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O DESENVOLVIMENTO DE UMA ILHA INTERDISCIPLINAR DE RACIONALIDADE UTILIZANDO A QUÍMICA NA CAVERNA

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O DESENVOLVIMENTO DE UMA ILHA INTERDISCIPLINAR DE

RACIONALIDADE UTILIZANDO A QUÍMICA NA CAVERNA

EL DESARROLLO DE UNA ISLA INTERDISCIPLINARIA DE

RACIONALIDAD UTILIZANDO LA QUÍMICA EN LA CUEVA

THE DEVELOPMENT OF AN INTERDISCIPLINARY ISLAND OF

RATIONALITY USING CHEMISTRY IN THE CAVE

Danilo Gabriel dos Santos* danilo.gabri.santos@gmail.com Leila Inês Follmann Freire * leilafreira@uepg.br Luciana de Boer Pinheiro de Souza * lucianaboer@gmail.com * Universidade Estadual de Ponta Grossa, Ponta Grossa/PR, Brasil

RESUMO: Apresentamos o resultado de uma investigação sobre a prática de ensino de

um estagiário de química que buscou relacionar os conteúdos de química com o contexto social, numa perspectiva de Alfabetização Científica e Tecnológica, por meio de um Ilha Interdisciplinar de Racionalidade sobre a temática da caverna com 30 estudantes do ensino médio de uma escola pública no estado do Paraná.

Palavras chaves: Conhecimento Científico, Ilha Interdisciplinar de Racionalidade,

Estratégia de Ensino, Educação Ambiental

RESUMEN: Presentamos el resultado de una investigación sobre la práctica docente

de un interno de química que buscó relacionar los contenidos de química con el contexto social, en una perspectiva de Alfabetización Científica y Tecnológica, a través de una Isla Interdisciplinaria de Racionalidad sobre el tema de cueva con 30 estudiantes de secundaria de una escuela pública en el estado de Paraná.

Palabras clave: Conocimiento científico, Isla interdisciplinaria de racionalidad,

Estrategia de enseñanza, Educación ambiental.

ABSTRACT: We present the result of an investigation on the teaching practice of a

chemistry intern who sought to relate the chemistry contents with the social context, in a perspective of Scientific and Technological Literacy, through an Interdisciplinary Island of Rationality on the theme of the cave with 30 high school students from a public school in the state of Paraná.

Keywords: Scientific Knowledge, Interdisciplinary Island of Rationality, Teaching

Strategy, Environmental Education.

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| Revista GETS, Sete Lagoas, v.3 n.1: p. 118-133, jan/jun 2020. | 119 A Ilha Interdisciplinar de Racionalidade (IIR) é uma proposta metodológica criada por Gerard Fourez (2005) que busca contribuir com o processo da Alfabetização Cientifica e Tecnológica (ACT).

Fourez (2005) apresenta o desenvolvimento da ACT contemplando três principais aspectos: Econômico e político, Social e Humanista. O autor presenta também três objetivos pedagógicos para a ACT: autonomia, comunicação e domínio do conhecimento. A autonomia é um objetivo relacionado à tomada de decisões, ou seja, com o conhecimento científico e frente a situações de pressões naturais ou sociais, o indivíduo deve possuir autonomia para interpretá-las e tomar decisões apoiadas em seus conhecimentos. A comunicação visa expressar suas ideias, utilizando adequadamente as palavras e elaborando boas argumentações. O domínio do conhecimento se caracteriza pela habilidade do estudante de usar adequadamente os conhecimentos estudados. Para que haja a autonomia na tomada de decisões frente a situações diversas, a comunicação apoiada na argumentação fundamentada, é necessário desenvolver o domínio do conhecimento, de modo a ter segurança e conseguir relacionar os conhecimentos científicos presentes na situação problema.

A Ilha Interdisciplinar de Racionalidade (IIR) destina-se à elaboração de uma representação teórica, apropriada à um contexto e a um projeto específico. O seu desenvolvimento favorece o processo de ensino e aprendizagem, pois prevê a construção de uma modelização para a situação estudada, necessitando de conhecimentos interdisciplinares, proporcionando aos estudantes a capacidade de relacionar conhecimentos científicos de diferentes áreas, desmistificando a ideia de que uma determinada ciência não se relaciona com outra. Possibilita a construção de uma grande conexão de ideias, envolvendo pensamentos prévios dos estudantes, conhecimento científico e saberes da vida cotidiana (FOUREZ, 1997).

Para o desenvolvimento da IIR o autor sugere algumas etapas a serem seguidas para esquematização do trabalho, evitando que ele se torne tão abrangente que não seja possível chegar ao final. As etapas sugeridas não

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| Revista GETS, Sete Lagoas, v.3 n.1: p. 118-133, jan/jun 2020. | 120 precisam ser seguidas rigorosamente, pode-se ir e vir entre elas, sendo agrupadas ou retiradas, quando necessário; elas podem ser desenvolvidas individualmente pelos estudantes ou em grupos. As etapas apresentadas por Fourez são: 1)Realização de um clichê da situação estudada, 2)Panorama espontâneo, 3)Consulta de especialistas e especialidades, 4)Indo a campo, 5)Abertura aprofundada de algumas caixas pretas para buscar princípios disciplinares, 6)Esquema global da situação estudada, 7)Abertura de algumas caixas pretas sem a ajuda de especialistas, 8)Síntese da IIR.

O crescimento acelerado das cidades é uma característica marcante da atual sociedade e uma das consequências é forçar o homem a repensar sua relação com a natureza. Um dos caminhos para a reaproximação com a natureza vem sendo a prática de atividades em espaços naturais, como por exemplo, a visitação em cavernas.

Há poucos trabalhos desenvolvidos com a temática ‘caverna’ no ensino de química com estudantes de ensino médio, sendo essa uma das razões de escolha da temática estudada, assim com a premissa de que podem ser trabalhados vários conceitos químicos e interdisciplinares e que o conhecimento e o estudo desses espaços podem contribuir para a sua preservação, propusemos esta ação didático-pedagógica. A título de exemplo dos trabalhos sobre caverna no ensino de química, apresentamos dois deles a seguir. Machado e Ribeiro (2010), em seu trabalho, “Conhecendo as Cavernas para Desenvolver o Conhecimento Químico”, abordam a temática caverna no estudo de química em forma de minicurso, em seis encontros com estudantes de ensino médio, desenvolvendo aulas diversificadas, dinâmicas e com vídeos, buscando a participação e interesse dos estudantes, realizando um trabalho social-ambiental com conscientização de preservação das cavernas. Correa e Ferreira (2008) em “O Uso do Filme Didático Cavernas: Sob o Olhar da Química com Estudantes de Ensino Médio” apresentam resultados satisfatórios da apresentação de um filme no ensino médio, em que os estudantes percebem a

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| Revista GETS, Sete Lagoas, v.3 n.1: p. 118-133, jan/jun 2020. | 121 pouca familiaridade com a representação de fenômenos em nível submicroscópico, como por exemplo, equilíbrio químico.

Muitos dos impactos negativos da ação humana em cavernas como a deterioração e o desgaste das rochas, dos espeleotemas, do aquecimento geral, das poluições química, térmica, visual, acústica e biológica não devem configurar como justificativa para a não utilização das cavernas como recursos para o turismo ou para fins didáticos. Marra (2001) alerta que esses impactos devem conduzir a uma reflexão e servirem de subsídios para a valorização e proteção do rico e extraordinário patrimônio espeleológico. Esses impactos podem ser evitados ou minimizados por meio do planejamento e do estabelecimento de indicadores de qualidade do ambiente das cavernas.

Este trabalho se caracteriza como de abordagem qualitativa, de caráter exploratório, cujo objetivo é analisar os resultados da sequência de aulas desenvolvidas na IIR com a temática Química na Caverna enfatizando o processo de desenvolvimento da autonomia, comunicação e domínio do conhecimento dos estudantes.

METODOLOGIA E DESENVOLVIMENTO DAS ATIVIDADES DIDÁTICO-PEDAGÓGICAS

A proposta da IIR foi realizada com 30 estudantes de uma turma de 1º ano de ensino médio em uma escola pública da cidade de Ponta Grossa, Paraná. O projeto foi desenvolvido em 22 aulas, totalizando o terceiro bimestre do ano letivo de 2016.

Inicialmente identificou-se as concepções iniciais dos estudantes sobre a temática Caverna com o apoio de um questionário online; depois foram desenvolvidas as atividades da IIR; e por fim, feitas as análises do processo a partir de materiais dos estudantes, que serão detalhados na sequência.

O desenvolvimento da IIR contou com todas as etapas propostas por Fourez (2005). Em cada etapa foi avaliada continuamente a comunicação científica, autonomia e o domínio do conhecimento dos estudantes, através de

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| Revista GETS, Sete Lagoas, v.3 n.1: p. 118-133, jan/jun 2020. | 122 atividades diferenciadas, como experimentação, pesquisas exploratórias e entrevistas, realizadas tanto em grupo quanto individuais.

A questão inicial da IIR foi elaborada a partir de uma conversa em sala de aula com os estudantes, sendo redigida do seguinte modo: “O que há de química em uma caverna?”. A partir dela os estudantes sugeriram perguntas que consideraram necessárias para suscitar e explicar na íntegra a questão problema.

Em seguida, buscando responder a estas questões, foram desenvolvidas atividades como saídas a campo, entrevistas e busca por especialistas. Essas propostas são etapas da IIR que levam os estudantes a buscar o conhecimento, tornando o processo de ensino e aprendizagem mais ativo, ou seja, por meio da pesquisa os estudantes moldam seus argumentos baseados no conhecimento científico, sem desconsiderar outras formas de conhecimento, buscando responder a situação problema.

Todas as atividades desenvolvidas pelos estudantes foram registradas e anexadas a um portfólio de cada grupo para acompanhamento e avaliação do desenvolvimento da comunicação, autonomia e do domínio de conhecimento dos estudantes. Este portfólio de cada grupo é um dos instrumentos de coleta dos dados para análise.

Na sequência de aulas foram abordados os conceitos químicos de tabela periódica, ligação química e ácidos e bases, com o intuito de auxiliar os estudantes na busca de respostas para as perguntas propostas. Sempre que possível as aulas foram articuladas à temática Caverna, envolvendo aspectos observados pelos estudantes na saída a campo (visita a uma caverna). Em diários de bordo individuais (que também se constituíram como instrumentos de coleta de dados) os estudantes registravam as discussões e entendimentos relacionados à temática caverna que iam tendo contato durante a sequência de aulas.

Os estudantes apresentaram a seus colegas os argumentos encontrados para solucionar as questões que lhes foram dadas, na forma de rodas de

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| Revista GETS, Sete Lagoas, v.3 n.1: p. 118-133, jan/jun 2020. | 123 conversas, as quais serviram, dentro da proposta metodológica da IIR, para a socialização e compartilhamento de conhecimentos, proporcionando espaço para desenvolver a argumentação, demonstrando o domínio do conhecimento. A cada roda de conversa, como produto, surgiam registros em forma de redação que foram anexados ao portfólio do grupo.

Por fim, como uma síntese final da IIR foi desenvolvido por cada grupo um material, definido por eles, como resposta à situação problema inicial.

Para análise de dados foram utilizados os produtos gerados através das atividades da IIR (registrados em diários individuais e portfólios dos grupos), do produto final gerado por todos, dos questionários respondidos inicialmente pelos discentes e a partir da avaliação escrita bimestral. Foram utilizadas técnicas da análise de conteúdo (BARDIN, 2009) para analisar os materiais coletados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir das respostas ao questionário inicial, das diversas atividades em sala de aula conseguiu-se pontuar alguns aspectos importantes em relação à autonomia e ao domínio de alguns conhecimentos dos estudantes.

O questionário nos permitiu conhecer a abrangência do conhecimento cientifico, do senso comum e o conceito geral dos estudantes sobre a química dentro de uma Caverna, juntamente com a habilidade de reflexão, que permite estabelecer uma correlação entre o saber científico e o cotidiano.

Num primeiro questionamento (Você já foi alguma vez a uma caverna?), obtivemos como resposta principal que “Não” (78,6%). O restante já conhece uma caverna.

A maioria dos estudantes nunca esteve em contato com uma caverna, criando um cenário que supõe que às questões seguintes são baseadas em um conhecimento adquirido de formas alternativas, que não a visita à uma caverna. Quando arguidos sobre a formação de uma caverna, as respostas dos questionários não apresentam grande diversificação, limitando-se a respostas

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| Revista GETS, Sete Lagoas, v.3 n.1: p. 118-133, jan/jun 2020. | 124 com palavras únicas como rochas e pedras; apenas um dos estudantes elaborou uma resposta que apresentava o processo de formação da caverna.

Quando questionados em relação ao que pode ser encontrado dentro de uma caverna, os estudantes apresentaram respostas diversas, como rochas, animais, minerais diversos, citando nomes de rochas presentes na região.

Por meio de duas perguntas buscou-se identificar a visão dos estudantes em relação às ações humanas e atividades em torno da caverna que pudessem afetá-la. Foi indagado aos estudantes como imaginavam ser o entorno de uma caverna, e se de alguma forma esse ambiente exterior afetava seu interior. Dentre as diversas ideias, as respostas se resumiam em vegetação diferenciada e água, ou seja, um ambiente natural, e para 70% das respostas o exterior da caverna não afetava o interior da mesma.

Envolvendo uma problemática ambiental, a temática caverna remete a uma situação de preocupação com o meio onde a mesma está situada, pois os fatores externos influenciam a vida dentro da mesma. Donato, Ribeiro e Souto (2012, p.67) afirmam que “(...) é necessário o estudo sobre as relações e sentidos existentes entre a população humana que habita próximo ou apenas frequenta as cavernas para compilar mais informações relevantes para conservação e restauração desses ecossistemas (...)” ressaltando esta influência externa dentro de uma caverna, agregando um impacto social.

Essas respostas iniciais indicam o conhecimento científico limitado que os estudantes tinham sobre cavernas e as questões ambientais de seu entorno antes de iniciar a IIR.

Também foi questionado aos estudantes a possibilidade de estudo de conteúdos químicos a partir da caverna e as respostas basearam-se na composição de rochas e minerais, líquidos inflamáveis, formação de vulcões e até uma menção de rochas específicas como estalactites e estalagmites que fazem partem da formação de cavernas da região. Mesmo com a limitação de conhecimentos sobre conhecimentos químicos que poderiam ser estudados a partir da caverna, quando arguidos sobre a possibilidade de trabalhar química

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| Revista GETS, Sete Lagoas, v.3 n.1: p. 118-133, jan/jun 2020. | 125 relacionando com o tema, 75% das respostas foram “sim” e 25% respostas “talvez”.

Outra questão abordada foi se era possível estudar a temática caverna em outras disciplinas. Em unanimidade os estudantes responderam que sim, e citaram disciplinas como a história, artes, biologia, geografia, sociologia, física e português.

A partir da metodologia de IIR de Gerard Fourez e dos conhecimentos iniciais dos estudantes, apresentados acima, foram organizadas as atividades da sequência de aulas conforme o Quadro 1, o qual contém os temas abordados e discutidos em sala de aula, que foram definidos em conjunto por estudantes e professores durante as aulas.

Quadro 1: Apresentação geral das atividades da IIR. ETAPA da IIR desenvolvida Atividades principais

1ª Etapa – Elaboração de uma situação clichê: O que há de química em

uma caverna?

A partir da temática, confirmada pelas respostas ao questionário inicial, foram projetadas as etapas da IIR a serem desenvolvidas na quantidade de aulas disponíveis (22 aulas) a fim de que se pudesse desenvolver com os estudantes o assunto e averiguar o desenvolvimento da autonomia, comunicação e domínio de conhecimento deles.

2ª Etapa – Panorama Espontâneo

Etapa desenvolvida com os estudantes que sugeriram diversas perguntas ligadas ao tema, as quais, após a tempestade de ideias realizada em sala, foram divididas com os estudantes em 4 principais eixos: Água, Meio ambiente, Rochas e Tabela Periódica.

3ª Etapa – Saída a campo / Consulta aos especialistas e

especialidades

Visita à caverna Olho D’Água com o intuito de explorar em campo o tema. Nesta saída participaram dois professores/pesquisadores (das áreas de geografia e química) da Universidade Estadual de Ponta Grossa, além dos estagiários de química. Os professores e estagiários puderam auxiliar com informações relativas à história da caverna, sua formação e composição.

4ª Etapa – Abertura aprofundada das caixas

pretas

Estudo de conteúdos específicos da química em sala de aula. Foram desenvolvidos nesta etapa da IIR conteúdos programados e direcionados à temática escolhida, os conteúdos trabalhados foram: tabela periódica, ligações químicas, ácidos, bases, sais e óxidos.

5ª Etapa – Abertura de algumas caixas pretas sem

ajuda dos especialistas

Nesta etapa, foi proposto aos alunos que buscassem respostas para as questões apresentadas na etapa 2 da IIR e que ainda não haviam sido respondidas pelos especialistas, pela ida à campo e pelo estudo de conhecimentos químicos em sala de aula. As respostas à estas perguntas poderiam ser pesquisadas por eles mesmos, com base no conhecimento que adquiriram durante as etapas da IIR e também através de pesquisas em outras fontes bibliográficas.

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6ª Etapa – Esquema global da situação estudada / Síntese da IIR produzida

Foi solicitado que os alunos expusessem suas aprendizagens no período em um material final. Esse esquema geral foi apresentado em sala de aula pelos grupos, no portfólio de cada grupo e, posteriormente, no produto final que cada grupo produziu.

Na sequência do texto apresentamos os resultados de cada etapa com as respectivas análises.

Elaboração da situação clichê: "O que há de química em uma caverna?" Para a apresentação da situação-problema utilizou-se um texto fictício, elaborado pelos estagiários, que relatava o interesse de um determinado jornal em desenvolver uma coluna que abordaria o seguinte tema: “O que há de química em uma caverna?”, e pedia aos estudantes desta turma para ajudarem a produzir essa coluna.

Panorama espontâneo

Após a leitura do texto da situação clichê, sob orientação, os estudantes elaboraram 20 questões por meio de uma tempestade de ideias (brainstorming), que foram anotadas na lousa, para serem discutidas e classificadas posteriormente. Essa etapa da IlR é de suma importância, pois direciona os estudos e ajuda o professor a fazer o levantamento do conhecimento prévio dos estudantes.

As perguntas propostas foram selecionadas conforme suas características e divididas em quatro eixos com concepções semelhantes, são eles: Água, Meio Ambiente, Rochas e Tabela Periódica. Após a realização do refinamento das questões, os estudantes foram divididos em grupos conforme os eixos para organização dos próximos passos da IIR.

As perguntas de cada eixo que guiaram as atividades da IIR foram: 1) Água: Tem líquido inflamável dentro da caverna? Qual a influência do pH dentro da caverna? Qual é a composição da água da caverna? A chuva influencia na formação da caverna? Qual o pH da chuva? Como é formada a caverna em si?; 2) Meio Ambiente: Possui vida dentro da caverna? Esta vida tem a ver com química? Existe luz dentro da caverna? A natureza em volta da caverna

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| Revista GETS, Sete Lagoas, v.3 n.1: p. 118-133, jan/jun 2020. | 127 influencia na formação da mesma? Tem vegetação dentro da caverna? O que tem ao redor da caverna?; 3) Rochas: Quais os tipos de rocha que tem dentro da caverna? O que define as cores das rochas? Formação das rochas tem química? Tem pedras preciosas dentro da caverna? Qual a sustentação das rochas? e; 4) Tabela Periódica: Tem algum tipo de misturas dentro da caverna? Quais elementos químicos estão dentro da caverna? Como eram feitas as pinturas dentro de uma caverna? Quais tipos de morcego existem dentro da caverna e do que são compostas as fezes de um morcego? Os elementos químicos encontrados na caverna possuem propriedades iguais?

Esta etapa da IIR nos fornece várias informações acerca do conhecimento dos estudantes sobre o tema, assim como a capacidade de argumentação inicial que possuem, uma vez que as primeiras perguntas apresentadas por eles precisaram ser reorganizadas e reescritas, seguidas do reagrupamento por temática, o que auxilia na comunicação científica, já que os estudantes precisam argumentar o porquê cada pergunta permanece em cada grupo e quais daquelas perguntas são realmente relevantes para o desenvolvimento da IIR.

Saída à campo / Consulta a especialistas e especialidades

Optou-se pela realização da saída a campo como uma das primeiras atividades com os estudantes, através de uma visitação à caverna Olho d’água localizada no distrito do Apabã em Castro-PR, cidade vizinha à Ponta Grossa.

Durante a saída, no interior assim como nos arredores da caverna, os estudantes observaram aspectos que foram citados em sala de aula, como de onde origina-se a água que há no interior, se havia alguma forma de poluição dentro da caverna e, até mesmo, se havia civilização que residia no entorno. Os especialistas que acompanharam a saída a campo (um geógrafo especialista na temática caverna e uma pesquisadora em ensino de química) compartilharam informações sobre o histórico da caverna, composição, influências externas e tipos de vida e vegetação.

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| Revista GETS, Sete Lagoas, v.3 n.1: p. 118-133, jan/jun 2020. | 128 Durante toda a saída à campo, houveram várias perguntas de ordem prática, feitas pelos estudantes. Ao fim, foi solicitado um relato sobre a visita e uma espécie de resenha das informações obtidas durante a visita de quaisquer que fossem as fontes (perguntas aos especialistas ou observações pertinentes). A análise dos documentos produzidos nesta etapa (que constam no portfólio dos grupos) nos mostra a busca dos estudantes por informações pertinentes a temática, com os especialistas ou por observação. Dentre os aspectos mais perceptíveis ressaltamos a apropriação de alguns elementos da linguagem da ciência, por meio do uso dos nomes científicos: a substituição da palavra pedra pela palavra rocha, de grudado por sedimentado. Dentre as questões centrais de cada grupo, nesta saída a campo os estudantes puderam aprender sobre a existência de vida dentro da caverna, como morcegos e aranhas, e a existência de mais de uma espécie de morcego e as características dos mesmos.

Abertura aprofundada de caixas pretas

Essa fase é fundamental na construção da IIR, pois propicia o estudo aprofundado de algumas caixas pretas (conhecimentos) e acontece em vários momentos da ilha, propiciando a reorganização e a construção do conhecimento.

As aulas desse período foram organizadas de forma a auxiliar os estudantes na busca de respostas. Foram estudados os conteúdos químicos: Tabela Periódica, Ligações Químicas, Ácidos, Bases, Sais e Óxidos.

Os conteúdos abordados na temática caverna incluem tanto uma perspectiva cultural, de conhecimento da região e seus pontos turísticos, como uma questão social, que foi abordada aos poucos quando perguntas como “A natureza em volta da caverna influencia na formação da mesma?”, ou “O que tem ao redor da caverna?” foram sendo discutidas e respondidas. Estas questões são típicas daquelas que para serem respondidas necessitam análises conjunturais, busca de conhecimentos de outras áreas em uma perspectiva interdisciplinar.

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| Revista GETS, Sete Lagoas, v.3 n.1: p. 118-133, jan/jun 2020. | 129 Durante o desenvolvimento do conteúdo ligações químicas notou-se que os estudantes direcionavam o estudo dos conteúdos em busca de respostas às questões iniciais, sejam elas em livros, mídia em geral ou remetendo à consulta aos especialistas. No conteúdo de ligações químicas, o tema rochas foi bastante trabalhado, pois envolveu explicações para a formação e coloração de rochas, entre outros aspectos observados na caverna e a “saída a campo” proporcionou a vivência dos estudantes num espaço em que esse assunto podia ser percebido na prática, cumprindo também um papel motivacional ao despertar o espírito investigativo dos mesmos.

Observou-se que as anotações eram frequentes durante as aulas e até mesmo em conversas informais, evidenciando um despertar dos estudantes para a autonomia na busca pelo conhecimento.

A abordagem dos conteúdos de sais, óxidos, ácidos e bases proporcionou aos grupos do meio ambiente e da água a abertura aprofundada de algumas caixas pretas. Na realização da visita à caverna sob orientação do especialista em cavernas, foram coletados alguns materiais, como a água e pequenos exemplares de rochas, e observou-se que a caverna estava entulhada, pois a correnteza do rio estava levando resíduos de uma comunidade próxima para dentro da caverna. Com a coleta do material da caverna, realizou-se a discussão sobre a decomposição de resíduos e como pode afetar o meio ambiente, foi medido o pH da água da caverna e da água potável, comparando as duas fontes de água e estabeleceram-se relações entre o que é ácido e básico no cotidiano. A preservação da caverna foi um aspecto bastante discutido durante a abertura de caixas pretas de todos os eixos, por ser uma riqueza natural que leva um longo tempo para formação e que precisa ser preservada.

O grupo da tabela periódica realizou a abertura das caixas pretas de modo bastante autônomo; tão logo receberam as perguntas, estudaram toda a parte técnica-organizacional da tabela periódica. Assim, o trabalho deles foi ajustar os pensamentos e acrescentar conhecimentos durante a abertura de outras caixas pretas articulando suas pesquisas, para responder a situação clichê.

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| Revista GETS, Sete Lagoas, v.3 n.1: p. 118-133, jan/jun 2020. | 130 Abertura de algumas caixas pretas sem a ajuda de especialistas

A proposta nessa etapa é que o grupo mostre sua autonomia em estabelecer relações entre o conteúdo estudado, perguntas propostas nos momentos iniciais, as pesquisas realizadas em campo e em qualquer outro material.

O surgimento de dúvidas e a constante necessidade de busca por respostas demonstrou-se evidente todo momento que essa etapa era realizada durante a ilha e na análise dos registros dos estudantes.

Uma série de questões foram investigadas pelos próprios estudantes a partir das discussões em sala de aula e das articulações de conhecimentos com outras áreas de conhecimento.

Esquema global da situação estudada / Síntese da IIR produzida

Para a realização do esquema global utilizou-se um encontro, no qual os estudantes analisaram as questões inicialmente propostas com objetivo de mapear a abrangência do trabalho e a resolução ou conclusão do projeto inicial. Aqui, foram bastante utilizados os portfólios como apoio para a construção do esquema global da situação estudada.

Nesta etapa conseguiu-se perceber que os estudantes promoveram uma autoavaliação, no modo em que realizaram as buscas, percebendo quando havia a falta de respostas para a produção de material, o que poderia ter funcionado com mais eficiência em determinadas ocasiões, mostrando o amadurecimento em tomada de decisões.

Os grupos dispunham de autonomia para elaborar a síntese da IIR produzida, sabiam apenas que seus materiais deveriam ajudar na produção de uma coluna de jornal. Os mesmos produziram quatro materiais diferentes, cruzadinha envolvendo o tema rochas, dois documentários, um envolvendo o tema meio ambiente e outro a temática tabela e uma charge produzida pelo grupo água.

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| Revista GETS, Sete Lagoas, v.3 n.1: p. 118-133, jan/jun 2020. | 131 A partir da análise dos materiais produzidos e do texto produzido no esquema global da situação estudada, foi possível verificar que os estudantes buscaram se apropriar dos conhecimentos construídos durante a IIR, observando uma crescente autonomia na tomada de decisões, uma vez que os conteúdos dos materiais desenvolvidos pelos grupos basearam-se nas discussões realizadas em sala de aula, indicando uma tomada de consciência de todo o contexto cognitivo em relação à situação problema.

Quando comparados o conteúdo dos portfólios e a discussão proposta em sala de aula a partir da apresentação dos estudantes, com o questionário aplicado inicialmente, verificou-se uma ampliação de ideias e conhecimentos, uma abrangência na comunicação em termos sociais, econômicos, biológicos, históricos e geográficos, estabelecendo a relação entre a química não só com a caverna, mas com o cotidiano.

Em outros momentos notou-se a evolução dos estudantes comparadas as respostas iniciais do questionário, como por exemplo, a relação entre a formação na caverna e a química apontada por um dos estudantes: “... a caverna praticamente se origina da química, desde as estalagmites à água da chuva ácida que vai, as cavernas geralmente são alcalinas ou seja, vem do calcário, a chuva ácida derrete este calcário e vai surgindo formas e assim a caverna...”.

Essa liberdade para se expressar, pode proporcionar aos estudantes uma sensação de segurança ao apresentar seu domínio do conhecimento, tornando a comunicação científica simples, fazendo com que os demais entendam e tornem-se críticos frente a argumentos e a exposição de fatos e ideias.

A autonomia do aluno nessa etapa é uma evidência, pois os resultados dependem somente dele, o domínio do conhecimento fica claro na articulação de ideias para a comunicação científica, observada na análise geral das atividades, mas especialmente no esquema geral da situação estudada e na síntese da IIR.

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| Revista GETS, Sete Lagoas, v.3 n.1: p. 118-133, jan/jun 2020. | 132 Observou-se que a situação clichê, a saída a campo, a consulta a especialistas diferenciados e não somente o professor de dentro da sala aula, estimula os estudantes na busca de conhecimento, atuando constantemente como propulsor motivacional na busca por conhecimento. A abertura das caixas pretas dependentes do conhecimento adquirido pelos estudantes, estimula a autonomia e o domínio de conhecimento.

Conclui-se que garantir autonomia ao processo de comunicação científica, depende mais do professor do que se imagina, pois é ele quem media e propõem atividades que estimulam este processo .

Trabalhar com uma avaliação de caráter investigativo e diagnóstico é necessária em um processo de alfabetização científica, para agregar significância ao processo de ensino e aprendizagem e tornar os estudantes cada vez mais críticos e preparados para atuação social, posicionando-se e debatendo a respeito de assuntos que envolvem a ciência e a tecnologia. Para isso precisa-se cada vez mais de práticas educacionais diversificadas, elaboradas para envolver os estudantes na construção do conhecimento e que contemplem esse caráter interdisciplinar.

REFERÊNCIAS

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Recebido em: 15/05/2020 Aceito em: 15/6/2020

Endereço para correspondência: Nome: Danilo Gabriel dos Santos

Email: danilo.gabri.santos@gmail.com Esta obra está licenciada sob umaLicença Creative

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