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COMENTÁRIOS À REVISÃO DA LEI DAS AGÊNCIAS DE VIAGENS

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Academic year: 2021

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COMENTÁRIOS À REVISÃO DA LEI DAS AGÊNCIAS DE VIAGENS 

 

 

Foi  finalmente  publicado  no  passado  dia  06,  a  nova  legislação  que  regula  a  actividade  das  Agências de Viagens, pelo que, a APAVT pode agora, tecer os seus comentários ao texto legal.   

O Diploma ora publicado, tem aspectos positivos e aspectos negativos.   

Os  aspectos  positivos  não  são  originais,  decorrendo,  antes,  por  um  lado,  da  transposição  da  Directiva “Bolkstein” e, por outro, no que toca ao Provedor do Cliente (accionamento do FGVT  através de decisão deste instituto), de uma velha pretensão da APAVT que só alguma menor  clarividência fez tardar a sua consagração legal. 

 

Os  aspectos  negativos  são  de  facto  originais,  vieram  confirmar  os  nossos  piores  receios  e  traduzem‐se fundamentalmente nos vectores que se passam a discriminar:      a) DISTINÇÃO ENTRE AGÊNCIAS CONSOANTE O TIPO DE ACTIVIDADE;    b) PERMISSÃO DE CONCORRÊNCIA DIRECTA DO ESTADO ÀS EMPRESAS PRIVADAS;   

c) TRATAMENTO  DISCRIMINATÓRIOS  DAS  EMPRESAS  PORTUGUESAS  FACE  ÀS  EMPRESAS ESTRANGEIRAS; 

 

d) RESPONSABILIZAÇÃO  COLECTIVA  DAS  EMPRESAS  PELAS  (MÁS)  PRÁTICAS  DAS  OUTRAS PELA CRIAÇÃO DO FGVT;    Sobre este tema, vimos pois prestar os seguintes esclarecimentos:     a) DISTINÇÃO ENTRE AGÊNCIAS CONSOANTE O TIPO DE ACTIVIDADE   

A  não  distinção  das  agências  segundo  o  seu  tipo  de  actividade  foi  há  longos  anos  uma  aspiração do sector que desde 1993 tinha sido acolhida e consagrada legalmente.  

 

A  necessidade  de  não  distinção  tem  a  ver  com  as  características  do  mercado  e  com  o  posicionamento, em termos actuais, das agências de viagens distribuidoras e das agências de  viagens operadoras face ao cliente final. 

 

Não restam dúvidas que a esmagadora maioria das agências de viagens vendedoras também  organizam viagens, nos termos e para os efeitos do diploma legal, pelo que a distinção agora  proposta  é  redutora  e  possivelmente  sem  aplicação  prática,  caindo  no  mesmo  erro  de  base  que a anterior interpretação do Turismo de Portugal e do Governo tinha em relação ao cálculo  para determinação do valor da caução.  

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Na verdade, uma agência vendedora (retalhista) que tenha um volume de vendas de viagens  organizadas de 10 milhões de euros contribui para o fundo com os mesmos valores que uma  agência vendedora (retalhista) que venda apenas 10.000 euros das mesmas viagens.    A grande questão é que, eventualmente, a agência maior satisfaz mais rapidamente o tecto da  sua contribuição, enquanto a agência de menor dimensão é obrigada a ter uma avença com o  Estado num longo período de tempo, até perfazer esse mesmo tecto.    O que é lamentável é que não tenham colhido as propostas dos profissionais do sector, bem  mais práticas, bem mais exequíveis, não discriminatórias porque mais claras.    A distinção abriu a “caixa de Pandora” em relação a uma outra situação, que é a seguinte:   

Onde  se  colocam  as  agências  de  viagens  que  apenas  se  dedicam  ao  incoming,  que  na  esmagadora  maioria,  ou  totalidade  das  suas  transacções,  vendem  b2b  e  b2c  a  empresas  e  cidadãos estrangeiros, que não podem recorrer ao FGVT? 

 

Pretende o Estado que essas empresas deixem de ser agências de viagens?    

Parece  à  APAVT  que  é  iníquo  fazer  a  distinção,  ora  plasmada  na  lei,  sem  a  levar  às  últimas  consequências, isentando da contribuição para o FGVT, as empresas que apenas se dedicam à  actividade de recepção de turistas estrangeiros.      b) PERMISSÃO DE CONCORRÊNCIA DIRECTA DO ESTADO ÀS EMPRESAS PRIVADAS   

Com este novo diploma,  o Governo abriu a possibilidade de comercialização de serviços  que  são  exclusivos  das  Agências  de  Viagens  a  entidades  que  prossigam  atribuições  públicas  de  promoção de Portugal ou das suas regiões enquanto destino turístico.  

 

Entende a APAVT que não incumbe ao Estado intervir/concorrer com os operadores privados  no mercado, principalmente em áreas em que o interesse público não está patente.  

 

Esta  nova  redacção  permite  a  comercialização  de  produtos  e  serviços  turísticos  (excepto  viagens  organizadas)  por  entidades  públicas,  por  entidades  em  que  o  Estado  participe  ou  tenha contribuído com capitais públicos para a sua implementação.  

 

Estamos  a  falar  dos  portais  Web  subsidiados  pelo  Governo,  pelas  Câmaras  Municipais,  pela  Administração Pública via Turismo de Portugal que, até à data apenas serviam para aquilo para  que foram criados, ou seja, a promoção do destino Portugal.  

 

Acresce que, estando as Agências de Viagens, por força de normas europeias, sujeitas a uma  disciplina fiscal própria em sede de IVA (que o Governo aplica mal e que levou à instauração do  respectivo  processo  de  infracção  junto  do  Tribunal  de  Justiça  das  Comunidades  Europeias),  esses  portais  concorrem  directamente  com  as  Agências  de  Viagens  e  não  estão  sujeitos  à  mesma disciplina, sendo portanto fiscalmente mais competitivos.  

 

Note‐se que a errada interpretação que o Governo insiste em manter a nível das regras do IVA  faz  com  que  um  serviço  comercializado  pelo  portal  seja  mais  barato  18%  do  que  o  mesmo  serviço se contratado numa agência de viagens.  

 

A APAVT entende que esta nova redacção legislativa por parte do Governo viola as regras da  concorrência, penalizando a iniciativa privada, o que deve ser evitado a todos os títulos.    

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c) TRATAMENTO  DISCRIMINATÓRIOS  DAS  EMPRESAS  PORTUGUESAS  FACE  ÀS  EMPRESAS ESTRANGEIRAS 

   

A APAVT entende como não de somenos importância, o facto desta nova lei abrir um regime  mais  favorável  às  empresas  estrangeiras  que  queiram  inscrever‐se  no  RNAVT  para  exercer  a  actividade em Portugal. 

Decorre dos princípios da Directiva “Bolkestein” que as agências de viagens que operam num  determinado  Estado  Membro  poderão,  em  síntese,  exercer  a  sua  actividade  noutro  Estado  Membro sem que para tal lhe possam ser exigidas prestações diferentes daquelas que lhe são  exigidas no seu Estado de origem. 

Por  isso  a  APAVT,  sem  se  opor  a  isso,  (opõe‐se  sim  à  discriminação  negativa  das  empresas  nacionais)  tem  a  certeza  que  as  agências  estrangeiras  começarão  a  operar  em  Portugal  sem  apresentarem as Garantias que são exigidas às agências portuguesas. 

É  má  técnica  legislativa,  é  má  prática  legislativa  e  cria  um  regime  de  desfavor  das  empresas  nacionais em relação às empresas dos outros países comunitários. 

É evidente e finalmente, quanto a esta matéria que, os consumidores terão dois pesos e duas  medidas  na  apreciação  das  suas  reclamações  em  termos  de  garantia,  consoante  a  entidade  onde adquiram o serviço. 

 

É  uma  tentativa  de  condicionamento  do  mercado  ao  arrepio  dos  princípios  que  enformam  a  Directiva Comunitária. 

   

d) RESPONSABILIZAÇÃO  COLECTIVA  DAS  EMPRESAS  PELAS  (MÁS)  PRÁTICAS  DAS  OUTRAS PELA CRIAÇÃO DO FGVT      A APAVT entende que a liberalização do sector constitui uma janela de oportunidade para as  empresas, mas a questão das garantias a prestar merece a frontal oposição da associação.     Aliás, não só da associação mas também da DECO (Associação para a Defesa do Consumidor)  que, em reuniões conjuntas com os membros do Governo, também se mostrou absolutamente  contrária  ao  regime  impositivo  que  o  Governo  entendeu  estabelecer  e  que  acabou  por  prevalecer. 

 

De facto, quanto à alteração do regime de garantias, a APAVT tinha vindo a alertar o Governo  para  um  deficiente  controlo  destas,  que  eram  prestadas,  como  era  normal,  individualmente,  por cada uma das empresas licenciadas para exercerem a actividade.     Com o sucedido no Caso “Marsans” a APAVT confirmou os seus piores receios, ou seja, de que  efectivamente o regime de Garantias estava a ser mal aplicado e mal controlado pelo Governo  e pela Administração Pública.     Esta falta de fiscalização, juntamente com a publicidade que foi dada ao Caso Marsans, vieram  tornar  premente  a  necessidade  de  alterar  o  regime  das  garantias  e  acima  de  tudo  a  sua  fiscalização, alterações essas que a APAVT desde a primeira hora apadrinhou.  

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A APAVT entende que a alteração do regime das garantias deveria ter sido feita de molde tal  que transmitisse credibilidade ao sector e, principalmente, transmitisse confiança aos clientes  das Agências de Viagens, os consumidores.  

 

O  Governo,  tentando  resolver  uma  questão  complicada  de  que  era  e  é  responsável  directo,  criou  um  regime  em  que  toda  e  qualquer  uma  das  empresas  que  actuam  no  mercado  seja  responsável  pela  actuação  de  toda  e  qualquer  uma  das  suas  congéneres,  ou  seja,  criou  um  regime  obrigatório  de  solidariedade  que  é  inaudito,  ao  arrepio  do  mercado  e  dos  princípios  que regem a livre iniciativa privada.  

 

Na verdade, o diploma criou um Fundo de Garantia de Viagens e Turismo (FGVT), com fundos  das próprias empresas, e estatui que tal Fundo responde na íntegra pelo incumprimento dos  contratos  celebrados  por  uma  empresa  com  os  seus  clientes,  nomeadamente,  respondendo  pelo  reembolso  das  quantias  entregues  pelos  clientes  que  não  usufruam  dos  serviços  contratados.  

 

Está  pois  aberta  a  porta,  através  deste  regime  da  solidariedade  obrigatória,  para  que  uma  empresa possa ludibriar os seus clientes, recebendo verbas, que podem ser avultadas (veja‐se  o  caso  Marsans,  onde  chegámos  a  valores  a  rondar  o  meio  milhão  de  euros)  sabendo  que  todas as outras empresas do sector irão pagar os prejuízos causados.  

 

Não  existe  na  ordem  jurídica  portuguesa  semelhante  fundo,  que  penaliza  empresas  cumpridoras  em  detrimento  de  empresas  menos  escrupulosas,  e  que  afecta  a  livre  concorrência de modo directo como este modelo agora instituído o faz.     A APAVT entende que, um sistema de garantia solidário não pode ser imposto porque vai ao  arrepio do mercado e dos princípios que regem a nossa ordem jurídica, mas pode e deve ser  voluntário e, portanto, saudavelmente adoptado pelas empresas.    

Assim,  estas  saberão  a  cada  momento  quem  garantem,  se  o  querem  fazer,  ou  se,  pura  e  simplesmente não pretendem cobrir responsabilidades de terceiros.  

 

Deve  a  APAVT  esclarecer  que  desde  há  anos  tem  pugnado  pela  criação  de  um  modelo  voluntário de garantia solidária; a questão não está consequentemente centrada na criação do  fundo  proposto  pelo  Governo,  mas  no  modo  de  constituição  do  mesmo,  bem  como  a  sua 

aplicação.  

 

Considerando que o Governo sempre mostrou total irredutibilidade na questão do Fundo de  Garantia  solidário,  a  APAVT  em  determinado  passo  do  processo  negocial  propôs  em  alternativa  que  as  suas  associadas  pudessem  entregar  declaração  subscrita  pela  APAVT  em  como  estariam  cobertas  por  apólice  colectiva  subscrita  pela  associação,  a  qual  cobriria  a  responsabilidade  de  todos  e  cada  um  dos  seus  membros,  podendo  aqui  sim,  e  se  estes  o  entendessem, ser emitida em regime de solidariedade.     E esta é a diferença principal entre as propostas da APAVT e aquilo que o Governo impôs às  empresas.    Continuamos a defender as virtualidades do modelo que apresentámos.     Finalmente, uma lei só é boa quando satisfaz todos os interesses “em jogo”, os interesses dos  consumidores, o interesse das empresas, e o interesse geral do país, ou seja, do Estado.   

Esta  lei  só  defende  o  interesse  do  Estado  numa  visão  conservadora,  colectivista,  sem  considerar os interesses das empresas e dos consumidores, impondo uma solução pensada à 

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mas  voltando  a  cair  no  mesmo  erro,  só  que  agora  pagando  o  justo  pelo  pecador,  obrigando  todas as empresas a pagaram pelo erro de poucas. 

 

Com  isto  o  Estado  descapitaliza  o  sector,  que  atravessa  uma  crise  difícil  dada  a  situação  económica  do  Pais,  em  aproximadamente  7.000.000  de  euros  que  reterá  em  fundo  por  si  gerido, o que é incompreensível para as empresas, além de que, o valor em questão não tem  qualquer  sustentabilidade  histórica,  nem  sequer  explicação  plausível.  Efectivamente,  as  incidências que prejudicaram directamente os consumidores – e é essa a nossa preocupação –  são de valores muito menores do que o pretendido pelo Governo. 

 

As  empresas  fá‐lo‐ão  se  assim  o  entenderem,  recusam‐se  a  fazê‐lo  por  imposição  do  Estado  que  apenas  pretendeu  esconder  a  deficiência  e  incapacidade  reguladora  do  Governo  e  dos  serviços que este tutela. 

 

É fácil esconder a falta de regulação com a exigência de mais contribuições às empresas.   

É menos próprio não permitir que o dinheiro destas seja gerido de forma a que os mecanismos  de  auto‐regulação  por  elas  criados,  através  da  sua  Associação,  sejam  os  únicos  beneficiários  dos rendimentos do Fundo para o qual contribuem em exclusividade. 

 

É, finalmente, iníquo que o Estado se aproprie do rendimento desse Fundo.   

A  APAVT  entende  que  as  empresas  a  operar  no  mercado  já  pagaram  o  suficiente  para  não  merecerem este tipo de tratamento, de desconsideração e desrespeito pela sua actividade.         Lisboa, 11 de Maio de 2011              

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