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Apresentado à: Sasol Petroleum Temane, Moçambique Sasol Exploration & Petroleum International Londres. Relatório Número:

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Academic year: 2021

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PROJECTO DE DESENVOLVIMENTO NO ÂMBITO

DO APP E PROJECTO DE GPL DA SASOL,

PROVÍNCIA DE INHAMBANE, MOÇAMBIQUE

Avaliação da Biodiversidade do

Habitat Crítico do Riacho

Costeiro Nhangonzo

MANGAIS

Apresentado à:

Sasol Petroleum Temane, Moçambique Sasol Exploration & Petroleum International Londres

ELABORADO POR:

EOH Coastal and Environmental Services Autores: Srª A Zide e Drª A Rajkaran

Relatório Número: 1521646-13543-17

(2)
(3)

RESUMO NÃO TÉCNICO

Introdução

Os mangais são definidos como um complexo de comunidades vegetais que bordejam praias abrigadas ou como um grupo ecológico de espécies halofíticas. As florestas de mangal são reconhecidas

internacionalmente como ecossistemas cruciais, fornecendo importantes serviços e produtos de

ecossistema. Por exemplo, a biodiversidade suportada por florestas de mangal e o sequestro de carbono e de acumulação de biomassa rivalizam com as florestas tropicais terrestres. Em termos globais, as florestas de mangal cobrem 10-24 milhões de hectares, e em Moçambique 318 851 ha, sendo as perdas de mangais

estimadas em 15,9 km2 • ano-1. Como tal todas as florestas de mangal são ecossistemas importantes que

precisam ser conservados e os desenvolvimentos em torno dessas áreas devem ser cuidadosamente planeados e executados.

Objectivos e Termos de Referência

De Castro e Grobler (2014) argumentaram que os mangais avaliados neste estudo ocorrem numa área que pode ser descrita como Habitat Crítico, de acordo com as orientações definidas pela IFC. O objectivo do presente estudo foi determinar a situação de referência actual da floresta de mangal que ocorre dentro desta área. Os Termos de Referência para o presente estudo foram os seguintes:

ƒ

Realizarum estudo amostral dohabitatdos mangaisencontrados dentro daáreaidentificada como

HabitatCríticonoestudo ecológico de CastroeGrobler(2014).

ƒ

Identificarespécies de mangale determinar o seu estado de conservação, com referência à lista

Vermelha de dadosda IUCNe de Moçambique.

ƒ

Investigar aqualidade dos sedimentosdohabitatde mangal

ƒ

Identificar e descrevero significado dainfluênciaactual daactividade humana sobre ohabitatde

mangal.

Pressupostos e Limitações

Este relatório é baseado em informações actuais e disponíveis e, como resultado, as seguintes limitações e premissas estão implícitas:

1) O relatório é umaavaliação de referência dohabitatde mangale não consideraos impactos

associados comdesenvolvimentos futurosque poderão/estão a ser propostosna área.

2) As descrições doambientenatural e socialsão baseadasem trabalho de campolimitadoe na literatura

disponível.

3) Apenas um evento de amostragemfoi realizado, assim, a informação que foiobtidadeve ser

interpretadacomcautela, poisnão existem dadosa longo prazo paraa área.

Resultados

A área de estudo apresenta uma alta diversidade de espécies de mangal, sendo encontradas sete das dez espécies conhecidas em Moçambique, nomeadamente Sonneratia alba, Ceriops tagal, Lumnitzera

racemosa, Avicennia marina, Xylocarpus granatum, Rhizophora mucronata, Bruguiera gymnorrhiza. Alguns indivíduos que se pensava serem Pemphis acidula foram mais tarde identificados como S.alba. De acordo com as Listas Vermelhas da IUCN e Moçambique (2002), a maioria dessas espécies são "de menor

preocupação", e uma espécie não está listada. Em Moçambique, não existe legislação que proteja espécies vegetais de preocupação especial. No entanto, observa-se que na África do Sul, Bruguiera gymnorrhiza, Ceriops tagal e Lumnitzera racemosa são protegidas por legislação aplicada pelo Departamento de Agricultura, Silvicultura e Pescas.

(4)

éuma indicação de queo sistema está aregenerar. Os resultados indicam queC.tagal, A.marina,

R.mucronata, S.albaeB.gymnorrhizamostram uma tendênciade regeneração, enquantoX.granatume L.racemosanãoo apresentam,uma vez que a maioria dasárvores medidaseram adultos. Estaéuma

indicação de queestasduas espéciesjá podem estar a ser colocadas sob perturbação enãoestão a

produzirpropágulose plântulas.

A composição do sedimento e do seu tamanho de partícula tem uma influência sobre o potencial redox, pH e teor de matéria orgânica e de humidade. Estes desempenham um papel nas taxas de crescimento das espécies de mangal, a dinâmica populacional, e se há ou não uma troca de materiais orgânicos com ambientes vizinhos. Sedimentos em um sistema de mangal são derivados da erosão costeira ou da erosão da margem dos rios, e do solo erodido da bacia hidrográfica, que é transportado pelos rios. Materiais e partículas coloidais e matéria orgânica degradada são outra fonte de sedimentos. Os resultados indicaram que há pouco sedimentos e argila no sistema com a maioria das amostras de sedimento (70%) sendo areia média (250 um (g). O tamanho das partículas do sedimento dá uma indicação da quantidade de humidade que a área retém, os nutrientes disponíveis e matéria orgânica, o que influencia os níveis de anoxia (potencial redox) dentro do sedimento A quantidade de água retida é maior em sedimentos e argilas, decrescendo em sedimentos dominados por areia muito grossa. Esta floresta de mangal ocorre dentro de um sistema dominado por areias o que significa que não pode reter tantos nutrientes quanto outros sistemas com uma menor granulometria, tornando-a mais vulnerável à mudança.

A condutividade da água capilar variou entre 34 e 72 mS e a salinidade variou de 19-44 (ppt). As variações na condutividade acompanharam de perto o observado para a salinidade. A salinidade é uma medida da concentração de sais na água capilar, enquanto a condutividade indica as concentrações de iões na água. A salinidade pode variar diariamente e sazonalmente, uma vez que é influenciada por uma série de

factores, como a inundação de maré, tipo de solo, topografia, quantidade e sazonalidade de chuvas e água doce disponível (água doce pode ser fornecida por rios afluentes), escorrência de áreas adjacentes e evaporação. A salinidade da água capilar é um dos factores mais importantes que limitam o crescimento de árvores de mangal individuais e de florestas de mangal, com salinidade elevada (> 35 ppt), resultando na redução das taxas de crescimento, altura e produtividade das árvores. Estes, por sua vez influenciam a distribuição espacial das espécies dentro da floresta de mangal, com espécies tolerantes ao sal ocorrendo em áreas de alta salinidade, como na foz de estuários e pântanos salinos e espécies intolerantes ao sal que ocorrem mais a montante. Por exemplo, A. marina, uma espécie tolerante ao sal dentro deste sistema, foi encontrada dentro da área mais seca do pântano salino a sul da foz do curso de água costeiro enquanto a R.mucronata cresceu perto do canal sugerindo que exigiu uma inundação de água doce da corrente costeira.

Conclusão

Os mangais fornecem uma importante contribuição para a ecologia e economia dos ecossistemas costeiros, mas a sua destruição e degradação estão a ocorrer a um ritmo alarmante. As florestas de mangal estão a reduzir em todo o mundo como resultado de actividades antrópicas, tais como a sobre utilização dos recursos de mangal, poluição, assoreamento induzido pelo homem, a urbanização de áreas e a conversão de áreas para pesca e viveiros de camarão. Os mangais também têm vindo a diminuir devido à perturbação natural. A perda de mangais tem uma série de implicações, ligada aos diferentes tipos de serviços dos ecossistemas. Isso pode incluir a redução da qualidade da água, redução da biodiversidade, a perda de habitats de viveiro para peixes e crustáceos, os impactos negativos sobre os habitats costeiros adjacentes e a remoção de serviços e produtos que os seres humanos obtêm. Os habitats costeiros que normalmente são afectados incluem recifes de coral e tapetes de ervas marinhas uma vez que estes podem ser expostos a metais e compostos orgânicos que foram presos nos sedimentos de mangais. Pescarias costeiras

também sofrem, uma vez que esses mangais fornecem viveiros vitalmente importantes para uma ampla variedade de peixes e crustáceos estuarinos e marinhos.

A floresta de mangal encontrada dentro do curso de água costeiro de Nhangonzo tem uma alta diversidade de espécies (7, possivelmente oito espécies) e é o único mangal de tamanho significativo encontrado ao longo de um trecho de 90 km de litoral entre baía de Ponta Chiuzine a sul de Vilanculos e o Rio Govuro, ao norte. Este estudo detectou que as árvores são mais curtas do que a média, o que pode ser devido a uma falta de nutrientes dado que o sistema é alimentado principalmente por águas subterrâneas (sem nutrientes

(5)

de escorrência) e ocorre sobre um substrato de areia (não retém nutrientes tão eficazmente quanto sedimentos e argila). No entanto, o mangal parece estar em condição quase intocada, apesar de em algumas das áreas estar a ser alvo de corte pelas comunidades locais. Com base na elevada diversidade de espécies e ocorrência restrita este sistema pode ser descrito como altamente sensível.

Duas espécies, L. racemosa e X. granatum, são possivelmente perturbadas dado que a taxa de

recrutamento destas duas espécies foi muito baixa. É difícil determinar o motivo exacto para tal com base no trabalho de campo limitado, mas suspeita-se que a L. racemosa possa ser afectada pela alta salinidade nesta floresta de mangal. Esta espécie normalmente ocorre em solo arenoso misturado com barro,

relativamente húmido, bem drenado, em áreas que estão abaixo de 25 ppt. A salinidade nos locais 3 e 4, onde a L. racemosa foi registrada, foi de 30 ppt sugerindo que os níveis de salinidade estão a impedir o recrutamento desta espécie. A baixa taxa de recrutamento para X. granatum pode ser atribuída aos altos níveis de luz dentro da floresta de mangal embora isso precise de ser investigado e os níveis de irradiação que entram na floresta medidos. Estudos têm demonstrado que a densidade de plântulas e mudas dessa espécie é maior em áreas de sombra que têm uma cobertura de copa fechada em comparação com áreas com uma cobertura de copa aberta.

Com base nos resultados deste estudo, este sistema de mangal atende aos seguintes critérios da IFC:

ƒ

Ecossistema único e/ou altamente ameaçado;

ƒ

Áreas de floresta primária/crescimento-antigo/intacta e/ou outras áreas com níveis particularmente altos de diversidade de espécies; e

ƒ

Paisagem e processos ecológicos (por exemplo, bacias de captação, áreas críticas para o controle da erosão, regimes de perturbação (por exemplo, incêndio, inundação)) necessários para a manutenção de habitats críticos.

Esta classificação pode ser suportada pelo seguinte raciocínio:

ƒ

Os mangais do Habitat Crítico desempenham um papel ecológico importante, oferecendo uma série de serviços ambientais importantes, tais como sequestro de carbono e proporcionando um viveiro e área de reprodução abrigada para os peixes, incluindo um grande número de espécies de peixes marinhos;

ƒ

Setenta por cento (7 em 10 espécies) de espécies de mangal prováveis de ocorrer em Moçambique ocorrem dentro deste estuário, indicando um alto nível de diversidade;

ƒ

A alta diversidade indica que, apesar das evidências de colheita, este é um sistema em pleno funcionamento, e quase intocado. Dada a rápida perda global dos mangais (que evidencia a sua vulnerabilidade a alterações), e do estado crítico de mangais na ecorregião da África Oriental, a conservação deste sistema é extremamente importante.

(6)
(7)

ÌNDICE

RESUMO NÃO TÉCNICO ... I

1.0 DESCRIÇÃO DO PROJECTO E OBJECTIVOS DO ESTUDO ... 1

1.1 Termos de Referência (TdR) ... 1

1.2 Qualificações da Equipa ... 2

2.0 DIRECTRIZES DA CORPORAÇÃO FINANCEIRA INTERNACIONAL (IFC) ... 2

2.1 Padrões de Desempenho da IFC para Sustentabilidade Ambiental e Social (2012) ... 2

2.2 Padrão de Desempenho 6 da IFC ... 3

3.0 LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ... 4

4.0 A IMPORTÂNCIA DOS ESTUÁRIOS NUM CONTEXTO REGIONAL E GLOBAL ... 5

4.1 Tapetes de Ervas Marinhas ... 5

4.2 Mangais ... 6

4.2.1 Estado de Conservação ... 6

4.2.2 Distribuição dos Mangais ... 8

4.2.3 Serviços de Ecossistema proporcionados pelos Mangais ... 10

4.2.4 Créditos de Carbono ... 11

4.2.5 Mudanças Climáticas ... 11

5.0 AVALIAÇÃO DE CAMPO DOS MANGAIS NA ÁREA DE HABITAT CRÍTICO ... 12

5.1 Locais Amostrados ... 12

5.1.1 Diversidade e Estado de Conservação ... 12

5.1.2 Descrição Detalhada ... 13 5.1.3 Espécies de Mangal ... 16 5.1.4 Estrutura da População ... 21 6.0 CONCLUSÃO ... 29 7.0 REFERÊNCIAS ... 31 LISTA DE FIGURAS Figura 3-1: Mapa da área de estudo, situada na Província de Inhambane em Moçambique. O mapa ilustra igualmente as áreas protegidas em Moçambique ou perto da área de estudo ... 5

Figura 4-1: Distribuição de mangais, recifes de corais e leitos de ervas marinhas em Moçambique ... 7

Figura 4-2: Distribuição de mangais, recifes costeiros e tapetes de ervas marinhas dentro e em redor da área de estudo ... 9

(8)

Figura 5-2: Densidade de A.marina em cada classe de tamanho ... 22

Figura 5-3: Densidade de C.tagal em cada classe de tamanho ... 22

Figura 5-4: Densidade de R. mucronata em cada classe de tamanho ... 23

Figura 5-5: Densidade de B.gymnorrhiza em cada classe de tamanho ... 23

Figura 5-6: Densidade de S.alba em cada classe de tamanho ... 23

Figura 5-7: Densidade de X.granatum em cada classe de tamanho ... 24

Figura 5-8: Densidade de L.racemosa em cada classe de tamanho ... 24

Figura 5-9: Gráfico de barras ilustrando a temperatura, condutividade e salinidade em cada local de amostragem ... 26

Figura 5-10: Ilustração do tamanho de partícula dos sedimentos colhidos na área de estudo ... 27

Figura 5-11: Teor de humidade dos sedimentos colhidos na área de estudo ... 27

Figura 5-12: Valores de pH no sedimento colhido em cada local ... 28

Figura 5-13: Medições do Potencial Redox (mV) no sedimento colhido em cada local ... 28

Figura 5-14: Teor de Matéria Orgânica no sedimento colhido em cada local ... 29

LISTA DE FOTOGRAFIAS Fotografia 4-1: Ervas marinhas na zona entre-marés da área de estudo, adjacente ao habitat de mangal. Note os propágulos de mangal crescendo nas ervas marinhas. ... 6

Fotografia 5-1: Vegetação encontrada nos Locais 3 e 4. ... 14

Fotografia 5-2: Vegetação encontrada nos Locais 3 e 4 mostrando o corte de mangais e grandes árvores mortas. ... 14

Fotografia 5-3: Vegetação encontrada nos Locais 3 e 4. ... 14

Fotografia 5-4: Pântano salino encontrado dentro desta floresta de mangal no Local 5. ... 15

Fotografia 5-5: Árvore e pneumatóforos de S.alba. ... 16

Fotografia 5-6: Propágulos, folhas e árvore de R.mucronata. ... 17

Fotografia 5-7: Folhas de C.tagal com propágulos em fase emergente. ... 18

Fotografia 5-8: Folhas e fruto de X.granatum. ... 18

Fotografia 5-9: Árvore e flor de L.racemosa. ... 19

Fotografia 5-10: A espécie que se pensou ser P.acidula. ... 20

Fotografia 5-11: Árvore de B. gymnorrhiza. ... 20

Fotografia 5-12: Grande exemplar de A.marina na maré alta. ... 21

LISTA DE TABELAS Tabela 2-1: Padrões de desempenho da Corporação Financeira Internacional (Janeiro de 2012). ... 2

Tabela 5-1: Espécies de Mangal encontradas na área de estudo, a sua distribuição global e estatuto de conservação, de acordo com a Lista Vermelha da IUCN e Moçambique. ... 13

Tabela 5-2: Espécies de Mangal encontradas na área de estudo, a sua distribuição global e estatuto de conservação, de acordo com a Lista Vermelha da IUCN, Moçambique e RSA. ... 24

(9)

LISTA DE TERMOS E ACRÓNIMOS

AIA Avaliação de Impacto Ambiental

CES Coastal and Environmental Services

COD Carbono Orgânico Dissolvido

CR Critically Endangered (em Perigo Crítico)

DAFF Departamento de Agricultura, Florestas e Pescas

DAP Diâmetro à altura do peito

DRE Diversidade, Raridade e Endemismo

EIA Estudo de Impacto Ambiental

EN Endangered Species (Espécies Ameaçadas)

FAO United Nations Food and Agriculture Organization (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação)

GIS Geographic Information System (Sistema de Informação Geográfica)

GPL Gás de Petróleo Liquefeito

IBA Important Birding Area (Área de Avifauna Importante)

IFC International Finance Corporation (Corporação Internacional de Finanças)

INATUR Instituto Nacional de Turismo

IPA Important Plant Area (Área de Plantas Importante)

IUCN International Union for Conservation of Nature (União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais)

KBA (Key Birding Area) Área Chave para Avifauna

MICOA Ministério para a Coordenação da Acção Ambiental

MITADER Ministério da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural

PES Pagamento por serviços dos ecossistemas

PS Performance Standard (Padrão de Desempenho)

REDD+ Reducing Emissions from Deforestation and Forest Degradation (Reduzindo as Emissões resultantes de Deflorestamento e Degradação Florestal)

TdR Termos de Referência

VU Espécies Vulneráveis

(10)
(11)

1.0

DESCRIÇÃO DO PROJECTO E OBJECTIVOS DO ESTUDO

Em 2014, a Sasol encomendou à Golder Associates uma Avaliação de Impacto Ambiental para uma expansão de seu Projecto de Gás Natural existente na província de Inhambane, Moçambique. A expansão irá envolver o desenvolvimento de reservas de gás em terra na área de Temane e o desenvolvimento de reservas de petróleo em terra a leste do rio Govuro na área de Inhassoro. A aprovação ambiental para o projecto foi concedida pelo Ministério da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural (MITADER) em Dezembro de 2014.

Os estudos especializados anteriores realizados como parte do processo de AIA para o Projecto de

Desenvolvimento no Âmbito do APP e Projecto de GPL (De Castro e Grobler, 2014) identificaram uma área de “Habitat Crítico” de 4 339 ha dentro da área de influência directa do projecto. O conceito de "habitat crítico" foi desenvolvido pela IFC no Padrão de Desempenho 6, ou seja, uma área de grande importância biológica, definida em termos de um ou mais de cinco critérios específicos:

i) Habitats críticos são áreas com alto valor de biodiversidade, incluindo (IFC, 2012):

ii) Habitat de importância significativa para espécies Criticamente em Perigo (CR) e / ou espécies em vias de extinção (EN)

iii) Habitat de significativa importância para espécies endémicas e / ou de distribuição limitada

iv) Habitat que suporta globalmente concentrações significativas de espécies migratórias e/ou gregárias; v) Ecossistemas altamente ameaçados e/ou únicos; e/ou

vi) Áreas associadas a processos evolutivos chave.

Nos estudos de biodiversidade botânica iniciais preparados para a AIA da Golder, de Castro e Grobler (2014) argumentaram que o curso de água costeiro Nhangonzo, que fica a oeste da Ilha de Bazaruto e drena uma bacia hidrográfica de cerca de 4 339 ha, atende aos critérios (ii), (iv ) e (v) do padrão de

desempenho 6 da IFC (três das cinco categorias de habitats críticos (IFC). Juntamente com outros estudos de especialistas sobre a fauna levados a cabo no âmbito do EIA (Deacon, 2014;. 2014A), de Castro e Grobler (2014) destacaram a relativamente elevada biodiversidade na área de Habitat Crítico e sua área tampão envolvente. Os estudos reconhecem que seria necessário um estudo biológico mais detalhado para classificar plenamente o recurso e sua importância no contexto da região, e advertiu que os danos a um sistema tão importante e incomum poderiam ter impactos significativos sobre a biodiversidade, tanto em terra como no mar, e são necessárias ações de conservação, a fim de proteger o sistema.

Como resultado das conclusões do EIA, a Sasol compromete-se a realizar uma avaliação mais aprofundada da área de Habitat Crítico, antes de tomar decisões finais sobre a localização de poços nesta bacia. Esse compromisso incluiu a necessidade de preparar um estudo mais detalhado da biodiversidade do Habitat Crítico e de novas consultas com as partes interessadas, num esforço para definir estratégias de gestão adequadas e repartir as responsabilidades para a implementação dessas estratégias. O principal objectivo deste estudo foi, portanto, recolher informações básicas sobre o sistema de mangal como parte de um estudo mais amplo de biodiversidade para confirmar a classificação de Habitat Crítico.

1.1

Termos de Referência (TdR)

Os Termos de Referência do estudo foram os seguintes:

ƒ

Realizar um levantamento amostral do habitat dos mangais encontrados dentro da área identificada

como Habitat Crítico no estudo ecológico de Castro e Grobler (2014).

ƒ

Identificar espécies de mangal e determinar seu estado de conservação, com referência às Listas

Vermelhas de dados da IUCN e de Moçambique.

ƒ

Investigar a qualidade dos sedimentos do habitat de mangal

ƒ

Identificar e descrever o significado da influência actual da actividade humana sobre o habitat de

(12)

1.2

Qualificações da Equipa

Srª Ayanda Zide Consultora Ambiental, é bacharel em Botânica, Microbiologia e Química e Licenciada

(Hons) em Botânica, onde sua tese abordou a identificação e caracterização de galhas e de insectos e patógenos associados (fungos) que formam galhas na espécie de mangal Avicennia marina. Cursos frequentados durante o ano de licenciatura (honours) incluíram Diversidade, Raridade e Endemismo (DRE), Biologia da Polinização, Ecologia Estuarina, Ecologia da Reabilitação, um curso de Estatística e um curso de curta duração em GIS. Os seus interesses de pesquisa centram-se na invasão biológica, conservação, ecologia da reabilitação, biotecnologia vegetal e investigação hidrológica. Ayanda realiza avaliações de vegetação e de impacto que orientam propostas de desenvolvimentos a como reduzir os seus impactos sobre a vegetação sensível. Como parte desses estudos ela identifica e mapeia as comunidades de vegetação e áreas de alta sensibilidade. Já trabalhou como assistente de botânica no estudo da situação botânica de referência para a Lesotho Highlands Development Authority, em projectos de energias renováveis e tem realizado pesquisas de terreno para desenvolvimentos na Província do Cabo Oriental.

A Drª Anusha Rajkaran é académica no Departamento de Botânica da Universidade de Rhodes, em

Grahamstown. Ela possui um PhD em Botânica / Ecologia de Mangais, pela Universidade Metropolitana Nelson Mandela; durante este tempo, ela realizou uma avaliação do estado dos mangais na África do Sul, centrando-se no corte de mangais e na utilização de modelos de população para determinar a utilização sustentável dos recursos naturais. Anusha foi professora e pesquisadora da Universidade de Rhodes nos últimos 3,5 anos, onde supervisionou a pesquisa em ecologia estuarina a nível do 3º ano, licenciatura e mestrado e leccionou biologia celular, biologia aplicada da população, botânica marinha e ecologia

estuarina. Seus interesses de pesquisa centram-se na dinâmica e funcionamento de macrófitas emergentes e submersas e utilização do habitat estuarino. Anusha publicou em revistas nacionais e internacionais e produziu um capítulo de um livro.

2.0

DIRECTRIZES DA CORPORAÇÃO FINANCEIRA INTERNACIONAL

(IFC)

2.1

Padrões de Desempenho da IFC para Sustentabilidade Ambiental

e Social (2012)

A IFC é membro do Grupo do Banco Mundial, e é a maior instituição de desenvolvimento global focada exclusivamente no sector privado em países em desenvolvimento. Fundada em 1956, a IFC é propriedade de 184 países membros, e prevê o financiamento de mercados emergentes para criar empregos, gerar receitas fiscais, melhorar a governança corporativa e desempenho ambiental, e contribuir para as comunidades locais.

A IFC publicou seus Padrões de Desempenho (PS) sobre Sustentabilidade Ambiental e Social em Abril de 2006, e publicou Diretrizes bastante abrangentes em Julho de 2007. Desde então, os Padrões de

Desempenho e Directrizes foram revistos, e as versões actualizadas foram publicados e entraram em vigor

a partir de Janeiro de 2012. Os Padrões de Desempenho actualizados estão listados na Tabela 2-1.

Tabela 2-1: Padrões de desempenho da Corporação Financeira Internacional (Janeiro de 2012). Padrão de Desempenho 1: Sistemas de Avaliação e Gestão Social & Ambiental

Padrão de Desempenho 2: Condições Laborais e de Trabalho Padrão de Desempenho 3: Prevenção e Diminuição da Poluição Padrão de Desempenho 4 Saúde e Segurança das Comunidades

Padrão de Desempenho 5: Aquisição de Terras e Reassentamento Involuntário Padrão de Desempenho 6: Conservação da Biodiversidade & Gestão Sustentável dos

(13)

Padrão de Desempenho 7: Populações Indígenas Padrão de Desempenho 8: Património Cultural

2.2

Padrão de Desempenho 6 da IFC

O Padrão de Desempenho (PS) 6 e as directrizes que o acompanham são usados pela Coastal and Environmental Services - CES para orientar as avaliações de biodiversidade em habitats naturais, modificados e críticos. O objectivo deste PS é proteger e conservar a biodiversidade, manter os serviços dos ecossistemas e promover a gestão sustentável e utilização de recursos naturais através da adopção de práticas que integrem as necessidades de conservação e as autoridades de desenvolvimento (IFC, 2012b). Específico para este projecto, são as Directrizes referentes a habitats críticos. A determinação do habitat natural, modificado e crítico depende do nível de perturbações induzidas pelo homem e da biodiversidade do local. Ao determinar o status de um habitat, a área não deve ser avaliada isoladamente, mas sim em relação à área global em que o projecto está localizado. Habitats naturais e modificados podem conter altos valores de biodiversidade, qualificando-os, assim como habitats críticos (IFC, 2012).

Habitats críticos são áreas consideradas como áreas de alta biodiversidade que devem permanecer no seu estado natural. Caso contrário, eles devem cumprir as condições estabelecidas no ponto 17 do PS 6 que inclui a implementação de um Plano de Acção para a Biodiversidade, que está destinado a obter ganhos líquidos dos valores de biodiversidade para o habitat.

Os habitats críticos são colocados em um continuum ou são classificados por "gradientes" em termos dos graus de valores de biodiversidade, dependendo do seguinte:

ƒ

A vulnerabilidade relativa do habitat ou o grau de ameaça colocado na área; e

ƒ

A impossibilidade de substituição do habitat ou a raridade e singularidade do local.

O Edital de Orientação do IFC (2012) fornece os seguintes determinantes de um habitat crítico:

ƒ

A amplitude dos ecossistemas;

ƒ

As várias formas de habitat crítico; e

ƒ

A gama de distribuição das espécies.

Habitats Críticos são áreas com alto valor de biodiversidade e incluem o seguinte (IFC, 2012):

i) Habitatde importância significativa para espécies Criticamente em Perigo de Extinção (CR)e / ou

espécieem perigo de extinção(EN);

ii) Habitatde significativa importânciaparaespécies endémicase / oude distribuição limitada;

iii) Habitatque suportaglobalmenteconcentrações significativas deespécies migratóriase / ou espécies

gregárias;

iv) Ecossistemas altamenteameaçadose / ouúnicos; e/ou

v) Áreasassociadas a processos evolutivoschave

Outros exemplos de áreas críticas incluem (IFC, 2012b):

ƒ

Áreas que são necessárias para reintroduzir espécies e locais de refúgio Criticamente em Perigo de

Extinção (CR) e em Perigo de Extinção (EN) (habitats utilizados durante períodos de stress (por exemplo, inundações, secas ou queimadas));

ƒ

Ecossistemas de conhecido significado especial para espécies EN ou CR para fins de adaptação ao

(14)

ƒ

As áreas com altas concentrações de Espécies Vulneráveis (VU) nos casos em que há incerteza quanto à classificação, e o status actual das espécies possa ser EN ou CR;

ƒ

Áreas de florestas primárias/ antigas/intactas e / ou outras áreas com níveis particularmente altos de

diversidade de espécies;

ƒ

Paisagens e processos ecológicos (por exemplo, bacias de captação, áreas críticas para o controlo da

erosão, regimes de perturbação (por exemplo, incêndio, inundação)) necessários para manter o habitat crítico;

ƒ

Habitat necessário para a sobrevivência de espécies-chave;

ƒ

Áreas de elevado valor científico, como aquelas que contenham concentrações de espécies novas e /

ou pouco conhecidas pela ciência; e

ƒ

Áreas internacional e / ou nacionalmente reconhecidas como tendo alto valor de biodiversidade.

ƒ

Uma área de conhecidas elevadas concentrações de recursos naturais explorados por comunidades locais

ƒ

Áreas que atendem aos critérios de Gestão de Áreas Protegidas da IUCN Ia, Ib e II, embora as áreas que satisfazem os critérios para as Categorias de Gestão III-VI também possam qualificar-se em função dos valores da biodiversidade inerentes a esses locais

ƒ

Áreas chave para Avifauna (KBAs), que abrangem inter alia Locais Ramsar, Áreas de Aves Importantes (IBA), Áreas de Plantas importantes (IPA) e locais da Aliança para Extinção Zero

3.0 LOCALIZAÇÃO

DA

ÁREA DE ESTUDO

A área de estudoé definida como a área combinada de Habitat Crítico e área de Desenvolvimento Turístico

do INATUR. Osmangaisestão situados noestuário docurso de água costeiroNhangonzo, cerca de 33km

ao nortedeVilanculosnaProvíncia de Inhambane, em Moçambique(Figura 3-1).Estemangal tem uma

extensão em128ha(De Castro eGrobler, 2014)eliga oambienteda linha de costa aoshabitats de água

docea montante.

A distribuição dosmangaisem Moçambiqueé discutida na Secção3.1.2abaixo.A área de estudo

encontra-se emuma regiãoque temcorrentes de altavelocidadeque influenciama ação das ondasemarés,

especialmente nos canais entreas ilhas.Istoé geradopelasamplitudes de maréemmarés vivasque

transportamgrandes quantidadesdeareia,resultando emextensainundação e mudanças associadas à

(15)

Figura 3-1: Mapa da área de estudo, situada na Província de Inhambane em Moçambique, ilustrando as áreas protegidas que ocorrem perto da área de estudo.

4.0

A IMPORTÂNCIA DOS ESTUÁRIOS NUM CONTEXTO REGIONAL E

GLOBAL

Elliot e Whitefield (2011) definem um estuário como um "corpo costeiro de água semi-fechado, que está ligado ao mar, quer permanentemente ou periodicamente, possui uma salinidade diferente daquela do mar aberto adjacente, devido à entrada de água doce e inclui um biota característico ". Os estuários

desempenham um papel importante na ligação dos ecossistemas terrestres, de água doce e marinhos (Van Niekerk e Turpie, 2012). Os estuários fornecem uma variedade de habitats, que inclui mangais, pântanos salinos, canaviais e tapetes de ervas marinhas (Elliot e Whitefield, 2011). Em conjunto, o funcionamento destes habitats desempenha um papel importante no fornecimento de habitats para reprodução e alimentos para peixes (Pauly e Ingles, 1999). A Figura (4-1) ilustra a distribuição dos mangais, ervas marinhas e recifes de coral em Moçambique.

4.1

Tapetes de Ervas Marinhas

As ervas marinhas incluem géneros como Zostera, Cymodocea e Thalassia que desempenham um papel importante em estuários e no ambiente perto da costa. Os tapetes de ervas marinhas são economicamente

(16)

2008; Karleskint et al, 2010). Ocorrem como comunidades densas com elevada biomassa fornecendo habitat e refúgio para diversos organismos marinhos (Duarte, 2000) e sua ocorrência aumenta a

biodiversidade de animais e plantas (Lyimo et al, 2008). Os organismos marinhos associados aos tapetes de ervas marinhas que são de importância comercial incluem camarões, peixes e outros crustáceos, muitos dos quais são uma importante fonte de alimento para os seres humanos (Duarte, 2000). Os tapetes de ervas marinhas também têm a importante função biológica de estabilizar habitats costeiros tropicais por retenção de sedimentos e nutrientes transportados a partir de fontes terrestres de efluentes, proteger os recifes de coral de águas turvas e as praias da erosão causada pela acção das ondas (Lyimo et al, 2008). Os tapetes de ervas marinhas são discutidos mais adiante no Relatório da Situação Estuarina de Referência (Chivambo e Lituli, 2015).

Fotografia 4-1: Ervas marinhas na zona entre-marés da área de estudo, adjacente ao habitat de mangal. Note os propágulos de mangal crescendo nas ervas marinhas.

4.2 Mangais

Os mangais são definidos como um complexo de comunidades vegetais que orlam praias abrigadas ou como um grupo ecológico de espécies halofíticas (Lugo e Snedaker, 1974). O ambiente em que os mangais são encontrados pode ser descrito como aquele onde ocorre uma salinidade variável, altas temperaturas, substratos lamacentos, fortes ventos, marés extremas e solos anaeróbios (Kathiresan e Bingham, 2001). As espécies de mangal têm adaptações, tais como sapopemas, pneumatoforos e raízes de sustentação que permitem o transporte de oxigénio para a árvore em condições de inundação e anaeróbicas (Spalding et al. 2010). Algumas espécies têm mecanismos especializados que excluem o sal do seu xilema ou removem o sal a partir dos tecidos internos das plantas, permitindo que a espécie sobreviva em condições de salinas. As espécies de mangal prosperam em ambientes húmidos, onde há um influxo de água doce fornecendo nutrientes e sedimentos, o que também alivia as condições salinas. Quando não há fluxo de água doce,

áreas de outra forma adequadas para mangais normalmente apresentam fraco crescimento (Kathiresan,

and Bingham 2001). Ambientes repetidamente inundados com água doce e possuem solos bem drenados são mais adequados para o crescimento dos mangais.

4.2.1

Estado de Conservação

O estado de conservação de sistemas de mangal tem vindo a diminuir rapidamente em todo o mundo. Em Moçambique, apenas 30% dos ecossistemas marinhos, de água doce e terrestres, estão legalmente protegidos; Contudo, destes, apenas 5% dos sistemas aquáticos e marinhos são protegidos de modo a garantir a sua conservação (MICOA, 2014). A área de estudo está fora das áreas protegidas formalmente

embora a o Parque Nacional do Arquipélago de Bazaruto ocorra ao largo da área de estudo (Figura 4-1).

Os mangais dentro da área de estudo caiem dentro da Ecorregião de Mangais da África Oriental que é listada como "Critica / Ameaçada" pela WWF (Burgess et. Al., 2004). A protecção destes sistemas é, portanto, importante.

(17)
(18)

4.2.2

Distribuição dos Mangais

Os mangais são encontrados em 118 países e territórios em todo o mundo. Vários estudos têm

demonstrado que possuem uma cobertura global de entre 10 e 24 milhões de hectares, que abrange cerca de 1% da superfície terrestre da terra (Giri et al, 2011;. Kathiresan, e Bingham, 2001; Simard e Fatoyinbo; 2013) . Globalmente, existem 73 espécies de mangal e híbridos e sua distribuição pode ser separada em flora Indo-Oeste do Pacífico e do Atlântico Leste do Pacífico. Acrostichum aureum é a única espécie encontrada em ambas as regiões (Spalding, 2010).

Ao longo da costa leste de África, os mangais são distribuídos da Somália à África do Sul. Ao longo da costa da África do Sul, a ocorrência de espécies de mangal é inibida pelas regiões frias a sul e as regiões áridas a sudoeste (Spalding, 2010).

Os habitats de mangal em Moçambique abrangem 318 851 ha, o que representa cerca de 2,3% do total de cobertura de mangal global (Giri et al, 2011), sendo a segunda maior área de mangal em África depois da Nigéria, que, por sua vez, é a quarta maior área de mangal do mundo (Fatoyinbo e Simard, 2013). A distribuição dos mangais diminuiu globalmente. Em 2002, estimava-se que cerca de um terço dos mangais globais se perderam ao longo de um período de 50 anos devido a actividades antrópicas. Sitoe et al (2014) estimam que em Moçambique, cerca de 12,5% dos mangais se perderam ao longo de um período de 32

anos entre 1972 e 2004, com uma taxa de desmatamento de cerca de 15,9 km2 • ano-1. Estes autores

atribuem a perda de mangais a actividades antropogénicas e deposição de areia costeira.

Os mangais encontrados no habitat crítico da área de estudo abrangem cerca de 128 ha, formando uma grande parte da floresta de mangal contínua que se estende da foz do habitat crítico para norte. Esta floresta de mangal e algumas manchas de mangal mais ao norte são os únicos mangais em 90 km do trecho do litoral entre baía da Ponta Chiuzine a sul de Vilanculos, e o Rio Govuro para o norte (Figura 4-2). De acordo com a FAO, (2007) Moçambique está em décimo terceiro na lista dos quinze países mais ricos em mangal do mundo. Moçambique tem as florestas de mangal com maior diversidade em África (Fatoyinbo e Simard; 2013), compostas por dez espécies diferentes (Spalding, 2010), a saber Acrostichum aureum, Avicennia marina, Bruguiera gymnorrhiza, Ceriops tagal, Lumnitzera racemosa, Rhizophora mucronata, Sonneratia alba, Xylocarpus granatum, litorais Heritiera e Pemphis acidula. Os dados indicam que a diversidade de espécies de mangal é menor no sul, caindo na categoria de 3-4 espécies, mas aumenta a norte, onde as áreas abrangidas se situam na categoria de 9-12 espécies (Spalding, 2010).

(19)
(20)

4.2.3

Serviços de Ecossistema proporcionados pelos Mangais

O habitat de mangal fornece produtos e serviços de ecossistemas exclusivos e é um dos ecossistemas mais produtivos e biologicamente importantes do mundo (Giri et al., 2010). Os serviços dos ecossistemas são definidos como processos através dos quais o meio ambiente produz recursos, os quais são utilizados por seres humanos. Também podem ser definidos como quaisquer benefícios que os seres humanos obtêm

dos ecossistemas (Turner et al, 2008; Hester e Harrison, 2010). De acordo com a IFC (2012) 1 e Hester e

Harrison (2010), os serviços de ecossistema são divididos em quatro categorias, a saber:

ƒ

serviços de provisão

ƒ

serviços de regulação

ƒ

serviços culturais

ƒ

serviços de apoio

Serviços de provisão são aqueles que incluem os produtos derivados dos ecossistemas, tais como

alimentos, combustível, bioquímicos, medicamentos e água doce. Os serviços de provisão são fornecidos a nível global pelos mangais, uma vez que muitos dos peixes, crustáceos e moluscos, ecológica e

economicamente importantes, usam os mangais como áreas de alimentação, reprodução e de viveiro e as árvores são usadas pelo homem para lenha e madeira (Badola e Hussain, 2005). Considera-se que o corte de mangais para lenha é uma actividade generalizada ao longo dos trópicos costeiros. Várias peças de mangal são utilizadas - em algumas partes do mundo, a casca da árvore é processada para extrair compostos químicos, tais como taninos e alcalóides, como veneno de peixe, corantes, conservantes industriais (taninos) e como ingredientes para cozinha (Karleskint et ai, 2010; Kjerfve e Lacerda, 1993). Extractos de várias partes das árvores de mangal são usados em bebidas como álcool e chá, em papel, cola, cosméticos e produtos de ervanária (Karleskint et al., 2010).

Serviços de regulação são os benefícios que resultam da regulação dos processos ecossistémicos, tais como a regulação da qualidade do ar, clima, água e doenças. Os serviços de regulação desempenham um papel importante na estabilização da terra, ciclo de nutrientes e processamento de determinados poluentes (Karleskint et al., 2010). Os habitats de mangal mantêm a qualidade da água através da remoção de

nutrientes orgânicos e inorgânicos da coluna de água. Os mangais diminuem as concentrações de nitratos e fósforo na água contaminada através de desnitrificação e sepultamento de nutrientes do solo, inibindo assim a eutroficação a jusante e costeira (Ewel et al., 1998). De acordo com Stein (2014) uma série de factores determinam se uma floresta de mangal é capaz de melhorar a qualidade da água; esses factores são o tipo de inputs a entrar para o sistema, a área de superfície e a bioquímica de nutrientes da floresta de mangal. Serviços culturais são benefícios não-materiais, cujos exemplos incluem recreação e experiências estéticas. Serviços de apoio são aqueles que resultam na realização de outros serviços ecossistémicos, tais como a fotossíntese, formação de solo, ciclo de nutrientes e ciclo hidrológico.

Os serviços de apoio incluem habitats para variada fauna, tal como crustáceos, moluscos e peixes, alguns com residência permanente nos sistemas de mangal, enquanto outros residem temporariamente durante um determinado estágio de seu ciclo de vida (Ronnback, 1999).

Os mangais desempenham um papel importante na protecção das vidas e propriedades das comunidades costeiras dado que agem como barreiras naturais contra tempestades e ciclones (Badola e Hussain, 2005). Vários estudos têm fornecido evidências para isso, por exemplo, se os mangais não tivessem sido

removidos no Bangladesh antes das inundações, durante a década de 1970, teriam havido menos mortes (Moberg e Ronnback, 2003). Gilman et al (2007) também sugere que a redução de mangais ou degradação destes afecta seu papel de luta contra os riscos costeiros, como erosão, inundações, ondas de tempestades e tsunamis.

(21)

Devido à sua localização geográfica, Moçambique é sensível a desastres naturais, como secas, inundações e ciclones. É o país que é mais frequentemente e gravemente afectado por catástrofes naturais em África (Foley, 2007). A Província de Inhambane em Moçambique experimenta os piores ciclones que variam em intensidade de 4 a 10. As florestas de mangal nesta área, portanto, desempenham um papel importante na proteção das áreas terrestres destas tempestades.

4.2.4

Créditos de Carbono

As florestas de mangal estão entre os ecossistemas de maior armazenamento de carbono e maior

exportação de carbono do mundo (Fatoyinbo e Simard, 2013). De acordo com Giri et ai. (2010), o habitat de mangal sequestra cerca de 22,8 milhões de toneladas métricas de carbono por ano. Os mangais actuam como sumidouros de carbono, armazenando-o através das raízes, caules e folhas das árvores e nos

sedimentos, ou o carbono pode ser exportado para o estuário ou ambiente perto da costa através das folhas do mangal ou como carbono orgânico particulado (Ray et al ., 2011). De acordo com Bosire (2012), as florestas de mangal são responsáveis por cerca de 11% da entrada total de carbono terrestre no oceano e 10% do carbono terrestre orgânico dissolvido (COD) exportado para o oceano. A quantidade de carbono que pode ser armazenado mostra a importância dos habitats de mangal. A perda ou degradação deste habitat vai ter impactos negativos sobre o transporte de materiais para o sistema marinho e afectará a composição da atmosfera e do clima (Bosire 2012).

Uma série de factores desempenham um papel em se saber se os mangais actuam como ecossistema armazenador de carbono ou exportador de carbono. Para o armazenamento de carbono, factores como a localização geográfica do sistema de mangal e o tipo de espécies encontradas na floresta de mangal irão determinar o quanto de carbono está sendo sequestrado. O armazenamento de carbono por mangais também depende de factores tais como se a foz está aberta ou fechada, hidrologia e geomorfologia e os processos de sedimentos do estuário. Estes factores influenciam nos parâmetros físicos do sistema de mangal, tais como coluna de água, características da água capilar (salinidade) e características dos

sedimentos (redox, pH e o tamanho das partículas), afectando, assim, a taxa em que a biomassa do terreno está a ser acumulada no mangal. A taxa de acumulação de biomassa também é influenciada pelas

condições climáticas, tais como precipitação e temperatura (Adame e Lovelock 2011). Relativamente aos sistemas de mangal exportadores de carbono, um estudo realizado por Adame e Lovelock (2011) mostrou que a maior fonte de carbono para o meio marinho é o carbono orgânico particulado, que é em grande parte influenciado pela chuva e marés.

Existem hoje programas como o Pagamento por Serviços dos Ecossistemas (PES) para reduzir as

emissões por desmatamento e degradação florestal e aumentar os estoques de carbono (REDD+), que são destinados a conservar e gerir os ecossistemas de forma sustentável através de uma abordagem de marketing (Alongi, 2011). De acordo com Sitoe et ai. (2011) o esquema de REDD+ foi legislado em

Moçambique em 2002, através do Regulamento de Florestas e Fauna Bravia (Lei n.º 10/99, de 7 de Julho). Isto funciona através da atribuição de 20% dos lucros, que são resultado da gestão dos recursos florestais e faunísticos, para as comunidades locais. Após a aprovação do decreto ministerial que regula os

mecanismos de disponibilidade, os primeiros pagamentos REDD+ foram feitos em 2005.

4.2.5 Mudanças

Climáticas

Uma série de impactos, como resultado de mudanças climáticas poderão afectar o habitat de mangal, incluindo mudanças no nível do mar, tempestades, mudanças de temperatura e precipitação, as mudanças na concentração de CO2 atmosférico, as respostas dos seres humanos às mudanças climáticas e a saúde e ecossistemas vizinhos funcionalmente ligados (Gilman et al., 2008). De acordo com Giri et ai. (2011), o aumento do nível do mar poderia tornar-se uma das principais ameaças para os ecossistemas de mangal no futuro. A velocidade a que o sistema de mangal é capaz de agregar sedimento durante a subida do nível do mar irá influenciar se o sistema é capaz de se restabelecer (Alongi, 2011). Isso faz com que certos sistemas de mangal e espécies sejam mais vulneráveis do que outros.

(22)

5.0

AVALIAÇÃO DE CAMPO DOS MANGAIS NA ÁREA DE HABITAT

CRÍTICO

5.1

Locais Amostrados

O curso de água costeiro Nhangonzo é encaminhado para o mar através de uma série de habitats estuarinos, que incluem uma grande área (128 ha) de mangais, pântanos salinos e tapetes de ervas

marinhas. A Figura 5-1 mostra os locais de amostragem que foram escolhidos no mangal dentro do habitat

crítico. A escolha do local foi determinada pela distribuição das espécies e o acesso. A avaliação teve como objectivo obter duzentas amostras representativas de cada uma das espécies encontradas no local. No entanto, a distribuição das espécies dentro do mangal tornou isso difícil de conseguir para espécies escassas. A amostragem dessas áreas foi realizada durante a maré-baixa e as várias variáveis medidas sendo os resultados discutidos na secção abaixo.

Figura 5-1: Áreas amostradas na floresta de mangal encontrada dentro da área de habitat crítico.

5.1.1

Diversidade e Estado de Conservação

A área de estudo possui uma alta diversidade de espécies de mangal, sendo encontradas na área sete das dez espécies conhecidas de Moçambique, nomeadamente Sonneratia alba, Ceriops tagal, Lumnitzera racemosa, Avicennia marina, Xylocarpus granatum, Rhizophora mucronata, Bruguiera gymnorrhiza. Alguns indivíduos que se pensava serem Pemphis acidula foram mais tarde identificados como S.alba. De acordo

(23)

com a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN e de Moçambique (2002), a maioria dessas espécies são "pouco preocupantes", enquanto uma das espécies não está listada. Em Moçambique, não existe legislação que proteja as espécies vegetais de preocupação especial. No entanto, note-se que na África do Sul, a Bruguiera gymnorrhiza, Ceriops tagal e Lumnitzera racemosa são protegidas por legislação

aplicada pelo Departamento de Agricultura, Silvicultura e Pescas (DAFF, 2014).

Tabela 5-1: Espécies de Mangal encontradas na área de estudo, a sua distribuição global e estatuto de conservação, de acordo com a Lista Vermelha da IUCN e Moçambique.

Família Nome científico IUCN

Lista Vermelha de Plantas ameaçadas de

Moçambique 2002

AVICENNIACEAE Avicennia marina preocupação Menor -

RHIZOPHORACEAE Bruguiera gymnorrhiza - -

RHIZOPHORACEAE Ceriops tagal preocupação Menor -

COMBRETACEAE Lumnitzera racemosa preocupação Menor -

RHIZOPHORACEAE Rhizophora mucronata preocupação Menor -

LYTHRACEAE Sonneratia alba preocupação Menor -

MELIACEAE Xylocarpus granatum preocupação Menor -

5.1.2 Descrição

Detalhada

Os locais são descritos como se segue (ver a Figura 5-1 para a localização dos locais):

Os locais 1 e 2 localizam-se em mangais costeiros, encontrados perto da fronteira da zona crítica no

norte da área de estudo. Três espécies dominantes foram encontradas nesta área, A.marina, R.mucronata e um grande número de indivíduos de S. alba. Os indivíduos da espécie que inicialmente se pensou ser P.acidula foram observados mais ao norte no canal, mas a identificação da espécie não foi confirmada e que mais tarde concluiu-se que seriam S.alba. Os sedimentos encontrados nesta área eram dominados principalmente por areia de média textura (ver resultados abaixo).

Os Locais 3 e 4 situam-se mais longe no interior da costa. As espécies dominantes foram a C.tagal e

B.gymnorrhiza, mas ao longo do canal a R.mucronata também era comum, chegando a 7-8 m de altura. Observou-se uma série de grandes árvores mortas, geralmente de R.mucronata, o que pode ter sido devido

a morte natural ou inundações. O corte das árvores era evidente (3 tocos por m2). Indivíduos pequenos de

C.tagal de cerca de 130 centímetros foram observados, podendo ser considerados como indivíduos anãos uma vez que uma série deles ocorreu numa área. Outras espécies encontradas incluem B. gymnorrhiza, e X. granatum. O acesso a esta área foi fácil (a partir de uma aldeia próxima a esta área) e os habitantes foram vistos a usar o curso de água (rio) na área.

Nas partes a sul, interiores, e mais secas da floresta de mangal foram observadas grandes áreas de pântanos salinos. Estes são dominados principalmente por A.marina, com pequenas manchas de L.racemosa. Foi observada uma depressão salina feita pelo homem e abandonada, localizada a sul da floresta de mangal que, de acordo com os membros da comunidade que vivem nas proximidades, foi utilizada para colher sal há dez anos. Alguns indivíduos de L.racemosa que ocorrem nessa depressão pareciam estar atrofiados, mostrando uma forma diferente de crescimento, o que sugere que as condições ambientais actuais podem não ser ideais. Os mangais parecem ter sido extensivamente cortados nesta área quando a depressão salina foi criada.

(24)

Fotografia 5-1: Vegetação encontrada nos Locais 3 e 4.

Fotografia 5-2: Vegetação encontrada nos Locais 3 e 4 mostrando o corte de mangais e grandes árvores mortas.

(25)

O Local 5 localiza-se no canal principal que conduz ao mar. O local era interceptado por caminhos muito

usados, feitos por moradores locais que utilizam a área. Em alguns lugares ocorreram pântanos salinos, e outros estavam cobertos por espessas camadas de plâncton vegetal morto, que tinha sido levado para dentro dos mangais ao longo do canal. Neste local foi registado o maior número de espécies incluindo A.marina, B. gymnorrhiza, C.tagal, S.alba, L.racemosa e Xylocarpus granatum, embora tenham sido encontrados apenas alguns indivíduos de Xylocarpus granatum e L.racemosa. Houve alguns sinais nesta área que indicam que as espécies de mangal têm sido cortadas pelas comunidades locais.

Fotografia 5-4: Pântano salino encontrado dentro desta floresta de mangal no Local 5.

O Sítio 6 localiza-se a no sudeste da floresta de mangal, próximo à costa. Uma variedade de cursos de

águas fluem através da área, que é dominada por C.tagal e A.marina. Longe das margens da floresta, está presente um número crescente de B. gymnorrhiza. O chão da floresta estava coberto de ervas marinhas, que tinham sido lavadas para o habitat de mangal. Os caranguejos e caracóis não foram observados nas quadrículas que foram criadas, o que pode ter sido devido à presença de resíduos de plâncton vegetal no chão da floresta. Grandes indivíduos de A.marina estavam presentes perto do transecto, sendo o maior de 5,65 m de altura com um DAP de 6,12 cm. Um certo número de árvores foi cortado, mostrando evidências de colheita. A área está em estreita proximidade com a vila, marcada por vários caminhos de pedestres proporcionando fácil acesso aos mangais.

(26)

5.1.3

Espécies de Mangal

(27)
(28)

Fotografia 5-7: Folhas de C.tagal com propágulos em fase emergente.

(29)
(30)

Fotografia 5-10: A espécie que se pensou ser P.acidula.

(31)

Fotografia 5-12: Grande exemplar de A.marina na maré alta.

5.1.4

Estrutura da População

Em cada local, foram estabelecidos 80 m de transectos, com parcelas de 25 m2 ao longo dos transectos.

Dentro de cada parcela (25m2), a altura e o diâmetro à altura do peito (DAP) de cada árvore foram medidos.

Uma boa maneira de estimar a biomassa acima do solo de uma floresta é através da medição do DAP de uma árvore.

A altura média dos mangais em Moçambique é de 5.8m, com as maiores faixas de mangal encontradas nas províncias de Gaza e Zambézia. A altura média da copa em Gaza foi de 15,9 m ± 7,79 m. Na província de Inhambane, na qual área de estudo ocorre, a altura da copa é mais baixa, com uma média de 4 m

(Fatoyinbo et al., 2008). Neste estudo, a altura medida das espécies de mangal está apresentada na Tabela

5-2 tendo variado de 79 cm a 256 cm. A árvore mais alta medida neste estudo possuía 8,3 m, com um DAP

de 12,4 cm.

Os dados dos seis locais de mangal foram utilizados para calcular a densidade média de espécies por classe de tamanho (Figuras 5-2 a 5-7), Isto fornece uma indicação se o sistema está em regeneração - uma curva J inversa, onde existem um grande número de plântulas em comparação com os adultos - uma indicação de que o sistema está a regenerar (Rajkaran e Adams, 2011). Os resultados indicam que C.tagal, A.marina, R.mucronata, S.alba e B.gymnorrhiza mostram uma tendência de regeneração, enquanto

X.granatum e L.racemosa não, sendo adultas a maioria das árvores medidas. Esta é uma indicação de que estas duas espécies podem já estar perturbadas e não estão a produzir propágulos e plântulas.

O recrutamento de plântulas é influenciado pelas condições ambientais, regimes de inundação, salinidade, irradiação e predação de sementes (Bosire et al., 2005 e Allen et al., 2003). É difícil determinar o motivo exacto por que essas duas espécies não se estão a regenerar com base no trabalho limitado de campo realizado. No entanto, os resultados preliminares sugerem que L. racemosa pode ser afectada pela salinidade na floresta de mangal. Esta espécie normalmente ocorre em solos relativamente húmidos, bem drenados, arenosos misturados com barro. A germinação desta espécie diminui com o aumento da salinidade não se registando germinação em áreas que estão abaixo de 25 ppt (FAO, 2007). A salinidade nos locais 3 e 4, onde L. racemosa foi registrada, foi de 30 ppt, o que sugere que os níveis de salinidade estão a impedir o recrutamento das espécies. A predação de sementes por animais e pessoas e o baixo número de árvores adultas na área também podem contribuir para a baixa taxa de recrutamento.

(32)

A baixa taxa de recrutamento para X. granatum pode ser atribuída aos altos níveis de luz dentro da floresta de mangal embora isto precise ser investigado e os níveis de irradiação que entram na floresta medidos. Estudos têm demonstrado que densidades de plântulas e mudas de X. granatum são maiores em áreas com uma copa fechada (mais sombra) do que em áreas com uma copa aberta (Kairo et al., 2008 e Allen et al., 2003).

Figura 5-2: Densidade de A.marina em cada classe de tamanho.

Figura 5-3: Densidade de C.tagal em cada classe de tamanho.

0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 0-50 51-129 130-329 330 - 529 530 - 729 730 - 929 Densidade (número de indivíduos .ha -1) Tamanho de classe (cm) 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 0-50 51-129 130-329 330 - 529 530 - 729 730 - 929 Densidade (número de ndivíduos .ha -1) Tamanho de classe (cm)

(33)

Figura 5-4: Densidade de R. mucronata em cada classe de tamanho.

Figura 5-5: Densidade de B.gymnorrhiza em cada classe de tamanho.

Figura 5-6: Densidade de S.alba em cada classe de tamanho.

0 500 1000 1500 2000 2500 0-50 51-129 130-329 330 - 529 530 - 729 730 - 929 Densidade (número de indivíuos.ha -1) Tamanho de classe 0 100 200 300 400 500 600 0-50 51-129 130-329 330 - 529 530 - 729 730 - 929 Densidade (número de indivíuos.ha -1 Tamanhos de classe (cm) 0 20 40 60 80 100 120 140 160 0-50 51-129 130-329 330 - 529 530 - 729 730 - 929 Densidade (número de indivíuos.ha -1 Tamanhos de classe (cm)

(34)

Figura 5-7: Densidade de X.granatum em cada classe de tamanho.

Figura 5-8: Densidade de L.racemosa em cada classe de tamanho.

Tabela 5-2: Espécies de Mangal encontradas na área de estudo, a sua distribuição global e estatuto de conservação, de acordo com a Lista Vermelha da IUCN, Moçambique e RSA.

Família Nome científico Altura média (cm) DAP médio (cm) Ratio adulto/plântula Comentário AVICENNIACEAE Avicennia marina

74.8 ± 7.7 4.4 ± 3.6 1:7.8 Ratio adulto/plântula alto,

mostrando que a espécie está a regenerar

RHIZOPHORACEAE Bruguiera

gymnorrhiza

107.5 ± 8.4 5.8 ± 2.1 1:2.1 Ratio adulto/plântula,

mostra que a espécie está a regenerar

RHIZOPHORACEAE Ceriops tagal 93.3 ± 3.5 2.2 ± 0.1 1:2.7 Ratio adulto/plântula,

mostra que a espécie está a regenerar 0 50 100 150 200 250 300 350 0-50 51-129 130-329 330 - 529 530 - 729 730 - 929 Densidade (número de indivíuos.ha -1) Tamanho de classe (cm) 0 10 20 30 40 50 60 0-50 51-129 130-329 330 - 529 530 - 729 730 - 929 Densidade (número de indivíuos.ha -1) Tamanho de classe (cm)

(35)

Família Nome científico Altura média (cm) DAP médio (cm) Ratio adulto/plântula Comentário COMBRETACEAE Lumnitzera racemosa

424.8 ± 36.9 5.2 ± 0.7 1:0 Não foram amostradas

plântulas indicando que esta espécie pode estar perturbada ou ser vulnerável nesta área. Isto pode estar ligado a alta salinidade na área assim como predação de sementes por humanos e animais na área

RHIZOPHORACEAE Rhizophora mucronata

114.4 ± 6.3 5.4±0.7 1: 3.2 Ratio adulto/plântula,

mostra que a espécie está a regenerar

LYTHRACEAE Sonneratia

alba

216.1 ± 53.4 4.9±1.3 1:1.1 Elevada altura média,

uma vez que somente existiram poucos indivíduos amostrados das classes de menor altura

MELIACEAE Xylocarpus

granatum

256 ± 20.6 4.7±0.9 1:0.1 Elevada altura média,

uma vez que somente existiram poucos indivíduos amostrados das classes de menor altura

5.1.4.1

Sedimentos e Água Capilar

A partir dos seis pontos amostrados, foram recolhidos sedimentos para análise do potencial redox (mv), pH, condutividade elétrica (mS), teor de matéria orgânica (%), teor de humidade (%) e tamanho de partícula. Em cada local, a água capilar foi analisada através da medição da condutividade (MS), salinidade (ppt) e temperatura (° C). A composição do sedimento e do seu tamanho de partícula tem influência sobre o potencial redox, pH e teor de matéria orgânica e de humidade (Rajkaran e Adams, 2011). Estes

desempenham um papel nas taxas de crescimento das espécies de mangal, na dinâmica populacional, e se há ou não uma troca de materiais orgânicos com ambientes vizinhos (Rajkaran e Adams, 2011).

Água Capilar

A condutividade da água capilar variou entre 34 e 72 ms nos locais, sendo o menor valor no Local 2 e maior no Local 6. A salinidade variou de 19-44 (ppt), as variações na condutividade acompanharam de perto a salinidade observada. A salinidade é uma medida da concentração de sais na água capilar, sendo que a condutividade indica as concentrações de iões na água. A salinidade pode variar diariamente e

sazonalmente, uma vez que é influenciada por uma série de factores, como a inundação da maré, tipo de solo, topografia, quantidade e sazonalidade de chuvas e água doce disponível (água doce pode ser fornecida por rios afluentes), escorrência fora de áreas adjacentes e evaporação (Saenger, 2002). A salinidade da água capilar é um dos factores mais importantes que limitam o crescimento de árvores de mangal e de florestas de mangal, com salinidade elevada (> 35 ppt), resultando em taxas de crescimento, altura e produtividade reduzidas das árvores (Morrisey et al. 2010).

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A Figura 5-9 apresenta os resultados para salinidade e condutividade da água capilar em cada um dos locais. A análise da água capilar não pode ser realizada no Local 5 dado que não existia água nos furos. Uma variedade de razões está associada com a não permanência de água nos furos, incluindo a elevação e o tamanho das partículas dos sedimentos não permitindo que a água seja retida. Os resultados para os outros locais mostraram que a temperatura medida era similar, com valores que variam entre 29 ° C e 32 ° C.

Figura 5-9: Gráfico de barras ilustrando a temperatura, condutividade e salinidade em cada local de amostragem.

Sedimentos

Os sedimentos num sistema de mangal derivam da erosão costeira ou marginal e do solo erodido da bacia hidrográfica, que é transportado pelos rios ou canais (Faridah-hanum et al., 2014). Materiais e partículas coloidais e matéria orgânica degradada são uma outra fonte de sedimentos (Faridah-Hanum et al., 2014). Três furos foram perfurados dentro de cada uma das seis áreas de estudo do projecto, e amostras de

sedimentos foram colhidas a 50 cm de profundidade2.

Os resultados indicaram que há pouco sedimentos e argila no sistema. Cerca de setenta por cento (47) das

amostras de sedimentos eram de areia média (250 um (g)) (Figura 5-10). Os Locais 3 e 4 consistiam de

areia mais fina do que as outras áreas amostradas, o que é provavelmente devido a esses locais estavam

mais perto do rio do que as áreas costeiras3.

O tamanho das partículas do sedimento dá uma indicação da quantidade de humidade que a área retém, os nutrientes disponíveis e da matéria orgânica, que influencia os níveis de anóxia (potencial redox) dentro do sedimento (Wilson et al., 2008, Yang et al., 2008). A quantidade de água retida é mais elevada em

sedimentos e argilas, diminuindo em sedimento dominado por areia muito grossa. Como os sistemas dominados por areia não podem reter tantos nutrientes quanto outros sistemas com uma menor distribuição de tamanho de partículas, são os mais vulneráveis à mudança (Rajkaran e Adams, 2011).

O teor de humidade (%) variou entre 17 e 38%, com o Local 5 apresentando o menor valor e o Local 4 o mais alto. A partir da distribuição de tamanho de partícula, esperava-se que os locais 3 e 4 tivessem um teor de humidade mais elevado, dado que quanto mais fina a areia mais água pode ser retida.

2 Amostras superficiais não foram colhidas devido a dificuldades de recolha de sedimentos suficientes à superfície.

3 De acordo com Faridah-Hanum et al. (2014) os sedimentos encontrados perto do rio serão mais finos e lodosos e os da área costeira

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Figura 5-10: Ilustração do tamanho de partícula dos sedimentos colhidos na área de estudo.

Figura 5-11: Teor de humidade dos sedimentos colhidos na área de estudo.

Marchand et al (2004) afirmam que o desenvolvimento e a distribuição espacial dos mangais são afectados principalmente pela salinidade, pH, condutividade e potencial redox. Os solos salinos geralmente têm um pH que é próximo do neutro entre 7,0 e 8,5; o pH desempenha um papel importante, pois afeta a nutrição das plantas (Waisel, 1972). Os sedimentos com um pH maior do que 7 poderiam resultar na perda de azoto devido a um processo conhecido como volatilização da amónia, onde esta se perde para a atmosfera (Reef et al., 2010). O nitrogénio é um dos nutrientes essenciais que afectam uma variedade de processos

biológicos e químicos (Kumar et al., 2011). Reef et al. (2010) afirmam que a estrutura e produtividade dos mangais são influenciadas principalmente pelos nutrientes disponíveis no sistema.

A Figura 5-12 mostra que o pH do sedimento variou entre 6,15-6,92. Os resultados mostram que o pH era quase neutro e ligeiramente ácido em algumas áreas. O pH e potencial redox do sedimento influenciam o crescimento e zoneamento das espécies de mangal (Rajkaran e Adams, 2012). O Local 5, que apresentou o maior número de espécies, tinha áreas secas e áreas em direcção ao canal que eram húmidas, sendo esta área a que aparenta reter menos humidade, tinha um pH próximo do neutro e baixa condutividade e

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Figura 5-12: Valores de pH no sedimento colhido em cada local.

Figura 5-13: Medições do Potencial Redox (mV) no sedimento colhido em cada local.

Os níveis de teor de sedimentos orgânicos são controlados pelas taxas de decomposição de folhas caídas, bem como outros factores. As taxas de decomposição são mais lentas onde a humidade é mais baixa (Langhans e Tockner, 2006). Assim, áreas que são mais secas terão menos matéria orgânica. Os

resultados indicam que o Local 5 foi a área mais seca enquanto o Local 4 era o mais húmido. Isto pode ser

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Figura 5-14: Teor de Matéria Orgânica no sedimento colhido em cada local.

6.0 CONCLUSÃO

Os mangais fornecem uma importante contribuição para a ecologia e economia dos ecossistemas costeiros, mas a sua destruição e degradação está a ocorrer a um ritmo alarmante. As florestas de mangal estão a reduzir em todo o mundo como resultado de actividades antrópicas, tais como sobre-utilização dos recursos de mangal, poluição, assoreamento induzido pelo homem, a urbanização e a conversão para criação de peixe e camarão. Os mangais também têm vindo a diminuir devido à perturbação natural. A perda de mangais tem uma série de implicações, ligadas aos diferentes tipos de serviços dos ecossistemas. Isso pode incluir a redução da qualidade da água, redução da biodiversidade, a perda de habitats de viveiro para peixes e crustáceos, os impactos negativos sobre os habitats costeiros adjacentes e a remoção de serviços e produtos que o homem obtém. Os habitats costeiros que normalmente são afectados incluem recifes de coral e tapetes de ervas marinhas uma vez que estes podem ser expostos a metais e compostos orgânicos que capturados nos sedimentos de mangais. Pescarias costeiras também sofrem, dado que esses mangais fornecem viveiros vitalmente importantes para uma ampla variedade de peixes e crustáceos estuarinos e marinhos.

A floresta de mangal encontrada dentro do sistema do curso de água costeiro Nhangonzo tem uma alta diversidade de espécies (7 possivelmente oito espécies) e é o único mangal de tamanho significativo encontrado ao longo de um trecho de 90 km de litoral entre baía da Ponta Chiuzine a sul de Vilanculos e o Rio Govuro para o norte. As árvores encontradas neste estudo são mais baixas do que a média, o que pode ser devido a uma falta de nutrientes dado que o sistema é alimentado principalmente por águas

subterrâneas (sem nutrientes de escorrência) e ocorre sobre um substrato de areia (não retém nutrientes tão eficazmente como sedimentos e argila). No entanto, o mangal parece estar em condição quase intocada, apesar de algumas das áreas apresentarem corte pelas comunidades locais. Com base na elevada diversidade de espécies e variedade este sistema pode ser descrito como altamente sensível e restrito.

Duas espécies, L. racemosa e X. granatum podem ser destacadas, uma vez que a taxa de recrutamento destas duas espécies foi muito baixa. É difícil determinar o motivo exacto para tal com base em dados de campo limitados, mas suspeita-se que L. racemosa possa ser afectada pela alta salinidade na floresta de mangal. Esta espécie normalmente ocorre em solos relativamente húmidos, bem drenados, e arenosos misturados com barro em áreas que estão abaixo de 25 ppt. A salinidade nos locais 3 e 4, onde L.

Referências

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