% da população portuguesa,
entre os 15 e os 74 anos, consumiam álcool várias vezes por semana (Tabela 2).
(106) A taxa de mortalidade de doenças associadas ao consumo de álcool em
2001, em indivíduos com idade superior a 65 anos por 100.000, cifrava-se nos
15,8%. Seguindo ainda o Plano Nacional de Saúde, estima-se que em Portugal,
em 2002, existissem cerca de 580.000 doentes alcoólicos (síndrome de
dependência de álcool) e 750.000 bebedores excessivos (síndrome de abuso de
álcool). (107)
Segundo a Resolução do Conselho de Ministros n.º 166/2000, o álcool é
entendido como uma droga, e o alcoolismo como a maior toxicodependência dos
Portugueses, sendo o nosso país um dos maiores consumidores de bebidas
alcoólicas. (108)
Em 2000, foi apresentado o “Plano de Acção contra o Alcoolismo”, o qual
delineava um conjunto de medidas que almejam a diminuição do consumo de
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Classes de idade (anos) % do consumo de álcool
15 aos 24 12,9
25 aos 44 43,1
45 aos 64 46,5
65 aos 74 39,2
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Discussão e conclusão
O álcool deve ser visto como uma droga e não como um nutriente. Os seus
efeitos positivos ou negativos variam, principalmente, em conformidade com a
quantidade ingerida.
Neste contexto, o álcool produz efeitos em diversos sistemas, nomeadamente o
sistema nervoso central, digestivo, respiratório e cardiovascular (Tabela 3). (17,77)
Ao longo da elaboração da presente monografia verificamos a existência de
muitas nebulosas no que concerne aos efeitos do álcool, permanecendo muito por
explorar e desvendar relativamente a uma das maiores drogas de consumo lícito,
habitual e não poucas vezes excessivo. O que é indiscutível e constitui,
hodiernamente, evidência científica é a relação entre a quantidade de álcool
ingerida e os seus efeitos favoráveis ou desfavoráveis.
Esta monografia pretende abordar a temática dos efeitos do consumo de álcool
na saúde do Homem, em face da sua importância nos hábitos das sociedades
contemporâneas.
Afigura-se necessário ressalvar que a presente monografia, enquanto trabalho de
revisão de bibliografia, se baseia nas conclusões veiculadas pelos artigos
analisados. Pretendemos, com este modesto contributo, expor de forma clara e
objectiva o que pudemos averiguar sobre a temática, através da consulta de
artigos em revistas internacionais de reconhecido mérito e credibilidade, bem
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Enquanto nutricionista a essencialidade do escrutínio desta temática, centra-se,
por um lado, na necessidade de conhecermos, para posteriormente sabermos
explorar os aspectos positivos associados ao consumo de álcool. Por outro lado,
é necessário elucidar os utentes quanto às consequências nefastas causadas,
principalmente, pelo abuso de álcool.
Constatamos, portanto, que o nutricionista desempenha um papel central na
educação dos utentes, também no que concerne ao consumo de álcool, como tal
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Efeitos Positivos Efeitos Negativos
Diminuição do risco de acidente vascular cerebral isquémico (10-13)
Aumento do risco de acidente vascular cerebral hemorrágico (11,17)
Melhoria da sensibilidade à insulina (10,11,19,22) Aumento do risco de cardiopatias (8,10,18-20) Diminuição dos níveis de fibrinogénio (10,11) Aumento do risco de suicídio (8,10,18-20)
Diminuição da incidência de enfarte do
miocárdio (10,14-16) Aumento do risco de cirrose
(8,10,18-20)
Diminuição do risco de aterosclerose (10) Aumento do risco de neoplasias (8,10,18-20) Diminuição do risco de doenças coronárias
(17) Aumento do risco de SAF
(8,10,18-20)
Diminuição da agregação plaquetária
(10,11,37,39) Aumento do risco de SAOS
(8,10,18-20)
Aumento do colesterol HDL (10,11,37,39) Hipercolesterolémia (8,10,18-20)
Aumento da actividade fibronolítica (10,11,37,39) Hipertrigliceridémia (8,10,18-20)
Efeito broncodilatador (87,90) Hipertensão (8,10,18-20)
Efeito benéfico no cancro da tiróide, das
células renais (52) Aumento do risco de arritmias
(17)
Efeito benéfico no linfoma de não-Hodgkin
(53) Aumento do risco de miopatias alcoólicas
(21)
Aumento do colesterol LDL (19,23,24) Aumento do risco de incidência de síndrome
de doença respiratória aguda (88,89) Défices vitamínicos e minerais (1,2,35)
Supressão da oxidação lipídica (101) Aumento do risco de pneumonia bacteriana
(82)
Aumento do risco de desenvolvimento de diabetes mellitus tipo 2 (92)
Aumento do IMC (102,105)
Diminuição da gliconeogénese hepática (92) Tabela 3. Resenha dos efeitos do álcool.
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