• Nenhum resultado encontrado

DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DIRETIVO DA ENTIDADE REGULADORA DA SAÚDE (VERSÃO NÃO CONFIDENCIAL)

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DIRETIVO DA ENTIDADE REGULADORA DA SAÚDE (VERSÃO NÃO CONFIDENCIAL)"

Copied!
20
0
0

Texto

(1)

DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DIRETIVO DA ENTIDADE REGULADORA DA SAÚDE

(VERSÃO NÃO CONFIDENCIAL)

Considerando que a Entidade Reguladora da Saúde exerce funções de regulação, de supervisão e de promoção e defesa da concorrência respeitantes às atividades económicas na área da saúde nos setores privado, público, cooperativo e social;

Considerando as atribuições da Entidade Reguladora da Saúde conferidas pelo artigo 5.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto;

Considerando os objetivos da atividade reguladora da Entidade Reguladora da Saúde estabelecidos no artigo 10.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto;

Considerando os poderes de supervisão da Entidade Reguladora da Saúde estabelecidos no artigo 19.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto;

Visto o processo registado sob o n.º ERS/031/2014

I. DO PROCESSO I.1. Origem do processo

1. Em 7 de janeiro de 2014, foi rececionada pela ERS uma exposição subscrita por M (…), relativa à atuação do “CEBESA – Centro de Bem Estar de Alcanena,

IPSS” (doravante, apenas designado por CEBESA), com o NIPC n.º

500745935, sito na Avenida Marquês de Pombal, n.º 240, e que se encontra registado no SRER da ERS sob o n.º 20670.

2. Atenta a necessidade de uma averiguação mais aprofundada, o, então, Conselho Diretivo da ERS deliberou, por despacho de 29 de janeiro de 2014, proceder à abertura de inquérito sob o n.º ERS/007/14.

3. Realizadas as diligências instrutórias consideradas relevantes, e que infra se descrevem, o referido Conselho Diretivo da ERS deliberou em 12 de março de

(2)

2014, proceder ao arquivamento do processo, dispensando a audiência prévia nos termos do disposto no artigo103º, n.º 2, alínea a) do CPA.

4. A 8 de abril de 2014, a exponente apresentou uma Reclamação1 nos termos do disposto no artigo 162º do CPA, dirigida ao Presidente do Conselho Diretivo, solicitando a revogação da referida deliberação e a sua notificação para o exercício do contraditório, no âmbito de audiência de interessados.

5. Por deliberação de 2 de maio de 2014, proferida pelo então Conselho Diretivo da ERS, foi reaberto o processo de inquérito, considerando os elementos alegados na reclamação da exponente.

6. Notificados a exponente e o prestador do teor da referida deliberação, veio este último, por ofício remetido à ERS a 3 de junho de 2014, em suma, manifestar a sua discordância quanto à reabertura dos autos, reafirmar os argumentos já deduzidos e requerer o arquivamento do processo de inquérito.

I.2. Diligências

7. No âmbito da investigação desenvolvida pela ERS, realizaram-se, entre outras, as diligências consubstanciadas:

(i) em pesquisa no Sistema de Registo de Estabelecimentos Regulados (SRER) da ERS;

(ii) no pedido de informação ao CEBESA em 6 de fevereiro de 2014, respondido em 20 de fevereiro de 2014.

II. DOS FACTOS II.1. Dos factos relativos à reclamação da utente

8. Da reclamação apresentada em 7 de janeiro de 2014 por M., resulta em suma, que:

1

Salienta-se, por razões de facilidade de compreensão e leitura, que para efeito da presente deliberação, a expressão “reclamação” respeita à exposição apresentada em 7 de janeiro de 2014 pela exponente, em análise nos autos, e a palavra “Reclamação” ao ato praticado pela mesma exponente nos termos do artigo 162.º do CPA.

(3)

a) Em abril de 2012, A (…), marido da exponente, foi internado no hospital de Alcanena (estabelecimento pertencente ao CEBESA), onde permaneceu até à data do seu falecimento, a 19 de novembro de 2013; b) Durante este período e por diversas vezes, quer a exponente, quer os

seus netos, e a sua advogada, tentaram obter informações sobre a situação clínica do utente e nunca obtiveram qualquer resposta;

c) Em especial, afirma a reclamante que foram enviadas cartas ao CEBESA em 17/01/2013, 01/02/2013, 11/05/2013, 22/10/2013 e 09/12/2013, às quais, alegadamente, nunca foi dada qualquer resposta.

d) Também durante esse período, nunca foi permitido ao utente sair da unidade hospitalar com a exponente, sendo certo, porém, que tal permissão já era conferida ao seu filho, J(…), a quem era fornecida toda a informação clínica competente;

e) Para além disso, o CEBESA nunca forneceu à exponente qualquer informação sobre os dados clínicos ou sobre a causa da morte do seu marido, apesar de ter sido múltiplas vezes instado para tanto.

9. Em 4 de fevereiro de 2014, a mesma reclamante voltou a remeter à ERS nova exposição, reafirmando a sua posição e juntando cópia de uma carta que entretanto recebeu do CEBESA, sobre a situação em análise – cfr. reclamação e nova comunicação da exponente, juntas aos autos.

II.2. Dos factos relativos à resposta do CEBESA

10. Na sequência da análise do alegado pela exponente, foi solicitado ao prestador, a 6 de fevereiro de 2014, o envio de informação adicional, ao abrigo do n.º 1 do artigo 49º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de maio, designadamente:

a) Que se pronunciasse sobre o conteúdo da reclamação e fornecesse esclarecimentos adicionais relevantes;

b) Que remetesse à ERS, cópia de toda a correspondência trocada com a reclamante, em especial, cópia das eventuais respostas aos requerimentos apresentados pela reclamante, pelos seus netos e pelo seu advogado;

(4)

c) Que indicasse se foi prestada informação sobre o utente A(…) a qualquer outro interessado e, em caso afirmativo, que remetessem à ERS cópia de toda a correspondência e documentos em causa, bem como, justificação para a prestação dessa informação;

d) Que indicasse se foi permitido o contato, acompanhamento ou visita do utente A(…) por qualquer outro interessado durante o período do seu internamento, e, em caso afirmativo, qual o motivo para ter sido permitido esse contato;

e) Que identificasse todos os procedimentos e regras internas que observam, no que respeita ao acompanhamento e visitas de utentes internados e prestação de informação a familiares, quanto à situação clínica dos utentes internados e quanto à causa de morte, no caso de falecimento;

f) O envio de quaisquer outros elementos, documentos ou esclarecimentos adicionais relevantes para o completo esclarecimento da situação em apreço.

11. Através da exposição que remeteu à ERS, rececionada em 20 de fevereiro de 2014, o CEBESA veio refutar as acusações que lhe eram imputadas pela reclamante, afirmando, em suma, o seguinte:

a) O utente A(…) esteve internado no Hospital de Alcanena (estabelecimento de saúde do CEBESA), desde o dia 27 de abril de 2012 até 19 de novembro de 2013;

b) Durante todo este período, sempre foram permitidas as visitas, quer da reclamante, quer dos seus netos, no estrito cumprimento das normas internas que regulam o funcionamento do Hospital; porém,

c) Que “[…] até ao dia 8 de janeiro de 2013, não eram conhecidos outros

familiares além do filho, J(…), o qual sempre acompanhou o utente e constituía o único elo com a família”;

d) Que o Hospital “apenas tomou conhecimento da existência de outros

familiares quando um enfermeiro alertou a Diretora para o facto de se encontrar junto do utente A(…), um Notário acompanhado de quatro outras pessoas e que se preparavam para lavrar um ato notarial.”.

e) Nessa data, não foi impedida a presença das quatro pessoas ou do Notário, mas estes foram informados que o utente sofria de demência,

(5)

que não se encontrava na plenitude das suas faculdades mentais, que muitas vezes se encontrava desorientado no tempo e no espaço, sem consciência dos seus atos, pelo que a sua capacidade para intervir num ato notarial estaria limitada.

f) Mais terá sido referido que se teria de avisar os familiares do utente, tendo nessa ocasião uma das presentes dito que era neta do utente. g) O notário não foi impedido de concluir o ato notarial em causa, mas

decidiu, por sua livre e espontânea vontade, não o fazer e abandonar as instalações do Hospital.

h) Desde então, os profissionais do CEBESA aperceberam-se da existência de “[…] uma grande tensão entre os familiares, ao que se

veio a saber por questões de partilhas, nas quais o Hospital de Alcanena não se imiscuiu […]”;

i) reiterando que no “[…] período de abril de 2012 a janeiro de 2013, para

o Hospital de Alcanena, o único responsável pelo internamento do utente era o filho […], dado que quer a reclamante quer os netos jamais compareceram nas visitas ou sequer solicitaram qualquer informação.”.

j) No que respeita aos pedidos de informação que foram dirigidos ao

CEBESA pela reclamante, pelos seus netos e pelo seu advogado,

foram todos respondidos, quer pessoalmente, quer por correio, quer através de advogado, conforme cópia das comunicações anexadas à sua exposição, datadas de 21/02/2013, 08/03/2013, 12/03/2013 e 16/01/2014;

k) De tais respostas, concretamente, da comunicação datada de 12 de março de 2013, resulta ainda que o CEBESA se disponibilizou, através do seu Diretor Clínico, para reunir com a reclamante e prestar todos os esclarecimentos que a mesma necessitasse, tendo sido inclusivamente facultado o contacto deste à reclamante.

l) Quanto às deslocações e saídas do utente do Hospital, só foi possível autorizar duas delas, em virtude do estado de saúde do mesmo;

m) Quanto à informação sobre a causa de morte, a mesma foi prestada à reclamante através da certidão de óbito;

n) Por fim, foi recusado o pedido da reclamante de acesso integral aos dados clínicos do utente, pelos motivos e fundamentos constantes da

(6)

Deliberação n.º 51/2001 da Comissão Nacional de Proteção de Dados, uma vez que tais elementos são confidenciais, competindo ao CEBESA respeitar a reserva da intimidade da vida privada do utente.

12. Para além de se pronunciar sobre a exposição da reclamante, o CEBESA veio ainda juntar aos presentes autos, cópia da correspondência trocada com os Serviços do Ministério Público de Torres Novas, no âmbito dos autos de processo n.º 542/12.5 GBTNV e 516/13.9 TATNV, referente à prestação de informação sobre dados de saúde do utente em causa;

13. Bem como, identificar as regras em vigor no seu Hospital, quanto aos procedimentos a observar no que respeita às visitas a utentes internados, nos termos seguintes:

“O horário de visitas do Hospital tem início das 14h30 às 15h30 e das 18h

às 19h.

São permitidas das visitas de todos quantos se mostrem interessados. O Diretor Clínico presta informação aos familiares sempre que solicitado e faz atendimento presencial das 16h às 18h, mediante marcação” – cfr.

resposta e demais documentação remetida, juntas aos autos.

II.3. Dos factos relativos à Reclamação apresentada nos autos

14. Conforme acima se referiu, a exponente deduziu ainda uma Reclamação nos presentes autos, manifestando o seu desacordo face à deliberação do Conselho Diretivo da ERS de 12 de março de 2014, pugnando pela sua revogação e, bem assim, pelo cumprimento do princípio do contraditório, através da realização de audiência prévia.

15. Por deliberação de 2 de maio de 2014, o então Conselho Diretivo da ERS decidiu reabrir os presentes autos, considerando os elementos alegados na dita reclamação. Na verdade,

16. Alega a reclamante, em suma:

a) Que o utente terá saído do hospital mais do que duas vezes, sem o conhecimento da reclamante ou dos seus netos;

b) Que a CEBESA não deu conhecimento à reclamante do teor do atestado datado de 08/03/2013;

(7)

c) Que a CEBESA não deu conhecimento, nem entregou à reclamante, a certidão de óbito junta aos presentes autos como doc. n.º 21, anexo à pronuncia daquele prestador.

17. Já o prestador, por ofício remetido à ERS em 3 de junho de 2014, veio pronunciar-se sobre o teor da Reclamação deduzida nos presentes autos pela reclamante, afirmando, em suma e com interesse para o objeto dos autos, o seguinte:

a) A reclamante conhecia todos os documentos juntos aos autos pela CEBESA, pois os que não lhe foram dirigidos a si, foram entregues à sua mandatária;

b) Da correspondência enviada pela reclamante à CEBESA (cfr. carta anexa à reclamação inicial, datada de 11/05/2013), resulta que a mesma tinha conhecimento do conteúdo de todas as comunicações, inclusivamente das conversas mantidas entre os advogados de ambas as partes.

III. DO DIREITO III.1. Das atribuições e competências da ERS

18. De acordo com o n.º 1 do artigo 4.º e o n.º 1 do artigo 5.º, ambos dos Estatutos da ERS aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, 22 de agosto, a ERS tem por missão a regulação, supervisão, e a promoção e defesa da concorrência, respeitantes às atividades económicas na área da saúde dos setores privados, público, cooperativo e social, e, em concreto, da atividade dos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde.

19. Sendo que estão sujeitos à regulação da ERS, nos termos do n.º 2 do artigo 4.º dos mesmos Estatutos, todos os estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde, do sector público, privado, cooperativo e social, independentemente da sua natureza jurídica;

20. Consequentemente, o “Centro Bem Estar Social de Alcanena” (CEBESA) é uma entidade prestadora de cuidados de saúde registada no SRER da ERS sob o n.º 20670, detentora de um estabelecimento com a designação “Centro Bem Estar Social de Alcanena-Hospital”, registado sob o n.º 115777.

(8)

21. As atribuições da ERS, de acordo como disposto nas alíneas a) e b) do n.º 2 do artigo 5.º dos Estatutos da ERS, compreendem a supervisão da atividade e funcionamento dos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde, no que respeita à garantia dos direitos relativos ao acesso aos cuidados de saúde, à prestação de cuidados de saúde de qualidade, bem como dos demais direitos dos utentes.

22. Ademais, constituem objetivos da ERS, nos termos do disposto nas alíneas b), c) e e) do artigo 10.º do mencionado diploma, assegurar o cumprimento dos critérios de acesso aos cuidados de saúde e garantir os direitos e interesses legítimos dos utentes.

23. Competindo-lhe, na execução dos preditos objetivos, e conforme resulta do artigo 12.º dos Estatutos, zelar pelo respeito da liberdade de escolha nos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde, incluindo o direito à informação.

24. Para tanto, a ERS pode assegurar tais incumbências mediante o exercício dos seus poderes de supervisão, no caso mediante a emissão de ordens e instruções, bem como recomendações ou advertências individuais, sempre que tal seja necessário, sobre quaisquer matérias relacionadas com os objetivos da sua atividade reguladora, incluindo a imposição de medidas de conduta e a adoção das providências necessárias à reparação dos direitos e interesses legítimos dos utentes – cfr. alínea b) do artigo 19.º dos Estatutos da ERS. 25. As questões suscitadas implicaram a necessidade de averiguar da

possibilidade, no caso concreto, da existência de constrangimentos no acesso à informação sobre o utente em causa, bem como, ao exercício do seu direito ao acompanhamento no período de internamento;

26. E neste âmbito, verificar se a CEBESA assegura o cumprimento das normas e procedimentos em vigor nesta matéria.

III.2. Dos direitos e interesses legítimos dos utentes – direito de acompanhamento e direito de acesso à informação

27. Nos termos do disposto no n.º 1 do artigo 3º da Lei n.º 106/2009, de 14 de setembro (que, à data dos factos, estabelecia o regime do acompanhamento familiar de crianças, pessoas com deficiência, pessoas em situação de

(9)

dependência e pessoas com doença incurável em estado avançado e em estado final de vida em hospital ou unidade de saúde)2, “As pessoas deficientes

ou em situação de dependência, as pessoas com doença incurável em estado avançado e as pessoas em estado final de vida, internadas em hospital ou unidade de saúde, têm direito ao acompanhamento permanente de ascendente, de descendente, do cônjuge ou equiparado e, na ausência ou impedimento destes ou por sua vontade, de pessoa por si designada.”;

28. Ainda de acordo com o disposto no n.º 1 do artigo 5º da mesma lei, “Os

profissionais de saúde devem prestar ao acompanhante a conveniente informação e orientação para que este possa, se assim o entender, sob a supervisão daqueles, colaborar na prestação de cuidados à pessoa internada”;

29. Sobre o âmbito de prestação de informação clínica a familiares de utentes, a confidencialidade e o acesso à informação constante de um processo clínico (dados clínicos), encontra-se regulado em vários diplomas legais:

a) na Lei de Bases da Saúde;

b) na Convenção dos Direitos Humanos e da Biomedicina.3

c) na Lei de Proteção de Dados Pessoais (Lei n.º 67/98, de 26 de outubro – LPDP);

d) na Lei sobre a informação genética pessoal e informação de saúde (Lei n.º 12/2005, de 26 de janeiro), na Lei de Acesso aos Documentos Administrativos (Lei n.º 46/2007, de 24 de agosto – LADA);

30. Do quadro jurídico aplicável resulta que o acesso e a confidencialidade dos dados de saúde em hospitais públicos é regulado pela LADA, enquanto que nos hospitais do setor privado e social, estas questões são reguladas pela LPDP e Lei n.º 12/2005.

31. Neste âmbito, importa ter em atenção que as informações sobre dados de saúde prendem-se com o historial clínico de um utente; tais matérias, desde logo, estão abrangidas pela obrigação de segredo profissional, uma vez que,

2

A Lei n.º 106/2009, de 14 de setembro foi revogada pela Lei n.º 15/2014, de 21 de março, a qual, por sua vez, passou a contemplar as regras referentes ao acompanhamento de familiares internados.

3

Celebrada, no âmbito do Conselho da Europa, em 4 de abril de 1997; aprovada para ratificação pela Resolução da Assembleia da República n.º 1/2001, de 3 de janeiro, publicada no Diário da República, I Série-A, n.º 2/2001; e ratificada pelo Decreto do Presidente da República, nº 1/2001, de 20 de fevereiro, de 3 de janeiro, publicado no Diário da República, I Série-A, n.º 2/2001;

(10)

respeitantes à saúde, são fornecidas e recolhidas no âmbito de uma relação estabelecida entre o doente e o estabelecimento que o acolhe.

32. Esta relação, por se enquadrar no âmbito do exercício de uma profissão e, em especial, de uma prestação de serviços de saúde, é abrangida pela obrigação de segredo profissional.4

33. O segredo profissional “é a proibição de revelar factos ou acontecimentos de

que se teve conhecimento ou que foram confiados em razão e no exercício de uma actividade profissional”5.

34. A obrigação de sigilo vincula, pois, a entidade – e todos os seus profissionais - que acolhe e oferece os seus préstimos ao doente; não obstante poder tratar os dados que lhe são fornecidos por este ou que lhe cheguem ao seu conhecimento em virtude daquela prestação de cuidados médicos, o Hospital não os pode revelar a terceiros, sem prévio conhecimento e consentimento do doente, sendo apenas legítimo que utilize tal informação na prestação dos citados serviços de saúde.

35. A proteção conferida pelo segredo profissional assenta, assim, em motivos de interesse particular – proteção da privacidade do doente – bem como em fundamentos de interesse geral e público – preservação da confidência necessária nas relações médico/doente.

36. Deste modo, a violação daquela obrigação de sigilo não só consubstancia uma intromissão na esfera da vida íntima e privada do particular em causa, como origina ainda uma desconfiança generalizada em todo o sistema, podendo gerar uma reação negativa dos cidadãos face à confiança que depositam nos estabelecimentos de saúde e nos seus profissionais.

37. No âmbito do segredo profissional está em causa a proteção de um bem jurídico fundamental, que justifica inclusivamente a previsão de um tipo legal de crime: no art.195º do Código Penal, pode ler-se que “Quem, sem

consentimento, revelar segredo alheio de que tenha tomado conhecimento em razão do seu estado, ofício, emprego, profissão ou arte é punido com pena de prisão até 1 ano ou com pena de multa até 240 dias.”.

38. E certo é que os dados relativos à saúde de um cidadão integram-se na esfera da sua intimidade privada.

4

Cfr. a título de exemplo, a obrigação de sigilo profissional estabelecida no art. 13º, alínea c), e nos art. 67º a 80º do Estatuto da Ordem dos Médicos.

5

(11)

39. O direito à reserva da intimidade da vida privada é um direito fundamental, consagrado no artigo 26º, n.º 1, da Constituição da República Portuguesa (CRP); como tal, a sua observância e respeito impõe-se diretamente, vinculando entidades públicas e privadas (cfr. artigo 18º da CRP)6.

40. De referir que a proteção assim conferida integra, entre outros direitos de personalidade, a tutela da vida, da integridade física, da liberdade, da honra e da saúde.

41. Desta forma, repete-se, qualquer entidade prestadora de cuidados de saúde, apesar de possuir informações sobre a saúde de uma pessoa, não é titular das mesmas.

42. As informações que possui, destinam-se única e exclusivamente à prossecução do seu objeto, que é a prestação dos cuidados de saúde.

43. Daí que o tratamento das mesmas tenha sempre que ter, como função e medida, aquele – e só aquele – objetivo.

44. O Hospital não é titular dos registos clínicos do doente – toda a informação de que teve conhecimento, no exercício das suas funções, estão inseridas naquela esfera da intimidade privada do doente. E este é que é, para todos os efeitos, o titular do direito às mesmas.

45. Por esta razão, o artigo 35º da CRP refere que “Todos os cidadãos têm o direito

de acesso aos dados informatizados que lhes digam respeito (...) ”, estando “proibido o acesso a dados pessoais de terceiros (...)

46. Neste sentido, a Lei de Bases da Saúde, nas Base XIV, n.º 1, alínea d), estatui como direito dos utentes das entidades prestadoras de cuidados de saúde, o direito a “ter rigorosamente respeitada a confidencialidade sobre os dados

pessoais revelados.”.

47. Assim, só os utentes têm direito a “ser informados sobre a sua situação, as

alternativas possíveis de tratamento e a evolução provável do seu estado”.

48. Por seu turno, a citada Lei n.º 67/98 de 26 de outubro estabelece um regime de proteção de dados pessoais.

6

Conforme afirmam J. Gomes Canotilho e Vital Moreira, o direito à intimidade da vida privada analisa-se em dois direitos menores: “(a) o direito a impedir o acesso de estranhos a

informação sobre a vida privada e familiar e (b) o direito a que ninguém divulgue as informações que tenha sobre a vida privada e familiar de outrem (art. 80º do Código Civil).” – in

(12)

49. Para o efeito, no artigo 3º, alínea a), define-se “dados pessoais”, como “qualquer informação, de qualquer natureza e independentemente do respectivo

suporte, incluindo som e imagem, relativa a uma pessoa singular, identificada ou identificável – titular dos dados (...) ”.

50. Portanto, dados pessoais são toda e qualquer informação sobre uma determinada pessoa, que contenha apreciações, juízos de valor ou que sejam abrangidas pela reserva da intimidade da vida privada.

51. O princípio geral que preside ao tratamento de dados pessoais é o do estrito respeito pela reserva da vida privada, bem como por todos os outros direitos, liberdades e garantias fundamentais – cfr. artigo 2º da Lei n.º 67/98.

52. Daí que os responsáveis pelo tratamento de dados pessoais, bem como aqueles que, no exercício das suas funções, tenham conhecimento de dados pessoais tratados, fiquem obrigados a sigilo profissional, mesmo após o termo das suas funções – cfr. artigo17º, n.º 1 da Lei n.º 67/98.

53. Ainda com interesse para a análise dos presentes autos, cumpre referir que a LPDP determina, no seu art. 7º, n.º 2, que “Mediante disposição legal ou

autorização da CNPD, pode ser permitido o tratamento dos dados referidos no número anterior quando por motivos de interesse público importante esse tratamento for indispensável ao exercício das atribuições legais ou estatutárias do seu responsável, ou quando o titular dos dados tiver dado o seu consentimento expresso para esse tratamento, em ambos os casos com garantias de não discriminação e com as medidas de segurança previstas no artigo 15”.

54. Quanto à forma como o acesso é operacionalizado, a LPDP refere, no seu artigo 11º, n.º 5, que “O direito de acesso à informação relativa a dados da

saúde, incluindo os dados genéticos, é exercido por intermédio de médico escolhido pelo titular dos dados.”;

55. E a mesma regra resulta do artigo 3º, n.º 2 - “O titular da informação de saúde

tem o direito de, querendo, tomar conhecimento de todo o processo clínico que lhe diga respeito, salvo circunstâncias excecionais devidamente justificadas e em que seja inequivocamente demonstrado que isso lhe possa ser prejudicial, ou de o fazer comunicar a quem seja por si indicado.” - e n.º 3 – “O acesso à informação de saúde por parte do seu titular, ou de terceiros com o seu consentimento, é feito através de médico, com habilitação própria, escolhido pelo titular da informação”, da Lei n.º 12/2005.

(13)

56. Neste contexto, o acesso a dados de saúde de um utente só é permitido, nos termos da Lei, ao próprio ou a quem dele tenha obtido uma autorização expressa para o efeito.

57. Aliás, a própria Comissão Nacional de Proteção de Dados veio já esclarecer, na sua deliberação n.º 72/2006, de 30 de maio, que “Quanto aos familiares, gozam

estes de um certo “ direito à curiosidade ”, o que lhes permite aceder apenas ao relatório da autópsia ou à causa de morte, mas não lhes abre a faculdade de aceder a mais informação de saúde nem a dados pessoais que se encontram na esfera mais íntima do titular falecido. Só em casos concretos em que haja direitos e interesses ponderosos, tais como o exercício de direitos por via da responsabilização civil e/ou disciplinar ou penal dos prestadores de cuidados de saúde, e exclusivamente com esta finalidade, podem os familiares aceder aos dados pessoais de saúde dos titulares falecidos.”.

III.3. Da análise da situação concreta

58. Da análise das exposições da reclamante e do CEBESA, bem como, dos documentos que ambos juntaram, antes e após a reabertura dos presentes autos, podemos concluir, com interesse para a decisão a proferir, o seguinte:

a) O utente A(…) esteve internado no Hospital de Alcanena (estabelecimento de saúde do CEBESA), desde o dia 27 de abril de 2012 até 19 de novembro de 2013;

b) Durante todo este período, sempre foram permitidas as visitas ao utente, quer da reclamante, quer dos seus netos, no estrito cumprimento das normas internas que regulam o funcionamento do Hospital;

c) Desde 27 de abril de 2012, data em que o utente foi internado, até ao dia 17 de janeiro de 2013, a reclamante e os seus netos não apresentaram qualquer reclamação referente a um eventual impedimento ou restrição de visita ao utente;

d) Sendo certo que, durante esse período, o CEBESA sempre considerou o filho do utente, J(…), como o responsável pelo internamento daquele, sem qualquer contestação por parte da reclamante ou dos seus netos. e) A primeira reclamação, apresentada apenas a 17 de janeiro de 2013,

(14)

quatro pessoas, para a realização de um ato notarial, o qual, contudo, não veio a ser concretizado.

f) No que respeita aos pedidos de informação que foram dirigidos ao

CEBESA pela reclamante, pelos seus netos e pelo seu advogado, foram

os mesmos respondidos por intermédio de advogado (mails enviados em 21/02/2013 e 12/03/2013), bem como, por carta remetida à reclamante em 16/01/2014, conforme resulta dos documentos anexados à exposição do CEBESA;

g) Destas respostas, resulta que o CEBESA se disponibilizou para reunir com a reclamante e prestar todos os esclarecimentos que a mesma necessitasse, tendo sido inclusivamente facultado o contacto do seu Diretor Clínico, tal como solicitado pela advogada da reclamante (cfr. doc. 6 junto da exposição do CEBESA);

h) Quanto às deslocações e saídas do utente do Hospital, só foi possível autorizar duas delas, em virtude do estado de saúde do mesmo;

i) Quanto à informação sobre a causa de morte, a mesma foi prestada à reclamante através da certidão de óbito;

j) A reclamante solicitou ao CEBESA, em 9 de dezembro de 2013, cópia integral do processo clínico do utente;

k) O referido pedido de acesso a cópia integral do processo clínico do utente foi recusado pelo CEBESA, pelos motivos e fundamentos constantes da Deliberação n.º 51/2001 da Comissão Nacional de Proteção de Dados, tendo esta decisão sido comunicada à reclamante por ofício datado de 16 de janeiro de 2014.

59. Resulta do exposto que o CEBESA cumpriu a Lei, quer no que respeita ao direito de acompanhamento e visita do utente, quer quanto ao acesso à informação sobre os dados de saúde deste por parte de terceiros.

60. Ainda assim, cumpre registar que a recusa de acesso a cópia integral do processo cínico do utente, só foi comunicada à reclamante mais de um mês depois desta ter apresentado o competente pedido.

61. Neste contexto, e apesar de, no caso concreto, ter cumprido a Lei em vigor ao recusar o solicitado, revela-se oportuno reforçar junto do CEBESA a necessidade de responder de forma mais célere e atempada aos pedidos de acesso a informação sobre dados de saúde.

(15)

62. Tudo com vista à devida cautela dos direitos e interesses legítimos dos utentes, atento o enquadramento supra enunciado.

IV. AUDIÊNCIA DOS INTERESSADOS

63. A presente deliberação foi precedida de audiência escrita dos interessados, nos termos e para os efeitos do disposto no n.º 1 do artigo 101.º do Código do Procedimento Administrativo, aplicável ex vi do artigo 24.º dos Estatutos da ERS, tendo para o efeito sido chamados a pronunciar-se, relativamente ao projeto de deliberação da ERS, a reclamante e o CEBESA.

64. Decorrido o prazo concedido para a referida pronúncia, a ERS rececionou a pronúncia da reclamante em 29 de outubro de 2014.

65. Relativamente ao CEBESA, a ERS não foi notificada de qualquer pronúncia, seja no decurso do prazo legal para o efeito, seja até o presente momento, desconhecendo-se qualquer tomada de posição da mesma sobre a matéria, para além da informação já entregue por si nos presentes autos.

66. Conforme resulta do teor da pronúncia da reclamante, veio esta alegar, em suma, o seguinte:

(i) Depois de ter apresentado a reclamação do arquivamento do inquérito e deste ter sido reaberto, não foi notificada da realização de qualquer outra diligência instrutória, tendo a ERS decidido sem contraditório; (ii) Ao longo dos 19 meses de internamento do utente, e depois da sua

morte, o CEBESA apenas reconheceu o filho deste como o seu único interlocutor;

(iii) O CEBESA limitou à reclamante o direito à informação sobre a situação clínica do marido, sobre as causas de internamento e sobre a causa de morte;

(iv) O CEBESA não teria dado sequência à manifestação de disponibilidade para reunir com a reclamante e prestar todos os esclarecimentos que a mesma necessitasse;

(v) O prazo de resposta do CEBESA às interpelações da reclamante foi sempre excessivo e não respondeu a várias interpelações;

(16)

(vi) A ERS não apurou a efetiva responsabilidade do hospital pelo facto do utente ter estado internado durante 19 meses, nem qual a razão desse internamento;

(vii) A ERS não apurou o facto de o utente ter falecido no CEBESA e ter estado, contra a sua vontade e contra a vontade da reclamante, mais de um ano e meio isolado;

(viii) A ERS decidiu sem respeitar o princípio do contraditório.

67. Relativamente a cada um dos aspetos assinalados pela Reclamante, cumpre afirmar o seguinte:

68. Por deliberação de 2 de maio de 2014, o, então, Conselho Diretivo da ERS decidiu reabrir os presentes autos de inquérito, considerando o teor da reclamação apresentada pela reclamante.

69. Desta deliberação foram notificados todos os interessados.

70. Através de requerimento dirigido aos autos, o CEBESA veio pronunciar-se sobre a reclamação deduzida pela reclamante, nos termos acima expostos. 71. E perante os elementos já constantes nos autos, bem como, pelo teor deste

requerimento e atenta a exposição da reclamante, tal como acima se expôs, entendeu-se não ser necessário proceder à realização de quaisquer outras diligências.

72. Com efeito, atentas as competências da ERS nesta matéria e o objeto dos autos, quaisquer outras diligências não se afigurariam necessárias ou úteis para a correta decisão do procedimento, no sentido de trazer-lhe factos, questões e provas que nele não tivessem sido (adequadamente) considerados;

73. Atendendo, até, à consistência da comprovação já existente sobre as questões (de facto e de direito) relevantes.

74. Não se vislumbraram, assim, quaisquer outras diligências úteis à descoberta da verdade que pudessem ser, ainda, realizadas.

75. Assim, da análise das exposições da reclamante e do CEBESA, bem como, dos documentos que ambos juntaram, antes e após a reabertura dos presentes autos, manteve-se a conclusão de que, no que respeita ao pedido de acesso a dados clínicos e à informação quanto à causa de morte do utente, muito embora a posição assumida pelo CEBESA esteja em conformidade com a Lei, certo é que não foi dada atempadamente resposta à reclamante.

(17)

76. No que respeita ao facto do CEBESA ter apenas considerado o filho do utente como único interlocutor, repete-se o que acima se deixou expresso.

77. Na verdade, resulta dos autos que o utente esteve internado no Hospital de Alcanena (estabelecimento de saúde do CEBESA), desde o dia 27 de abril de 2012 até 19 de novembro de 2013;

78. E que durante todo este período, sempre foram permitidas visitas quer da reclamante, quer dos seus netos, no estrito cumprimento das normas internas que regulam o funcionamento do Hospital;

79. Desde 27 de abril de 2012, data em que o utente foi internado, até ao dia 17 de janeiro de 2013, a reclamante e os seus netos não apresentaram qualquer reclamação referente a um eventual impedimento ou restrição de visita ao utente;

80. Sendo certo que, durante esse período, o CEBESA sempre considerou o filho do utente como o responsável pelo internamento daquele, sem qualquer contestação por parte da reclamante ou dos seus netos.

81. A reclamante não impugna tais factos, nem apresenta nenhuma prova que os infirme.

82. Deste modo, não se vislumbra que, a este propósito, o comportamento do prestador possa ser alvo de qualquer censura por parte da ERS.

83. No que respeita à prestação de informação sobre a situação clínica do utente, sobre as causas de internamento e sobre a causa de morte, bem como, sobre a demora na resposta às solicitações da reclamante, importa repetir que, tal como acima se expôs, a reclamante só tinha direito a conhecer esta última.

84. Deste modo, o CEBESA cumpriu a Lei quanto ao acesso à informação sobre os dados de saúde do utente.

85. Não obstante, deveria o CEBESA ter comunicado atempadamente a recusa de acesso a cópia integral do processo cínico do utente, razão pela qual se entendeu reforçar junto do prestador, através de uma recomendação, a necessidade de responder de forma mais célere e atempada aos pedidos de acesso a informação sobre dados de saúde.

86. Não obstante, cumpre referir a este propósito que, tal como decorre da informação e documentos junto aos autos pelo CEBESA, este estabelecimento remeteu à própria reclamante, através da sua mandatária, várias informações

(18)

sobre o internamento e condição de saúde do utente, em conformidade com o que a própria reclamante, também através da sua mandatária, solicitou.

87. No que respeita à responsabilidade do hospital pelo facto do utente ter estado internado durante 19 meses, de ter falecido no CEBESA e de ter estado alegadamente, contra a sua vontade e contra a vontade da reclamante, mais de um ano e meio isolado, importa verificar o seguinte:

88. Conforme acima se deixou expresso, o utente esteve internado no Hospital de Alcanena, desde o dia 27 de abril de 2012 até 19 de novembro de 2013;

89. E desde 27 de abril de 2012, data em que o utente foi internado, até ao dia 17 de janeiro de 2013, a reclamante e os seus netos não apresentaram qualquer reclamação.

90. Sendo certo que, durante esse período, o CEBESA sempre considerou o filho do utente, J(…), como o responsável pelo internamento daquele, sem qualquer contestação por parte da reclamante ou dos seus netos.

91. Durante todo esse período, não se verificou qualquer reclamação sobre a decisão clínica de internamento do utente e não existe nos autos nenhum indício ou elemento que confirme que o utente esteve internado contra a sua vontade.

92. O utente poderá ter estado internado contra a vontade da reclamante, mas esse facto é irrelevante, porquanto não é a vontade desta que conforma a decisão clínica de internamento ou o consentimento informado para o efeito.

93. Por fim, não tem razão a reclamante quando afirma que a ERS atuou em violação do princípio do contraditório.

94. Por ofício datado de 6 de fevereiro de 2014, a reclamante foi notificada da abertura dos presentes autos, bem como, para remeter aos mesmos todas as eventuais informações e documentos que entendesse relevantes.

95. Por ofício datado de 13 de março de 2014, a reclamante foi notificada da deliberação proferida pelo Conselho Diretivo.

96. Na sequência dessa notificação, a reclamante constituiu mandatária e apresentou uma reclamação, nos termos do disposto no artigo 162º do CPA. 97. Conforme resulta dos autos, essa reclamação foi tida em consideração e, em

(19)

98. Por ofício datado de 6 de maio de 2014, a reclamante foi notificada da reabertura dos autos.

99. E por ofício datado de 15 de outubro de 2014, a reclamante foi notificada do teor do projeto de deliberação, bem como, para se pronunciar sobre o mesmo, nos termos e para os efeitos do disposto no artigo 101º do CPA.

100. Deste modo, foi assegurada a participação da reclamante no processo administrativo, tendo-lhe sido concedida a oportunidade de carrear para os autos todos os elementos de prova que entendesse e de se pronunciar sobre o objeto dos mesmos.

101. Refere ainda a reclamante que a ERS deveria “concluir pelo comportamento

ilegal e censurável do CEBESA com aplicação das correspondentes sanções legais”.

102. A este propósito, refere o artigo 19º dos Estatutos da ERS, que “No exercício

dos seus poderes de supervisão incumbe designadamente à ERS:

a) Zelar pela aplicação das leis e regulamentos e demais normas aplicáveis às atividades sujeitas à sua regulação, no âmbito das suas atribuições;

b) Emitir ordens e instruções, bem como recomendações ou advertências individuais, sempre que tal seja necessário, sobre quaisquer matérias relacionadas com os objetivos da sua atividade reguladora, incluindo a imposição de medidas de conduta e a adoção das providências necessárias à reparação dos direitos e interesses legítimos dos utentes;

c) Efetuar os registos, conceder autorizações e aprovações e emitir,

suspender e revogar licenças de funcionamento, nos casos legalmente previstos.

103. Considerando este quadro normativo, bem como, a análise efetuada nos presentes autos, entendeu-se que os mesmos deveriam ser arquivados, mas que se justificava uma recomendação ao prestador, quanto à necessidade de responder de forma mais célere e atempada aos pedidos de acesso a dados clínicos dos seus utentes.

104. Para além desta conclusão, nenhuma outra se afigurava possível, atento o quadro normativo aplicável e os factos apurados.

(20)

105. Deste modo, visto o alegado em audiência dos interessados, não se justifica qualquer alteração ao projeto de deliberação, cujo conteúdo se mantém, assim, na íntegra.

IV. DECISÃO

106. Tudo visto e ponderado, e considerando que não resultou provada, no caso concreto em análise, a existência de um comportamento do CEBESA – Centro de Bem Estar de Alcanena, IPSS, suscetível de constituir violação do direito de acompanhamento e visita de utente, bem como, do direito de acesso à informação sobre dados de saúde, o Conselho de Administração da ERS delibera arquivar o presente processo de inquérito;

107. Sem embargo, o Conselho de Administração da ERS delibera ainda, nos termos e para os efeitos do preceituado na alínea b) do artigo 19.º dos Estatutos da ERS, emitir uma recomendação ao CEBESA – Centro de Bem Estar de Alcanena, IPSS, quanto à necessidade de responder de forma mais célere e atempada aos pedidos de acesso a dados clínicos dos seus utentes.

108. A versão não confidencial da presente deliberação será publicitada no sítio oficial da Entidade Reguladora da Saúde na Internet.

O Conselho de Administração. Porto, 14 de janeiro de 2015.

Referências

Documentos relacionados

Se a saturação de oxigênio estiver igual ou menor que 94%, você deve administrar oxigênio, ventilar manualmente, avaliar se o problema é no paciente ou no equipamento, verificar

O tempo para perda de peso foi de um mês, quando ocorreu redução significante da glicemia de jejum, do índice HOMA-IR, insulina, HbA1c, hemoglobina, AST, peptídeo C

A coordenação institucional do Programa de Mestrado e Doutorado Acadêmico para Inovação MAI/DAI – da Pontifícia Universidade Católica do Paraná torna pública a abertura

Adquire nove imagens, identifica pontos de interesse em uma das imagens e utiliza as restantes para se estimar profundidade;.. Integra as novas informações no modelo global

O atendente/operador deve fornecer instruções para RCP 2010 Nova: As Diretrizes da AHA 2010 para RCP e ACE recomendam de forma mais enfática que os atendentes/ operadores instruam

Dois desses instrumentos jurídicos são importantes para analisar a questão da mineração espacial: o “O Tratado sobre os Princípios Reguladores das Atividades

Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia de Santa Catarina Ciram Rodovia Admar Gonzaga, 1.347, Itacorubi, C.P. Para cada estação apresentada nas Tabelas

Embora alguns colposcopistas experientes não realizem habitualmente um exame depois de aplicar a solução salina, prosseguindo diretamente para a aplicação de ácido acético,