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Palavras-chave: Gênero. Mídia-educação. Turma da Mônica. Introdução

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Academic year: 2021

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GÊNERO E MIDIA-EDUCAÇÃO:

REFLEXÕES A PARTIR DA TURMA DA MONICA1

CRUZ, Dra. Tânia Mara (UNISUL) (orientadora)2 RODRIGUES, gnda Sabrina Filipini (UNISUL) 3

Palavras-chave: Gênero. Mídia-educação. Turma da Mônica. Introdução

Apresentamos uma pesquisa (em fase de análise) com duas turmas de crianças das séries iniciais (3º e 4º anos) de uma escola da rede municipal de Tubarão/SC a partir da assistência crítica de filmes da Turma da Mônica.

Temos como objetivo maior conhecer os processos de recepção das crianças aos gibis traduzidos para o cinema e estimular a formação discente e docente de leitores críticos, interpretantes dos sentidos produzidos em sociedade (CITELLI, 2005; FISCHER, 2011). Dentro dos limites de interesse e disponibilidade das professoras buscamos implementar uma pesquisa-ação (THIOLLENT,1984) por socializarmos decisões e informações em todos os momentos com as professoras participantes, sendo nosso foco as interações ENTRE crianças.

Utilizamos da etnografia para produzir sobre/com as crianças as observações de campo em recreio/sala de aula e microentrevistas durante o processo inicial, a fim de conhecer previamente o modo pelo qual elas vivenciavam as relações de gênero/orientação sexual e raça-etnia na escola. Na sequência do trabalho foram produzidas gravações durante as filmagens e entrevistas posteriores para análise da recepção. A descrição e a interpretação dos dados fundamentam-se nos pressupostos da sociologia da infância, dos estudos de gênero/raça-etnia e dos

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O trabalho aqui apresentado é resultado de uma parceria entre dois projetos Artigos 170 integrados sobre mídia, infância e gênero desenvolvido no Programa de Pós-Graduação em Educação – Mestrado (UNISUL) pelas autoras e em parceria com o Programa de Pós-Graduação em Ciências da linguagem – Mestrado e doutorado contando com a participação da bolsista graduanda Janine Cândido e do prof. Dr. Sandro Braga, do PPGCL.

2 Professora no Mestrado em Educação – email: tania.cruz@unisul.br

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recentes aportes da teoria das mediações múltiplas. Aqui apresentamos apenas uma análise prévia de alguns aspectos, pois a coleta de dados terminou em meados de agosto, e só a partir de setembro e outubro serão articulados como um todo.

Conversas preliminares (primeiros registros)

Os primeiros registros de campo foram compostos por observações e microentrevistas. Ou seja, antes da assistência fílmica produzimos por um mês pequeno registro de observações semanais de aulas e recreio e microentrevistas com duplas de crianças para abordarmos seus conhecimentos prévios sobre a Turma da Mônica. Ao todo foram 39 crianças entrevistadas, sendo destas: 10 meninas do 3º e 12 do 4º ano; 9 meninos do 3º e 8 do 4º ano. Elas têm entre 7 a 11 anos de idade.

Suspeitávamos que as crianças não assistiam aos filmes, pois a Turma da Mônica não parece ser os mais locados pelas crianças, conforme constatamos em locadoras durante o processo de pré-seleção dos filmes, mas com as entrevistas realizadas observamos o contrário, inclusive porque a Turma da Mônica já está nas TVs abertas e internet. Um outro aspecto da entrevista relacionava-se à solicitação de informação dos seus personagens preferidos, sobre o quais produzimos a seguinte a tabela:

Personagem Menina Menino Total

Mônica 13 - 13 Cebolinha 2 13 15 Magali 5 1 6 Cascão - 3 3 Carminha Frufru 1 - 1 Franjinha 1 - 1 Fonte: autoras

O favoritismo cai claramente para as meninas pela Mônica e para os meninos pelo Cebolinha, provavelmente por estes atuarem como protagonistas da maior parte dos filmes. Na justificativa das crianças eles são preferidos, na maioria das vezes, pela “briga” que existe entre os personagens. A Mônica foi escolhida pela

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maioria das meninas também por se acharem parecidas com a ela, por se dizerem gordinhas e dentuças. Os outros citados, como a Magali foi escolhida por comer muito e não engordar sendo que o único menino que a escolheu como sua preferida foi pelo mesmo motivo. Independentemente do sexo, vemos que há um interesse comum entre essas duas crianças pelo corpo, pela estética. Cascão, o segundo a ser escolhido pelos meninos, foi por ser considerado inteligente e não tomar banho. Os personagens Carminha Frufru e Franjinha foram poucos citados, Carminha foi escolhida pela beleza e Franjinha pela inteligência. Os marcadores sociais relativos a gênero, raça-etnia entre outros podem ser encontrados nos elementos de identificação das crianças com os personagens e são de diversas ordens, como já pontuou Souza. (2006)

Sobre o envolvimento das crianças com a Turma da Mônica pudemos observar que todas as meninas disseram gostar da Turma da Mônica, caindo para a metade dos meninos: 10 disseram gostar; 06 disseram gostar mais ou menos; e apenas 01 afirmou não gostar. Por algum motivo a Turma da Mônica parece ter um apelo mais feminino, podendo-se supor que, mesmo havendo um par constituído por Mônica e Cebolinha, o protagonismo de Mônica é mais acentuado que o de Cebolinha. Os motivos dados pelas crianças revelam também uma visão da força da feminilidade da Mônica, pois as meninas disseram gostar por ver a Mônica batendo no Cebolinha com seu coelho, o que mostra suas vontades, por vezes escondidas, de fazerem o mesmo com os meninos de sua convivência, conforme as constantes brigas na hora do recreio.

Como daremos início à construção das categorias de conteúdo para analisarmos a assistência fílmica, selecionamos para reflexão esse resumo expandido um dos recortes a partir do episódio Concurso de Beleza da Turma da Mônica.

Carminha Fru-Fru e a beleza feminina

No debate após a apresentação do episódio Concurso de Beleza - Turma da Mônica um aspecto que gostaríamos de ressaltar foi a idealização das crianças em relação ao ideal de beleza, incluindo nesse ideal a representação de corpo magro,

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principalmente para as meninas, conforme já apontam outras pesquisas sobre o tema.(LISBOA, 2008).

As crianças expressam o discurso politicamente correto, questionam as formas de preconceito, mas no decorrer das conversas podemos registrar inúmeras afirmativas que vão de encontro à essas concepções manifestando anseios de uma determinada beleza tradicional ocidental.

No processo de reflexão aberto às meninas e meninos após a assistência do episódio, as crianças apresentam imagens de si mesmas e questionam as imagens que a mídia apresenta a elas. Perguntam o por quê do considerado bonito ser sempre o mocinho da história e o considerado feio ser sempre o vilão e de as princesas atenderem sempre ao padrão magro e com outros atrativos não comuns entre as meninas mas que são valorizados já que em ambas as turmas não havia meninas loiras nem de olhos azuis. Por outro lado, ao serem questionadas sobre porque consideravam a personagem Carminha Fru-Fru bela e o que a beleza dela tem de diferente em relação à Mônica, a resposta dada é pelo cabelo (louro), olhos (azuis) e corpo (magro). Algumas meninas afirmam gostar do estilo dela, das roupas da personagem, da postura ao andar, sendo isso o que a difere das demais e a torna a mais bonita. A personagem tem os olhos azuis, cabelos louros, corpo magro e no concurso de beleza ela se veste como adulta no estilo de Marilyn Monroe, pelo que essa personagem tinha de sexy (que não era magra, nem de olhos azuis e pintava os cabelos para parecer loura). Durante o processo reflexivo insistiam em dizer que não queriam ser como Carminha Fru-Fru, por essa “ser chata”, “não ser amiga”, “ser esnobe com as outras meninas”, nesse sentido mantendo suas identificações de personagem tanto nas entrevistas quanto nas falas durante o debate ora com a Mônica ora com a Magali.

Podemos verificar que a mídia impõe sobre o que devemos usar e como devemos ser para uma obtermos a beleza tão cobiçada, mas conforme os estudos de recepção nos ajudam a pensar tal recepção é um processo dialético, conflitante que ora tende para um lado, ora para outro, ainda que a análise desse episódio que se refere à beleza feminina possibilite às crianças expressar os padrões hegemônicos ainda são fortes. Segundo PRESSER (2007, p.13):

(...) a televisão influi nos comportamentos, lança moda, enuncia verdades políticas e econômicas, cria necessidades e vende os produtos a elas relacionados; e tudo isso

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em tempo integral, de modo intensivo e sob a hegemonia de poderosos grupos de comunicação.

Trabalhando essa ideia contraditória de identificação e negação de personagem trazemos aqui uma fala de uma menina que ressaltou o romance existente entre os personagens Mônica e Cebolinha na adolescência (mas não presentes no episódio mas de conhecimento da maioria das crianças por meio de gibis) e fez a seguinte reflexão: “o Cebolinha não pode xingar ela, porque assim ela

pode ser gordinha e dentuça, mas quando ela crescer ela pode ficar bonita, ficar magrinha.” Esta menina que já afirmou se identificar com a Mônica por ser

considerada gordinha, explica o futuro da personagem como uma adequação aos valores da beleza magra, que provavelmente ela mesma sente sobre si como pressão. Como afirma WOLF (1992, p.15): “A qualidade chamada „beleza‟ existe de forma objetiva e universal. As mulheres devem querer encarná-la, e os homens devem querer possuir mulheres que a encarnem.”

Mas nossas análises ainda estão começando..

Para se pensar...

Tornar visível e em debate os conteúdos expressos pela mídia hoje apropriados pelas crianças é uma necessidade apontada entre os estudiosos da temática mídia e infância, particularmente no que tange aos aspectos de gênero, raça/etnia e orientação sexual. Como problematizar o distanciamento e resistência que as escolas ainda insistem em manter e permitir novos olhares sobre a necessidade de formação de leitores dos mais variados tipos de textualidades? De que maneira a escola pode proporcionar ao aluno das séries iniciais ferramentas para além da decodificação do texto escrito? Como o processo de ensino-aprendizagem pode fomentar a leitura de textos audiovisuais? E por fim, como a leitura desenvolvida sob a perspectiva de uma atividade de interpretação pode levar o aluno à compreensão da pluralidade de sentidos que um texto pode conter? São questões que nos propomos a pensar nesse processo em que ainda temos muito a percorrer e mais a perguntar do que responder...

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REFERÊNCIAS

CITELLI, Adilson. Comunicação e educação: a linguagem em movimento. São Paulo: SENAC, 2000.

FISCHER, Rosa Maria Bueno. Problematizações sobre o exercício de ver: mídia e pesquisa em educação. Revista Brasileira de Educação. Maio/Jun/Jul/Ago 2002 Nº 20 p.83-94 http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n20/n20a07.pdf acesso em 05 07 2011

LISBOA, Larissa. Barbies brancas. Racismo e sexismo na escola. Falla dos Pinhais. Espírito Santo do Pinhal, SP, v.5, n.5, p.24-34, 2008.

PRESSER, Margaret. A recepção das mensagens televisivas e a construção do sentido: uma experiência. 151f. Dissertação mestrado (Educação). São Paulo, 2007.

SOUZA, Érica. R. de . Marcadores Sociais da diferença e infância: relações de poder no contexto escolar. cadernos pagu (v.26), p. 169-199, jan./jun. 2006.

THIOLLENT, Michel. Notas para o debate sobre pesquisa-ação. In: BRANDÃO, Carlos Rodrigues. (org). Repensando a pesquisa participante. São Paulo: Editora Brasiliense, 1984, p.82-103.

WOLF, Naomi. O mito da beleza: como as imagens de beleza são usadas contra as mulheres. Ed. Rocco. Rio de Janeiro, 1992.

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