Educação e Empregabilidade
Autor: José Caetano Universidade Piaget de Moçambique Email: jcaetano@unipiaget.ac.mz
O presente estudo, baseado nas teorias e paradigmas construtivistas, aborda a problemática da relação entre a educação e a empregabilidade na República de Moçambique. Defende que a educação deve formar cida-dãos integrais, jovens e adultos, dotados tanto de instrumentos essenciais para a vida como a leitura e a escri-ta, a expressão oral, o cálculo, a solução de problemas, quanto de competências sociais e profissionais necessá-rias para que os seres humanos possam conviver, sobreviver, desenvolver plenamente suas potencialidades, viver e trabalhar com dignidade, participar plenamente do desenvolvimento, tomar decisões fundamentadas e continuar aprendendo ao longo da vida. Defende ainda que a formação de cidadãos integrais só será possível na escola unitária e politécnica onde existe uma educação inclusiva que possibilite a apropriação pelos edu-candos dos conhecimentos construídos pela humanidade, o acesso à cultura e às mediações necessárias para trabalhar e produzir a existência e a riqueza social e que propicie a realização de escolhas e a construção do caminho para a produção da vida por meio do trabalho como realização e produção humana e como praxis económica. O estudo propõe a reconstrução do currículo do ensino técnico profissional, tornando-o concomi-tante com a escola politécnica unitária, que possa consubstanciar um ensino médio técnico profissional inte-grado. Para o efeito, o estudo recomenda que, respeitadas as normas do sistema de ensino, as instituições acrescentem ao mínimo exigido para o ensino médio, uma carga horária destinada à formação específica para o exercício de profissões técnicas ou para a iniciação científica, ou para ampliação da formação cultu-ral de forma integrada e harmonizada.
Introdução
O
direito à educação éuma conquista histórica vinculada à evolução dos ideais da modernidade, cuja robustez se tornou particular-mente evidente a partir dos meados do século XX, altura em que come-çou a fazer parte do conjunto dos direitos sociais do homem e a constar dos tratados internacionais e das constituições de vários países.
O artigo 88 da Constituição da República de Moçambique (2004, p. 35) estabelece que “na República de
Moçambique a educação constitui direito e dever de cada cidadão e que o Estado promove a extensão da educação à formação profissional contínua e à igualdade de acesso de todos os cidadãos ao gozo deste direito”.
O presente texto tem como objectivo, contribuir para o enriqueci-mento do debate em torno da pro-blemática da educação e da empregabilidade.
Metodologia
A pesquisa bibliográfica e
to por questionário constituíram a principal base metodológica. O pro-cessamento de dados foi feito com base no softwareSPSS(Pacote Esta-tístico para Ciências Sociais) e Excel.
Referencial Teórico
Educação
A educação pode ser definida como sendo acção intencional ou voluntária de um adulto (educador) sobre uma criança (educando), usando métodos mais ou menos autoritários ou dialogantes, tradicio-nais ou modernos em ordem a levar a criança ou ajudá-la a desenvolver todas as suas potencialidades a fim de que possa atingir o fim (último) do ser humano. De certo modo e na perspectiva teórica espiritualista de Maslow (1970, 1976), Harman (1972, 1974, 1988) e Yves Bertrand (2001), a educação consiste em ajudar o aluno a descobrir a sua identidade o que significa encontrar a sua vocação, a ouvir as suas “vozes interiores”, a descobrir o sen-tido da vida.
De acordo com Vaz Freixo (2002, p. 148), desde o ponto de vis-ta sociológico, Emile Durkheim salienta que a educação é:
“A acção exercida pelas gera-ções adultas sobre as geragera-ções que ainda não se encontram amadurecidas para a vida social. Ela tem por objectivo sus-citar e desenvolver na criança um certo número de condições físicas, intelectuais e morais que dela reclamam, seja a socieda-de política no seu conjunto, seja
o meio especial a que ela se destina particularmente”.
Da definição dada por Dur-kheim depreende-se que a educa-ção é uma aceduca-ção social e não uma acção individual e consiste numa socialização metódica da nova geração. Dessa socialização resulta a educação recíproca entre as gerações adultas e jovens. Essa educação tem lugar no mundo de
vida, como a fig. 1 documenta.
Fig. 1: Unidade e harmonia da edu-cação no mundo da vida. Assim, a sociedade no seu con-junto e cada meio social em parti-cular, é que determinam o ideal a ser realizado pela educação e esse
ideal constitui o conteúdo essencial e universal da educação (Vaz Frei-xo, 2002). No contexto do paradig-ma sociocultural, Yves Bertrand e Paul Valois (1994, p. 23) referem que as “relações entre a sociedade e a organização educativa têm um duplo sentido de tal forma que esta última pode também contribuir para modificar as orientações da sociedade”. Sociedade Sociedade Educação Educação Geração Adulta
Geração Adulta Geração JovemGeração Jovem
MUNDO DA VIDA MUNDO DA VIDA
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Empregabilidade
Gazier(1990) define a empregabi-lidade como sendo a “aptidão de um indivíduo ao trabalho, avaliada pelo resultado sintético de testes fun-cionais”; ou “atractividade de um indivíduo para a empresa, avaliada por testes de atitudes e de comporta-mentos” ou ainda, a “designação de desempenhos prováveis de um grupo ou de uma pessoa no mercado de trabalho, avaliada por indicadores probabilísticos como tempo de per-manência no emprego, duração média diária ou semanal do trabalho e valor de salário”. Ela representa, de acordo com Liberal e Pupo (s/d), o conjunto de conhecimentos, habili-dades e comportamentos que tor-nam um executivo ou um profissional importante para a sua organização.
Lemos et al (2011, p. 588), sublinha que cabe ao trabalhador mostrar-se atraente aos olhos do empregador e comprometido permanentemente com a melhoria da sua qualificação profissional ao longo de toda a sua vida, durante a qual, irá trabalhar e migrar de um emprego para o outro, como um verdadeiro empreendedor. Trabalhador empreendedor é aquele que “vai fazer da sua vida uma
aven-tura, projectar-se no futuro e procurar dar forma a si mesmo a fim de se tor-nar o que deseja ser. (…) É calculista e trabalha em si mesmo para se melhorar”.É autónomo e possui a
capacidade de desenvolver e gerir os próprios talentos e habilidades e, portanto, “não precisa mais da tutela
da empresa para tirar partido das suas competências”.
Nas circunstâncias actuais, a
empregabilidade refere-se à aposta
na educação básica e na qualifica-ção profissional como saídas para a crise de desemprego que afecta boa parte das economias capitalistas na actualidade, o que pressupõe a reali-zação de investimentos na educa-ção e formaeduca-ção profissional que “desenvolvam habilidades básicas no plano do conhecimento, das atitudes e dos valores, produzindo competên-cias para gestão da qualidade e, consequentemente, para a empre-gabilidade” (Frigotto, 2001, p. 45; Balassiano, 2005).
Factores de Empregabilidade
Liberal e Pupo (s/d) definem os factores de empregabilidade como sendo o conjunto de competências e habilidades necessárias para garantir colocação e permanência dum pro-fissional dentro das organizações, num cenário em que predomina a competitividade.
Dentre os múltiplos factores de empregabilidade apresentados por vários autores destacam-se compe-tência, conhecimento tecnológico, domínio de informática e possuir habilidades de trabalho em equipa, de liderança e de relações interpes-soais.
Apresentação de Dados
Com base na técnica de amostra-gem não probabilística intencional, foi colhida uma amostra de 36 sujeitos, representando 12 empresas médias e
grandes, três das quais, multinacionais que operam na região centro de Moçambique. Esses sujeitos responde-ram a um inquérito sobre os factores de empregabilidade. Dos resultados desse inquérito, foi gerado o seguinte gráfico:
O gráfico mostra que, em ordem decrescente, a capacidade de ouvir e tomar decisão, o possuir a mentali-dade voltada à inovação, conjunto
de conhecimentos, habilidades e ati-tudes (competências), boas relações interpessoais, a liderança, a capaci-dade de trabalhar em equipa, boa formação geral, boa qualificação profissional e criatividade e capaci-dade de fazer trabalho autónomo, são os principais factores de emgabilidade que, no contexto do pre-sente estudo, foram indicados pelos 36 técnicos e gestores do sector pro-dutivo que foram inquiridos. Esses fac-tores são associados a outros tais como capacidade de antecipar o futuro e correr risco moderado, a
for-mação multifacetada e ser empreen-dedor. Praticar marketing pessoal, a capacidade de trabalhar sob super-visão e administrar a sua própria car-reira, são os factores de empregabili-dade menos preferidos pelos inquiri-dos.
Conclusão
Os resultados do presente estudo apontam para a necessidade de os formandos das escolas técnicas, apoiados pelos seus docentes e pelo
sector produtivo, construírem compe-tências que vão ao encontro dos nove factores de empregabilidade que foram preferidos pelos represen-tantes do sector produtivo, sem des-curarem de serem detentores de outros factores de empregabilidade tais como a capacidade de anteci-par o futuro e correr risco moderado, a formação multidimensional e ser empreendedor.
Recomendações
Para que a construção, no seio
de jovens e adultos, de competên-cias profissionais que vão ao encon-tro da demanda do sector produtivo seja uma realidade, propõe-se que a educação profissional esteja vincula-da a uma perspectiva de desenvolvi-mento que, na expectativa social mais ampla, possa avançar na afir-mação da educação média unitária e, portanto, não dualista e que conte com a participação activa do sector produtivo, pais e encarregados de educação e de outros actores do sis-tema educativo.
Essa educação deve articular cul-tura, conhecimento, tecnologia e tra-balho de forma integrada e harmoni-zada como direito de todos e condi-ção da cidadania e democracia efectivas.
Para o efeito, a reconstrução do
currículo do ensino técnico
profissio-nal, tornando-o concomitante com a escola politécnica unitária, que possa consubstanciar um ensino médio téc-nico profissional integrado torna-se indispensável.
Referências Bibliográfica
Assembleia da República. Constituição da República de Moçambique. Maputo: Impren-sa Nacional, 2008.
BALASSIANO, Moisés; SEABRA, Alexandre Alves e LEMOS, Ana Heloisa. «Escolaridade, Salários e Empregabilidade: Tem Razão a Teoria do Capital Humano?». In: Revista de
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BERTRAND, Yves. Teorias Contemporâneas da
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GAZIER, Bernard.«L’employabilité: Brève Ra-diographie d’un Concept en Mutation». In:
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LEMOS, Ana Heloísa da Costa et al. «Empregabilidade e Sociedade Disciplinar: Uma Análise do Discurso do Trabalho Con-temporâneo à Luz de Categorias Foucaultia-nas». In: O & S - Salvador, 2011, v.18 – n.º 59, pp. 587-604 - Outubro/Dezembro. Disponível no www.revistaoes.ufba.br – consultado em 15 de Junho de 2013.
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VAZ FREIXO, Manuel João. A Televisão e a
Instituição Escolar – Os Efeitos Cognitivos das Mensagens Televisivas e a sua Importância na Aprendizagem. Lisboa: Instituto Piaget,
2002.