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ESCOLA DE TERAPIAS ORIENTAIS DE SÃO PAULO CELSO HIDENORI TAKAHASHI

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ESCOLA DE TERAPIAS ORIENTAIS DE SÃO PAULO CELSO HIDENORI TAKAHASHI

A DIETOTERAPIA CHINESA COMO TRATAMENTO PARA DEPRESSÃO Formulação teórica de uma dieta para Estagnação de Qi no Fígado e seus efeitos

São Paulo 2011

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CELSO HIDENORI TAKAHASHI

A DIETOTERAPIA CHINESA COMO TRATAMENTO PARA DEPRESSÃO Formulação teórica de uma dieta para Estagnação de Qi no Fígado e seus efeitos

Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado ao Curso de Pós-Graduação

Lato Sensu em Acupuntura da Escola de

Terapias Orientais de São Paulo.

Orientador: Prof. Ms. André dos Santos Carneiro Cardoso

São Paulo 2011

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RESUMO

Alguns estudos sobre prevalência entre países ocidentais mostram uma quantidade grande de pessoas depressivas (3 a 11% ao ano). E a Medicina Tradicional Chinesa (MTC) mostra que a origem da Depressão pode estar relacionada a excessos de algumas emoções. Diante deste quadro, os objetivos traçados neste trabalho foram de abordar a depressão, em particular a síndrome energética de Estagnação de Qi no Fígado, e sua sintomatologia, assim como a dietoterapia chinesa e seus efeitos como parte no tratamento deste tipo de depressão, e a metodologia utilizada abrangeu uma revisão bibliográfica nas bases de dados MEDLINE, SciELO, LILACS e Biblioteca Cochrane, seguida de uma formulação teórica de uma dieta para depressão e sua sintomatologia vindas a partir da Estagnação de Qi no Fígado. Conhecendo os princípios da MTC e aplicando-os no dia a dia através da dietoterapia chinesa seria possível controlar e amenizar a sintomatologia apresentada por esta síndrome energética. E uma vez diagnosticado o paciente corretamente os alimentos seriam escolhidos, devido às suas características intrínsecas e funções, para reverter a desarmonia energética e promover um fluxo regular dentro e fora do corpo. Como conclusão verificou-se que os alimentos têm diversas funções dentro do nosso organismo, inclusive para tratar a Estagnação de Qi no Fígado e suas desarmonias subseqüentes, porém, o paciente provavelmente apresentará outras síndromes energéticas não relacionadas à Estagnação de Qi no Fígado tornando o atendimento e a orientação alimentar individual e especializada para cada um.

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ABSTRACT

Some studies on prevalence among occidental countries show a large amount of people with depression (3 to 11% per year). And the Traditional Chinese Medicine (TCM) shows that the origin of depression may be related to the excesses of some emotions. From this finding, the objectives set in this work were to discuss depression, in particular the syndrome of Liver Qi Stagnation, and its symptoms, as well as chinese diet therapy and its effects as part in the treatment of depression, and the methodology covered a literature review in the databases MEDLINE, SciELO, LILACS and Cochrane Library, followed with a theoretical formulation of a diet for depression and its symptomatology from the Liver Qi Stagnation. Knowing the principles of TCM and applying them everyday in chinese diet therapy would be possible to control and soften the symptoms presented by this energetic syndrome. And once diagnosed the patient correctly foods would be chosen, due to their intrinsic characteristics and functions, to reverse the disharmony of energy and promote a steady flow inside and outside the body. As a conclusion the foods have different functions inside our body, including to treat Liver Qi Stagnation and their subsequent disharmonies, however, the patient probably has other energetic syndromes not related to Liver Qi Stagnation so the treatment and food guidance are individual and specialized for each one.

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ... 5 2 OBJETIVOS ... 6 2.1 Objetivo geral ... 6 2.2 Objetivo específico ... 6 3 METODOLOGIA ... 7

3.1 Revisão bibliográfica sistemática e definição ... 7

3.2 Elaboração de protocolo alimentar teórico ... 7

4 REVISÃO DA LITERATURA ... 8

4.1 Teoria do Tao ... 8

4.2 Zang Fu ... 11

4.3 Substâncias fundamentais ... 13

4.4 Teoria dos Cinco Movimentos ... 16

4.5 Doenças externas e internas ... 22

4.6 Depressão ... 23

4.6.1 Estagnação de Qi no Fígado ... 24

4.7 Dietoterapia chinesa ... 25

4.7.1 Natureza, gosto e propensão pelo canal de Energia ... 27

4.7.2 Cuidados na alimentação ... 28

4.7.3 Escolha e preparo dos alimentos ... 28

5 FORMULAÇÃO TEÓRICA DE UMA DIETA PARA ESTAGNAÇÃO DE QI NO FÍGADO ... 31

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...32

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 33

APÊNDICE A – Aspectos energéticos dos alimentos (por ordem alfabética) ... 34

APÊNDICE B – Calendário de safra de alimentos (por mês) ... 38

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1 INTRODUÇÃO

Segundo Fleck et al (2009), estudos de prevalência em diferentes países ocidentais mostram que a Depressão é um transtorno frequente, sendo encontrada uma prevalência anual na população em geral variando de 3 a 11%. E nessa população depressiva o tratamento alopático é feito com antidepressivos, e nos casos de depressão psicótica, associam-se também os antipsicóticos.

Na Medicina Tradicional Chinesa (MTC) a origem da depressão pode estar relacionada em sua totalidade, por exemplo, a feridas da paixão e vontade, excessos de raiva, preocupação, ansiedade, angústia, tristeza, que conduzem a falta de canalização do Fígado, disfunção do Baço, má nutrição do Coração, pode ser provocada por Mucosidade perturbando a cavidade cardíaca, e o Fogo gerado pela Mucosidade atacando o Coração, e desequilíbrio entre o Yin e o Yang de órgãos e vísceras. (SILVA FILHO, 2008)

Então, sabendo que a depressão é uma doença com uma prevalência grande entre a população e que é preciso mudar o estilo de vida do paciente, uma forma encontrada para complementar o tratamento diário é através da alimentação, receitando uma dieta própria de acordo com as síndromes energéticas apresentadas.

Dentro desse quadro e de acordo com Silva Filho (2008), a síndrome energética mais encontrada em pacientes depressivos é a Estagnação de Qi no Fígado; portanto, este será o foco do protocolo teórico de tratamento com a dietoterapia chinesa apresentada neste trabalho.

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2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral

Tem-se como objetivo geral apresentar o quadro sintomatológico da depressão originada pela síndrome energética de Estagnação de Qi no Fígado.

2.2 Objetivo específico

Como objetivo específico será formulado um protocolo teórico de dietoterapia chinesa, para depressão, no tratamento da síndrome energética de Estagnação de Qi no Fígado, apresentando os seus efeitos no tratamento desta síndrome.

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3 METODOLOGIA

3.1 Revisão bibliográfica sistemática e definição

A primeira parte deste trabalho consiste de uma revisão bibliográfica acerca da depressão na visão da Medicina Tradicional Chinesa, destacando a síndrome de Estagnação de Qi no Fígado; e também da dietoterapia chinesa.

Para isso foram consultados livros, sites da internet e artigos científicos encontrados nos bancos de dados da MEDLINE, SciELO, LILACS e Biblioteca Cochrane.

3.2 Elaboração de protocolo alimentar teórico

Após a revisão bibliográfica foi elaborado um protocolo alimentar teórico de tratamento, para Estagnação de Qi no Fígado, com dietoterapia chinesa.

Baseando-se no quadro sintomatológico apresentado por esta síndrome busquei na natureza dos alimentos uma dieta para equilibrar esse quadro, apresentando os efeitos da mesma.

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4 REVISÃO DA LITERATURA

4.1 Teoria do Tao

O conceito de Yin e Yang é provavelmente o mais importante e distintivo da Teoria da Medicina Tradicional Chinesa (MTC). Pode-se dizer que toda fisiologia médica chinesa, patologia e tratamento podem, eventualmente, ser reduzidos ao Yin e Yang, de conceito extremamente simples, ainda que profundo. Aparentemente, pode-se entendê-lo sob um nível racional, e ainda, achar novas expressões na prática clínica e na vida. (MACIOCIA, 1996a)

Campiglia (2009) relata que Yin e Yang são polaridades do Universo, que é o conjunto de tudo que existe. A origem da palavra Universo está em um, unir, tornando um. Todavia, o Universo dividiu-se em dois e depois em milhões e bilhões de partes, originando a diversidade. A primeira divisão: Yin e Yang, segundo a tradição chinesa, encerra os princípios opostos e complementares do Universo. Alguns exemplos:

- O Yin é feminino, passivo, interno, a morte, a sombra, o mal, o obscuro, a terra, o útero, o inconsciente, o Eros (emoção).

- O Yang é masculino, ativo, externo, a vida, a luz, o bem, o claro, o céu, o falo, o consciente, o logos (razão).

Porém, não se deve concluir que o feminino seja sempre a sombra, o inconsciente ou a morte e que o masculino, por sua vez, seja sempre a luz, o consciente, a vida. Cada par de opostos vale para si mesmo: vida-morte, masculino-feminino e, não entre si como masculino-vida. Isso quer dizer que a polaridade de um símbolo não pode ser superposta à de outro símbolo. (CAMPIGLIA, 2009)

Sem polaridade não há diferenciação. O claro só existe devido ao escuro ou vice-versa. O conflito gerado pelos opostos é fonte de vida e diversidade. Ou de morte e destruição. A resolução desse e de tantos conflitos consiste em unir todos os elementos presentes, criando uma nova realidade que mescle os dois polos, com outra dimensão e profundidade. (CAMPIGLIA, 2009)

Quando o Yin e o Yang se unem, formam novamente o todo, o Universo, mas este já será diferente do inicial, como os gametas masculino e feminino que, unindo-se, geram uma criança diferente dos pais. (CAMPIGLIA, 2009)

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Juntos, o Yin e o Yang formam o símbolo do Tao, que significa caminho:

Figura 1 – Símbolo do Tao Fonte: Campiglia (2009)

É notável que no símbolo do Tao ocorra a presença não só da polaridade, mas também de um polo contido no outro. No ponto máximo do Yin, há a semente do Yang e, no ponto máximo do Yang, há a semente do Yin. Ou seja, à meia-noite, há o início de um novo dia e, ao meio-dia, há o início de uma nova noite. O nascimento já contém a morte, que se aproxima mais e mais a cada dia e, talvez, na morte haja o começo da vida. (CAMPIGLIA, 2009)

Além disso, o símbolo do Yin e Yang dá uma ideia clara de movimento e transformação; não é, de maneira alguma, um símbolo estático. Tampouco o equilíbrio sugerido pela medicina chinesa é estático. (CAMPIGLIA, 2009)

Segundo Maciocia (1996a), Yin e Yang são dois estágios de um movimento cíclico, sendo que um interfere constantemente no outro; são essencialmente uma expressão de dualidade no tempo, uma alternância de dois estágios opostos no tempo. Cada fenômeno no Universo se alterna por meio de um movimento cíclico de altos e baixos, e a alternância do Yin e Yang é a força motriz desta mudança e desenvolvimento. O dia se transforma em noite, verão em inverno, crescimento em deterioração e vice-versa. Desta maneira, o desenvolvimento de todos os fenômenos no Universo é resultado de uma interação de dois estágios opostos, simbolizados pelo Yin e Yang, e cada fenômeno contém em si mesmo ambos os aspectos em diferentes graus de manifestação. Portanto, cada fenômeno pode pertencer ao Yin ou Yang mas sempre conterá a semente do estágio oposto em si mesmo.

A terra, como elemento Yin, pode fornecer nutrientes para uma muda que se transforma em árvore, e, desse modo, observa-se o crescimento, que é um símbolo Yang. Ou seja, o contínuo ciclo da vida é puro movimento e, a cada mudança, aparece um novo estado Yin e um novo estado Yang. A água que evapora dos

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mares e cai em forma de chuva adquire novas formas a cada ciclo. Só a ausência de vida é estática. O tão buscado equilíbrio para a obtenção da saúde e do bem-estar é extremamente dinâmico e está sempre se amoldando às mudanças do meio. É a capacidade de adaptação que confere uma boa saúde física e psíquica. E, a cada nova adaptação, a situação vivida é diferente da primeira situação, assim como a soma das partes Yin e Yang resultará sempre em um novo Universo, diferente do inicial. (CAMPIGLIA, 2009)

Na sua forma mais pura e rarefeita, Yang é totalmente imaterial e corresponde à energia pura, e Yin, no seu estado mais áspero e denso, é totalmente material e corresponde à substância. A partir deste ponto de vista, energia e matéria são dois estados de um contínuo, com um número de possibilidades infinitas de estados de agregação. (MACIOCIA, 1996a)

Enquanto aspectos de um mesmo símbolo (o Tao), observam-se quatro características básicas da inter-relação entre o Yin e o Yang:

- Oposição: Yin e Yang são estágios opostos de um ciclo e também estados de agregação. E é essa contradição interna que constitui a força motriz de toda modificação, desenvolvimento e deterioração das coisas. E essa oposição é apenas relativa, pois nada é completamente Yin ou completamente Yang. (CAMPIGLIA, 2009; MACIOCIA, 1996a)

- Interdependência: o Yin não pode existir sem o Yang e vice-versa, assim como o dia não existe sem a noite, nem a sombra, sem a luz. Essa relação é chamada recíproca, pois a energia não pode se formar se não houver matéria. Ou seja, para fazer com que surja o Yin, deve-se gerar o Yang e vice-versa. Um precisa do outro para existir e se desenvolver. (CAMPIGLIA, 2009)

- Consumo: Yin e Yang estão num estado constante de equilíbrio dinâmico, o qual é mantido por meio de um ajuste contínuo dos níveis relativos do Yin e Yang. Quando tanto o Yin como o Yang estão em desequilíbrio, afetam-se mutuamente e modificam sua proporção, alcançando um novo equilíbrio. Então, o excesso de Yin consumirá o Yang e vice-versa. (MACIOCIA, 1996a)

- Transformação: o Yin transforma-se em Yang e vice-versa. Após a tempestade, vem a calmaria. Após um período de latência, o movimento é iniciado. Mas estas mudanças não acontecem a esmo, mas somente em determinados estágios de desenvolvimento de alguma coisa, e relata dois fatores para tais transformações, as condições internas e externas, e o tempo. (CAMPIGLIA, 2009; MACIOCIA, 1996a)

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As quatro propriedades citadas são exemplos da inter-relação da polaridade de um símbolo. Um polo não existe sem o outro, um depende do outro, um transforma-se no outro e um consome o outro. As mesmas propriedades podem ser aplicadas a outros exemplos de símbolos com outras polaridades. Um médico que desenvolve aspectos positivos da sua profissão, como a cura de doenças, o respeito dos pacientes e de familiares, alimenta, ao mesmo tempo, em igual proporção, certos aspectos sombrios da sua personalidade, tais como o orgulho, a autoconfiança excessiva, a sensação de já saber tudo e a falta de interesse real pelo outro. Em geral, os aspectos luminosos são conscientes, ao passo que os sombrios são inconscientes e ficam “trancados” no porão, como o esqueleto atrás da porta. É a luz gerando a sombra. Para lidar com esse problema, deve-se acolher com amor e humildade as fraquezas, o orgulho, a sede de poder, a inveja e outras características pessoais, sempre levando em conta a condição humana, que possui limites e aspectos negativos. Quem acolhe suas diversas polaridades evolui, tornando-se mais sensível ao sofrimento alheio. (CAMPIGLIA, 2009)

Transportando este conceito para o corpo humano, o alimento (Yin) é digerido no Estômago por força do Baço, que envia seu Qi puro para o Pulmão, onde se encontra com o Qi do ar e das relações humanas/emoções (Yang) formando a Energia nutritiva (Rong) e iniciando um ciclo de transformações energéticas no corpo humano. (PERINI, 2003)

4.2 Zang Fu

Os conceitos de Zang Fu formam o âmago central da Medicina Tradicional Chinesa; o estudo da fisiologia e da patologia são em termos dos Zang Fu que podem ser considerados como os sistemas de órgãos da Medicina Tradicional Chinesa, embora não se refira tanto às estruturas, mas sim aos inter-relacionamentos funcionais e que não há necessariamente uma correspondência íntima entre as concepções dos Zang Fu com o sistema de órgãos da medicina ocidental. (ROSS, 2003)

A função dos Zang Fu é a de receber o ar, os alimentos e as bebidas do ambiente externo e transformá-los em substâncias e em produtos supérfluos, estes são excretados e as substâncias são circuladas por todo o corpo, mesmo sobre a superfície dele e, no corpo, as substâncias circulam tanto dentro como fora da rede

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dos canais de Energia e colaterais, para abastecer todas as estruturas do corpo; além disso, os Zang Fu são também responsáveis por manter uma interação harmoniosa entre o corpo e o ambiente externo. (ROSS, 2003)

Os Zang apresentam características Yin, são mais sólidos e internos e os responsáveis pela formação, transformação, armazenamento, liberação e regulação das substâncias puras que são o Qi, Xue, Jing, Jin Ye e Shen (espírito). (ROSS, 2003)

Os Fu apresentam características Yang, são mais ocos e externos e são responsáveis pela recepção e armazenamento de alimentos e bebidas, pela passagem e absorção de seus produtos de transformação e pela excreção dos resíduos. (ROSS, 2003)

Os Zang não se comunicam diretamente com o meio exterior, têm a função de transformar os produtos impuros dos Fu em substâncias puras as quais armazenam e as libertam. Existem exceções, por exemplo, o Pulmão, embora Zang, comunica-se diretamente com o ambiente externo através das vias aéreas, e a Vesícula Biliar, embora Fu, recebe, armazena e excreta uma substância pura, a bile; o Triplo Aquecedor não é associado com um órgão físico, mas pode ser considerado em termos de certos inter-relacionamentos funcionais dos outros Zang Fu; e o Pericárdio é desconsiderado como um sistema Zang, sendo suas funções incluídas no Coração. (ROSS, 2003)

Os Cinco Zang – Coração, Pulmão, Baço/Pâncreas, Fígado e Rim – são o coração da Medicina Chinesa e mais importantes do que os seis sistemas Fu. A percepção dos padrões de Doença dos cinco sistemas Zang forma o tema central de diagnóstico e de tratamento da Medicina Tradicional Chinesa. (ROSS, 2003)

Os acoplamentos dos sistemas Zang e Fu têm importância clínica considerável, enquanto alguns não são considerados. Por exemplo, existem ligações muito estreitas entre o Fígado e a Vesícula Biliar, entre o Baço/Pâncreas e o Estômago e entre o Rim e a Bexiga. Entretanto, as ligações entre Coração e o Intestino Delgado, e Pulmão e Intestino Grosso são mais tênues e os Padrões de Desarmonia de Intestino Delgado e de Intestino Grosso são incluídos nos Padrões de Desarmonia de Baço/Pâncreas e do Estômago e são tratados pelos pontos de Acupuntura dos Canais Baço/Pâncreas e Estômago. As ligações entre o Pericárdio e Triplo Aquecedor são vagas; o Pericárdio não é geralmente considerado como separado do Coração no contexto de doença crônica e as funções de Pericárdio na

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proteção do Coração e do Triplo Aquecedor na regulação das vias das águas, estão bem separadas. (ROSS, 2003)

Vesícula Biliar, Estômago e Bexiga apresentam poucos padrões de desarmonia separados dos seus respectivos Zang. A fisiologia e patologia destes Fu estão incluídas principalmente nos de sistema Zang dominante, embora se dê uma ênfase maior à parte Yang, que são os aspectos Yang relacionados com a digestão e a excreção. Enquanto estes três Fu têm relativamente pouca existência separados do sistema Zang, seus canais de Energia apresentam uma variedade maior de sinais e de sintomas independentes, visto que os Canais de Bexiga, da Vesícula Biliar e do Estômago são os maiores do corpo. (ROSS, 2003)

Maciocia (1996a) diz que o Fígado apresenta muitas funções importantes, entre as quais a de armazenar o Xue e assegurar o movimento suave do Qi através de todo o organismo. Também é o responsável pela nossa capacidade de recuperar o Qi e contribuir para a resistência do organismo contra os fatores patogênicos externos.

O Fígado é frequentemente comparado a um general de exército porque é responsável pelo planejamento total das funções do organismo realizado por meio da garantia do fluxo suave e da direção correta do Qi. Por causa desta qualidade, o Fígado também é considerado a origem da coragem e da resolução, se o sistema estiver em bom estado de saúde.

As funções do Fígado são: - armazenar Xue;

- assegurar o fluxo suave do Qi; - controlar os tendões;

- manifestar-se nas unhas; - abrir-se nos olhos;

- abrigar a Alma Etérea. (MACIOCIA, 1996a)

4.3 Substâncias fundamentais

As cinco formas principais de substâncias básicas da Medicina Tradicional Chinesa são: Qi, Xue, Jing, Shen e Jin Ye.

Os inter-relacionamentos funcionais das substâncias são complexos, significando que é difícil separar um componente do outro de maneira definida. De

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fato, a MTC não se preocupa com tal precisão, por isso, o significado das palavras é ambíguo e circunstancial. (ROSS, 2003)

Abaixo estão as principais funções e as distribuições das cinco substâncias, relacionadas com os órgãos associados:

Substâncias Principal Órgão Associado Funções Distribuição Qi Pulmão, Rim e Baço/Pâncreas Move, aquece, transforma, protege, retém e nutre Dentro e fora de canais de Energia e vasos

Xue Coração, Fígado

e Baço/Pâncreas

Nutre e umedece Nos canais de Energia e nos vasos Jin Ye Rim, Pulmão e

Baço/Pâncreas

Umedece e nutre Pelo corpo todo

Jing Rim Ativa transformações, e

controla o crescimento, desenvolvimento e reprodução

Nos Oito Canais Extras e nos Canais; armazenado nos Rins

Shen Coração Vitaliza o corpo e

consciência

Reside no Coração Quadro 1 – Funções das substâncias fundamentais

Fonte: Ross (2003)

Na formação do Qi, a Essência dos alimentos (Gu Qi), derivada dos alimentos e da bebida pela ação de Baço/Pâncreas e do Estômago, combina com o ar do Pulmão para formar o Zhong Qi e o Zhen Qi, sob a influência do Coração e do Pulmão. O Zhong Qi, o Qi do Tórax, está intimamente relacionado com as funções do Coração e do Pulmão, e com a circulação do Xue e do Qi pelo corpo. (ROSS, 2003)

O Wei Qi (Qi da Defesa) e o Yong Qi (Qi da Nutrição) são os dois aspectos de Zhen Qi, o Qi verdadeiro. O Wei Qi circula principalmente na pele e nos músculos, enquanto o Yong Qi circula nos Canais e Colaterais e nos Vasos. A natureza e as funções de Yong Qi e de Xue são tão íntimas que em alguns textos e em algumas situações, os dois termos são considerados como sinônimos. (ROSS, 2003)

Para a formação de Xue, a Essência dos alimentos (Gu Qi), derivada dos alimentos e das bebidas, é transformada em Xue no tórax, pela ação do Coração e Pulmão. O aspecto Yin do Jing, armazenado nos Rins produz a medula óssea que produz o Xue. Além disso, o aspecto Yang do Jing ou o Yuan Qi, ativa as

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transformações executadas pelo Coração e pelo Pulmão no Aquecedor Superior e pelo Baço/Pâncreas e pelo Estômago no Aquecedor Médio. (ROSS, 2003)

No caso do Jin Ye, os alimentos e as bebidas são transformados pelo Baço/Pâncreas e pelo Estômago em várias frações mais densas e mais leves do Jin Ye. O Jin, a fração mais pura, mais leve, mais Yang e dinâmica, vai pela via Pulmão aquecer, umedecer e nutrir a pele e os músculos, tendo função e distribuição semelhantes a do Wei Qi. O Ye é menos puro, mais denso, mais Yin e mais material e tem uma distribuição semelhante a do Yong Qi com a finalidade de umedecer e nutrir os Zang Fu, ossos, cérebro e os “orifícios”. De modo que o Jin Ye circula pelo corpo dentro e fora dos canais de Energia e colaterais e dos vasos, fornecendo a umidade e a nutrição aos tecidos e aos Zang Fu. (ROSS, 2003)

A fração mais densa através da via Intestino Delgado vai para a Bexiga e para o Intestino Grosso, onde, depois da reabsorção, as frações mais fluidas e as mais sólidas são eliminadas do corpo como urina e fezes. (ROSS, 2003)

Os termos fluidos ou os líquidos do corpo são usados geralmente como traduções para o Jin Ye, representam um conceito fundamentalmente diverso dos fluidos do corpo da fisiologia ocidental. O Ye pode referir-se a qualquer tipo de fluido, mas o Jin Ye refere-se especificamente aos fluidos secretados pelas células vivas, embora os dois termos possam ser usados com o mesmo sentido. O Jin Ye inclui as secreções do corpo: lágrimas, suor, leite, secreções nasal, gástrica e genital, e assim por diante. Entretanto, o fluido turvo, por exemplo, a urina é uma excreção e considerada Ye, não Jin Ye. (ROSS, 2003)

Em certos contextos, por exemplo, quando se refere de modo indeterminado ao comportamento fluido do corpo, os termos Jin Ye e Água podem ser usados sem distinção. Entretanto, Jin Ye refere-se mais às secreções específicas do corpo, ao passo que Água é termo mais geral e inclusivo que se refere a todos os fluidos no corpo, sejam puros ou impuros. O termo Água também tem o significado do princípio da água, como oposto do princípio do Fogo. (ROSS, 2003)

O Jing pré-natal é derivado do Jing dos pais, enquanto o Jing pós-natal é formado da fração purificada da transformação de produtos dos alimentos e das bebidas. (ROSS, 2003)

O aspecto Yang de Jing corresponde, aproximadamente, ao aspecto Yang dos Rins ou a Yuan Qi que é o responsável pelas funções Yang de aquecimento, ativação, transformação e movimentação, tal como ocorre nas transformações

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envolvidas na formação de Qi, Xue e Jin Ye, e aquelas envolvidas no crescimento, desenvolvimento e reprodução. (ROSS, 2003)

O Yuan Qi (Qi Fonte) é um termo, às vezes, usado como sinônimo de aspecto Yang de Shen Jing (Essência dos Rins), Shen Yang Qi (Yang dos Rins) ou como o Fogo de Ming Men, embora tenha outras atribuições. (ROSS, 2003)

A fração Yin do Jing fornece a base material para as atividades dinâmicas do Yang, enquanto a fração do Yin fornece substrato para a formação dos materiais associados com o Jing que são a medula, Xue, etc., mostrando que os aspectos Yin e Yang são complementares e inseparáveis. (ROSS, 2003)

O Shen pré-natal é derivado dos pais e Shen pós-natal derivado ou manifestado pela interação de Jing e Qi, enquanto o Sangue do Coração (Xin Xue) e Yin do Coração (Xin Yin) fornecem a moradia para o Shen (Espírito), visto que, na concepção da MTC, a consciência não reside tanto no cérebro, mas sim no Coração. O Shen (espírito) vitaliza o corpo e a consciência e fornece a força da personalidade. Assim, o Jing, o Qi e o Shen juntos formam o San Bao ou os Três Tesouros. (ROSS, 2003)

Esta concepção de Shen (Espírito) implica na existência material de Shen (espírito) que é diferente da ideia ocidental de espírito; na MTC, Shen (espírito) é uma parte integral do corpo, não um aspecto separado dele. (ROSS, 2003)

4.4 Teoria dos Cinco Movimentos

Da mesma forma que a Teoria do Yin e Yang, a Teoria dos Cinco Movimentos constitui a base da Teoria da Medicina Chinesa.

Os Cinco Movimentos são os cinco processos básicos, as qualidades, as fases de um ciclo ou a capacidade inerente de modificação de um fenômeno.

É importante falar da passagem do Shang Shu, citada por Maciocia (1996a, p.24):

Os Cinco Elementos são Água, Fogo, Madeira, Metal e Terra. A Água umedece em descendência, o Fogo chameja em ascendência, a Madeira pode ser dobrada e esticada, o Metal pode ser moldado e endurecido, a Terra permite a disseminação, o crescimento e a colheita. Aquilo que absorve e descende (Água) é salgado, o que chameja em ascendência (Fogo) é amargo, o que pode ser dobrado e esticado (Madeira) é azedo, o que pode ser moldado e enrijecido (Metal) é picante e o que permite disseminar, crescer e colher (Terra) é doce.

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Esta afirmação mostra claramente que os Cinco Movimentos simbolizam cinco qualidades inerentes diversas e expressam o fenômeno natural. Também relata o sabor (ou aroma) dos Cinco Movimentos, e indica que os sabores representam mais uma qualidade inerente de uma coisa do que seu gosto de fato. (MACIOCIA, 1996a)

Os Cinco Movimentos também simbolizam cinco direções diferentes de movimentos dos fenômenos naturais. A Madeira representa o movimento expansivo e exterior em todas as direções, o Metal representa o movimento contraído e interior, a Água representa movimento descendente, o Fogo indica movimento ascendente e a Terra representa neutralidade ou estabilidade. (MACIOCIA, 1996a)

Cada um dos Cinco Movimentos representa uma estação no ciclo anual. A Madeira corresponde à Primavera, sendo associada ao nascimento; o Fogo corresponde ao Verão, e está associado ao crescimento; o Metal corresponde ao Outono, associado à colheita; a Água corresponde ao Inverno, e está associada ao armazenamento; a Terra corresponde à estação anterior, associada à transformação. (MACIOCIA, 1996a)

A posição da Terra requer alguns esclarecimentos. A Terra não corresponde a nenhuma estação, uma vez que é centro, o termo neutro de referência ao redor do qual as estações e os outros elementos giram. Desta maneira, no ciclo das estações, a Terra corresponde de fato ao estágio anterior de cada estação. Em outras palavras, ao fim de cada estação, as energias celestiais retornam à Terra para serem reabastecidas. (MACIOCIA, 1996a)

São essenciais para o conceito dos Cinco Movimentos os vários inter-relacionamentos entre eles.

No Ciclo de Geração cada Movimento gera outro, sendo ao mesmo tempo gerado. Assim, a Madeira gera o Fogo, o Fogo gera a Terra, a Terra gera o Metal, o Metal gera a Água e a Água gera a Madeira. Desta forma, por exemplo, a Madeira é gerada pela Água, que por sua vez gera o Fogo. Isto é, algumas vezes, expressado como “a Madeira é Filha da Água e Mãe do Fogo”. (MACIOCIA, 1996a)

No Ciclo de Dominância cada Movimento controla o outro ao mesmo tempo que é controlado. Assim, a Madeira controla a Terra, a Terra controla a Água, a Água controla o Fogo, o Fogo controla o Metal e o Metal controla a Madeira. Por exemplo, a Madeira controla a Terra, mas é controlada pelo Metal.

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FÍGADO VESÍCULA BILIAR RIM BEXIGA PULMÃO INTESTINO GROSSO CORAÇÃO INTESTINO DELGADO BAÇO/PÂNCREAS ESTÔMAGO

O Ciclo de Dominância assegura que um equilíbrio seja mantido entre os Cinco Movimentos. (MACIOCIA, 1996a)

Há, também, um inter-relacionamento entre o Ciclo de Geração e de Dominância. Por exemplo, a Madeira controla a Terra, mas a Terra gera o Metal que controla a Madeira. Além disto, a Madeira controla a Terra, mas por outro lado gera o Fogo que, por sua vez, gera a Terra. Consequentemente, um equilíbrio de autocontrole é sempre mantido. (MACIOCIA, 1996a)

Os relacionamentos de geração e controle mútuos entre os Movimentos são um bom modelo de alguns processos auto-reguladores de equilíbrio que podem ser encontrados na natureza e no organismo (Figura 2).

Figura 2 – Ciclo dos Cinco Movimentos

Fonte: Guilherme (Acesso em: 21 maio 2011)

O Ciclo de Dominância Excessiva segue a mesma sequência do Ciclo de Dominância, mas neste caso, cada Movimento controla excessivamente o outro, de maneira que provoca a sua diminuição. Isto acontece quando o equilíbrio é

FOGO TERRA METAL ÁGUA MADEIRA Legenda: Ciclo de Geração Ciclo de Dominância e Dominância Excessiva Ciclo de Contradominância

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quebrado e, sob tais circunstâncias, o relacionamento quantitativo entre os Movimentos é afetado, de maneira que, em determinado tempo, um Movimento é excessivo em relação ao outro. (MACIOCIA, 1996a)

O Ciclo de Contradominância ocorre na ordem inversa do Ciclo de Dominância. Assim, a Madeira lesa o Metal, o Metal lesa o Fogo, o Fogo lesa a Água, a Água lesa a Terra e a Terra lesa a Madeira. Isto também acontece quando o equilíbrio é afetado. (MACIOCIA, 1996a)

Um dos aspectos mais típicos da Medicina Chinesa é a ressonância comum entre os fenômenos da natureza e do organismo. Algumas destas correspondências são amplamente verificadas e experimentadas o tempo todo na prática clínica, sendo que algumas parecem não convincentes, mas persiste a sensação de que há uma sabedoria profunda por trás de todas elas, e todas foram determinadas, havendo um grupo de correspondências para cada um dos Cinco Movimentos. (MACIOCIA, 1996a)

Estes grupos de correspondências, especialmente aqueles pertinentes ao corpo humano, mostram como os órgãos e seus fenômenos relacionados formam um todo integrado e indivisível. Assim, a Madeira corresponde ao Fígado, olhos, tendões, grito, verde, fúria, trigo, Primavera e nascimento. Todos estes fenômenos estão relacionados e pertencem ao Elemento Madeira. (MACIOCIA, 1996a)

O sistema de correspondências dos Cinco Movimentos, contudo, proporciona um modelo de relacionamento clinicamente útil e abrangente entre os sistemas e os vários tecidos, órgãos dos sentidos, etc., e também entre os sistemas e vários fenômenos externos tais como clima e estações climáticas. (MACIOCIA, 1996a)

Como ilustração, será listado algumas correspondências relacionadas à Madeira e como é aplicado na prática clínica, seguindo Maciocia (1996a):

- estações: a estação que corresponde à Madeira é a Primavera. Na prática, é muito comum um desequilíbrio do Fígado agravar-se na Primavera. Esta é, provavelmente, a causa pela qual o Qi do Fígado flui em ascendência, sendo muito ativo: na Primavera, o Yang se eleva e o Qi aumentando se rompe, podendo agravar o desequilíbrio do Fígado e causar o aumento excessivo do Qi do Fígado.

- direção: os ventos do leste afetam facilmente o Fígado. Na prática, alguns pacientes sofrem de cefaleias crônicas ou dor de pescoço, sendo algumas vezes relatado que estes sintomas são adquiridos quando o vento do leste sopra.

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- cor: a cor da face nos desequilíbrios do Fígado será frequentemente esverdeada. Isto se aplica ao diagnóstico.

- sabor: uma quantidade pequena de sabor azedo na dieta é benéfica para o Fígado e o excesso pode ser prejudicial. Além disso, um excesso de sabor azedo pode danificar o Baço e ser benéfico para o Pulmão.

- clima: o vento afeta nitidamente aqueles que sofrem de um desequilíbrio no Fígado, e frequentemente causa cefaleias e rigidez no pescoço.

- órgãos dos sentidos: o Fígado umedece e nutre os olhos. - tecido: o Fígado também umedece e nutre os tendões.

- emoção: a fúria é a emoção que está conectada com a Madeira e o Fígado. Se o Qi do Fígado estagnar-se ou rebelar-se em ascendência, a pessoa pode estar propensa a sentir fúria.

- som: uma pessoa que sofre de desarmonia no Fígado estará propensa a gritar (em fúria).

No Ciclo de Dominância Excessiva onde o relacionamento de vigilância entre os Movimentos sai do controle e torna-se excessivo, o Fígado superage sobre o Estômago e o Baço, ou seja, se o Qi do Fígado estagna, “invade” o Estômago dificultando sua função de digestão e amadurecimento, e as funções do Baço de transformação e transporte. Em particular, quando o Qi do Fígado invade o Estômago, impede o Qi do Estômago de descender, causando náusea, além de evitar o Qi do Baço de ascender, causando diarreia. (MACIOCIA, 1996a)

Enquanto os relacionamentos ao longo do Ciclo de Contradominância também ocorrem condições patológicas. O Fígado lesiona o Pulmão, onde o Qi do Fígado pode estagnar em ascendência e obstruir o tórax e a respiração. (MACIOCIA, 1996a)

E quando houver desequilíbrio no Ciclo de Geração haverá estados patológicos. E no caso do Fígado que afeta o Coração, o primeiro falha ao nutrir o último. Especificamente, quando o Xue do Coração, o qual torna-se deficiente, podendo ocorrer sintomas de palpitação e insônia. Há outro modo particular pelo qual a Madeira afeta o Fogo, sendo este o caminho pelo qual a Vesícula Biliar afeta o Coração. Isto acontece em um nível psicológico. A Vesícula Biliar controla a capacidade de tomar decisões, não tanto no sentido de distinguir e avaliar o que é certo ou errado, mas no sentido de ter coragem para tomar uma decisão. Assim,

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diz-se na Medicina Chinesa que uma Vesícula Biliar forte faz a coragem. (MACIOCIA, 1996a)

Este traço psicológico da Vesícula Biliar influencia o Coração, assim como a Mente necessita do suporte de um objetivo forte e coragem fornecidos por uma Vesícula Biliar forte. Neste sentido, uma Vesícula Biliar deficiente pode afetar a Mente causando debilidade emocional, timidez e insegurança. (MACIOCIA, 1996a)

O Coração também pode afetar o Fígado se o Xue do Coração for deficiente, podendo levar a uma Deficiência generalizada do Xue, que afetará o estoque de Xue do Fígado. Isto causaria sintomas de menstruação escassa ou amenorreia. (MACIOCIA, 1996a)

No caso do Rim afetando o Fígado, o Yin daquele nutre o Yin e o Xue deste. Se o Yin do Rim for deficiente, o Yin e/ou o Xue do Fígado se tornará deficiente e causará zumbido, tontura, cefaleias e irritabilidade. Este relacionamento particular é um dos mais importantes e comuns na prática clínica. (MACIOCIA, 1996a)

O Fígado também pode afetar o Rim pois o Xue dele nutre e reabastece o Jing do Rim. Se o Xue do Fígado for deficiente por um período longo de tempo, poderá provocar uma deficiência do Jing do Rim, causando zumbido, tontura, sudorese noturna e debilidade sexual. (MACIOCIA, 1996a)

Concluindo, cada Movimento pode sair do equilíbrio de quatro maneiras: - está em excesso e superage sobre outro ao longo do Ciclo de Dominância Excessiva;

- é deficiente, sendo lesionado por outro Movimento ao longo do Ciclo de Contradominância;

- está em excesso e consome excessivamente do seu Movimento-Mãe; - é deficiente e falha para nutrir seu Filho.

A observação das cores é o mais importante de todos os esquemas de diagnóstico dos Cinco Movimentos. A cor da face é observada na maior parte das vezes e a prevalência de uma das cinco cores indica um desequilíbrio num determinado Movimento, que pode ser tanto uma deficiência como um excesso. Assim, a cor verde da face indica um desequilíbrio da Madeira, o qual poderia ser a Estagnação de Qi do Fígado. (MACIOCIA, 1996a)

Os sons e os tons das vozes podem também ser utilizados no diagnóstico. Se alguém tende a gritar enfurecido, isto indica um desequilíbrio do Movimento Madeira.

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O odor também é utilizado no diagnóstico de acordo com o modelo de correspondências dos Cinco Movimentos. Um odor rançoso indica um desequilíbrio do Movimento Madeira, frequentemente causado pela Estagnação do Calor no Fígado. (MACIOCIA, 1996a)

A relação entre as emoções e os Movimentos é importante no diagnóstico. Uma pessoa propensa a ter explosões de fúria, manifestaria um desequilíbrio do Movimento Madeira – usualmente com o aumento do Yang do Fígado. A emoção pode também estar mais dominada e menos aparente quando a fúria é reprimida. (MACIOCIA, 1996a)

O paladar relacionado com os Cinco Movimentos consiste num aspecto relativamente menor no diagnóstico chinês. O paladar azedo corresponde à Madeira. O estado patológico dos tecidos pode ser utilizado no diagnóstico como um indicador do desequilíbrio dos Movimentos relevantes. Por exemplo, se os tendões estiverem rígidos, isso indicará um desequilíbrio do Fígado e da Vesícula Biliar ou da Madeira. (MACIOCIA, 1996a)

As alterações com os cinco sentidos podem também refletir os desequilíbrios nos Movimentos relevantes. Por exemplo, a vista turva reflete uma Deficiência do Fígado. (MACIOCIA, 1996a)

A sensibilidade da pessoa a determinada condição climática também reflete um desequilíbrio do Movimento relevante. Assim, uma sensibilidade ao vento frequentemente reflete um desequilíbrio da Madeira.

Por fim, é preciso esclarecer que estes sistemas de diagnóstico apresentam algum nível de limitação e são aplicados parcialmente, pois não são rígidos quanto às correspondências com os Cinco Movimentos. (MACIOCIA, 1996a)

4.5 Doenças externas e internas

Segundo Perini (2003), os chineses classificam as doenças como externas ou internas, ou seja, as doenças externas são as causadas por energias do exterior invadindo o interior, causando desequilíbrio e iniciando o processo de adoecimento, e as doenças internas são aquelas quando o padrão desarmônico inicia-se diretamente no corpo.

Nas doenças externas há a influência de energias cósmicas (Frio, Calor, Umidade, Secura e Vento), energias alimentares (de acordo com os cinco sabores –

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Ácido, Amargo, Doce, Picante e Salgado; e as cinco cores – Verde, Vermelha, Amarela, Branca e Escura) e dos acidentes (que podem ou não ser resultantes de desequilíbrios energéticos). (PERINI,2003)

Já nas doenças internas são incluídos: a herança genética dos ancestrais (pelas doenças reais e tendências dos antepassados), o desgaste de energia causando fadiga (seja física ou psíquica) e o desequilíbrio das emoções (basicamente compreendidas por Raiva, Medo, Tristeza, Preocupação e Alegria). (PERINI,2003)

4.6 Depressão

Na visão ocidental, atualmente, o termo depressão tem sido empregado para designar tanto um estado afetivo normal (a tristeza), quanto um sintoma, uma síndrome e uma (ou várias) doença(s).

No seu diagnóstico levam-se em conta:

- sintomas psíquicos: humor depressivo; redução da capacidade de experimentar prazer na maior parte das atividades, antes consideradas como agradáveis; fadiga ou sensação de perda de energia; diminuição da capacidade de pensar, de se concentrar ou de tomar decisões;

- sintomas fisiológicos: alterações do sono; alterações do apetite; redução do interesse sexual;

- evidências comportamentais: retraimento social; crises de choro; comportamentos suicidas; retardo psicomotor e lentificação generalizada, ou agitação psicomotora. (DEL PORTO, 1999)

E, além destes sinais e sintomas citados acima, Smith et al (2010) ainda complementam com perda de peso, sentimento de inutilidade, auto-negligência e baixa autoestima.

Na visão oriental, seguindo a filosofia da MTC, o Fígado (Elemento Madeira) é o órgão que regula o “fluxo livre” das emoções; e não há psicopatologia em que o indivíduo não apresente, em algum nível, um comprometimento deste Elemento. Ainda no âmbito da psicopatologia, reconhece-se que praticamente todas as doenças psíquicas acarretam dificuldades importantes de relacionamento do indivíduo com seu meio ambiente, dificultam a clareza e a visão da realidade, e

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interferem nos relacionamentos humanos e na expressão das emoções. (CAMPIGLIA, 2009)

Os casos onde as alterações da Energia do Fígado estão mais evidentes são nas paranoias, delírios, distúrbios bipolares, em alguns tipos de depressão e em todas as reações agressivas. Esses distúrbios psíquicos podem ser tratados pela MTC com bons resultados, e particularmente nos casos de depressão com estagnação de Qi no Fígado a acupuntura e os exercícios físicos são essenciais na estabilização do paciente, restabelecendo-se o fluxo livre de Qi e das emoções. (CAMPIGLIA, 2009)

4.6.1 Estagnação de Qi no Fígado

Para Maciocia (1996a) o padrão mais comum e importante em relação ao Qi é a Estagnação de Qi no Fígado, e a consequência frequente desta estagnação é a perda da harmonia na função de vários sistemas de maneira que o Qi do Estômago não pode descender, o Qi do Baço não pode transformar, a Vesícula Biliar não pode secretar a bile livremente, o Qi do Útero estagna, além de outras desarmonias que estão apresentadas mais a frente.

Segundo Campiglia (2009), a etiologia da estagnação de Qi no Fígado está relacionada com as emoções (raiva, frustração, mágoa, ressentimento por longo período, emoções reprimidas) e alimentação irregular (dieta gordurosa, frituras), impedindo o Qi de fluir suavemente e tornando-o paralisado.

Quando ocorre essa estagnação de Qi no Fígado, predomina na pessoa uma irritabilidade com sensação de estar impedido de realizar algo. Nesse caso, o choro pode ajudar a soltar o nó e a pessoa sente-se aliviada. Outros sinais e sintomas são: depressão, irritabilidade, melancolia, plenitude e opressão torácica, suspiros, dor e distensão no hipocôndrio e no ventre, menstruações irregulares, dismenorreia, tensão pré-menstrual (TPM), alterações emocionais do climatério, sensação de bola na garganta, impaciência, alterações de humor; e eventualmente, náusea, dor epigástrica, eructações e gases. (CAMPIGLIA, 2009)

Maciocia (1996a) explica que a manifestação da sensação de distensão no hipocôndrio, decorrente da Estagnação de Qi no Fígado, é muito comum e possivelmente está acompanhada de dor, sendo o motivo justamente do Qi não fluir livremente nesta região, acumulando-se.

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Campiglia (2009) diz poder ocorrer também a Estagnação de Qi no Coração e no Pulmão surgindo sintomas como dispneia, opressão torácica e confusão mental; e sobre esta estagnação no tórax, Maciocia (1996a) completa que pode levar a uma sensação de plenitude torácica, muitas vezes sendo aliviada por um suspiro e, se houver soluço, a estagnação também terá invadido o diafragma.

A Estagnação de Qi no Fígado também pode se manifestar pelo borborigmo, que é decorrente da estagnação nos Intestinos, e no caso de diarreia veremos a estagnação invadindo Estômago e Baço, que traz também outros sintomas, como náusea, vômito, dor no epigástrio, anorexia, eructação entre outros. (MACIOCIA, 1996a)

Ainda sobre o Qi do Baço, Campiglia (2009) afirma que, além dos fatores etiológicos citados acima, se houver excesso de preocupação e o Qi do Baço for mais prejudicado, a pessoa também poderá apresentar mucosidade e aparecerão sintomas como indiferença, anorexia e confusão mental.

Pode haver também a sensação de “caroço na garganta” pois o meridiano do Fígado também passa pela garganta e o Qi estagnado dá esta sensação, que pode ir e voltar de acordo com o estado emocional. (MACIOCIA, 1996a)

Segundo Maciocia (1996a) pode ocorrer nas mulheres a Estagnação de Qi no Útero causando dismenorreia e vida emocional contida.

Além das estagnações de Qi subsequentes à Estagnação de Qi no Fígado, pelo Qi ser o “comandante do Xue”, essa Estagnação de Qi no Fígado por um longo período pode levar à Estagnação de Xue no Fígado. (MACIOCIA, 1996a)

E Campiglia (2009) ainda afirma que a Estagnação de Qi no Fígado pode formar Fogo e levar à insônia.

Na Estagnação de Qi no Fígado a língua apresenta uma saburra fina e branca, e com pontos de estagnação, podendo ser pegajosa devido à mucosidade; e o pulso será tenso e provavelmente deslizante, devido à mucosidade. (CAMPIGLIA, 2009)

Maciocia (1996a) completa que é típico nesses casos de depressão uma grande flutuação dos sintomas emocionais, em que a pessoa atravessa períodos de depressão e todos os sintomas físicos aparecem, mas estes sintomas físicos também podem desaparecer quando os períodos de depressão aumentam.

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4.7 Dietoterapia chinesa

Segundo Lu (1999), existem quatro divisões básicas da MTC: herbalismo chinês, dietoterapia chinesa, acupuntura chinesa e terapia manipulativa chinesa. No entanto, o herbalismo chinês e a dietoterapia chinesa geralmente são praticados juntos, e também podem ser considerados como medicina interna.

A dietoterapia da MTC tem uma história de mais de três mil anos e um conteúdo muito rico, trata das propriedades intrínsecas dos alimentos, seus efeitos na saúde e o uso terapêutico de alimentos na preservação da saúde e na prevenção e tratamento de doenças. Encontramos principalmente alimentos como cereais, carnes, frutas e legumes, os quais são servidos como alimento e bebida; e tem uma variedade maior de aplicação, frente ao herbalismo chinês, já que é administrada principalmente à população saudável e, depois aos pacientes, como uma maneira de auxiliar a prescrição e tratamento de outras terapias. (PERINI, 2003)

Já o herbalismo chinês utiliza quase somente medicamentos na forma de ervas, a sua aplicação é menor em relação à dietoterapia chinesa, e é dirigida principalmente aos pacientes e, em segundo lugar, à população saudável como uma forma importante para o tratamento e a prevenção de doenças. (PERINI, 2003)

Perini (2003) ainda complementa dizendo que os alimentos e bebidas administrados seguindo a dietoterapia chinesa, não somente preservam e melhoram a saúde, previnem e tratam doenças, mas também é uma fonte de prazer sensível aos órgãos sensoriais e à mente, enquanto no herbalismo chinês o gosto é normalmente desagradável.

Entretanto, existe um ditado chinês que afirma: “Não se pode sempre fixar um limite entre alimentos e ervas”. Esse é o porquê de algumas ervas (tais como dente-de-leão asiático e inhame chinês) serem tão suaves no efeito e tão prazerosas para o paladar que podem ser ingeridas como alimentos, e alguns alimentos (tais como alho, gengibre seco e tâmara vermelha) também contêm propriedades curativas suficientemente poderosas para serem usados como ervas. Consequentemente, na MTC, muitas plantas são consideradas tanto alimento como erva ao mesmo tempo. E por esta razão as duas terapias são sempre praticadas lado a lado, conjuntamente, e os médicos chineses frequentemente usufruem disto para aconselhar seus pacientes a tomar certas ervas e comer certos alimentos simultaneamente a fim de curar uma enfermidade. (LU, 1999)

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Este pensamento também é descrito por Perini (2003), afirmando que ambas as terapias têm vantagens e desvantagens, mas são indispensáveis na preservação da saúde e na prevenção e tratamento de doenças.

Assim, a dietoterapia chinesa é baseada num entendimento das tendências ou propriedades intrínsecas dos alimentos. Neste contexto, as principais propriedades de um alimento, segundo a MTC, são: a sua natureza, seu gosto, sua propensão pelo canal de Energia e suas funções. Também é importante e faz parte da dietoterapia chinesa a moderna compreensão científica de nutrientes e efeitos fisiológicos do alimento, porém, a ênfase descrita na MTC é derivada de observações dos efeitos dos alimentos quando ingeridos por alguém. (PERINI, 2003)

4.7.1 Natureza, gosto e propensão pelo canal de Energia

Segundo Perini (2003), a dietoterapia chinesa é baseada nas tendências e propriedades dos alimentos, sendo estes a natureza, o gosto e a propensão pelo canal de Energia, além de suas funções.

A natureza do alimento é classificada como Fria, Fresca, Morna e Quente, e é definida através da observação de seus efeitos no corpo humano. Geralmente, quando um alimento funciona como um antipirético ou um tranquilizante, ou quando ele pode acalmar o Fígado e prejudicar Yang Qi significa que o alimento é Frio em sua natureza. Quando tem os efeitos de aquecer o Aquecedor Médio para dissipar Frio, fortalecer e reabastecer Yang Qi, reabastecer o Fogo e nutrir o Qi ou quando pode nutrir o Calor e induzir Fogo ou prejudicar os Jin Ye, o alimento é considerado de natureza Morna. Somente poucos alimentos têm uma natureza extremamente Quente ou Fria, e com isso, na prática essas “Quatro Naturezas” são divididas em dois tipos básicos, Frio e Quente. Há ainda aqueles alimentos que possuem pouca tendência ao Frio ou ao Calor e são descritos como de natureza Neutra. (PERINI, 2003)

Na MTC, o gosto é categorizado pelos “Cinco Sabores”, que são: Azedo, Amargo, Doce, Picante e Salgado; e são sentidos pelos órgãos gustativos, mas também são inferidos pelas ações dos alimentos no corpo humano, sendo esta ação que diferenciará o gosto dos alimentos. Por exemplo, o gosto Azedo, combinado também com o adstringente, pode agir para parar transpiração, parar diarreia ou curar emissão seminal; o gosto Amargo tem um efeito antipirético e pode aliviar

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asma e tosse, ou agir como purgante; o gosto Doce pode remediar debilidade, regularizar o Estômago, aliviar espasmos e dores e, com um gosto Doce leve a ação poderá ser de um diurético e remover Umidade; o gosto Pungente incorpora alimentos de uma natureza Quente e Picante, que são, muitas vezes, aromáticos em sabor e podem induzir transpiração, promover a circulação de Qi e Xue, dissipar o Calor e assistir a digestão; e o gosto Salgado tem a função principal de amaciar e dispersar massas duras. (PERINI, 2003)

Já a propensão pelo canal de Energia indica que cada alimento tem um efeito claro em um ou mais canais de Energia particulares, com pouco ou nenhum efeito nos outros canais. Esta característica é derivada dos efeitos de cada alimento no corpo humano combinado com as características fisiológicas e patológicas dos órgãos internos e seus canais de Energia. E as funções de cada alimento, seguindo a MTC, também foram descritas pela observação após a ingestão dos mesmos. (PERINI, 2003)

Assim como a natureza, o gosto e as funções, a propensão pelo canal de Energia é somente um aspecto das propriedades dietéticas, e todos esses aspectos devem ser considerados juntos para dar uma descrição compreensível das propriedades de um alimento. (PERINI, 2003)

4.7.2 Cuidados na alimentação

Há vários cuidados que podem ser observados para aproveitar melhor a energia dos alimentos e evitar desequilíbrios energéticos internos, como por exemplo, os horários de alimentação, em que respeitando a circulação energética do Estômago (7hs~9hs) e do Baço (9hs~11hs) a melhor refeição seria o almoço, comendo pouco de manhã e à noite. (PERINI, 2003)

Muitas pessoas, no ocidente, possuem hábitos pobres de dieta, refeições irregulares, dietas desequilibradas e comendo rapidamente sem descansar. Por exemplo, em grandes centros urbanos, há lugares em que se come de pé, e como resultado o Qi do Baço torna-se deficiente, permitindo a penetração de Umidade e ocorrendo o desejo por comidas doces. E para nutrir o Baço é preciso ter refeições regulares e pequenas, incluindo alimentos doces, como raízes e legumes, e evitando sabores fortes. (PERINI, 2003)

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Do ponto de vista energético, deveríamos comer os alimentos da época. Durante a Primavera e o Verão, flores e folhas são abundantes, legumes folhosos e frutas suculentas são bastante disponíveis. Durante o Outono e o Inverno, as frutas estão secando, sendo formadas as sementes e a energia tende a se concentrar nas raízes das plantas. As frutas do Outono tendem a umedecer o Pulmão e as raízes fortalecem os Rins durante o Inverno. (PERINI, 2003)

Também é preciso avaliar se os alimentos são apropriados ou não para cada pessoa pois a indicação estará sempre relacionada a uma determinada situação e não somente às características intrínsecas do alimento. (PERINI, 2003)

4.7.3 Escolha e preparo dos alimentos

Muitas pessoas consomem alimentos sem pensar em suas ações combinadas, e com isso podem perder a qualidade do aumento do efeito terapêutico, do sabor e do valor nutritivo entre alimentos diferentes, visto que a combinação de alimentos entre si ou com medicamentos herbais pode modificar as propriedades dos alimentos. Os efeitos das combinações podem ser classificados como Fortalecimento Mútuo e Assistência Mútua, Incompatibilidade e Desintoxicação Mútua, Inibição Mútua ou Antagonismo. (PERINI, 2003)

A combinação Fortalecimento Mútuo e Assistência Mútua indica que alimentos cuja natureza e efeito são basicamente os mesmos ou semelhantes em um aspecto, podem, a um certo ponto, aumentar um ao outro seu efeito terapêutico ou sabor. O significado de Incompatibilidade e Desintoxicação Mútua mostra que, quando dois alimentos são usados juntos, a toxicidade ou efeito secundário de um alimento pode ser parcialmente removido pelo outro, portanto, o primeiro alimento é considerado incompatível com o último, enquanto o último é considerado um desintoxicante para o primeiro. A Inibição Mútua ocorre quando dois alimentos são usados juntos e seus efeitos originais são diminuídos ou mesmo perdidos pela interação; e normalmente, alimentos com tal incompatibilidade apresentam naturezas contraditórias. O Antagonismo é visto quando dois alimentos são usados juntos e reações tóxicas ou óbvios efeitos secundários podem ser produzidos. (PERINI, 2003)

Além do cuidado com a combinação entre os alimentos é preciso seguir uma dieta equilibrada, ou seja, os tipos de alimentos consumidos (cereais, carnes,

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legumes e frutas) e os nutrientes destes alimentos devem ser compreendidos e adequados em quantidade e proporção, satisfazendo as necessidades do corpo. Ao contrário, se a dieta for desequilibrada poderá interferir com o equilíbrio de Yin e Yang no corpo humano, prejudicando o funcionamento dos órgãos internos e causando desnutrição ou um excesso de derivados de produtos nutricionais que não foram usados. (PERINI, 2003)

Sabe-se também que alguns alimentos podem afetar o processo de cura de doenças ou os efeitos de medicamentos sendo tomados e devem portanto ser evitados. (PERINI, 2003)

A higiene dietética na MTC é outro fator indispensável e, portanto, a comida deve ser limpa, fresca, livre de toxinas e inofensiva para satisfazer este aspecto. E para assegurar a higiene dietética e prevenir a contaminação e deterioração de alimentos, quantidades menores de alimentos frescos devem ser comprados com mais frequência e guardados corretamente; a armazenagem longa deve ser evitada. Alimentos devem ser lavados antes de serem comidos ou preparados. E a esterilização dos utensílios de cozinha também é um importante êxito na higiene dietética. (PERINI, 2003)

Por fim, o Preparo do Alimento é super importante para reduzir a perda de nutrientes e, ao mesmo tempo, aumentar o sabor dos alimentos e fazê-los mais fáceis de serem digeridos. Para tanto, Perini (2003) ressalta que os alimentos, em sua maioria, devem ser cozidos no vapor, fervidos, fritos ou assados, o que também ajuda na esterilização dos mesmos; e ainda, uma correta combinação de alimentos diferentes e um correto preparo podem melhorar cor, cheiro, gosto e textura, aumentando, então, sua apreciação ao paladar.

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5 FORMULAÇÃO TEÓRICA DE UMA DIETA PARA ESTAGNAÇÃO DE QI NO FÍGADO

Para esta Síndrome Energética de Estagnação de Qi no Fígado, Campiglia (2009) sugere como princípio de tratamento drenar o Fígado e desfazer a congestão, inclusive de Mucosidade quando o Qi do Baço for prejudicado; enquanto Maciocia (1996b), mais detalhista, diz ser preciso mover o Qi, pacificar o Fígado, assentar a Alma Etérea e acalmar o Shen.

Ainda, seguindo as orientações de Campiglia (2009) deve-se evitar ovo e açúcares, alimentos gordurosos, picantes, frios ou de sabor ácido, que causam a estagnação de Qi no Fígado, Fogo ou desequilíbrio do Yin e do Yang. E no oposto, dar preferência às refeições leves, alimentos mornos ou quentes.

A seguir estão listados alguns alimentos sugeridos por dois autores e suas características estarão no Apêndice A:

- sugestão de Perini (2003): alcaçuz, bardana, carpa, farinha sarracena, fígado de porco, flor de laranjeira, flor de lis, inhame, jasmim, laranja, ostra, rosa, semente de loto, tâmara, trigo;

- sugestão de Campiglia (2009): açafrão, alcaravia, alface, alho, alho porró, anis-estrelado, carne bovina, cebolinha, cenoura, cogumelo shiitake, erva doce, flor de laranjeira, flor de lis, laranja, lichia, longan, malte, manjericão doce, mexilhão, ostra, rosa, semente de endro, semente de lótus, tangerina, trigo, vagem, vinagre.

E sabendo que existem períodos no ano em que os alimentos possuem mais energia, há um calendário de safra de alimentos com alguns dos citados acima nos Apêndices B (classificados por mês) e C (classificados por ordem alfabética).

E conhecendo as características intrínsecas dos alimentos acima percebe-se que cada um é diferente do outro, mas todos estão relacionados à regularização da Estagnação de Qi no Fígado e/ou de suas síndromes energéticas subsequentes e, portanto, no tratamento da depressão (originada pela Estagnação de Qi no Fígado) e sua sintomatologia.

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Estagnação de Qi no Fígado pode trazer diversas sintomatologias diretas como: Depressão, irritabilidade com sensação de estar impedido de realizar algo, melancolia, dor e distensão no hipocôndrio e no ventre, soluço, sensação de “caroço na garganta”, mas também acarreta em outras desarmonias energéticas no Fígado e em outros Zang Fu, como: a Estagnação de Xue no Fígado e Fogo no Fígado; o Qi do Estômago que não descende causando náusea, vômito e eructação; o Qi do Baço que não transforma e leva a mais Mucosidade, e sintomas como indiferença, anorexia e confusão mental; a Vesícula Biliar que não secreta bile livremente; o Qi do Útero que estagna causando dismenorreia e vida emocional contida; a Estagnação de Qi do Coração e do Pulmão causando dispneia, plenitude e opressão torácica, suspiro e confusão mental; a Estagnação nos Intestinos causando borborigmo

Portanto, o paciente com Depressão apresentando Estagnação de Qi no Fígado poderá manifestar a sintomatologia desta síndrome energética, assim como das desarmonias energéticas conseqüentes da Estagnação de Qi no Fígado.

A partir desta constatação e o estudo da Dietoterapia Chinesa é possível encontrar uma forma de melhorar este quadro sintomatológico.

No caso de Depressão e demais sintomas relacionados, direta e indiretamente, à Estagnação de Qi no Fígado, a dietoterapia chinesa propõe alimentos para drenar o Fígado e movimentar o Qi, pacificar o Fígado, assentar a Alma Etérea e acalmar o Shen.

Além disso, a Dietoterapia Chinesa aborda tipos de alimentos que devem ser evitados, como ovo e açúcares, alimentos gordurosos, picantes, frios ou de sabor ácido, pois dependendo da quantidade ingerida e do quadro energético do paciente estes alimentos podem causar Estagnação de Qi no Fígado, Fogo ou desequilíbrio do Yin e do Yang.

Mesmo assim, é impossível formular um protocolo alimentar específico para Depressão com Estagnação de Qi no Fígado, pois em cada indivíduo as manifestações energéticas e psico-físicas podem ser das mais diversas entre as citadas no trabalho, tendo que avaliar o paciente individualmente para poder orientá-lo(a) corretamente dentro dos princípios da dietoterapia chinesa.

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7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAMPIGLIA, Helena. Psique e Medicina Tradicional Chinesa. 2.ed. São Paulo: Roca, 2009.

DEL PORTO, José A. Conceito e diagnóstico. Revista Brasileira de Psiquiatria, São Paulo, v.21, supl.1, p.SI6-SI11, maio 1999.

FLECK, Marcelo P. et al. Revisão das diretrizes da Associação Médica Brasileira para o tratamento da depressão. Revista Brasileira de Psiquiatria, São Paulo, v.31, supl.1, p.S7-S17, maio 2009.

GUILHERME, Ana M. Filosofia. Disponível em:

<http://www.medicinachinesapt.com/filosofia.html>. Acesso em: 21 maio 2011.

LU, Henry C. Curas herbais chinesas. São Paulo: Roca, 1999.

MACIOCIA, Giovanni. Os fundamentos da Medicina Chinesa: um texto abrangente para acupunturistas e fitoterapeutas. São Paulo: Roca, 1996a.

MACIOCIA, Giovanni. A prática da Medicina Chinesa: tratamento de doenças com acupuntura e ervas chinesas. São Paulo: Roca, 1996b.

PERINI, Mauro. Terapia dietética chinesa. São Paulo: Loyola, 2003.

ROSS, Jeremy. Zang Fu: sistemas de órgãos e vísceras da Medicina Tradicional Chinesa. 2.ed. São Paulo: Roca, 2003.

SILVA FILHO, Reginaldo de C. Depressão: visão ocidental/oriental e uma proposta de tratamento com acupuntura. 2008. Disponível em: <http://zhenjiu.com.br/acupuntura-e-depressao/>. Acesso em: 18 jun. 2010.

SMITH, Caroline A. et al. Acupuncture for depression. Cochrane Database of Systematic Reviews. In: The Cochrane Library, Issue 4, 2010.

(35)

APÊNDICE A – Aspectos energéticos dos alimentos (por ordem alfabética)

ALIMENTO NATUREZA GOSTO PROPENSÃO PELO CANAL DE ENERGIA; FUNÇÕES

AÇAFRÃO Neutro Picante/

Doce

Age no C e F;

Promove circulação de Xue, Dispersa estase de Xue

ALCAÇUZ Neutro Doce Age no E, BP e P;

Acalma o Shen, Tonifica Qi, Produz Jin Ye

ALCARAVIA Morno Picante Age no R e E;

Promove circulação de Qi

ALFACE Fresco Amargo Age no E e IG;

Promove urinação, Combate o acúmulo de Frio, Mucosidade e estagnação de Qi, Permeabiliza os canais de energia, Descongestiona o mediastino

ALHO Morno Picante Age no E, BP, P e IG;

Promove circulação de Qi, Elimina Xie Qi, Dispersa Mucosidade, Aquece BP e E, Antitóxico

ALHO PORRÓ

Morno Picante Age no P e F

Promove circulação de Qi, Dispersa Mucosidade ANIS- ESTRELADO Morno Doce/ Picante Age no R, F e BP; Promove circulação de Qi BARDANA Doce/ Amargo Age no P, E, R e Intestinos;

Elimina Vento e Calor perversos, Tonifica Qi, Elimina Toxinas

CARNE BOVINA

Morno Doce Age no BP, E e IG;

Tonifica e nutre Qi de BP e E, Fortalece Qi e Xue, Fortalece Qi dos ossos e tendões, Tonifica Aquecedor Médio, Elimina Umidade perversa

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CARPA Neutro Doce Age no BP, R, P e E;

Tonifica BP, Alivia edema, Tonifica Qi de R e P, Refresca Calor

CEBOLINHA Morno Picante Age no R, E e F;

Promove circulação de Qi, Dispersa estase de Xue, Aquece Zang Fu

CENOURA Neutro Doce Age no BP, P, E e R;

Tonifica Qi de BP, Elimina estagnação de alimento no E, Estimula apetite, Acalma agitação dos 5 Zang, Umedece R, Tonifica Yang original, Elimina Frio e Umidade perversa, Elimina Calor perverso, Neutraliza toxinas, Promove urina

COGUMELO SHIITAKE

Neutro Doce Age no E, F, R, BP e P;

Elimina Frio, Umidade e Calor, Fortalece Xue, Elimina penetração de Vento-Frio

ERVA DOCE Morno Picante Age na B, R e E;

Aquece Zang Fu, Promove circulação de Qi

FARINHA SARRACENA

Fresco Doce Age no BP, E e IG;

Elimina estagnação de alimento no E, baixa o contra fluxo de Qi, Fortalece BP, Resolve Umidade FÍGADO DE PORCO Morno Doce/ Azedo Age no F;

Nutre F, Melhora a acuidade visual

FLOR DE

LARANJEIRA

Neutro Picante/ Amargo

Age no E e F;

Regulariza F, Regulariza Qi, Harmoniza E, Para vômitos

FLOR DE LIS Fresco Doce Age no P;

Acalma o Shen, Lubrifica P

INHAME Neutro Doce/

Picante

Age no E e IG Produz Jin Ye

Referências

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