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BOURDIEU E O FUTEBOL: uma interpretação do sucesso profissional de jogadores e técnicos. Aldo Antonio de Azevedo 1

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BOURDIEU E O FUTEBOL: uma interpretação do sucesso profissional de jogadores e técnicos.

Aldo Antonio de Azevedo1 aldoazevedo@uol.com.br Introdução

O presente artigo discute as contribuições teóricas de Bourdieu para interpretar aspectos do futebol, em particular aqueles relacionados ao sucesso profissional de jogadores e técnicos. Deixo de lado aqui a discussão acerca da atuação dos dirigentes de clubes, embora esta constitua elemento interveniente na questão. Desse modo, a partir das noções de “campo esportivo” e “habitus”, é possível fazer a leitura de algumas especificidades constitutivas do metier desse esporte no espaço dos clubes (times).

Guardadas as devidas proporções em relação aos grandes centros do futebol no Brasil, os dados iniciais analisados referem-se a uma pesquisa em curso em um clube (time) de futebol da primeira divisão do Distrito Federal, encaminhada pelo Projeto “Observatório da mídia, do torcedor e das políticas públicas no Distrito Federal”, da Rede Cedes, sob o apoio do Ministério do Esporte. Foram recuperados, ainda, de forma complementar, dados da pesquisa de campo realizada em São Paulo, em 1997, na ocasião da elaboração de nossa Tese de Doutorado. (AZEVEDO,1999).

A partir de entrevistas, destacam-se algumas categorias constitutivas e interligadas no locus pesquisado, a saber: a) o desempenho e o talento como requisitos da “luta” pelo reconhecimento na “peneiras” (prática de selecionar jovens jogadores nos clubes), dos jogadores profissionais, e os requisitos ou indicadores do sucesso profissional, como os desafios da produção dos “resultados” para se manter na equipe tanto pelos jogadores quanto pelo técnico; e, b) os gostos e preferências de jogadores e técnicos na profissão, a partir da constituição de uma “rede de relações” que se estabelece no time, pelos “especialistas” componentes (técnico, capitão, jogadores e mídia).

Nesta perspectiva, considero que o “desempenho” e o “talento” constituem elementos produtores de “distinção”. O talento, inicialmente, independe de referenciais de classe, raça e poder econômico. Isto quer dizer que o indivíduo rico e pertencente à alta classe, mas que não possui talento no espaço de jogo, não se distingue, ou seja, deixa de existir para o futebol. No entanto, essa afirmação não pode ser considerada

1 - Doutor em Sociologia pela Universidade de Brasília (UnB); Mestre em Educação Brasileira (UnB); Licenciado em Educação Física (UnB); Bacharel em Direito (UniCeub-DF) e professor das disciplinas Sociologia do Esporte e da Educação Física (Mestrado em Educação Física); Prática de Pesquisa (Mestrado em Sociologia); Fundamentos Sóciopolíticos do Esporte (Curso de graduação em Educação Física) e Sociologia do Esporte (Curso de Graduação em Sociologia, da UnB). Coordenador da Rede Cedes, na Faculdade de Educação Física, da UnB, vinculada ao Ministério do Esporte.

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absoluta; mas relativa, pois, indivíduos de classe alta podem figurar em determinadas equipes até mesmo, em razão de possuir capital econômico. Por outro lado, aquele de classe baixa que detém o desempenho e o talento, poderá se distinguir socialmente, o que significa alcançar “sucesso profissional”. Com isso, pode demonstrar gostos e preferências diferentes. Entende-se que o mesmo processo possa ser observado para a carreira de um técnico de futebol, em que os “resultados” no campo de jogo são determinantes.

Essa questão encontra justificações, ainda pelo fato do futebol ser um espaço de decisão imediata e exigir o “resultado” no campo de jogo, sem a necessidade da intervenção de outras instâncias decisórias da sociedade, como as jurídicas, por exemplo, que dependem de outras instâncias, prazos, recursos, etc. Reforça esse fato, ainda, a clareza e a transparência das regras do futebol, diferentemente do campo político.

Acredita-se, ainda, que a produção de um “sistema de disposições” para regular as relações sociais é também característica da equipe de futebol. Além dos jogadores, do técnico e do capitão do time, esse sistema ou “habitus”, envolve a mídia, cujos “especialistas” também produzem o desempenho, o talento, o sucesso ou o fracasso de um jogador ou de um técnico, compondo o que denomino “dinâmica de funcionamento do clube” no cenário local e no mercado.

Um aspecto interessante que pode ser extraído dessas análises no campo profissional, é o fato de jogadores e treinadores concorrem num mesmo espaço de lutas por emprego no mercado do futebol; porém, cada um na sua “especialidade”. Manter-se no time para distinguir-se e estar atuando no mercado é essencial para a “distinção”.

Neste sentido, apesar da complexidade teórica que envolve alguns estudos de Bourdieu, considero as noções de “campo esportivo” e, de modo complementar, a de “habitus”, elucidativas para analisar o futebol como um espaço de lutas, não apenas por capital econômico, mas cultural e simbólico, que concorrem para a “distinção” ou sucesso profissional.

Por fim, acredita-se que alguns elementos identificados nessa análise particularizada revelam significados que compõem o ambiente do futebol nos clubes e são úteis para estabelecer um paralelo com a hierarquia social e o sucesso profissional em outras ocupações da sociedade brasileira.

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1 – A Sociologia Prática de Bourdieu e a Sociologia do Esporte

Ao expor alguns princípios do que denominou “Programa para a sociologia do esporte”, BOURDIEU (1990, p.208), traçou as bases estruturantes da sua sociologia da prática social, voltadas para aquela área de estudo.

Nessa ótica, para explicar o futebol no contexto do esporte no Brasil, há que se considerar, por exemplo, o seu caráter hegemônico e sua popularização. Enquanto sistema, o futebol nesse contexto, compõe-se de federações, clubes, número de jogadores, técnicos, preparadores físicos, psicólogos, dirigentes, setor jurídico, setor médico, etc; que também fazem parte dos outros esportes.

No entanto, é preciso pensar o futebol no sistema das práticas esportivas no Brasil, de forma distinta em relação aos outros esportes. Saber qual a posição que o futebol ocupa no espaço das práticas esportivas, como se relaciona com o espaço social onde se insere, são algumas indagações centrais das análises que a Sociologia do Esporte deve encaminhar.

Dentre outros aspectos a serem estudados, tem-se o caso da profunda ligação que existe entre o futebol e as classes populares, em especial, no que se refere às expectativas dessa classe ou frações dessa classe, em relação à ascensão social pelo futebol; pois, sabe-se que a maioria dos jogadores de futebol são oriundos das classes inferiores.

Curiosamente, no caso brasileiro, a partir da posição de BOURDIEU (1990, p. 209), de que “as práticas mais distintivas são também aquelas que asseguram a relação mais distanciada com o adversário, são também as mais estetizadas, na medida em que, nelas a violência está mais eufemizada, e a forma e as formalidades prevalecem sobre a força e a função”, pode-se aqui promover um breve debate, embora não seja esse o objetivo do presente estudo. Aliás, sobre a referida posição, Bourdieu, cautelosamente, alertou que a relação direta entre um esporte e uma classe pode levar a uma visão equivocada, seja ela realista ou substancialista.

Nesta perspectiva de interpretação, então, é preciso analisar relativamente; pois, há integrantes da classe média alta que são apaixonados por futebol e também não são apenas membros das classes inferiores que gostam das lutas e do contato corpo a corpo na prática esportiva.

É relevante aqui, embora se crie uma polêmica, considerar nas análises de BOURDIEU (1983, p.136), o fato de pensar mais nos “esportes de elite” do que nos demais esportes das outras classes; ainda que o autor demonstre que existam preferências por determinados esportes, de acordo com os gostos de classe ou frações de classe.

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Segundo BOURDIEU (1990, p. 209) a história das práticas esportivas constitui uma história “estrutural”. Do mesmo modo, a tentativa no presente estudo é enfocar o futebol nas suas propriedades, no contexto de um “Campo Esportivo”, que se relaciona com um “habitus”, na direção específica do sucesso profissional de jogadores e técnicos, buscando o alcance dessas noções para compreender e explicar como esses especialistas se “distinguem” socialmente nos seus ofícios.

Nesta ótica, o universo do futebol não constitui um espaço fechado em si mesmo, mas incorpora e responde por aquilo que BOURDIEU (1990, p. 210), denomina autonomia relativa e representa um espaço de forças que não se aplicam só a ele. Com isso, o consumo de espetáculo de futebol não pode ser estudado tão somente no estádio ou na televisão; mas, na sua relação com os consumos sociais, de um modo geral.

Sabe-se que a complexidade dos estudos de Bourdieu encontram, especialmente, no método estrutural a tentativa de objetivação da realidade social, a partir das relações entre os indivíduos e suas tomadas de posição no interior dos diversos campos de análise. Segundo essa compreensão, entende-se que as práticas, a ordem de interação e o sistema estrutural de relações dos jogadores e dos técnicos de futebol são fundamentais na presente análise. Isto se justifica pelo fato de Bourdieu ter abordado seus objetos de estudo sempre tendo como suporte uma sociologia da prática.

Cabe ressaltar, no entanto, que no estudo do “sucesso profissional” dos jogadores, não aprofundarei aqui as relações com os dirigentes; ainda que estas se constituam como “lutas” relevantes na análise.

Para não se perder aqui na erudição e no discurso teórico de Bourdieu, há que considerar, então, elementos da realidade do contexto da prática do futebol, na percepção de jogadores e técnicos. Não há, portanto, como abstrair dessa abordagem, a existência de uma “cultura do futebol” no Brasil (AZEVEDO, 2002), enquanto cenário do “campo esportivo” e do habitus dos clubes de futebol. Afinal, entende-se que a própria construção desse campo traduz-se pelo objetivismo e determinismo, e o habitus, por sua vez, implica no subjetivismo das ações e interações que estão circunscritas ao referido campo, e está diretamente relacionado com o estilo de vida dos agentes.

Uma das precauções de prudência que se deve ter quando da leitura das obras de Bourdieu, é, a princípio, não se deixar levar por dois caminhos tidos como vulgares, a saber: o economicismo vulgar e o psicologismo, que causa ingerências, em especial, no que se refere ao habitus, em razão do seu conteúdo subjetivista, enfraquecendo sua força semântica.(BOLTANSKI,2005. p.162). Por vezes, no entanto, é difícil não

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envolver tais interferências, quando se pretende colocar em questão o alcance de conceitos e teorias já consagradas, como no caso de Bourdieu.

Chamo atenção, ainda, para o fato do objeto a ser aqui discutido constituir-se de práticas de reprodução social e também cultural; pois, como já mencionado, existe uma “cultura do futebol” no Brasil, que se confunde com o próprio “campo esportivo”, cujas regras podem produzir modificações ou reproduzir as disposições coletivas e individuais do habitus dos clubes, dos times de futebol e no processo de “distinção” social.

2 – Sobre o Campo Esportivo, o Habitus e a Distinção no Futebol

Além de algumas características do “campo esportivo”, do “habitus” e da idéia de “distinção” apontadas anteriormente, é elucidativo aqui discorrer brevemente acerca desses conceitos na perspectiva do futebol e do “sucesso profissional”.

O futebol foi uma das primeiras práticas esportivas que foram inseridas na cultura brasileira e, portanto, está inserido num dos campos da produção cultural, definido por BOURDIEU (1983, p.142), como “campo esportivo” ou campo das práticas esportivas. A identificação expressa desse campo é descrita abaixo, como sendo:

“(...) o lugar de lutas que, entre outras coisas, disputam o monopólio de imposição da definição legítima da prática esportiva e da função legítima da atividade esportiva, amadorismo contra profissionalismo, esporte-prática contra esporte-espetáculo, esporte distintivo – de elite – e esporte popular – de massa, etc.; e este campo está ele também inserido no campo das lutas pela definição do corpo legítimo e do uso legítimo do corpo, lutas que além de oporem entre si treinadores, dirigentes, professores de ginástica e outros comerciantes de bens e serviços esportivos, opõem também os moralistas e particularmente os higienistas, os educadores no sentido mais amplo – conselheiros conjugais, dietistas, etc. –, os árbitros da elegância e do gosto – costureiros, etc.”

A partir desse conceito, considerando a teoria geral dos campos, o “campo esportivo” recupera a noção de campo de especialistas, onde há uma hierarquização e divisão social do trabalho no setor específico do conhecimento, dos bens e serviços; porém, voltados para o setor esportivo. Nesse espaço identificamos oposições, lutas, interesses e poder; enfim, relações de força, que não se restringem só ao interior desse campo. Dessa forma, o conceito de “campo esportivo” nos permite, então, identificar elementos constituintes do futebol no contexto cultural e na própria sociedade brasileira. De modo especial, o futebol pode ser enfocado como um trabalho, que pode possibilitar a “ascensão” social de muitos jogadores e técnicos.

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O “sucesso profissional” de alguns jogadores e “técnicos”, que são em bom número ex-jogadores, está inserido nesse contexto. Acredita-se que a noção de “distinção”, identificada nos gostos e preferências, e pelos “lucros de distinção”, nos dizeres de BOURDIEU (2006. p.257-319), constitui outra categoria relevante para interpretar a questão do “sucesso profissional” em qualquer ramo de trabalho. Isto se evidencia, a medida que os ganhos financeiros diretos (capital econômico) estão invariavelmente relacionados a esse sucesso e, ainda, os ganhos indiretos, de natureza “simbólica” ou capital simbólico. (BOURDIEU,1989,1992).

Embora o sentido do termo “sucesso profissional” possa, a princípio, apresentar alguma ambigüidade, se considerarmos a questão da satisfação profissional; vez que essa constitui também um ingrediente do sucesso, não podemos abstrair o fato de que existem outros fatores intervenientes a serem considerados, tanto na carreira de um jogador quanto na de um técnico de futebol, a saber: talento, desempenho, visibilidade na televisão, trabalho, ambiente físico, grupo, remuneração, etc.

Se é bem verdade que existir socialmente implica em distinguir-se, no esporte e no futebol, em particular, essa orientação não é diferente. Não basta para um jogador apenas trabalhar, fazer parte de um grupo, ter a sua disposição uma boa estrutura física e de instalações e uma boa remuneração; pois, a distinção e os seus lucros, sejam eles materiais ou simbólicos, dependem de elementos como regularidade, disciplina e, acima de tudo, talento.

Não basta, portanto, ser apenas “mais um” ou “somar no grupo”, mas ser o “melhor” no ofício de jogar futebol. Ser “mais ou menos”, não é condição suficiente; pois, a distinção se faz no futebol pelo desempenho e pelo talento. Daí é que surgem outros lucros de distinção, como a visibilidade nos meios de comunicação, a notoriedade e o reconhecimento pela sociedade. Tem sido comum nos últimos tempos, premiar jogadores e técnicos a partir de tais qualidades, o que reforça a tese da “distinção” e seus lucros, o que propicia a inclusão de novos gostos e preferências.

O produto simbólico do esporte, em certo sentido, exige visibilidade para ser reconhecido. O talento de um jogador, por exemplo, é a forma de provar que é o “melhor” ou que possui “qualidade”; atributos bastante valorizados em qualquer mercado de trabalho. Porém, “talento” para jogar futebol é diferente do talento para executar um outro trabalho, que nesse último caso seria muito mais sinônimo de “desempenho” e “trabalho”. O talento no esporte, como pode, a princípio, emergir de um dom e ser aperfeiçoado com o treinamento; mas, envolve ingredientes específicos como um corpo físico preparado, expressão e estilo individual.

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Segundo BOURDIEU (1997. p.123-128), o grande aliado e caminho direto para demonstrar como os bens simbólicos são divulgados e administrados pelas instituições esportivas, no mundo atual é a mídia, pois, o interesse pelo esporte no mundo, hoje, é em escala mundial e as mensagens podem se divulgadas de diversas formas, a exemplo de matérias jornalísticas nos jornais, na televisão, seja nos boletins ou nos programas específicos, etc. Com base nessa premissa, no interior do “campo esportivo” atua uma indústria do espetáculo que se submete às leis da rentabilidade, da manipulação dos lucros e da minimização dos riscos, o que exige um pessoal técnico especializado e uma verdadeira gerência científica, capaz de organizar socialmente o treinamento e a manutenção da performance dos jogadores profissionais.

Então, faz parte desse espaço de produção, em especial pela televisão, o “poder simbólico” de contribuir para o sucesso profissional ou fracasso de um jogador ou de um técnico; pois, a mídia, do mesmo modo que o futebol, está no mundo dos negócios.

Considerando a noção de habitus, compreendida por BOURDIEU (2006. p.257), como um sistema de disposições e estruturas subjetivas, entende-se haver uma estreita relação da mesma com a noção de campo esportivo, sendo melhor compreendida a partir dessa conjugação, a considerar as características constitutivas da vida social dos jogadores de futebol e dos técnicos, sob o olhar do ambiente dos clubes. Há um habitus típico dos clubes de futebol no Brasil, constituído, historicamente, tendo como base a própria origem desse esporte como prática de elite, reservada a amadores, no início do século XX. Daí se constituíram as primeiras lutas, os interesses específicos, as resistências e um conjunto de disposições que permaneceram e se modificaram.

Ressalto, por exemplo, o caso das lutas de jogadores de classes inferiores no sentido de serem incluídos nos clubes de futebol, pelo fato de serem negros, mulatos ou sararás. Situação que só foi facilitada pelo período do chamado “futebol de fábrica”, onde os empregados das indústrias que aqui se estabeleceram tinha em seus quadros uma força de trabalho formada pelas classes inferiores, cujos integrantes reivindicaram a prática do futebol e daí alguns jogadores de “talento” foram descobertos.

Tal fato serve de referência para analisar a questão do habitus, a medida que a profissionalização do futebol, a partir da década de 30, do século passado, provocou uma disputa clara entre amadorismo e profissionalismo, de tal forma que a popularização desse esporte, fez com que durante muito tempo, o jogador de futebol e o próprio técnico fossem mal vistos socialmente. Jogar futebol e trabalhar no futebol

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eram práticas marginalizadas. Até o final da década de 60, não havia, para muitos, contratos formais de trabalho e sim a figura do contrato tácito (informal). Muitos se entregaram à bebida, à vida boêmia, aos maus hábitos alimentares e à compra dos veículos da época, embora essa representasse a “distinção”. O técnico (treinador), por sua vez, estava sujeito às mesmas condições.

A partir da década de 80, o cenário do futebol e o espaço de lutas e relações tornou-se mais complexo. Hoje, os contratos são formais, os jogadores têm procuradores para tratar de seus interesses e até gerenciadores de carreiras. Os gostos e preferências voltam-se para a compra de imóveis, carros, bons hábitos alimentares, cuidados com o corpo e aparência, freqüência a festas da elite, casamentos e relacionamentos de jogadores com belas mulheres, etc. Em razão disso, pode-se afirmar que o “imaginário popular” construiu uma imagem de jogador bastante distinta das épocas anteriores. No caso dos técnicos, também houve uma grande valorização no mercado do futebol; porém, estão sempre à mercê da chamada “cultura do resultado”; isto é, o time tem que ganhar jogos e conquistar títulos para que eles permaneçam no cargo.

Apesar disso, a realidade nos mostra que apenas uma minoria desfruta de tal “distinção”. Os jogadores oriundos das classes inferiores que não conseguiram projeção e sucesso na carreira, continuam a reproduzir algumas das características de épocas anteriores. Há que se ressaltar, por exemplo, que no habitus do futebol, não podemos abstrair as chamadas “panelinhas”, questões sociais como racismo, preconceitos contra jogadores de estados mais pobres do norte e nordeste do país (situação minimizada por muitos jogadores), dentre outras; que ainda permanecem até os dias de hoje.

3 – A Situação do Futebol Profissional no Brasil: do sonho à realidade BOURDIEU (2004. p.18) em seus estudos pensou a ciência com uso social identificado pela prática e pelo formato clínico do campo científico, e também entendeu cada campo como microcosmos relativamente autônomos e dotados de uma lógica própria. Neste sentido, o futebol no Brasil, conforme os últimos registros colhidos nas Federações estaduais, existem 275 mil jogadores, entre profissionais e amadores. Segundo dados da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), em 2000, considerando um total de 22.585 jogadores profissionais, pelo menos 8 em cada 10 recebiam até 2 salários mínimos mensais. Do restante, a grande maioria recebia entre 2 e mais 10 salários. Apenas 756 atletas profissionais ganhavam mais de 20 salários mínimos mensais (CAGLIARI, 2002).

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Esses dados constituem uma situação bastante diferente do universo do simbólico e do imaginário popular, para quem a maioria dos jogadores de futebol recebe altos salários e têm uma vida estável e equilibrada financeiramente. Também, segundo informações do Sindicato de Atletas Profissionais do Estado de São Paulo (SAPESP), o mais representativo do país em número de jogadores, no estado mais desenvolvido da federação, o desemprego pode atingir até 40% da categoria dos jogadores. Tal fato, não é perceptível; junto à população que desconhece a existência de desemprego no ramo do futebol profissional.

Considerando a realidade brasileira, algumas argumentações teóricas são elucidativas, no sentido de conferir certa relevância do futebol para as classes desfavorecidas, de onde surgem a maioria dos jogadores do país. Essa relevância assume significado para essas classes, talvez por ser a melhor possibilidade de “vencer na vida”, sem ter que enfrentar as desigualdades, dificuldades e obstáculos da vida social cotidiana. Em que pesem todos esses problemas sociais, aliado ao fato de que o país, hoje, vem se desenvolvendo em outros esportes, o futebol ainda é para muitos indivíduos uma espécie de “válvula de segurança” social para ascensão e sucesso na vida.

Nesta direção, particularmente, entende-se que as características sociais e culturais da população mais pobre estão relacionadas ao sucesso profissional. Desse modo, essa busca pelo sucesso no futebol encontra justificativa na crença popular em ideais de uma democracia racial e social, sem a existência de referenciais de cor, classe social ou partido político, representando uma “saída” para as classes inferiores. Acredita-se, ainda, que essa “sociologia do sonho” das classes inferiores pode ser explicada também pelo fato do futebol no país significar a possibilidade de conseguir a igualdade social por intermédio do embate no campo de jogo e não fora dele. Desse modo, faz sentido aqui chamar a atenção para o grande significado que assume o talento esportivo (ser bom de bola, craque, gênio ou o melhor), como forma de se contrapor à hierarquia social mais ampla e promover a condição de igualdade social no futebol. Isto implica dizer, então, que não é suficiente vir de classe alta, ser branco, negro, mulato ou sarará, ser filho de ex-jogador, de técnico, de diretor e de dirigentes do clube; mas, ser o melhor no campo de jogo. Aliás, Garrincha e tantos outros jogadores de hoje confirmam essa tese, em que pese o poder que exerce aqueles que detém o “capital econômico”.

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4 – O Sucesso Profissional de Jogadores e Técnicos de Futebol: o contexto da prática

No presente tópico, faz-se uma breve análise de conteúdo das entrevistas realizadas com jogadores e técnicos de futebol, tanto em 1997, em São Paulo, extraídas de AZEVEDO (1999, 344p); quanto das realizadas em Brasília, no segundo semestre de 2006, no sentido de interpretar o alcance das contribuições teóricas de Bourdieu na realidade concreta.

4.1 – A Perspectiva do Sucesso Profissional em São Paulo (1997)

Um dos elementos apontados para o sucesso profissional, por alguns ex-jogadores entrevistados é o comportamento exemplar e o individualismo para se ter sucesso. Conforme a visão de BOURDIEU (1983, p. 91), uma das características das relações de força no interior de um “campo” é a conservação e a cumplicidade das suas regras constitutivas, que refletem uma adesão silenciosa ou submissão para ser aceito ou mantido na equipe, como revela o conteúdo do seguinte depoimento:

“(...) eu sempre fui valorizado pelo meu comportamento dentro de campo, pelo técnico, e meu comportamento fora de campo. (...) nas ‘peneiras’ isso vale muito e manteve muita gente no clube” (Informante-chave n.º 1 - Ex-jogador do Sport Club Corinthians Paulista - SCCP)

“As coisas ainda são discutidas individualmente em bate-papo de corredor, ao passo que na empresa a coisa se torna diferente”( Informante-chave n.º 2 - Ex-jogador – Presidente do Sindicato de Atletas Profissionais do Estado de São Paulo - SAPESP)

Em sua teoria dos “campos”, BOURDIEU (1983. p. 91) apontou a “exclusão” como um dos resultados das estratégias de subversão no contexto das relações de força. No caso dos clubes também encontramos situações de retaliações em relação ao chamado “jogador problema” e para o próprio técnico. Existem, portanto, leis de funcionamento e propriedades específicas particulares em cada “campo”, como descreveu BOURDIEU (1983. p.89). Desse modo, se o habitus dos clubes consiste de um conjunto de disposições e tradições estabelecidas, a constante troca de técnicos pelos clubes tornou-se um dos condicionamentos mais freqüentes no futebol brasileiro: “A cultura do nosso futebol não permite muito a manutenção do técnico”. (Técnico 1 – São Paulo Futebol Clube - SPFC).

“(...) na cultura do futebol o técnico vive de resultados e a justiça do jogo é o resultado final e não o planejamento traçado.” (Técnico 2 – Sociedade Esportiva Palmeiras - SEP)

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Além do alto salário, o talento é um dos requisitos da permanência do jogador no clube e se identifica mais com o jogador de ataque. No caso do técnico, as referências são diferentes:

“A grande referência de sucesso de um jogador no mercado é o gol. Desde a ‘peneira’ um atacante goleador é mais visto e vale mais que um zagueiro (...)ser de seleção brasileira, ter regularidade no seu trabalho em campo conta muito.” (Jogador 1 - SPFC)

“A situação do sucesso do técnico é sempre mais fragilizada do que a do jogador. Se você não é vencedor, não tem referências, não tem experiência internacional, não trabalhou em clube grande e ganhou títulos, você não é considerado craque e não vai ganhar muito não!” (Técnico 3 – SCCP).

Assim, ex-jogadores, jogadores e técnicos apontaram dentre outros, alguns indicadores do sucesso profissional, a saber: comportamento, talento (fazer gol), valorização no mercado do futebol, desempenho e visibilidade na mídia. Para o técnico, a experiência e os resultados são determinantes.

4.2 – A Perspectiva do Sucesso Profissional no Distrito Federal (2006)

No que se refere aos aspectos apontados pelos jogadores e técnicos de futebol do Distrito Federal, alguns indicadores se repetem em relação aos identificados nos depoimentos dos entrevistados da cidade de São Paulo. Elementos como a confiança, a visibilidade, estudar e manter uma rede relações são tidos como primordiais:

“...todos querem jogar e a confiança do técnico é tudo. Além de você não ser visto, não pega ritmo de jogo!”(Jogador 1 – DF)

“Sucesso só com futebol hoje ta difícil, tchê! Penso que o negócio é estudar. Eu vejo aí que tem gente que fica se comunicando com colegas de São Paulo, Mato Grosso,Goiânia e no sul, como é o meu caso! E isso é legal; porque é bom ter gente lá fora que pode te ajudar...” (Jogador 2 – DF)

O sucesso profissional é, para alguns, um reflexo do que se faz em campo; mas, não se reduz a isso; pois, na prática o talento esportivo é fundamental, muito embora não seja um elemento estruturante comum a todos os que estão no metier do futebol. Basta ver que há casos de jogadores que atingiram um sucesso profissional “relativo”, sem ter talento esportivo:

“Para mim, para ter sucesso no futebol, o cara tem que ser bom de bola! Aqui no time a gente tem aí o Dimba e o Warley, que são os bons do time! E eles são os caras! (...) tem que ser bom pra garantir sucesso na bola!” (Jogador 3 – DF)

“...a gente tem aí o Cafu, que nunca foi craque; e ser craque não é fácil! Ou você é ou não é! E o cara jogou em seleção brasileira e foi até capitão que levantou a taça. Então, para mim ele fez sucesso! (Jogador 1 – DF)

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Um dos indicadores centrais do sucesso é o salário. Porém, para muitos, além de ser o principal “valor” de distinção é uma questão de sobrevivência. Também, em outro depoimento, a aparição na televisão é um caminho rápido para o sucesso, ainda que o jogador não tenha talento:

“Salário é uma coisa sagrada. A gente que tem família e contas pra pagar é quem sofre, né. Aí, chega no final do mês não tem nada no bolso, fica difícil, né!”. ( Jogador 2 – DF)

“Esse negócio de sucesso no futebol é uma coisa difícil! (...)a televisão ajuda muito, porque eu já vi muito cara ruim de bola que joga em time grande e ganha bem! Isso tá cheio! (...)Então, só tem sucesso que aparece!” (Jogador 4 – DF)

Um aspecto que deve aqui ser considerado na análise são as chamadas “correlações de força”, que ocorrem no interior do “Campo Esportivo”. Desse modo, as chamadas “panelinhas” podem ser consideradas como uma condição para se obter sucesso no futebol. É o que se percebe no fragmento de um dos depoimentos:

“(...) eu já joguei em times grandes, maiores que esse aqui, mas o meio do futebol é sujo em qualquer lugar. Tem muito “traíra” e muita panelinha! Pra ter sucesso é bom tá dentro da panela!” (Jogador 5 – DF)

O mesmo jogador acrescenta, ainda, a importância de outros elementos estruturais para o sucesso, como o clube ter bons campos de futebol e a “sorte” de não sofrer lesões, como outros fatores:

“(...) o time tem que possuir uns campos bons para treino e um estádio. (...) tem colega que se machuca, faz tratamento e quando volta não é o mesmo e aí o cara fica encostado, não joga e nem vai pro banco. Conheci muita gente que largou a bola depois que se machucou e não quis continuar!”(Jogador 6 – DF).

Acerca do fato de estar jogando no Distrito Federal e as dificuldades aqui encontradas, um dos depoimentos resume bem o fato de que todos têm expectativas futuras, sonhos e dificuldades que fazem parte do “metier” da bola, que se deparam com as “regras” punitivas, do “campo esportivo”, como a “caixinha” de dinheiro, como ocorre na maioria dos grandes centros. Além disso, o comportamento da cultura local é diferente e influi nos gostos e preferências dos jogadores:

“...o futebol aqui é bom, mas ainda paga mal e as vezes atrasa. Mas, se você não entrar pra valer, vem outro cara que quer jogar e toma sua vaga, né! Tem “caixinha” quando o cara atrasa no treino e faz besteira”. (Jogador 2 – DF) “...a vida das pessoas aqui parece que é muito séria. Talvez por isso o futebol tenha demorado a pegar por aqui e pouca gente que jogou aqui tem sucesso! A gente que quase não sai, quando sai não vê muita “balada” e “festa” não. É cinema ,tirar foto e ir na casa dos caras daqui quando não tem treino e jogo. Mas, muita gente tem família e vai se divertir por aí e em casa” (Jogador 4 – DF)

A partir de entrevistas com 2 (dois) técnicos que atuam no futebol local, aponta-se como outros referenciais do sucesso profissional, a qualidade do “grupo de jogadores”,

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elementos da estrutura física (campos de treinamento), a “relação de confiança” com os dirigentes do clube; pois isso implica em permanência no cargo. Também, a aparição na televisão e a experiência são citados.

Alguns fragmentos das entrevistas indicam claramente esses aspectos:

“... ter sucesso no futebol aqui, não tem muita diferença do acontece em outros lugares do país! Aqui, tirando o Brasiliense e o Gama, não há grupos fortes! (...)ter um grupo bom é uma chance de ter sucesso.(...) .na carreira de técnico a experiência é uma coisa que conta muito para pedir um salário melhor!”((Técnico 1 – DF)

“Aqui faltam bons campos para os jogadores. Já perdi jogador importante em véspera de jogo, porque pisou em buraco na grama! (...)a confiança de quem te contrata é uma outra vantagem, pois é dado a você o direito de perder. (...)cada técnico tem um preço! É diferente de jogador, que ganha até mais do que o técnico em muitos clubes! (...)tem caso de colega que aparece mais na mídia e isso também faz a diferença!” (Técnico 2 – DF).

Considerações Finais

Diante do exposto no presente estudo, pode-se apontar as noções de habitus, campo esportivo e, complementarmente, a de distinção, como um espaço fértil para interpretar o sucesso profissional de jogadores de futebol e técnicos; embora encerrem certa complexidade e ambigüidade de interpretação, não só para o caso enfocado, mas para os demais objetos estudados nas pesquisas de Bourdieu. Apesar de uma “desproporcionalidade” entre a grandeza teórica das referidas noções no contexto da obra de Bourdieu e o objeto de estudo do presente artigo, entende-se que a fertilidade da interpretação é válida, enquanto esforço de compreensão e explicação teórica e metodológica. Afinal, esse constitui um dos propósitos da ciência, na sua tarefa de produzir novos conhecimentos.

Nunca é demais lembrar que esse sociólogo posicionou seus objetos de estudo e deduziu os conceitos norteadores da sua obra, tendo como base uma ação empírica e política marcantes, no espaço europeu e no campo científico francês. Preconizou, por assim dizer, uma sociologia das práticas de reprodução social e cultural, fundada no método estrutural; o que não nos autoriza apenas a discutir tão somente seus conceitos no tempo e no espaço, sem uma razão prática para colocar em questão o alcance teórico de sua obra. Daí, a tentativa aqui de focalizar suas teses no espaço de um objeto empírico como o sucesso de jogadores e técnicos de futebol.

Essa prudência na análise se justifica, ainda, pelo fato de não se prender a uma análise direcionada para a erudição, o ensaísmo, das pressões do chamado economicismo vulgar e do psicologismo das ações sociais, que contamina, por vezes, as abordagens sobre o conceito de habitus, devido sua ótica subjetivista. Em segundo lugar, o ambiente do futebol constitui um espaço de práticas que apontam para

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situações contraditórias em relação aos referidos conceitos e ao próprio lugar de onde fala Bourdieu, que é do contexto europeu. Desse modo, o foco no futebol implica em colocar em questão aspectos da cultura e popularidade desse esporte no Brasil e poder interrogar, criticar e identificar os problemas dessa teoria.

Na perspectiva do técnico, o trabalho e a produção se diferenciam; pois, os lucros de distinção, diferentemente dos jogadores, são mais difíceis de obter; pois, não basta apenas seguir a dinâmica e as regras do campo esportivo. O ambiente físico e pessoal, o grupo de profissionais que dão suporte ao trabalho e o grupo de jogadores, implicam em dependência e relações de poder. Nesse aspecto, é comum se observar, na maioria dos casos, em caso de fracassos, como derrotas no campo de jogo, a permanência do grupo de jogadores e a demissão do técnico. Essa constitui uma característica cultural e histórica do campo esportivo: o que podemos chamar de “cultura do resultado”.

No que se refere à pesquisa realizada, pode-se concluir, inicialmente, que : a) em, praticamente, 10 (dez) anos (1997-2006), as condições, estruturas e disposições objetivas e subjetivas para o sucesso profissional dos jogadores e dos técnicos, praticamente, se reproduziram;

b) não há diferenças significativas entre os depoimentos dos jogadores e técnicos de São Paulo, em 1997, com os do Distrito Federal, em 2006. Tal posicionamento, nos permite identificar que mesmo sem ter um futebol de visibilidade como o dos grandes centros, os elementos característicos da “cultura do futebol” foram também reproduzidos no Distrito Federal, se considerarmos que muitos técnicos e jogadores que atuam nos clubes locais, vieram de outros centros do país.

Os depoimentos dos jogadores permitem aqui apontar para alguns indicadores do sucesso na profissão: comportamento, talento, desempenho, visibilidade na televisão, confiança do técnico, etc.

Em relação aos técnicos de futebol que estão atuando no Distrito Federal, acredita-se que existe uma linha de pensamento coerente com o imaginário popular, com as mensagens da televisão e com os depoimentos dos técnicos de São Paulo (vistos anteriormente). As diferenças identificadas encontram-se muito mais nas questões relativas ao futebol de Brasília, como problemas de estrutura de alguns clubes locais, falta de visibilidade na televisão e pouca importância na história do futebol brasileiro.

Fica claro que o habitus, sob a ótica da dinâmica destas interações entre jogador e técnico aponta para uma matriz geradora de mudanças sociais. Embora, não se possa afirmar tautologicamente isso; pois, essa questão do habitus versus mudanças sociais sempre foi problemática na teoria de Bourdieu. De qualquer forma,

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a mudança social aqui se refere ao sucesso profissional e as disposições e interações dos indivíduos, que estão invariavelmente ligadas às regras e motivações próprias do campo. Do mesmo modo, a mudança social pode ser explicada pelas possibilidades de “sucesso profissional”, da “ascensão social” e da própria mudança no consumo, nos gostos e preferências de jogadores e técnicos no futebol. Tal fato, na realidade, pertence a uma parcela mínima do universo de jogadores e de técnicos no país.

Nesta perspectiva, a partir do referido estudo, pode-se pressupor, por exemplo, a existência de uma estreita ligação entre habitus e “campo esportivo”, como também o papel social da distinção para identificar o sucesso profissional de jogadores e técnicos de futebol.

Finalmente, o presente estudo representa uma tentativa de interpretar um objeto particular à luz de uma teoria de base complexa; mas, de grande possibilidade explicativa e geradora de múltiplos aspectos, ainda a serem estudados.

Referências Bibliográficas

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