• Nenhum resultado encontrado

A Lei Maria da Penha e a aplicabilidade para a comunidade LGBT. The Maria da Penha Law and its applicability to the LGBT community

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "A Lei Maria da Penha e a aplicabilidade para a comunidade LGBT. The Maria da Penha Law and its applicability to the LGBT community"

Copied!
94
0
0

Texto

(1)

A Lei Maria da Penha e a aplicabilidade para a comunidade LGBT

The Maria da Penha Law and its applicability to the LGBT community

Deise Domingos de Oliveira

Aluna do 9º Período do Curso de Direito da Fundação Presidente Antônio Carlos –

FUPAC, Brasil, E-mail: deiseoliveira258@gmail.com

Penha Ariany Nunes Souza

Aluna do 9º Período do Curso de Direito da Fundação Presidente Antônio Carlos –

FUPAC, Brasil, E-mail: penhaariany4@gmail.com

Érica Oliveira Santos Gonçalves

Bacharel em direito, especialista em direito processual, advogada, professora de Direito

Penal e Processo Penal da Fundação Presidente Antônio Carlos - FUPAC, Brasil, E-mail:

erica.almenara@gmail.com

Resumo

O objetivo do presente trabalho é analisar as disposições da Lei nº 11.340/2006, que institui

a Lei Maria da Penha, estudando sua historicidade, aplicabilidade, instrumentos usados pelo

Estado como forma de coibir a violência, as medidas de prevenção e as formas de

violências voltadas para a comunidade LGBT. Ainda que a Lei vise proteção da mulher,

não importa a orientação sexual desta, sendo demonstrado que a Lei visa a proteção de

violência no âmbito doméstico e familiar, sendo possível a efetiva aplicabilidade da Lei na

comunidade LGBT

Palavras-chaves: Código Penal; Lei Maria da Penha; Violência contra a mulher;

Comunidade LGBT.

Abstract

The objective of the present work is to analyze the provisions of Law nº 11.340 / 2006,

which institutes the Maria da Penha Law, studying its historicity, applicability, instruments

used by the State as a way to curb violence, preventive measures and forms of violence

aimed at the LGBT community. Even though the Law aims at protecting women, it does

not matter their sexual orientation, being demonstrated that the Law aims at protecting

violence in the domestic and family environment, making it possible for the Law to be

effectively applied in the LGBT community.

Keywords: Penal Code; Maria da Penha Law; Violence against women; LGBT

community.

(2)

1 INTRODUÇÃO

A Lei Maria da Penha foi criada com o objetivo de coibir atos de violência praticados

no âmbito familiar e doméstico, essa violência abarca as agressões físicas, sexuais,

psicológicas, bem como a patrimonial e moral. O principal escopo é fazer a proteção de

mulheres que dividam um lar com outra pessoa, ou que detenha parentesco ou envolvimento

de afeto, independentemente de orientação afetiva, como é o caso dos casais homoafetivos.

O principal objetivo desse trabalho, é fazer uma análise da aplicação da Lei Maria da

Penha, àquelas vítimas de violência doméstica. A referida lei se insere na teoria de gênero,

especificando sua proteção às mulheres, devendo-se acrescentar todos os direitos humanos de

modo geral.

Desde os primeiros tempos da humanidade, o patriarcalismo se enraizou, colocando a

mulher em posição de inferioridade perante os homens, a luta por igualdade dos gêneros

começou a ter força nos anos 60, fazendo com que a sociedade internacional reconhecesse ao

longo dos anos que inúmeras injustiças foram feitas, tendo em vista a ideologia da mulher

submissa ao homem, incentivando vários países a tomarem medidas que diminuíssem a

violência decorrente da desigualdade de gênero (DIAS, 2012).

O Brasil, no ano de 1994, assinou a Convenção Interamericana, conhecida também

como Convenção de Belém do Pará, onde o escopo do referido documento era fazer a

prevenção, punição e erradicar qualquer forma de violência contra a mulher, e no mês de

agosto de 2006, colocada em vigência a Lei nº 11.340/06, a consagrada Lei Maria da Penha,

um importante instrumento jurídico na realização do combate à violência contra a mulher.

A evolução política e sociocultural trouxe uma atenção especial para muitos fatores

anteriormente negligenciados. A diferenciação entre os conceitos de gênero e sexo, introduziu

a percepção de aspectos como: identidade de gênero, conceituada como a percepção

individual da pessoa quanto a si, compreendido como homem ou mulher, independentemente

do seu sexo biológico, e ainda a percepção de gênero conceituada pela maneira que a pessoa

se apresenta em seu comportamento ou vestimenta na sociedade.

1

Porém, uma vez que a Lei Maria da Penha está inserta no microssistema da legislação

brasileira, com previsão no artigo 226, §8º, da Constituição Federal da República, de 1988, o

qual dispõe que o “Estado assegurará assistência à família”, a lei deixa de compreender

àquelas mulheres que estão fora do ambiente doméstico e familiar, fazendo com que a ótica

1SANTANA, Débora Vieira. Estudo teórico da Lei Maria da Penha. Disponível em: <

(3)

patriarcal seja perpetuada, bem como não se estende àquelas mulheres que não são

biologicamente do sexo feminino, uma vez que a lei também não faz previsão direta acerca do

conceito de gênero.

Dessa forma, considerando a intenção legislativa da Lei Maria da Penha, importante

mencionar que a comunidade LGBT e principalmente, a pessoa transexual, quando submetida

a um cirurgia apoiada pelo Estado, se torna possível obter condição sexual oposta àquela

biologicamente adquirida.

Uma vez que a Lei nº 11.340/06 foi elaborada para a coibição da violência doméstica e

familiar contra a mulher e, diante da realidade social da comunidade LGBT e a possibilidade

da pessoa transexual ser submetida a um processo transexualizador, supõe que os membros da

comunidade LGBT também se enquadrem na condição de vítima e sejam protegidos com seus

direitos tutelados pela lei supracitada quando sofrerem violência doméstica e familiar. Ante a

possibilidade da aplicabilidade da lei na comunidade LGBT e a repercussão jurídica, é que se

justifica a relevância deste estudo, para ser esclarecido a possibilidade da Lei Maria da Penha

ser aplicada para membros da comunidade LGBT na condição de vítimas de violência

doméstica e familiar.

2. BREVE HISTÓRICO DA LEI MARIA DA PENHA

No ano de 1975 houve uma grande repercussão quanto aos direitos da mulher, fazendo

com que começasse uma batalha constante para que tais direitos fossem insertos no âmbito

dos direitos humanos, com a finalidade de que estes fossem realçados. Em 1979, mais

precisamente no dia 18 de dezembro, a Assembleia Geral das Nações Unidas adotou um

documento contra a segregação feminina, sendo denominado Convenção sobre Eliminação de

todas as formas de discriminação contra a mulher.

2

Posteriormente, em 2004, o Supremo Tribunal Federal (STF) proferiu decisão no

sentido que são direitos e garantias constitucionais, de caráter fundamental, os tratados de

direitos humanos, fazendo com que os mesmos sejam elevados a status de emenda

constitucional por meio da emenda 45, incluindo o §3º ao artigo 5º da Constituição Federal,

que prevê:

Art. 5.º (...)

§ 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos 2MINUZZI, Mateus Ciochetta. Aplicação da Lei Maria da Penha às vítimas do sexo masculino e às relações

homoafetivas. Disponível em:

(4)

dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. (BRASIL, 1988).

O Estado brasileiro tornou-se signatário da convenção sobre eliminação de todas as

formas de discriminação contra a Mulher, desde 1984, ainda tornou signatário da convenção

Interamericana para prevenir, punir e erradicar a violência contra a mulher e a Convenção

Americana de Direitos Humanos.

3

No ano de 2006, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva denominou a lei de Lei

Maria da Penha, prestando homenagem à Maria da Penha Maia Fernandes, que lutou durante

anos por justiça ao marido que a agredia frequentemente enquanto casada. A agressão sofrida

por Maria da Penha gerou repercussão internacional, assim, a Comissão Interamericana de

Direitos Humanos (CIDH)

4

, publicou o relatório 54/2001, que ainda fazia críticas ao Estado

brasileiro sobre o caso, dizendo:

Que, com fundamento nos fatos não controvertidos e na análise acima exposta, a República Federativa do Brasil é responsável da violação dos direitos às garantias judiciais e à proteção judicial, assegurados pelos artigos88 e255 da Convenção Americana em concordância com a obrigação geral de respeitar e garantir os direitos, prevista no artigo11 do referido instrumento pela dilação injustificada e tramitação negligente deste caso de violência doméstica no Brasil (CIDH, 2001).

O item VIII do referido relatório, aconselhou ao Brasil que tomasse medidas para

coibir a agressão contra mulheres, visando acabar com a violência doméstica e familiar, no

sentido de prosseguir e intensificar o processo de reforma que evite a tolerância estatal e o

tratamento discriminatório com respeito à violência doméstica contra mulheres no Brasil.

Com atenção na recomendação da CIDH, no dia 08 de agosto de 2006, o Presidente da

República sancionou o projeto de lei nº 37 de 2006, nos dispostos do artigo 226, §8º, da

Constituição Federal e da Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de

Discriminação contra as Mulheres, a Lei n. 11.340/06, conhecida como a Lei Maria da

Penha.

O site observatório Lei Maria da Penha acerca

5

da sua historicidade, explica:

Maria da Penha é biofarmacêutica cearense, e foi casada com o professor universitário Marco Antonio Herredia Viveros. Em 1983 ela sofreu a primeira tentativa de assassinato, quando levou um tiro nas costas enquanto dormia. Viveros foi encontrado na cozinha, gritando por socorro, alegando que tinham sido atacados por assaltantes. Desta primeira tentativa, Maria da Penha saiu paraplégica A segunda tentativa de homicídio aconteceu meses depois, quando Viveros empurrou Maria da

3MINUZZI, Mateus Ciochetta. Aplicação da Lei Maria da Penha às vítimas do sexo masculino e às relações

homoafetivas. Disponível em:

<https://mateuscminuzzi.jusbrasil.com.br/artigos/118288535/aplicacao-da-lei-maria-da-penha-as-vitimas-do-sexo-masculino-e-as-relacoes-homoafetivas> Acesso em 21 de junho de 2020 4Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Disponível em:

< http://www.cidh.oas.org/annualrep/2000port/12051.htm > Acesso em: 11 de junho de 2020. 5OBSERVATORIO LEI MARIA DA PENHA. LEI MARIA DA PENHA. Disponível em:

(5)

Penha da cadeira de rodas e tentou eletrocuta-la no chuveiro (...)

Mesmo após 15 anos de luta e pressões internacionais, a justiça brasileira ainda não havia dado decisão ao caso, nem justificativa para a demora. Com a ajuda de ONGs, Maria da Penha conseguiu enviar o caso para a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (OEA), que, pela primeira vez, acatou uma denúncia de violência doméstica. Viveiro só foi preso em 2002, para cumprir apenas dois anos de prisão. (2018).

Pode ser observado que a instituição dessa lei trouxe em seu axioma diversos

mecanismos objetivados à coibição da violência doméstica e familiar, criando métodos

eficientes para proteger a pessoa que sofre esse tipo de violência, como por exemplo, a

criação de juizados de violência doméstica e familiar.

3. OBJETIVO DA LEI MARIA DA PENHA

A Lei logo em seu artigo 1º, dispõe:

Art. 1.º Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Violência contra a Mulher, da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher e de outros tratados internacionais ratificados pela República Federativa do Brasil; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; e estabelece medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de violência doméstica e familiar. (BRASIL, 2006).

Acerca do artigo supracitado, se olhar a sua literalidade, tem-se que a lei dispõe que

a finalidade essencial da lei é proteger a mulher, mas, no artigo 5º da Lei deixa claro que a

proteção da lei independe de orientação sexual da pessoa, ou seja, estendem-se às relações

homoafetivas, dessa forma, a lei protege indistintamente lésbicas, gays, travestis,

transexuais e transgêneros os quais mantém relação de afeto, íntima ou de convívio.

6

A principal finalidade da Lei Maria da Penha, é garantir mecanismo para coibição,

prevenção e erradicar a violência doméstica e domiciliar, fazendo com que seja garantida a

integridade física, sexual, psicológica, moral, patrimonial e digna da pessoa que sofre

agressão no âmbito doméstico e familiar.

Dois fatores merecem atenção na lei, primeiramente é a retirada da apreciação dos

Juizados Especiais dos crimes de violência praticada contra mulher e não ser aplicadas as

penas de fornecimento de cestas básicas ou multas, assim consideradas leves nos casos

graves de agressões. E o segundo fator foi a implementação de regras e procedimento

exclusivo para a averiguação, apuração e julgamento dos crimes de violência contra a

mulher.

6 SANTANA, Débora Vieira. Estudo teórico da Lei Maria da Penha. Disponível em: <

(6)

4. AS FORMAS DE VIOLÊNCIA

O artigo 7º, da Lei Maria da Penha nomina as formas de violência doméstica e

domiciliar contra a mulher, assim denominadas: Violência física, psicológica, sexual,

patrimonial e moral, além de estender a possibilidade da interpretação acerca dos tipos de

violência, reconheceu ações divergentes que também podem ser caracterizadas como

violência.

Importante fazer a elucidação de que o rol contido no artigo supracitado não se trata

de um rol taxativo, é ilustrativo, ou seja, outras formas não previstas no referido dispositivo

podem ser abrangidas pela lei. O inciso I, traz à baila sobre a violência física, que é o tipo

de agressão que ofende a integridade ou saúde corporal da pessoa agredida. Nesse sentido

Dias leciona:

Hematomas, arranhões, queimaduras e fraturas são sintomas de fácil identificação da violência física; contudo, argumenta que mesmo não havendo marcas aparentes da agressão, o uso da força física que afetar o corpo ou a saúde da mulher será caracterizado como tal tipo de violência. Afirma, ainda, que o estresse crônico advindo da violência também pode provocar outros sintomas físicos, como dores de cabeça, fadiga crônica, dores nas costas e até distúrbios no sono, também chamado de transtorno de estresse pós-traumático, sendo diagnosticado pela ansiedade e depressão. (Maria Berenice Dias, A Lei Maria da Penha na justiça: a efetividade da Lei 11.340/2006 de combate à violência doméstica e familiar contra a mulher, 2012, pag.101, Revista dos Tribunais)

Ainda, Cavalcanti ensina:

Os agressores utilizam-se da relação de poder e da força física para subjugar as vítimas e mantê-las sob o jugo das mais variadas formas de violência. Assim, uma simples divergência de opinião ou uma discussão de somenos importância se transformam em agressões verbas e físicas, capazes de consequências danosas para toda a família. Nesses conflitos, a palavra, o diálogo e a argumentação dão lugar aos maus tratos, utilizados cotidianamente como forma de solucioná-los. (Stela Valéria de Farias Cavalcanti, Violência doméstica: análise da lei “Maria da Penha”, nº 11.340, pag.29 Edições Podivm)

Além das agressões citadas, é importante mencionar outras, como socos, empurrões,

tapas, etc., ressaltando que algumas condutas configuram crimes tipificados no Código

Penal brasileiro, como homicídio, aborto, lesão corporal e outros.

A violência psicológica, tem supedâneo no inciso II do artigo, o qual prevê:

II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause danos emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação. (BRASIL,2006)

O dispositivo acima citado está diante da proteção da autoestima e a saúde mental da

(7)

mulher, uma vez que esse tipo de violência se trata de uma agressão emocional. A pessoa

que é vítima desse tipo de agressão muitas vezes não se dá conta que essas situações

também são um tipo de agressão e que devem ser denunciadas. A conduta do agente

agressor pode se dar pela ameaça, humilhação, discriminar a vítima, bem como assustá-la

ou fazê-la sentir-se inferior.

Nesse sentido, Herman explica:

a violência psicológica atenta de forma ofensiva ao direito fundamental à liberdade, por meio de insultos, ironias, chantagem, perseguição, isolamento social forçado, entre outros. “Implica em lenta e contínua destruição da identidade e da capacidade de reação e resistência da vítima, sendo comum que progrida para prejuízo importante à sua saúde mental e física” (Leda Maria Hermann, Maria da Penha Lei com nome de mulher: considerações à Lei nº 11.340/2006: contra a violência doméstica e familiar, incluindo comentários artigo por artigo, 2007, pag.109, Servanda.)

Pode-se afirmar que esse tipo de agressão é um dos mais comuns praticados contra a

mulher, sendo de difícil percepção para a pessoa agredida, podendo citar como exemplo dessa

prática, o crime de constrangimento ilegal, ameaça, bem como cárcere privado e outros

previstos no Código Penal brasileiro.

Nucci leciona no sentido de que deve haver cuidado na análise do referido tipo de

agressão para fins criminais, preceituando que qualquer crime existente seja capaz de produzir

algum abalo emocional à vítima da agressão, ensinando:

não se pode ter uma agravante excessivamente aberta, vale dizer, sempre que a pessoa ofendida for mulher aplicar-se-ia a agravante de crime cometido “com violência contra a mulher na forma da lei específica” (nova redação do art. 61, II, f, do Código Penal)” (Guilherme de Souza Nucci, Violência doméstica, Leis penais e processuais penais comentadas, 2010, pag.1.267, Revista dos Tribunais).

O último e não menos importante tipo de agressão, é a violência sexual, prevista no

inciso III, do supracitado artigo que objetiva a proteção sexual da mulher, que traz a seguinte

previsão:

III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, 41 chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos; (BRASIL,2006)

Os crimes contra a dignidade sexual, quando cometidos contra pessoas do sexo

feminino, no âmbito das relações domésticas, familiares bem como relações afetivas, são atos

abarcados pela Lei Maria da Penha. Nesse sentido é a doutrina de Dias, que explica:

A lei penal, além de definir o crime e estabelecer pena à prática de cada um dos crimes sexuais, determina que a pena seja aumentada da metade quando (CP, art. 226, II): o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro título tem autoridade sobre ela. As hipóteses previstas na Lei Maria da Penha

(8)

como configuradoras de violência sexual têm um espectro bem maior. Porém, na reforma do Código Penal não houve o cuidado de ampliar as hipóteses em que os crimes sexuais configuram violência doméstica (Maria Berenice Dias, A Lei Maria da Penha na justiça: a efetividade da Lei 11.340/2006 de combate à violência doméstica e familiar contra a mulher, 2012, pag.69, Revista dos Tribunais)

Esse tipo de agressão afeta o sentimento intimo da pessoa ofendida, podendo causar

sentimento de culpa, tristeza, vergonha e medo, fazendo com que a agredida sempre omita a

agressão que sofrera. A doutrina de Hermann, completando, aduz que:

razoável compreende-la como proteção ao direito da mulher – especialmente da mulher adulta – de manter relações sexuais quando quiser, com quem quiser e com quantos parceiros desejar, de dizer não em qualquer momento – mesmo quando já iniciadas as preliminares do ato -, bem como de escolher e decidir sobre o momento, a oportunidade e a necessidade de gerar filhos, dentro ou fora do casamento, de acordo ou em desacordo com a moral sexual vigente na sociedade, na própria comunidade e – principalmente – no núcleo familiar onde se encontra inserida (Leda Maria Hermann, Maria da Penha Lei com nome de mulher: considerações à Lei nº 11.340/2006: contra a violência doméstica e familiar, incluindo comentários artigo por artigo, 2007, pag.112, Servanda.)

Assim, pode se afirmar que essa modalidade agressiva utiliza-se de vários núcleos

verbais para fazer com que a vítima se sinta intimidada, fazendo medo, proferindo ameaças,

coagindo, dominando o psicológico da pessoa agredida.

Há também a violência patrimonial, prevista no inciso IV, que dispõe:

IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades; (BRASIL, 2006)

É importante salientar que a tipificação da violência patrimonial na Lei Maria da

Penha se vale dos mesmos núcleos dos artigos dos crimes contra o patrimônio, com previsão

no Código Penal.

As ações do agente de subtrair, apropriar e destruir, na Lei Maria da Penha é

configurada violência patrimonial, quando praticados em ambiente doméstico e familiar.

Assim, Dias ensina:

Subtrair para si coisa alheia móvel configura o delito de furto, quando a vítima é mulher com quem o agente mantém relação de ordem afetiva, não se pode mais admitir a escusa absolutória. O mesmo se diga com relação à apropriação indébita e ao delito de dano. Perpetrados contra a mulher, dentro de um contexto de ordem familiar, o crime não desaparece e nem fica sujeito à representação (Maria Berenice Dias, A Lei Maria da Penha na justiça: a efetividade da Lei 11.340/2006 de combate à violência doméstica e familiar contra a mulher, 2012, pag.71, Revista dos Tribunais)

Pode-se perceber que a violência patrimonial é uma maneira do agente agressor

manipular a ofendida, obrigando a manter-se no relacionamento que deseja não ter mais. A

(9)

última forma de violência prevista é a do inciso V, que prevê “a violência moral, entendida

como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injuria”. A violência não deixa

somente marcas físicas no corpo, mas faz com que a pessoa ofendida perca sua autoestima

bem como o seu senso de vida.

5. AS MEDIDAS DE PROTEÇÃO

É estabelecido pela Lei Maria da Penha, um rol de medidas protetivas que objetivam a

garantia da mulher ter uma vida sem violência, sob a égide da proteção de direitos

fundamentais. As medidas protetivas foram uma novidade trazida pela legislação, uma vez

que tem caráter de prevenir agressões e proteger os direitos da mulher, fazendo com que seja

viabilizado a possibilidade de uma imediata atividade jurisdicional antes mesmo do início de

uma demanda judicial, nesse sentido, Hermann ensina que:

A proteção da mulher, preconizada na Lei Maria da penha, decorre da constatação de sua condição (ainda) hipossuficiente no contexto familiar, fruto da cultura patriarcal que facilita sua vitimação em situações de violência doméstica, tornando necessária a intervenção do Estado em seu favor, no sentido de proporcionar meios e mecanismos para o reequilíbrio das relações de poder imanentes ao âmbito doméstico e familiar. Reconhecer a condição hipossuficiente da mulher vítima de violência doméstica e/ou familiar não implica invalidar sua capacidade de reger a própria vida e administrar os próprios conflitos. Trata-se de garantir a 47 intervenção estatal positiva, voltada à sua proteção e não à sua tutela [...](Leda Maria Hermann, Maria da Penha Lei com nome de mulher: considerações à Lei nº 11.340/2006: contra a violência doméstica e familiar, incluindo comentários artigo por artigo, 2007, pag.83, Servanda.)

É importante explanar, antes de aprofundar na questão judiciária das medidas, que de

acordo com o artigo 8º, IV, da Lei Maria da Penha, nas cidades de jurisdição da Polícia civil,

há a necessidade de implementação de delegacias especializadas no atendimento à mulher, o

artigo em seu texto legal, dispõe que:

Art. 8º A política pública que visa coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher far-se-á por meio de um conjunto articulado de ações da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e de ações não-governamentais, tendo por diretrizes:

[...]

IV - a implementação de atendimento policial especializado para as mulheres, em particular nas Delegacias de Atendimento à Mulher. (BRASIL, 2006)

Conforme a previsão legal, no momento em que a agressão for reconhecida pelo

Delegado, este deve agir imediatamente para a proteção da vítima, aplicando-se aquelas

medidas estabelecidas no artigo 11, que dispõe:

Art. 11. No atendimento à mulher em situação de violência doméstica e familiar, a autoridade policial deverá, entre outras providências:

I - garantir proteção policial, quando necessário, comunicando de imediato ao Ministério Público e ao Poder Judiciário;

(10)

Legal;

III - fornecer transporte para a ofendida e seus dependentes para abrigo ou local seguro, quando houver risco de vida;

IV - se necessário, acompanhar a ofendida para assegurar a retirada de seus pertences do local da ocorrência ou do domicílio familiar;

V - informar à ofendida os direitos a ela conferidos nesta Lei e os serviços disponíveis. (BRASIL, 2006).

Ante a disposição dos artigos supracitados, Larrain explana:

Como as vítimas em geral entram em contato com a polícia antes de chegarem ao sistema judiciário, a reação da polícia é fundamental para permitir que as mulheres insistam em sua causa e detenham a violência. [...] A complexidade das intervenções na violência doméstica exige educação e treinamento específicos para os profissionais que atuam nessa área crítica. [...] Essa falta de treinamento muitas vezes leva a uma nova agressão, na medida em que reações equivocadas (...) são prejudiciais para as vítimas (Soledad Larraín, Reprimindo a violência doméstica: duas décadas de ação, 2000, pag. 125, FGV)

No mesmo raciocínio, é a doutrina de Porto, que leciona:

Reconhecendo o legislador que, de regra, as autoridades policiais serão as primeiras a ter contato com mulher vítima de violência doméstica, valorizou sobremaneira sua função, prestigiando o trabalho mais dedicado e humano que já vem sendo desenvolvido de forma pioneira em delegacias especializadas em defesa da mulher ou mesmo nas delegacias distritais, bem como pela Polícia Militar, cujo treinamento já contempla aulas de direitos humanos. [...] Vale frisar que já não existem dúvidas de que a violência é um problema complexo, de origem multifatorial, relacionado a temas como assistência social, educação, saúde e segurança pública e, portanto, as pastas governamentais respectivas devem assumir as exigências legais pertinentes ao enfrentamento da violência doméstica (Pedro Rui da Fontoura Porto, Violência doméstica e familiar contra a mulher, 2012, pag. 77, Livraria do Advogado.)

Exaurida a etapa policial as medidas de proteção podem ser concedidas de forma

imediata pelo juiz, facultando-lhe a sua aplicação isolada ou cumulativamente, sendo que é

possível a sua substituição, em qualquer tempo por outras medidas de eficácia mais benéfica

quando houver violação ou ameaça a direitos reconhecidos na Lei Maria da Penha.

É importante ressaltar, que das medidas concedidas pelo juiz, é possível ser decretada

a prisão preventiva do agressor, com escopo de proteção a vítima e os demais integrantes da

família, conforme disposição do artigo 20, da Lei Maria da Penha.

Nesse sentido, Dias ensina:

Para garantir efetividade às medidas deferidas, a qualquer momento cabe substituí-las ou até conceder medidas outras. Também tem o magistrado à faculdade de requisitar o auxílio da força policial (art. 22, § 3º) ou decretar a prisão preventiva do agressor (art. 20). (Maria Berenice Dias, A Lei Maria da Penha na justiça: a efetividade da Lei 11.340/2006 de combate à violência doméstica e familiar contra a mulher, 2012, pag.146, Revista dos Tribunais)

O escopo da prisão preventiva é garantir o efetivo cumprimento das medidas

protetivas de urgência, fazendo com que este mecanismo impeça o agressor de descumprir a

(11)

ordem judicial da medida protetiva e ficar impune.

As medidas protetivas de urgência, estão elencadas no artigo 22, da Lei Maria da

Penha, e, na prática de violência, o agressor fica submetido a estas, que são:

Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou separadamente, as seguintes medidas protetivas de urgência, entre outras:

I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao órgão competente, nos termos da Lei no 10.826, de 22 de dezembro de 2003;

II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida; III - proibição de determinadas condutas, entre as quais:

a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre estes e o agressor;

b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de comunicação;

c) freqüentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade física e psicológica da ofendida;

IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a equipe de atendimento multidisciplinar ou serviço similar;

V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios.

§ 1o As medidas referidas neste artigo não impedem a aplicação de outras previstas na legislação em vigor, sempre que a segurança da ofendida ou as circunstâncias o exigirem, devendo a providência ser comunicada ao Ministério Público.

§ 2o Na hipótese de aplicação do inciso I, encontrando-se o agressor nas condições mencionadas no caput e incisos do art. 6o da Lei no 10.826, de 22 de dezembro de 2003, o juiz comunicará ao respectivo órgão, corporação ou instituição as medidas protetivas de urgência concedidas e determinará a restrição do porte de armas, ficando o superior imediato do agressor responsável pelo cumprimento da determinação judicial, sob pena de incorrer nos crimes de prevaricação ou de desobediência, conforme o caso.

§ 3o Para garantir a efetividade das medidas protetivas de urgência, poderá o juiz requisitar, a qualquer momento, auxílio da força policial. § 4o Aplica-se às hipóteses previstas neste artigo, no que couber, o disposto no caput e nos §§ 5o e 6º do art. 461 da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Código de Processo Civil).

Continuando a ideia das medidas protetivas como instrumento para deter o agressor e

efetivar a proteção da vítima, Dias revigoriza:

Tentar deter o agressor bem como garantir a segurança pessoal e patrimonial da vítima e sua prole agora não é encargo somente da polícia. Passou a ser também do juiz e do Ministério Público. Todos precisam agir de modo imediato e eficiente. A Lei traz providências que não se limitam às medidas protetivas de urgência previstas nos arts. 22 a 24. Encontram-se espraiadas em toda a Lei medidas outras voltadas à proteção da vítima que também cabem ser chamadas de protetivas. (Maria Berenice Dias, A Lei Maria da Penha na justiça: a efetividade da Lei 11.340/2006 de combate à violência doméstica e familiar contra a mulher, 2012, pag.145, Revista dos Tribunais)

Nesse sentido, Porto expõe que:

As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas pelo juiz, a requerimento do Ministério Público ou a pedido da ofendida. [...] porquanto o art. 22, § 1°, da LMP, é enfático quando registra que “as medidas referidas neste artigo não impedem a aplicação de outras previstas na legislação em vigor, sempre que a segurança da ofendida ou as circunstâncias o exigirem, devendo a providência ser comunicada ao Ministério Público. ((Pedro Rui da Fontoura Porto, Violência doméstica e familiar contra a mulher, 2012, pag. 99, Livraria do Advogado.)

(12)

Embora a Lei Maria da Penha não imponha restrições quanto a aplicabilidade das

referidas medidas nos casos de violência psicológica, moral e patrimonial, a referida lei não

faz previsão expressa acerca da empregabilidade da norma nos casos, justificando seu

entendimento pela dificuldade probatória nas condutas citadas. As medidas de urgência

determinam que o agressor mantenha distancia da vítima, além disso, o legislador estabeleceu

outras formas de proteger danos físicos e patrimoniais, dispostos nos artigos 23 e 24, da Lei

Maria da Penha:

Art. 23. Poderá o juiz, quando necessário, sem prejuízo de outras medidas:

I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou comunitário de proteção ou de atendimento;

II - determinar a recondução da ofendida e a de seus dependentes ao respectivo domicílio, após afastamento do agressor;

III - determinar o afastamento da ofendida do lar, sem prejuízo dos direitos relativos a bens, guarda dos filhos e alimentos;

IV - determinar a separação de corpos.

Art. 24. Para a proteção patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou daqueles de propriedade particular da mulher, o juiz poderá determinar, liminarmente, as seguintes medidas, entre outras:

I - restituição de bens indevidamente subtraídos pelo agressor à ofendida;

II - proibição temporária para a celebração de atos e contratos de compra, venda e locação de propriedade em comum, salvo expressa autorização judicial;

III - suspensão das procurações conferidas pela ofendida ao agressor;

IV - prestação de caução provisória, mediante depósito judicial, por perdas e danos materiais decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a ofendida. Parágrafo único. Deverá o juiz oficiar ao cartório competente para os fins previstos nos incisos II e III deste artigo. (BRASIL, 2006)

Baseando no escopo de proteger a vítima de agressão, o direito penal e cível, em

consonância com a norma, previu ser afastado um dos cônjuges do lugar onde eles vivem, ou

seja, separando-se os corpos. Sobre a questão, Dias explana:

A separação de corpos quer ofensor e vítima sejam casados, quer vivam em união estável heterossexual ou homossexual. Não custa lembrar que a separação de corpos ou afastamento temporário de qualquer um do lar não substitui o divórcio. Simplesmente marca a separação de fato que põe fim aos deveres do casamento e à comunicabilidade dos bens. No entanto, a separação de corpos tem o condão de dissolver a união estável. ((Maria Berenice Dias, A Lei Maria da Penha na justiça: a efetividade da Lei 11.340/2006 de combate à violência doméstica e familiar contra a mulher, 2012, pag.154, Revista dos Tribunais)

É também importante ressaltar as previsões da Lei Maria da Penha que influenciaram

as mudanças no Código Penal nos artigos 61 e 129:

Art. 61 - São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime:

[...]

II - ter o agente cometido o crime: [...]

f) com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, ou com violência contra a mulher na forma da lei específica; (Redação dada pela Lei nº 11.340, de 2006)

(13)

Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:

[...] § 9o Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade: (Redação dada pela Lei nº 11.340, de 2006) Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. (Redação dada pela Lei nº 11.340, de 2006)

§ 10. Nos casos previstos nos §§ 1o a 3o deste artigo, se as circunstâncias são as indicadas no § 9o deste artigo, aumenta-se a pena em 1/3 (um terço). (Incluído pela Lei nº 10.886, de 2004)

§ 11. Na hipótese do § 9o deste artigo, a pena será aumentada de um terço se o crime for cometido contra pessoa portadora de deficiência. (Incluído pela Lei nº 11.340, de 2006). (BRASIL, 1940)

Com os dispositivos citados, torna-se perceptível que o escopo da lei é fazer com que

a aplicação da pena da prática delituosa de violência doméstica seja mais rigorosa, as

alterações no Código Penal representaram penalizações de formas substanciais, pois,

mantiveram a pena de detenção em face da pena substitutiva restritiva de direitos. Dessa

forma, pode-se observar que as medidas protetivas instituídas pela Lei Maria da Penha, tem

por finalidade coibir a violência doméstica e familiar, resguardando a integridade física e

moral da mulher, independentemente de sua orientação afetiva.

6. O PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

O artigo 5º, da Constituição Federal, tem como finalidade o tratamento igualitário e

digno a todos os cidadãos, fazendo a previsão que o ordenamento jurídico deve tratar todos de

forma igual sem fazer nenhuma distinção, ou seja igualdade formal, o artigo faz a seguinte

previsão:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (BRASIL, 1988).

Analisando o texto do artigo, pode-se entender que o Estado deve proteger os

brasileiros indistintamente, garantindo-lhes o seu direito, é importante fazer um comparativo

dos principais direitos do referido artigo e a aplicação da Lei Maria da Penha na comunidade

LGBT. Pode-se afirmar que o direito à vida é o direito mais importante previsto, uma vez que

ninguém tem o direito de ceifar a vida de outrem, e tampouco provocar qualquer outro tipo de

ofensa.

Dessa forma, negar a possibilidade de aplicação da Lei Maria da Penha na

comunidade LGBT ante as agressões contra os próprios em âmbito doméstico e familiar, é

desumano, e a sociedade deixa-os nas mãos da morte, inclusive no modo de viverem suas

vidas, uma vez que apenas existir uma lei por via ordinária no Código Penal não é o bastante

(14)

para coibir a violência, não deve somente aspectos repressivos para punição, e sim a

implementação de políticas públicas para a proteção da comunidade LGBT no âmbito

doméstico e domiciliar nas suas relações afetivas.

Outro direito importante de ser explicado é o da liberdade, aquele que permite a

pessoa fazer com seu corpo o que bem quiser, se expressar, ter a sua crença, desde que

respeitando direito alheio. Imaginemos um membro da comunidade LGBT sendo ameaçado

pelo companheiro (a), a pessoa viverá com a ameaça e subjugada pelo agressor e sofrerá

diversos tipo de violência. O direito a igualdade também, por exemplo, no caso do

transgênero com ou sem a cirurgia ou alteração no registro civil, não é uma alteração

burocrática ou a retirada de um órgão sexual que vai lhe ser constituída a condição de mulher.

Assim, a dignidade da pessoa humana é um dever do Estado, devendo assegurar todos

os direitos aos membros da comunidade LGBT ante agressões sofridas no âmbito doméstico e

familiar.

7. A POSIÇÃO DE TRIBUNAIS DE JUSTIÇA ESTADUAIS ACERCA DO TEMA

Na justiça brasileira já existem diversos processos em tramite onde são aplicadas

situações em que a figura da mulher diverge do caráter biológico. Apesar da Lei Maria da

Penha fazer referência em proteção apenas da mulher, sua aplicação tem sido subsidiária e

analógica aos relacionamentos dentro da comunidade LGBT.

Assim, sendo aplicável de forma igualitária, é a jurisprudência do Superior Tribunal

de Justiça:

EMENTA: CIVIL. RELAÇÃO HOMOSSEXUAL. UNIÃO

ESTÁVEL. RECONHECIMENTO. EMPREGO DA ANALOGIA. 1.

"A regra do art. 226, § 3º da Constituição, que se refere ao

reconhecimento da união estável entre homem e mulher, representou a

superação da distinção que se fazia anteriormente entre o casamento e

as relações de companheirismo. Tratase de norma inclusiva, de

inspiração anti-discriminatória, que não deve ser interpretada como

norma excludente e discriminatória, voltada a impedir a aplicação do

regime da união estável às relações homoafetivas". 2. É juridicamente

possível pedido de reconhecimento de união estável de casal

homossexual, uma vez que não há, no ordenamento jurídico brasileiro,

vedação explícita ao ajuizamento de demanda com tal propósito.

Competência do juízo da vara de família para julgar o pedido. 3. Os

arts. 4º e 5º da Lei de Introdução do Código Civil autorizam o

julgador a reconhecer a união estável entre pessoas de mesmo sexo. 4.

A extensão, aos relacionamentos homoafetivos, dos efeitos jurídicos

do regime de união estável aplicável aos casais heterossexuais traduz

a corporificação dos princípios constitucionais da igualdade e da

dignidade da pessoa humana. 5. A Lei Maria da Penha atribuiu às

(15)

uniões homoafetivas o caráter de entidade familiar, ao prever, no seu

artigo 5º, parágrafo único, que as relações pessoais mencionadas

naquele dispositivo independem de orientação sexual. 6. Recurso

especial desprovido. (REsp nº 827.962 - RS (2006/0057725-5), Quarta

Turma, Relator Min. João Otávio de Noronha, Julgado em:

21/06/2011).

O Tribunal de Justiça gaúcho vinha prolatando decisões no sentido de ser permitida a

retificação no registro civil no caso dos transexuais, independente de cirurgia de mudança de

sexo:

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. RETIFICAÇÃO DE REGISTRO. MUDANÇA DE SEXO. AUSÊNCIA DE CIRURGIA DE TRANSGENITALIZAÇÃO. Constada e comprovada a condição de transgênero, inclusive já com alteração do nome deferida e efetivada, mostra-se viável deferir a alteração do sexo, mesmo sem a realização da cirurgia de transgenitalização. Enunciados n.º 42 e 43 da 1ª Jornada de Direito da Saúde promovida pelo CNJ. Precedentes. DERAM PROVIMENTO. (Agravo de Instrumento Nº 70060459930, Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Rui Portanova, Julgado em 21/08/2014).

Ainda, no mesmo ano, decidiu:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. RETIFICAÇÃO DE REGISTRO CIVIL. TRANSGENÊRO. MUDANÇA DE NOME E DE SEXO. AUSÊNCIA DE CIRURGIA DE TRANGENITALIZAÇÃO. Constatada e provada a condição de transgênero da autora, é dispensável a cirurgia de transgenitalização para efeitos de alteração de seu nome e designativo de gênero no seu registro civil de nascimento. A condição de transgênero, por si só, já evidencia que a pessoa não se enquadra no gênero de nascimento, sendo de rigor, que a sua real condição seja descrita em seu registro civil, tal 73 como ela se apresenta socialmente DERAM PROVIMENTO. UNÂNIME. (Apelação Cível Nº 70057414971, Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Rui Portanova, Julgado em 05/06/2014)

No mesmo sentido é o entendimento do Superior Tribunal Federal

EMENTA: DIREITO CONSTITUCIONAL E CIVIL. REGISTROS PÚBLICOS. REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS. ALTERAÇÃO DO ASSENTO DE NASCIMENTO. RETIFICAÇÃO DO NOME E DO GÊNERO SEXUAL. UTILIZAÇÃO DO TERMO TRANSEXUAL NO REGISTRO CIVIL. O CONTEÚDO JURÍDICO DO DIREITO À AUTODETERMINAÇÃO SEXUAL. DISCUSSÃO ACERCADOS PRINCÍPIOS DA PERSONALIDADE, DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA, INTIMIDADE, SAÚDE, ENTRE OUTROS, E A SUA CONVIVÊNCIA COM PRINCÍPIOS DA PUBLICIDADE E DA VERACIDADE DOS REGISTROS PÚBLICOS. PRESENÇA DE REPERCUSSÃO GERAL (RE 670422 RG / RS, Oitava Câmara Cível do Tribunal de Justiça do RS, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Julgado em: 11/09/2014).

Na comarca de Rio Pardo, interior do Rio Grande do Sul, um magistrado concedeu

uma medida protetiva a um homem, que tinha uma relação homoafetiva e seu companheiro o

ameaçava, fundamentando o princípio da igualdade. É parte da decisão:

[...] todo aquele em situação vulnerável, ou seja, enfraquecido, pode ser vitimado. Ao lado do Estado Democrático de Direito, há, e sempre existirá, parcela de indivíduos que busca impor, porque lhe interessa, a lei da barbárie, a lei do mais forte. E isso o Direito não pode permitir!... Em situações iguais, as garantias legais devem valer para todos, além da Constituição vedar qualquer discriminação. Isso faz com que a união homoafetiva seja reconhecida como fenômeno social,

(16)

merecedor não só de respeito como de proteção efetiva com os instrumentos contidos na legislação [...]

O tribunal Mineiro, também aplicou medida protetiva em face de uma mulher que

agredia sua companheira na comarca de Belo Horizonte-MG, reconhecendo a incidência da

Lei Maria da Penha também nas relações homoafetivas:

EMENTA: APELAÇÃO CRIMINAL - LEI MARIA DA PENHA - MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA - EXTINÇÃO DO FEITO SEM JULGAMENTO DE MÉRITO - IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO - NÃO CABIMENTO - RELAÇÃO HOMOAFETIVA - POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DA LEI MARIA DA PENHA - RECURSO MINISTERIAL PROVIDO. - Por força de exigência legal, o sujeito passivo, para fins de incidência da proteção e assistência previstas na Lei Maria da Penha, deve ser mulher. Todavia, no que tange ao agressor, isto é, ao sujeito ativo, a Lei nº 11.340/06, no parágrafo único de seu art. 5º, não repetiu o mencionado requisito, permitindo, por conseguinte, sua aplicabilidade também em hipótese de relações homoafetivas entre mulheres.

Dessa forma, é inegável a possibilidade da aplicação da Lei Maria da Penha na

comunidade LGBT, uma vez que independente da orientação sexual, quando houver violência

no âmbito doméstico e familiar, a referida lei será aplicada.

8. A LEI MARIA DA PENHA E A COMUNIDADE LGBT

Antes de fazer uma abordagem direta no tema, é necessário explicar o sujeito ativo e

passivo das agressões previstas na Lei Maria da Penha, Fernando Capez leciona que o sujeito

ativo é:

A pessoa humana que pratica a figura típica descrita na lei, isolada ou conjuntamente com outros atores. O conceito abrange não só aquele que pratica o núcleo da figura típica (quem mata, subtrai etc.), como também o partícipe, que colabora de alguma forma na conduta típica, sem, contudo, executar atos de conotação típica, mas que de alguma forma, subjetiva ou objetivamente, contribui para a ação criminosa. (Fernando Capez, Curso de Direito Penal: Parte geral, 2006, pag.77, Saraiva)

Mirabete, por sua vez, leciona sobre o sujeito passivo:

Sujeito passivo do crime é o titular do bem jurídico lesado ou ameaçado pela conduta criminosa. Nada impede que, em um delito, dois ou mais sujeitos passivos existam: desde que tenham sido lesados ou ameaçados em seus bens jurídicos referidos no tipo, são vítimas do crime. Exemplificando, são sujeitos passivos de crime: aquele que morre (no homicídio), aquele que é ferido (na lesão corporal), o possuidor da coisa móvel (no furto), o detentor da coisa que sofre a violência e o proprietário da coisa (no roubo), o Estado (na prevaricação). (Júlio Fabbrini Mirabete, Manual de direito penal: parte especial, 2018, pag.88, Atlas).

Dessa forma, o sujeito ativo é aquele que efetiva a prática da conduta prevista no

ordenamento jurídico, o passivo por sua vez, é a vítima, ora detentora do bem jurídico que

fora tutelado.

(17)

sujeitos ativos do crime, mas quanto ao sujeito passivo, pode ser considerado qualquer

membro da comunidade LGBT, que se identificam com o gênero feminino.

(

, nesse sentido,

Dias, explica:

Lésbicas, transexuais, travestis e transgêneros, quem tenham identidade social com o sexo feminino estão ao abrigo da Lei Maria da Penhaa. A agressão contra elas no âmbito familiar constitui violência doméstica. Ainda que parte da doutrina encontre dificuldade em conceder-lhes o abrigo da Lei, descabe deixar à margem da proteção legal aqueles que se reconhecem como mulher. Felizmente, assim já vem entendendo a jurisprudência ((Maria Berenice Dias, A Lei Maria da Penha na justiça: a efetividade da Lei 11.340/2006 de combate à violência doméstica e familiar contra a mulher, 2012, pag.69, Revista dos Tribunais)

Ainda que a Lei Maria da Penha faça a previsão de proteger somente a mulher, tendo

em vista a dignidade da pessoa humana e outros princípios constitucionais pode-se estender a

interpretação aos membros da comunidade LGBT.

Diante de todo o exposto, considerando o princípio da igualdade, pode-se afirmar que

a Lei Maria da Penha deve ser aplicada nas hipóteses de violência doméstica, não se

importando o sexo, uma vez que o escopo da norma é coibir a violência doméstica,

aplicando-se a lei aos membros da comunidade LGBT que aplicando-se identifiquem ou tenham identidade social

com o sexo feminino.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Lei 11.340/06, conhecida como a Lei Maria da Penha, se apresenta como uma das

maiores evoluções contra a violência fundamentada no gênero. A explicação acerca desses

atos cruéis possui respaldo no patriarcalismo que regeu a família na sociedade.

Conforme tudo explicitado no trabalho, a lei foi criada com escopo de coibir a

violência praticada no âmbito doméstico e familiar contra a mulher, e quando se diz mulher,

deve-se analisar o sentido amplo da palavra.

A mulher cumpre função social, dentro do lar bem como na sociedade, as famílias

continuam sendo formadas e a mulher está presente, ainda que não possua o sexo biológico.

Assim, foi demonstrado que a Lei Maria da Penha tem por objetivo coibir a violência

contra a mulher, efetivando as medidas de proteção em face das formas de agressão,

independente da orientação sexual, sendo possível a sua aplicabilidade na comunidade LGBT.

REFERÊNCIAS

(18)

BRASIL. Constituição Federal. Vade Mecum Rideel: São Paulo: Rideel, 2017

BRASIL. Lei 11.340/2006. Vade Mecum Rideel: São Paulo: Rideel, 2017

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. REsp nº 827.962 - RS (2006/0057725-5), Quarta

Turma,

Relator

Min.

João

Otávio

de

Noronha.

Disponível

em:<

<http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?tipo_visualizacao=null&livre=CIVIL+R

ELA%C7%C3O+HOMOSSEXUAL+UNI%C3O+EST%C1VEL+RECONHECIMENTO+E

MPREGO+DA+ANALOGIA&b=ACOR&thesaurus=JURIDICO> Acesso em 14 de julho de

2020.

BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais. Apelação Criminal

1.0024.12.115844-8/001 .

Relatora:

Márcia

Milanéz.

Disponível

em:<

https://www5.tjmg.jus.br/jurisprudencia/pesquisaPalavrasEspelhoAcordao.do?&numeroRegis

tro=1&totalLinhas=7&paginaNumero=1&linhasPorPagina=1&palavras=lei%20maria%20da

%20penha%20rela%E7%E3o%20homoafetiva&pesquisarPor=ementa&pesquisaTesauro=true

&orderByData=1&pesquisaPalavras=Pesquisar&> Acesso 16 de julho de 2020.

BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do sul. Agravo de Instrumento Nº

70060459930.

Relator:

Rui

Portanova.

Disponível:<

http://www.tjrs.jus.br/busca/search?q=RETIFICA%C3%87%C3%

83O+DE+REGISTRO.+MUDAN%C3%87A+DE+SEXO&proxystylesheet=tjrs_index&

client=tjrs_index&filter=0&getfields=*&aba=juris&entsp=a__politica-site&wc=

200&wc_mc=1&oe=UTF-8&ie=UTF-8&ud=1&lr=lang_pt&sort=date%3AD%3AS%3

Ad1&as_qj=RETIFICA%C3%87%C3%83O+DE+REGISTRO+TRANSEXUALIDADE

&site=ementario&as_epq=&as_oq=&as_eq=&as_q=+#main_res_juris> Acesso 14 de julho

de 2020.

BRASIL. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Disponível em: <

https://www1.tjrs.jus.br/site_php/consulta/consulta_processo.php?nome_comarca=Tribunal+d

e+Justi%E7a&versao=&versao_fonetica=1&tipo=1&id_comarca=700&num_processo_mask

=70042334987&num_processo=70042334987&codEmenta=4151686&temIntTeor=true%20

> Acesso em 12 de Julho de 2020.

CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: Parte Geral. 10. Ed. São Paulo: Saraiva,

2006.

CAVALCANTI, Stela Valéria Soares. de Farias. Violência Doméstica: análise da lei

“Maria da Penha”, nº 11.340. Salvador: Edições Podivm, 2007.

Comissão

Interamericana

de

Direitos

Humanos.

Disponível

em:

< http://www.cidh.oas.org/annualrep/2000port/12051.htm > Acesso em: 11 de junho de

2020.

DIAS, Maria Berenice. A Lei Maria da Penha na justiça: a efetividade da Lei 11.340/2006

de combate à violência doméstica e familiar contra a mulher. 3. ed. São Paulo: Revista

dos Tribunais, 2012.

HERMANN, Leda Maria. Maria da Penha Lei com nome de mulher: considerações à Lei

nº 11.340/2006: contra a violência doméstica e familiar, incluindo comentários artigo por

artigo. Servanda, 2007

(19)

LARRAÍN, Soledad. Reprimindo a violência doméstica: duas décadas de ação. Rio de

Janeiro: FGV, 2000.

MINUZZI, Mateus Ciochetta. Aplicação da Lei Maria da Penha às vítimas do sexo

masculino

e

às

relações

homoafetivas.

Disponível

em:

<https://mateuscminuzzi.jusbrasil.com.br/artigos/118288535/aplicacao-da-lei-maria-da-penha-as-vitimas-do-sexo-masculino-e-as-relacoes-homoafetivas> Acesso em 21 de junho de

2020;

MIRABETE, Júlio Fabbrini; FABBRINI, Renato N.. Manual de direito penal: parte

especial. 34. ed. ed., rev. e atual.. São Paulo: Atlas, 2018.

NUCCI, Guilherme de Souza. Violência doméstica. Leis penais e processuais penais

comentadas. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010

OBSERVATORIO LEI MARIA DA PENHA. LEI MARIA DA PENHA. Disponível em:

http://www.observe.ufba.br/LEI_MARIADAPENHA> Acesso em 11 de junho de 2020.

PORTO, Pedro Rui da Fontoura. Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher: análise

crítica e sistêmica. 1. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2012.

SANTANA, Débora Vieira. Estudo teórico da Lei Maria da Penha. Disponível em: <

https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-penal/estudo-teorico-da-lei-maria-da-penha/>

Acesso em 19 de junho de 2020

SILVA, Daniela Martins. A (im)possibilidade de aplicação da Lei Maria da Penha para

proteção de transexuais vítimas de violência doméstica familiar. Disponível em:

<https://core.ac.uk/reader/51328768> Acesso em 23 de junho de 2020.

(20)

Relatório do Software Anti-plágio CopySpider

Para mais detalhes sobre o CopySpider, acesse: https://copyspider.com.br

Instruções

Este relatório apresenta na próxima página uma tabela na qual cada linha associa o conteúdo do arquivo de entrada com um documento encontrado na internet (para "Busca em arquivos da internet") ou do arquivo de entrada com outro arquivo em seu computador (para "Pesquisa em arquivos locais"). A

quantidade de termos comuns representa um fator utilizado no cálculo de Similaridade dos arquivos sendo comparados. Quanto maior a quantidade de termos comuns, maior a similaridade entre os arquivos. É importante destacar que o limite de 3% representa uma estatística de semelhança e não um "índice de plágio". Por exemplo, documentos que citam de forma direta (transcrição) outros documentos, podem ter uma similaridade maior do que 3% e ainda assim não podem ser caracterizados como plágio. Há sempre a necessidade do avaliador fazer uma análise para decidir se as semelhanças encontradas caracterizam ou não o problema de plágio ou mesmo de erro de formatação ou adequação às normas de referências bibliográficas. Para cada par de arquivos, apresenta-se uma comparação dos termos semelhantes, os quais aparecem em vermelho.

Veja também:

Analisando o resultado do CopySpider

(21)

Relatório gerado por: genesisgoncalvesdeoliveira@hotmail.com

Arquivos Termos comuns Similaridade

A tipificação do Feminicídio no ordenamento jurídico brasileiro

(bruno e douglas).docx X

https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-penal/alteracoes-implementadas-pela-lei-n-13-104-2015/

824 10,07

A tipificação do Feminicídio no ordenamento jurídico brasileiro

(bruno e douglas).docx X

https://www.diritto.it/feminicidio-como-nova-qualificadora-do-homicidio-e-seus-requisitos-tipicos/

815 9,66

A tipificação do Feminicídio no ordenamento jurídico brasileiro

(bruno e douglas).docx X

https://www.trabalhosfeitos.com/ensaios/Feminicidio/70874494. html

199 3,46

A tipificação do Feminicídio no ordenamento jurídico brasileiro

(bruno e douglas).docx X

https://monografias.brasilescola.uol.com.br/direito/estudo-da-vitimologia-nos-crimes-contra-a-mulher.htm

493 2,42

A tipificação do Feminicídio no ordenamento jurídico brasileiro

(bruno e douglas).docx X

https://www.passeidireto.com/arquivo/76329154/direito-penal-aula-homicidio/11

78 1,29

A tipificação do Feminicídio no ordenamento jurídico brasileiro

(bruno e douglas).docx X

https://www.unipacuberlandia.com.br/sobrenos

13 0,22

A tipificação do Feminicídio no ordenamento jurídico brasileiro

(bruno e douglas).docx X

https://rogeriogreco.jusbrasil.com.br/artigos/173950062/feminici dio-comentarios-sobre-a-lei-n-13104-de-9-de-marco-de-2015

- - Parece que o documento não existe ou não pode ser acessado. HTTP response code: 403 - Server returned HTTP response code: 403 for URL: https://rogeriogreco.jusbrasil.com.br/artigo s/173950062/feminicidio-comentarios- sobre-a-lei-n-13104-de-9-de-marco-de-2015 A tipificação do Feminicídio no ordenamento jurídico brasileiro

(bruno e douglas).docx X

https://www.passeidireto.com/arquivo/75441215/direito-penal-3/19

- - Parece que o documento não existe ou não pode ser acessado. HTTP response code: 410 -https://www.passeidireto.com/arquivo/754 41215/direito-penal-3/19 A tipificação do Feminicídio no ordenamento jurídico brasileiro

(bruno e douglas).docx X

http://www.brazil.gov.br/trade-and-invest/doing-business/basic- information-to-know-before-starting-a-business-in-brazil/the-brazilian-legal-system

- Conversão falhou

A tipificação do Feminicídio no ordenamento jurídico brasileiro

(bruno e douglas).docx X

https://rogeriogreco.jusbrasil.com.br/artigos/173950062/feminici

dio-comentarios-sobre-a-lei-n-13104-de-9-de-marco-de-2015?ref=news_feed

- - Parece que o documento não existe ou não pode ser acessado. HTTP response code: 403 - Server returned HTTP response code: 403 for URL: https://rogeriogreco.jusbrasil.com.br/artigo s/173950062/feminicidio-comentarios- sobre-a-lei-n-13104-de-9-de-marco-de-2015?ref=news_feed

(22)

================================================================================= Arquivo 1: A tipificação do Feminicídio no ordenamento jurídico brasileiro (bruno e douglas).docx (4921 termos)

Arquivo 2: https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-penal/alteracoes-implementadas-pela-lei-n-13-104-2015/ (4081 termos)

Termos comuns: 824

Similaridade: 10,07%

O texto abaixo é o conteúdo do documento A tipificação do Feminicídio no ordenamento jurídico

brasileiro (bruno e douglas).docx. Os termos em vermelho foram encontrados no documento

https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-penal/alteracoes-implementadas-pela-lei-n-13-104-2015/

=================================================================================

A tipificação do Feminicídio noordenamentojurídico brasileiro The typification of Feminicide in the Brazilian legal system

Bruno Praxedes Matos*

Douglas Schimidt Passos**

Eder***

Resumo

O objetivo do presente trabalho é analisar as disposições da Leidofeminicídio e suas reflexões no

ordenamentojurídico brasileiro, expondo sobre como a lei surgiu e sua eficácia ante a preexistência da Lei

11.340/06, conhecida como aLeiMariadaPenha, a LeidoFeminicidio trouxe umanovaqualificadoraao artigo 121, doCódigoPenal brasileiro, quando alguém mata uma pessoa emrazãodeser mulher, menosprezando essa condição, então, é necessário expor as inovações trazidaspelalei bem como sua aplicabilidade.

Palavras-chaves: CódigoPenal; Feminicídio; Ordenamento jurídico

Abstract

The objective of the present work is to analyze the provisions of the Feminicide Law and its reflections in the Brazilian legal system, explaining how the law emerged and its effectiveness before the pre-existence of Law 11.340 / 06, known as the MariadaPenha Law, the Law of Feminicidio brought a new qualifier to article 121, of the Brazilian Penal Code, when someone kills a person because of being a woman,

underestimating this condition, then, it is necessary to expose the innovations brought by the law as well as its applicability.

(23)

Data de Submissão: ___/___/___ Data de Aprovação: ___/___/___

Aluno do 9º Período doCursodeDireitoda Fundação Presidente Antônio Carlos – FUPAC –Teófilo Otoni /MG – E-mail:

** Aluno do 9º Período doCursodeDireitoda Fundação Presidente Antônio Carlos – FUPAC – Teófilo Otoni/MG – E-mail: douglasschimidt43@gmail.com

16

*** Advogado e Professor docursodeDireito na Faculdade Presidente Antônio Carlos – FUPAC – Teófilo Otoni/MG – E-mail:

INTRODUÇÃO

Durante anos a submissão da mulher foi tido como algo normal dentro da sociedade de todo o mundo, acreditavam que o homem é quem tinha o poder sobre a mulher, diziam o que vestir, como falar, como se portarem em público, e se caso viessem fazer o contrário, o seu companheiro tratava logo de as

reprimirem, comportamento esse que era, e ainda é, reflexo de uma sociedade patriarcal.

O número de mulheres que sofrem violência cresce cada vez mais, devido aos seus companheiros

acreditarem que ainda possuem poderes sobre o corpo feminino, e com isso, começam os casos de

violênciadoméstica que podem se resultar na morte da vítima.

Mais de 500 mulheres são agredidas diariamente noBrasil, e na tentativa de combater a violência e agressão sofridas pelo sexo feminino, o Estado trouxe várias iniciativas para tentar mudar o cenário de violência no país, surgindo assim aLeinº 11.304/2006, conhecida como “LeiMariadaPenha”, que trouxe serviços especializados em atendimento a vítimas deviolênciadoméstica.

Ainda na tentativa de buscar mecanismos que protegesse amulherde tamanha violência, o Senado incentivou a tipificação do feminicídio como umaformade mostrar que o Estado não irá mais tolerar a violação do direito fundamental das cidadãs, surgindo assim o ProjetodeLei nº 292/2013.

A criação de tal lei, teve como justificativa os números de violência sofrida pelas mulheres que

aumentavam cada vez mais, onde percebe-se que tal problema vem de anos, e deixa de ser um problema privado, resolvido no âmbito doméstico entre a vítima e o seu agressor, epassoua ser um problema público onde o Estado encarou como uma violação dos direitos humanos, o que trouxe aLeiMariada

Penha e agora a Lei de Feminicídio.

Opresenteartigo abrange sucintamente, a problemática que envolve aLeinº 13.104/2015 e a tipificação

docrimedeFeminicídio, onde se conclui que a especificidade nos crimes que refletem a situação da

sociedade, tais quais devem ser devidamente coibidos, visto que não há nenhum outro modo para diminuir inúmeros casos em que mulheres são vítimas de violência por sua natureza.

Feminicídio e o seu contexto histórico.

Feminicídio é a nomenclatura que se dá ao homicídio de mulheres, que é definido como crime hediondo no Código Penal brasileiro, sendo o assassinato de mulheres em um contexto de desigualdade social e de gênero, e envolve o menosprezooudiscriminação a classe feminina, onde a vida de uma mulher é

interrompida pela simples condição do seu gênero.

Referências

Documentos relacionados

92 SOUZA, Deborah Portilho Marques de. A propriedade intelectual na indústria da moda: formas de proteção e modalidades de infração. Dissertação de Mestrado Profissional em

Dessa forma, objetivou-se com esse trabalho elaborar três formulações de ureia de liberação lenta com diferentes proporções de cera e ureia, avalia-las e caracterizá-las

Se não for possível ajustar a rotação na marcha em vazio, de modo a que o equipamento de corte pare, entre em contacto com o seu revendedor ou oficina autorizada. Não utilize

Ante a problematização construída, o objetivo geral que orienta esta pesquisa é apreender como vêm se configurando as formas de controle, resistência e consentimento docente

Para a estimativa dos diferentes componentes do balanço de energia utilizou-se o algoritmo SEBAL, seguindo uma sequência de etapas, sendo as mais importantes e

A ação penal relativa aos crimes de lesões corporais leves praticadas no contexto previsto na Lei Maria da Penha – Lei nº 11.340/06, ou seja, no ambiente

Insira o filtro corretamen- te ou substitua o sistema de válvulas, veja pág. 12 Pipeta não encaixa.. com firmeza Adaptador de silicone danificado Desrosqueie o suporte adaptador

Na prática, os níveis de dificuldade devem ser ajustados de maneira a não permitir que seja muito provável qualquer nó ter sucesso no sorteio (aumentaria o número de forks), mas