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Militantes e Ativismo

nos Partidos Políticos

Portugal em Perspetiva

Comparada

Marco Lisi

Paula do Espírito Santo

(organizadores)

(6)

Capa e concepção gráfica: João Segurado Revisão: Levi Condinho

Impressão e acabamento: Gráfica Manuel Barbosa & Filhos, Lda. Depósito legal: 426870/17

1.ª edição: Junho de 2017

Instituto de Ciências Sociais — Catalogação na Publicação

Militantes e ativismo nos partidos políticos : Portugal em perspetiva comparada / org., Marco Lisi, Paula do Espírito Santo. - Lisboa : Imprensa de Ciências Sociais, 2017. -

ISBN 978-972-671-395-1 CDU 329

© Instituto de Ciências Sociais, 2017

Imprensa de Ciências Sociais

Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lis Av. Prof. Aníbal de Bettencourt, 9

1600-189 Lisboa – Portugal Telef. 21 780 47 00 – Fax 21 794 02 74

www.ics.ulisboa.pt/imprensa E-mail: imprensa@ics.ul.pt

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Índice

Os autores . . . 13 Introdução . . . 17

Marco Lisi e Paula do Espírito Santo

Capítulo 1

A evolução da militância em Portugal: enquadramento legal

e tendências longitudinais . . . 29

Sérgio de Almeida Correia

Capítulo 2

O declínio da filiação partidária em Portugal: respostas

e estratégias das lideranças partidárias . . . 69

Júlio Fazendeiro

Capítulo 3

Filiados e ativismo partidário em Portugal: enquadramento

teórico e características do inquérito . . . 99

Marco Lisi, Paula do Espírito Santo e Bruno Ferreira Costa

Capítulo 4

Ativismo e participação nos partidos portugueses . . . 125

Marco Lisi e João Cancela

Capítulo 5

Ideologia, cultura política e posições programáticas:

as preferências dos filiados . . . 155

(8)

Capítulo 6

A democracia intrapartidária em Portugal: uma análise comparada das perceções dos filiados do BE, CDS-PP,

LIVRE, PS e PSD . . . 187

Edalina Sanches e Isabella Razzuoli

Capítulo 7

Padrões de comunicação interna nos partidos políticos

portugueses: o caso do PSD, PS e CDS-PP . . . 213

Rita Figueiras e Jaime R. S. Fonseca

Capítulo 8

Filiados e ativistas partidários em perspetiva comparada . . . 247

Anika Gauja e Emilie Van Haute

Capítulo 9

Filiação partidária: desafios e notas finais . . . 271

(9)

Índice de quadros e figuras

Quadros

1.1 Quadro-resumo estatutário dos membros dos partidos com assento parlamentar . . . 52 1.2 Taxas de militância na Europa com base em inquéritos 2002-2010 (%) 54 1.3 Evolução da militância (números absolutos) 1974-2014 . . . 59 2.1 Evolução da densidade da filiação (números absolutos), 2000-2014 71 2.2 Congressos/Convenções realizados . . . 77 2.3 Estratégias organizacionais (número absoluto e percentagem

dos documentos analisados) . . . 79 3.1 Critérios e condições da filiação partidária em Portugal (2015) . . . . 109 3.2 Direitos dos filiados nos estatutos dos partidos portugueses

com representação parlamentar . . . 109 3.3 Amostra dos filiados partidários nos inquéritos aos partidos

portugueses . . . 112 3.4 Perfil dos filiados partidários em Portugal (%) . . . 113 3.5 Perfil dos filiados e dos delegados dos partidos portugueses (%) . . . 116 4.1 Motivações da adesão nos partidos portugueses . . . 133 4.2 Perceção do ativismo nos partidos portugueses (%) . . . 134 4.3 Intensidade de participação por partido e tipo de estrutura (%) . . . . 135 4.4 Ativismo nos partidos portugueses . . . 137 4.5 Análise de componentes principais (variável «índice de participação») 140 4.6 Caracterização das variáveis em análise . . . 142 4.7 Resultados de regressão linear para a variável dependente

«índice de participação» . . . 143 4.8 Determinantes de diferentes tipos de participação partidária . . . 145 4.9 Análises de componentes principais (ACP) das atividades

conduzidas no quadro do partido . . . 151 5.1 Temas socioeconómicos e socioculturais: inquérito aos filiados . . . 166

(10)

5.2 Diferenças no posicionamento ideológico dos filiados: comparações

múltiplas . . . 172

5.3 Coesão intrapartidária nos temas socioeconómicos e culturais (desvio-padrão) . . . 172

5.4. Determinação de autoposicionamento na escala esquerda-direita: análise multivariada . . . 176

5.5 Codificação das variáveis . . . 181

5.6 Características da escala esquerda-direita socioeconómica . . . 181

5.7 Características da escala GALTAN . . . 182

6.1 Grau de inclusividade do selectorate . . . 198

6.2 Experiência partidária dos militantes (% que concorda ou discorda de cada uma das afirmações) . . . 201

6.3 Índice de participação em atividades político-partidárias, por partido . 204 6.4 Índice de participação em atividades político-partidárias, de acordo com a experiência partidária dos militantes . . . 206

7.1 Perfis do conjunto dos filiados (PS, PSD e CDS-PP) . . . 222

7.2 Perfis dos filiados (covariáveis) . . . 225

7.3 Perfis dos filiados – PS . . . 228

7.4 Perfis dos delegados – PSD . . . 230

7.5 Perfis dos delegados – CDS-PP . . . 232

7.6 Estimativas dos parâmetros do modelo com duas componentes (PS, PSD, CDS-PP) . . . 239

7.7 Estimativas dos parâmetros do modelo com duas componentes (covariáveis) . . . 243

8.1 Critérios/condicionamentos à filiação partidária – visão geral comparativa (N = 77) . . . 251

8.2 Direitos e obrigações dos filiados – visão geral comparativa . . . 253

8.3 Perfil social dos filiados – visão geral comparativa (N = 57) . . . 258

Figuras

1.1 Evolução da militância em Portugal 1974-2014 . . . 60

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2.2 Evolução do rácio F/E, 2000-2014 . . . 72 2.3 Classificação da resposta dos partidos políticos . . . 73 4.1 Distribuição da variável «índice de participação» . . . 140 5.1 Posicionamento na escala esquerda-direita: congruência entre

filiados e partidos . . . 165 5.2 Diferenças entre as posições dos filiados face a questões

socioeconómicas . . . 168 5.3 Diferenças entre as posições dos filiados face a questões socioculturais 169 5.4 Posicionamento dos militantes nos eixos esquerda-direita

socioeconómica e GALTAN . . . 171 6.1 Procedimento para a escolha do líder (%) . . . 203 6.2 Satisfação com a influência exercida no partido (%) . . . 203

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Os autores

Anika Gauja é professora no Departamento de Governo e Relações

Internacionais, na Universidade de Sydney. A sua investigação incide sobre a transformação organizacional de partidos políticos em resposta a mudanças sociais. Tem várias publicações sobre partidos políticos na Austrália e no Reino Unido.

Bruno Ferreira Costa é doutorado em Ciências Sociais, na

especiali-dade de Ciência Política, pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa (ISCSP-ULisboa), e tem desenvol-vido investigação na área da qualidade da democracia, sistemas políticos e eleitorais e participação política. Atualmente é professor auxiliar da Universidade da Beira Interior (UBI) e diretor do mestrado em Ciência Política nesta Universidade.

Edalina Rodrigues Sanches é investigadora de pós-doutoramento em

Ciência Política no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lis-boa (ICS-UL) e no Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI--UNL). É ainda professora auxiliar convidada no Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa – Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL). Recebeu o prémio de melhor tese de doutoramento da As-sociação Portuguesa de Ciência Política (2014-2016) pela investigação Ex-plaining Party System Institutionalization in Africa: From a Broad Comparison to a Focus on Mozambique and Zambia. Os seus interesses de pesquisa in-cluem democratização, instituições e atitudes políticas em novas demo-cracias, com foco em África.

Ekaterina Gorbunova é doutoranda em Política Comparada no

Ins-tituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-ULisboa) e bolseira de investigação no Instituto Português das Relações Internacio-nais da Universidade Nova de Lisboa (IPRI-UNL). A sua investigação

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tem-se centrado na democratização e qualidade da democracia, atitudes políticas e cultura política, estudos europeus, governação global e desen-volvimento das políticas de educação. Recentemente, publicou «Portu-guese citizens support for democracy 40 years after the carnation revo-lution» (South European Society and Politics), em coautoria.

Emilie van Haute é professora na Université Libre de Bruxelles (ULB)

e membro do Centre d’étude de la vie politique (Cevipol). É doutorada pela ULB (2008) e foi bolseira de pósdoutoramento pela fundação Fran -cqui (Universiteit Antwerpen) e FNRS (University of British Columbia). As suas áreas de investigação incluem a militância partidária, dinâmicas intrapartidárias, participação, eleições e comportamento eleitoral.

Isabella Razzuoli é doutoranda em Política Comparada pelo Instituto

de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-UL). Na sua disser-tação analisa o Partido Socialista (PS) e o Partido Social Democrata (PSD) do ponto de vista da distribuição do poder interno e da relação entre a estrutura nacional e as estruturas no território. Os seus principais inte-resses de investigação incluem partidos políticos, democracia intraparti-dária, financiamento da política e relação partidos-grupos de interesses.

Jaime R. S. Fonseca é doutorado em métodos quantitativos (Statistics

and Data Analysis) pelo Instituto Superior de Ciências do Trabalho e

Empresa (ISCTE-Business School-IUL). Atualmente éprofessor auxiliar

com agregação no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da

Universidade de Lisboa (ISCSP-ULisboa), docente nos três ciclos de

es-tudos da área das Ciências da Comunicação e investigador no Centro

de Administração e Políticas Públicas (CAPP/ISCSP/Ulisboa), onde

coordena o grupo de investigação «Sociedade, Comunicação e Cultura».

Os seus interesses incluem a aplicação dos métodos mistos de

investigação às Ciências Sociais, nomeadamente aos aspetos da

comu-nicação.

João Cancela é doutorando em Ciência Política na Faculdade de

Ciên-cias Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (FCSH-UNL). Atualmente é também docente assistente convidado na FCSH-UNL e na Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho (EEG-UM). As suas áreas de interesse são a participação eleitoral, o envolvimento político, os partidos e a democracia.

Militantes e Ativismo nos Partidos Políticos

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Júlio Fazendeiro é licenciado em Ciência Política e Relações

Interna-cionais pela Universidade da Beira Interior (UBI). Atualmente é douto-rando em Política Comparada no Instituto de Ciências Sociais da Uni-versidade de Lisboa (ICS-ULisboa) onde desenvolve uma investigação sobre a filiação partidária. Os seus interesses de investigação incluem par-tidos políticos, eleições e atitudes políticas.

Marco Lisi é professor auxiliar no Departamento de Estudos Políticos

da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (FCSH-UNL) e investigador no Instituto Português das Relações Internacionais da Universidade Nova de Lisboa (IPRI-UNL). Os seus principais interesses de investigação são partidos políticos, eleições, re-presentação política e campanhas eleitorais, sobre os quais tem publicado vários livros e artigos em revistas nacionais e internacionais.

Paula do Espírito Santo é professora auxiliar com agregação no

Ins-tituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, da Universidade de Lisboa (ISCSP-ULisboa), e investigadora do Centro de Administração e Políticas Públicas (CAPP/ISCSP-ULisboa). Colabora ainda como docente em ou-tras universidades nacionais e no estrangeiro. As suas áreas de investiga-ção e interesse centram-se no estudo da cultura política e filiainvestiga-ção parti-dária, para além da comunicação política e metodologia das ciências sociais. Entre as últimas contribuições de Paula do Espírito Santo está a obra com edição conjunta de Rita Figueiras (2016), Beyond Internet – Un-plugging the Protest Movement Wave, Routledge.

Rita Figueiras é doutorada em Ciências da Comunicação pela

Uni-versidade Católica Portuguesa (UCP), onde é coordenadora do programa de doutoramento em Ciências da Comunicação e docente nos três ciclos de estudos da área das Ciências da Comunicação. É Membro da Direção do Centro de Estudos de Comunicação e Cultura da Universidade Ca-tólica Portuguesa (CECC-UCP).

Sérgio de Almeida Correia é licenciado em Direito, na menção de

Ciências Jurídico-Políticas, da Universidade de Lisboa (FDL-ULisboa) (1985), e mestre em Ciência Política pelo Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa – Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE--IUL) (2003), onde é atualmente doutorando de Ciência Política. Advo-gado de profissão, é colaborador regular da imprensa de Macau e um dos membros permanentes do programa de análise política internacional

Os autores

(16)

da TDM-Rádio Macau. É autor do blogue «Visto de Macau» e coautor do blogue «Delito de Opinião».

Militantes e Ativismo nos Partidos Políticos

(17)

Edalina Sanches

Isabella Razzuoli

Capítulo 6

A democracia intrapartidária

em Portugal: uma análise comparada

das perceções dos filiados do BE,

CDS-PP, LIVRE, PS e PSD

*

Introdução

Os estudos recentes sobre democracia intrapartidária (DIP) demons-tram que os partidos políticos ocidentais têm vindo a adotar reformas or-ganizacionais importantes com vista a aumentar a participação dos filiados em processos decisórios internos como a escolha do líder ou dos candi-datos a deputados (LeDuc 2001; Bille 2001; Kenig 2009; Hazan e Rahat 2010; Cross e Pilet 2013; Seddone e Venturino 2013; Van Haute e Gauja 2015). Esta tendência de incremento da DIP é vista como benéfica quer do ponto de vista interno quer externo. Por um lado, favorece o envolvi-mento dos militantes (e, no limite, dos eleitores) nas decisões dos partidos. Por outro lado, permite contrariar alguns dos sintomas de crise que os partidos vêm enfrentando e que são visíveis na queda do número de mi-litantes e dos níveis de participação eleitoral, entre outros (Dalton e Wat-tenberg 2000; Dalton 2008; van Biezen, Mair e Poguntke 2012).

Apesar destes benefícios, também existem riscos. Aumentar o grau de DIP pode tornar menos eficazes e mais lentos os processos decisórios, secundarizar o papel das organizações intermédias dos partidos, e amea-çar os poderes dos filiados vis-à-vis com os simpatizantes e/ou eleitores (sobre este debate ver: Kittilson e Scarrow 2003; Saglie e Heidar 2004; Scarrow 2005; Rahat, Hazan, e Katz 2008; Hazan e Rahat 2010; Cross e Katz 2013). Para além disso, não há garantia de que aumentar a

inclusi-187

* As autoras agradecem os comentários dos organizadores deste livro, de dois referees anónimos da Imprensa de Ciências Sociais, e dos membros do Grupo de Investigação Regimes e Instituições do Instituto de Ciências Sociais-Universidade de Lisboa.

(18)

vidade no processo de escolha dos candidatos leve a que os candidatos selecionados sejam os mais representativos ou de que os militantes irão aproveitar as novas oportunidades de participação oferecidas pelos par-tidos. Sandri e Amjahad (2015) revelam que são os militantes tradicio-nalmente mais ativos, mais satisfeitos com os procedimentos de DIP e com mais anos de filiação que mais tiram proveito das novas oportuni-dades de participação geradas. Num estudo anterior, Sandri (2012) de-monstrou que as perceções que os militantes têm sobre o seu papel den-tro do partido estão correlacionadas com o seu grau de satisfação com a DIP. Indicando assim existir uma relação estreita entre participação e sa-tisfação com o grau de democraticidade interna.

Em Portugal, a maioria dos estudos analisa a dimensão estatutária da DIP (Belchior 2008; Lisi 2010 e 2011; Lisi e Freire 2014), embora contri-buições muito recentes tenham considerado a forma como os militantes percecionam este fenómeno (Coelho 2013; Lisi 2015). No entanto, per-manecem questões em aberto sobre o modo como os militantes de di-ferentes partidos avaliam o grau de democratização do seu partido e sobre as suas implicações políticas. Em concreto, até que ponto os militantes estão satisfeitos com a democracia interna do seu partido? E, em que medida, estas avaliações influenciam o seu grau de ativismo político-par-tidário? O presente estudo apresenta respostas para estas questões utili-zando dados do projeto «Filiados e Delegados dos Partidos. Portugal em Perspetiva Comparada», que consistiu num inquérito online lançado em 2014 e no qual participaram os militantes do Bloco de Esquerda (BE), do Centro Democrático e Social-Partido Popular (CDS-PP), do Partido Socialista (PS), do Partido Social Democrata (PSD) e do

LIVRE-Liber-dade, Esquerda, Europa e Ecologia.1

Esta análise é importante por três razões. Em primeiro lugar, porque examina a DIP à luz das perceções dos militantes contrariando a tendên-cia predominante de estudar este fenómeno do ponto de vista formal e estatutário. Em segundo lugar, estudos recentes (Sandri 2012; Sandri e Amjahad 2015) têm demonstrado que existe uma correlação significativa entre, por um lado, a avaliação que os militantes fazem acerca da DIP e, por outro lado, o seu grau de envolvimento nas atividades do partido. Em terceiro lugar, porque em Portugal os principais partidos adotaram inovações organizativas importantes no sentido de alargar as esferas de

Militantes e Ativismo nos Partidos Políticos

188

1Este projeto foi coordenado por Paula Espírito Santo e Marco Lisi. Insere-se na rede

internacional Members and Activists of Political Parties (MAPP), coordenada por Emilie van Haute (http://www.projectmapp.eu). Não foi obtida resposta por parte do Partido Comunista Português.

(19)

decisão aos militantes (por exemplo, no que se refere à escolha do líder e dos candidatos a nível nacional ou municipal). As inovações não foram idênticas em todos os partidos, mas são relevantes tendo em conta que os partidos portugueses são habitualmente caracterizados por um elevado grau de centralização dos processos decisórios, no que concerne aos pro-cessos de recrutamento e de formulação de políticas (Freire 1998; Lopes 2002; Lobo 2007). Para além disso, estes partidos apresentam uma rele-vante variação em termos da sua génese e do seu modelo organizativo, o que pode influenciar a sua propensão para introduzir ou apoiar medi-das de maior inclusão e participação dos seus membros. Com efeito, se por um lado os partidos «tradicionais» – PS, PSD e CDS-PP – apresen-tam traços hierárquicos e verticalizados, os novos partidos da esquerda libertária, como o BE e mais recentemente o LIVRE, são formações es-truturadas de forma mais flexível e não-hierárquica e com enfâse em prin-cípios de democracia direta (Lisi 2011).

Estudar a DIP à luz das perceções dos militantes permite descobrir o que estes pensam sobre as disposições formais que regem o seu partido e nesse sentido constitui uma oportunidade singular para a compreensão do funcionamento interno dos partidos em Portugal.

Começamos por apresentar as principais perspetivas sobre a definição de DIP, assim como as suas implicações e consequências práticas, dando particular destaque ao caso de Portugal. De seguida analisamos a confi-guração estatutária das áreas em que os partidos têm encetado mais mu-danças: a seleção do líder, a seleção dos candidatos para cargos públicos e a formulação das políticas do partido. Aqui o objetivo é o de fornecer um enquadramento normativo que permita uma melhor compreensão das perceções dos militantes. Apresentamos depois as perceções dos mi-litantes sobre o funcionamento interno do seu partido e examinamos os efeitos destas na militância ativa. Concluímos com a síntese das princi-pais conclusões deste estudo.

Democracia intrapartidária: operacionalização

e implicações

Os partidos são essenciais para a democracia na medida em que de-sempenham funções vitais que ligam os cidadãos aos governos eleitos (Sartori 1976). Para Schattschneider (1942), esta componente democrática dos partidos, que se concretiza na competição eleitoral interpartidária, é mais relevante do que a sua expressão a nível intrapartidário, uma vez que não há garantia de que a mera existência de estruturas formais

de-A democracia intrapartidária em Portugal

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2Num cenário em que o universo eleitoral para a seleção do líder inclui militantes e

simpatizantes, as estruturas intermédias do partido a nível territorial perdem poder de decisão, e o processo ganha um cariz nacional. Daí que métodos mais inclusivos – e. g., primárias abertas – estejam por vezes associados a maior centralização. No mesmo sentido ver Hazan e Rahat (2010) sobre a seleção de candidatos. Contudo, como nota Scarrow, enquanto a inclusividade indica claramente a expansão do acesso a tomada de decisões – isto é, uma democratização –, descentralização territorial e democratização não estão necessariamente associadas (Scarrow 2005, 6).

mocráticas leve à adoção de práticas democráticas por parte dos partidos. Na verdade, elas podem encobrir práticas oligárquicas, quer por parte de partidos de massas onde seriam menos expectáveis – como argumenta-ram Duverger (1959) e Michels (1962) – quer por parte de partidos-cartel onde apesar de os membros terem mais poderes formais estes são menos efetivos porque exercidos de forma mais atomizada (Katz e Mair 1995; Saglie e Heidar 2004).

No entanto, porque a democracia implica a existência de instituições e de procedimentos democráticos (Saglie e Heidar 2004, 386), importa definir e avaliar os critérios que qualificam um partido como interna-mente democrático (Linz 2002, 309-311). E, isso passa por responder a questões como: A participação deve ou não estar limitada aos militantes? Os eleitores devem ou não poder votar nas decisões dos partidos? As de-cisões devem ser tomadas por delegação ou participação direta? (Saglie e Heidar 2004, 386).

Segundo Scarrow (2005, 3) «A ‘democracia intrapartidária’ é um con-ceito muito abrangente, que compreende um conjunto diverso de mé-todos que visam a inclusão dos militantes nos processos intrapartidários de deliberação e de tomada de decisão». Segundo a autora, a inclusivi-dade e a centralização são os dois critérios que permitem descrever a forma como os partidos definem o acesso a decisões-chave como a esco-lha do líder ou dos candidatos a cargos públicos (2005, 6). A inclusivi-dade indica o grau de abrangência do círculo de decisão dentro do par-tido; se as regras são tendencialmente exclusivas, apenas o líder ou um pequeno grupo de dirigentes participam no processo de tomada de de-cisões, e se são mais inclusivas todos os militantes e, no limite, todos os apoiantes do partido podem participar (Scarrow 2005, 6). A centralização indica até que ponto as decisões estão centralizadas no órgão executivo (nacional) do partido ou estão descentralizadas ao longo dos vários níveis geográficos do partido (Scarrow 2005, 6). Este continuum inclusividade/ex-clusividade e descentralização/centralização é utilizado em vários estudos

sobre DIP.2

Militantes e Ativismo nos Partidos Políticos

(21)

Para Rahat e Hazan (2001) e Hazan e Rahat (2006), o grau máximo de inclusividade permite que, no limite, os eleitores possam participar na es-colha dos candidatos a deputados; enquanto o grau mais elevado de des-centralização garante um maior envolvimento dos órgãos subnacionais no processo de seleção dos candidatos. Mais recentemente, um esforço notável de operacionalização quantitativa propõe medir o grau de DIP com base em perto de 100 indicadores, agregados em três domínios es-pecíficos: direitos dos membros, estrutura organizacional e processo de tomada de decisão (Von dem Berge et al. 2013). Este exercício resultou numa ferramenta exaustiva e útil para medir a DIP em vários níveis da estrutura organizativa dos partidos, permitindo ainda lidar com a sua complexidade. Mas que fatores levam os partidos a aumentar a demo-cracia interna?

Os partidos têm diferentes entendimentos sobre a DIP e podem seguir diferentes estratégias consoante os desafios internos e externos que vão enfrentando, nomeadamente: aumento das formas de ação política não--convencionais e alternativas à militância clássica; atitudes crescentes de desafeição política e de desconfiança face aos partidos, declínio dos níveis de filiação partidária e apelos de maior abertura e modernização dos par-tidos (Scarrow 1999; Kittilson e Scarrow 2003; Van Haute 2009; Wauters 2009; Scarrow e Gezgor 2010; Whiteley 2011; Van Biezen, Mair e Po-guntke 2012).

Para Scarrow (2005), se os partidos atribuem grande relevância aos as-petos processuais, ou seja, aos elementos participativos da democracia, procurarão criar internamente estruturas que permitam aos cidadãos in-fluenciar as propostas que apresentam aos seus eleitorados, ao passo que se estiverem mais focados nos resultados, conforme a visão liberal da de-mocracia, procurarão criar estruturas que facilitem a apresentação de op-ções programáticas claras aos eleitores (Scarrow 2005, 3-4). Cross e Katz (2013) convergem com Scarrow (2005) neste ponto, mas também salien-tam o facto de que os partidos enfrensalien-tam desafios específicos em termos de participação, inclusividade ou descentralização que influenciam as suas escolhas em termos de DIP (Cross e Katz 2013, 2).

A este propósito, uma das interpretações mais provocadoras para in-terpretar a tendência de inclusão dos membros nos processos de tomada de decisão é dada pela teoria do partido cartel de Katz e Mair (1995 e 2009). Segundo estes autores, os líderes partidários mudam as regras in-ternas, no sentido de democratizar os processos decisórios, com o obje-tivo de disfarçar a centralização do poder e o reforço da sua própria au-tonomia dentro da organização (Katz e Mair 1995 e 2009). Isto é possível

A democracia intrapartidária em Portugal

(22)

porque os partidos reforçam os poderes dos militantes «tendencialmente mais atomizados e passivos» à custa dos poderes dos delegados, dos ati-vistas e dos líderes subnacionais, alegadamente mais radicais. O resultado é pois o enfraquecimento das estruturas intermédias e o reforço da auto-nomia do líder (Katz 2001).

Os estudos até aqui mencionados indicam que a DIP é um conceito empiricamente difícil de balizar mas que está particularmente associado ao continuum inclusividade/exclusividade e ao grau de abertura dos proces-sos internos a novos atores. Este tem sido o ponto de partida para vários estudos que mediram a DIP a partir dos estatutos dos partidos, mesmo que focando fenómenos distintos como a democratização do processo de escolha do líder ou dos candidatos a eleições. Dentro desta literatura encontram-se alguns estudos, ainda que em menor número, sobre as per-ceções, as preferências e o grau de satisfação dos militantes no que diz respeito aos mecanismos de democracia interna e às oportunidades de participação e de influência formalmente oferecidas pelos seus partidos. Estes estudos sugerem, de um modo geral, que existem diferenças signi-ficativas entre militantes de diferentes partidos e entre diferentes tipos de militantes quando avaliam o grau de DIP do seu partido (Young e Cross 2002; Saglie e Heidar 2004; Wauters 2009; Van Holsteyn e Koole 2009; Baras et al. 2012; Sandri 2012; Sandri e Amjahad 2015).

Estudos sobre a democracia intrapartidária

em Portugal

Em Portugal, a DIP tem sido investigada principalmente do ponto de vista estatutário (Belchior 2008; Lisi 2010 e 2011; Lisi e Freire 2014) em-bora existam alguns estudos que tenham considerado as perceções dos candidatos (Freire e Teixeira 2011) ou dos militantes a este respeito (Coe-lho 2013; Lisi 2015). A análise dos estatutos tem demonstrado que os par-tidos portugueses, tradicionalmente caracterizados por um elevado grau de centralização – em matérias como formulação de políticas e recruta-mento político (Freire 1998; Lopes 2002; Lobo 2007; Lisi 2015) – têm vindo a adotar importantes medidas de democratização interna. Em con-creto, nos últimos anos, os três partidos com experiência governativa – CDS-PP, PS e PSD – adotaram medidas no sentido de democratizar o processo de seleção dos líderes (Lisi 2011), ainda que o PS habitualmente figure como o partido com maior adesão aos princípios e procedimentos democráticos no contexto partidário português (Belchior 2008). A expli-cação para a implementação destas mudanças é interna e externa. Segundo

Militantes e Ativismo nos Partidos Políticos

(23)

Lisi (2011) os partidos deram mais poder aos militantes por razões essen-cialmente instrumentais, seja por necessidade de reforçar a autonomia da liderança perante fações internas, seja por questões de competição eleito-ral. No que diz respeito às consequências, argumenta que a competição pela liderança, com base em primárias fechadas, não tem estimulado o aumento da filiação, nem uma mobilização significativa por parte dos membros.

Os estudos sobre os militantes são recentes e incidem, especialmente,

sobre as elites intermédias.3Jalali e Lobo (2007) conduziram um inquérito

aos delegados do XV Congresso do PS e testaram a «Lei da disparidade curvilinear» de May (1973), segundo a qual as elites intermédias tendem a adotar posições políticas mais radicais do que as bases eleitorais. Um inquérito de Freire e Viegas (2009) demonstrou que os candidatos parla-mentares dos partidos de esquerda (BE, CDU e PS) têm uma perceção mais positiva do grau de inclusividade do seu partido do que os da direita (CDS-PP e PSD). No que diz respeito à centralização, enquanto os can-didatos dos dois principais partidos (PS e PSD) consideram que a seleção dos candidatos a deputados é decidida sobretudo a nível distrital e na-cional, os do BE, CDS-PP e CDU elegem os níveis distrital e regional como os mais influentes (Freire e Teixeira 2011, 43-44).

Mais recentemente, um inquérito aos filiados da Federação da Área Urbana de Lisboa do PS e da Distrital de Lisboa do PSD indicou que os filiados têm perceções diferentes sobre o processo de seleção do líder (Coelho 2013). Os militantes do PSD mostraram-se menos a favor de uma maior democratização deste processo do que os do PS; o que po-derá indiciar uma tendência de maior atomização dos militantes socia-listas (Coelho 2013). Partindo de dados de um inquérito aos delegados ao XVIII Congresso do PS (Braga, 9-11 de setembro de 2011) e do in-quérito online do projeto «Filiados e Delegados dos Partidos. Portugal em Perspetiva Comparada», Lisi (2015) chegou a conclusões importantes re-lativamente aos «ativistas» do PS (incluindo militantes de base e um grupo substancial da elite intermédia): nomeadamente que querem mais democracia interna, mesmo quando exibem baixos níveis de ativismo e de identificação com as posições políticas do partido. O conjunto destes estudos sugere que existem diferenças importantes quer entre os partidos quer entre os seus militantes no que toca à DIP. As próximas secções irão analisar estas diferenças.

A democracia intrapartidária em Portugal

193

3Com exceção das investigações seminais levadas a cabo por Stock (1985) e Stock e

(24)

Democracia intrapartidária à luz das regras

estatutárias

Nesta secção apresentamos as regras estatutárias que incentivam a par-ticipação dos membros nos processos decisórios internos. Em particular, a análise debruça-se sobre três âmbitos onde se têm registado importantes mudanças nos últimos anos: a seleção do líder, a seleção dos candidatos para cargos públicos e a formulação das políticas do partido (e. g., mani-festo eleitoral). Esta análise inclui todos os partidos que participaram no projeto «Filiados e Delegados dos Partidos. Portugal em Perspetiva Com-parada» – BE, CDS-PP, LIVRE, PS e PSD – e reporta as principais

alte-rações até ao período em que o inquérito esteve ativo para cada partido.4

Ela é útil pois permite um melhor enquadramento das perceções dos mi-litantes sobre o funcionamento do seu partido.

Seleção do líder

O PS, o PSD e o CDS-PP são os partidos com representação

parla-mentar que mais têm vindo a abrir o selectorate5para a seleção do líder,6

transferindo o poder de decisão dos delegados, eleitos ao Congresso Na-cional, para todos os membros. No entanto este processo não foi idêntico em todos os partidos nem unidirecional, como detalhamos de seguida. O Partido Socialista foi o primeiro partido a democratizar a seleção do líder, introduzindo em 1998 o sistema de primárias fechadas (Lisi 2009). Conforme este sistema, o selectorate é composto pelos filiados com capacidade eleitoral, ou seja, na posse de seis meses de filiação no mínimo e com as quotas atualizadas. O requisito de seis meses, como tempo mí-nimo de filiação, foi repristinado pelo atual secretário-geral, António Costa, depois de o anterior líder, António José Seguro, ter estendido o mesmo requisito de seis para doze meses. Neste sentido, a alteração efe-tuada por Seguro restringia o grau de inclusividade, podendo ser

inter-Militantes e Ativismo nos Partidos Políticos

194

4Período em que o questionário esteve ativo online: BE (25-11-2014 – 30-12-2014);

CDS-PP (05-1-2014 – 2-2014); LIVRE (11-2014 – 30-12-2014); PS (5-2015 – 15--7-2014) e PSD (15-2-2014 – 30-3-2014).

5O termo selectorate é comummente utilizado na literatura para indicar o universo de

pessoas que têm o direito de participar na seleção do líder e dos candidatos. Ao longo deste estudo será usado o termo em inglês, como fazem outros estudos (Freire e Teixeira 2011).

6Em concomitância com a escolha do líder, os membros elegem os delegados das

(25)

pretado como uma intenção de favorecer os ativistas mais seniores vis-à--vis com os mais novos. Oito anos depois do PS, em 2006, o PSD intro-duziu as primárias fechadas para selecionar o líder. Até então, o presi-dente da Comissão Política Nacional era escolhido no Congresso. O selectorate do PSD – tal como o do PS – inclui os membros com capa-cidade eleitoral, ou seja, com seis meses de filiação e quotas atualizadas. Este mesmo sistema é utilizado para selecionar os líderes intermédios, ou seja, os presidentes das comissões políticas federativas/distritais, em ambos os partidos. Saliente-se que os sociais-democratas escolhem os lí-deres distritais desta forma desde 1996. No entanto, nesta altura não con-seguiram reunir apoio suficiente para alargar esta medida ao líder parti-dário, uma vez que ela não gerava consenso entre as personalidades relevantes do aparelho partidário (Pereira 2007; Lisi 2011).

Também o CDS-PP tornou mais inclusivo o universo eleitoral para a seleção do presidente, estendendo o poder de voto aos membros com capacidade eleitoral ativa. Similarmente ao PS e ao PSD, vigorava um sistema de primárias fechadas, embora aqui os membros precisassem de estar inscritos apenas três meses antes da data da eleição e ter as quotas em dia. Contudo, no CDS-PP esta experiência foi relativamente breve, durando entre 2005 e 2011. Com efeito, em 2011 o Congresso restringiu o grau de inclusividade do processo de eleição do presidente e decidiu regressar ao sistema de delegação em que o poder de decisão recai sobre os delegados eleitos pelas assembleias concelhias. Esta repentina mu-dança organizativa é interessante pois mostra como a introdução de re-formas para democratizar os procedimentos dos partidos não é neutra. Na medida em que afeta a distribuição do poder internamente pode ser

alvo de resistências e de conflitos significativos.7

Diferente dos partidos do «arco da governação» e analogamente a ou-tros partidos europeus da esquerda libertária ou verdes, o BE não detalha nos estatutos a figura do líder, sendo este considerado como um «coor-denador» ou um «porta-voz» da Comissão Política. O coordenador é es-colhido na Convenção Nacional, portanto por um universo eleitoral

mais restrito e menos inclusivo dos aderentes.8Na mesma linha o LIVRE

não se estrutura à volta de uma liderança personalizada e, portanto, não define a figura do líder. Contudo, relativamente aos cargos internos os

A democracia intrapartidária em Portugal

195

7Note-se a este propósito que o regresso ao anterior sistema foi o resultado de uma

al-teração aos estatutos votada no Congresso de março de 2011, após apresentação de uma moção da Juventude Popular (Lisi 2011, 232).

(26)

estatutos admitem que todos os membros, com quotas em dia, têm «o

direito de eleger e de ser eleitos para cargos internos».9

Estudos que analisaram variações no posicionamento dos partidos em relação à democracia interna indicam que estas variações podem ser con-tingentes à cultura política e à ideologia dos mesmos. Em particular sus-tentam que os partidos que enfatizam os aspetos mais participativos da democracia – como em geral os partidos de esquerda e principalmente os da esquerda libertária – são mais propensos a desenvolver estruturas organizativas onde os cidadãos têm um maior envolvimento político. São também nestes partidos que os membros apresentam posicionamen-tos mais favoráveis em relação à introdução de medidas que ampliam a DIP (Pedersen 2010, 238; Baras et al. 2012, 6).

Seleção de candidatos para cargos públicos

Entre os partidos considerados, o PS é o único com representação par-lamentar a ter democratizado este processo. A direção de Seguro intro-duziu mecanismos de democratização do processo para a formação das listas de candidatos à Assembleia da República durante a revisão estatu-tária de 2012. Os militantes eram chamados a votar se uma lista alterna-tiva desafiasse a lista da Comissão Política da Federação (art.º 78.º c). Princípios semelhantes foram aplicados para a escolha do candidato à Câmara Municipal: os militantes inscritos na Concelhia tinham poder

de voto caso se apresentassem dois candidatos (art.º 78.º b).10

As regras relativas à seleção de candidatos para cargos públicos foram alteradas pelos estatutos aprovados em 2015 com a nova direção de An-tónio Costa, no sentido de possibilitar a escolha de candidatos através de primárias, cujo carácter é definido com regulamento próprio (art.º 59.º 6). Esta alteração vem na sequência do sucesso das primeiras primá-rias abertas organizadas pelo partido em 2014 para a escolha do candi-dato a primeiro-ministro. As primárias abertas não constavam nas regras estatutárias vigentes na altura e foi adotada excecionalmente por decisão de Seguro, então secretário-geral, na sequência da vitória pouco expres-siva do partido nas eleições europeias. A escolha entre Seguro e Costa foi sujeita aos votos de membros, simpatizantes e independentes que es-tivessem inscritos nos cadernos eleitorais desde que não pertencessem a outros partidos. Neste caso, o PS estendeu o grau de inclusividade do

Militantes e Ativismo nos Partidos Políticos

196

9http://livrept.net/participar (consultado a 3 de janeiro de 2015) 10Este sistema foi aplicado nas eleições autárquicas de 2013.

(27)

processo, embora seja importante sublinhar a relação entre a adoção desta medida e a contestação que atingiu a liderança do partido nesse especí-fico momento.

Neste domínio o PSD difere significativamente do PS. Embora tenham surgido internamente propostas a favor da introdução de primárias (aber-tas ou fechadas) para a seleção dos candidatos, o líder do partido e a Co-missão Política continuam a ter um papel crucial neste processo (Lobo 2007). Contudo, existem elementos de descentralização, como por exem-plo a auscultação das secções na fase em que as Comissões Políticas Dis-tritais elaboram a proposta de composição das listas a submeter à Comis-são Nacional (Teixeira 2009, Teixeira e Freire 2011). Do mesmo modo o CDS-PP não garante nenhum poder de influência aos militantes na sele-ção de candidatos, sendo o processo para a formasele-ção das listas fortemente centralizado (Teixeira 2009). No caso do BE não há nos estatutos nenhum mecanismo formalizado para a escolha dos candidatos. No entanto, na prática, os órgãos distritais e locais parecem ter influência nesse processo (Teixeira e Freire 2011). Essa é, pelo menos, a perceção que os candidatos têm (ibid.). O LIVRE é o partido mais inovador e inclusivo deste ponto de vista, sendo que os seus estatutos atribuem aos apoiantes, e não apenas aos membros, o direito de eleger e de serem eleitos pré-candidatos. Ado-tando o sistema de primárias abertas o LIVRE apresenta em absoluto o maior grau de inclusividade dos partidos abrangidos neste estudo.

Formulação das políticas do partido

A área da formulação das políticas do partido (e. g., elaboração de mani-festos eleitorais e de outros documentos programáticos) é a que tem regis-tado menos mudanças ou avanços em matéria de democratização interna.

Os estatutos do PSD, PS e CDS-PP sempre incluíram referências à figura do «referendo interno» para decidir sobre questões políticas importantes, contudo este mecanismo quase não é utilizado. O PSD admite a convo-cação de um referendo no intervalo entre congressos, sobre «quaisquer grandes opções políticas ou estratégicas», cujo regulamento é aprovado pelo Conselho Nacional (art.º 66.º). O estatuto do CDS-PP define gene-ricamente o «referendo interno» «como instrumento de participação na es-colha das opções políticas fundamentais» na secção sobre as competências do Conselho Nacional (art.º 29.º). O PS vincula estatutariamente o refe-rendo à «auscultação dos militantes» (art.º 58.º) e admite ainda a «partici-pação de cidadãos independentes nas fases de debates e reuniões dos ór-gãos, exceto no período destinado à tomada de deliberações» (art.º 18.º).

A democracia intrapartidária em Portugal

(28)

Estes partidos recorrem também a grupos de trabalhos abertos a inde-pendentes para a formulação e definição das suas políticas, embora mais enquanto um recurso de expertise do que com o objetivo de tornar este processo mais inclusivo. Nos estatutos de 2014 o BE propôs «referendos» (art.º 18.º) vinculativos para a Mesa Nacional e que podem ser realizados sobre «questões relevantes para a intervenção política» do partido. Con-vém, no entanto, referir que em diversas ocasiões, o BE tornou mais in-clusivos os processos de formulação das políticas do partido através da

sua plataforma online,11coerentemente com o princípio da «cultura cívica

de participação» que promove nos seus estatutos (art.º 1.º).

O LIVRE define estatutariamente a participação de membros com quotas em dia na «deliberação e voto nos documentos que estruturam o partido (estatutos, regulamentos)». No que diz respeito aos documentos programáticos para campanhas e atos eleitorais específicos, o LIVRE es-tende este direito aos apoiantes. Neste sentido, é formalmente o partido mais inclusivo entre os incluídos neste estudo (ver o quadro 6.1).

Para concluir esta secção referimos brevemente em que medida estes partidos têm ampliado os seus confins organizativos a novos atores. Entre os partidos analisados, apenas o PS e o LIVRE têm formalmente diversos tipos de filiação: no PS os estatutos reconhecem «membros» e

«simpati-zantes» (art.os6 e 8) e no LIVRE «membros e apoiantes» (art.os1.º e 7.º).

Além da atribuição de incentivos de participação como o direito de voto, os partidos têm criado mecanismos de abertura a não-inscritos (ou inde-pendentes), assinalando a exigência de se modernizarem e de se abrirem

Militantes e Ativismo nos Partidos Políticos

198

11No caso das eleições legislativas de 2009, durante seis meses todos os cidadãos foram

convidados a contribuir com sugestões para o programa eleitoral.

Quadro 6.1 – Grau de inclusividade do selectorate

Inclusividade + –

PS Seleção do líder (1) PSD BE

LIVRE CDS-PP Seleção de candidatos para

cargos públicos LIVRE PS BE PSD CDS-PP

Formulação das políticas do partido LIVRE BE PSD PS CDS-PP

Fonte: elaboração própria.

(29)

mais à sociedade civil. No PS os «grupos temáticos» e os «gabinetes de estudos» estão abertos à participação de independentes (art.º 81.º) e no PSD encontramos um cenário idêntico no que diz respeito à participação na «Comunidade virtual» (art.º 79.º) e nos «Grupos temáticos» (art.º 78.º). Também o BE admite a formação de «grupos de trabalho» onde, não apenas os aderentes mas também os simpatizantes, possam debater e eventualmente elaborar propostas e recomendações.

O conjunto desta análise comparativa dos estatutos demonstra que o LIVRE e o PS são os partidos que mais implementaram reformas de DIP tornando mais inclusivos os seus processos internos (ver o quadro 6.1).

A experiência democrática dentro

dos partidos: a visão dos militantes

Na secção anterior demonstrámos que os partidos incluídos neste es-tudo têm introduzido mudanças estatutárias inovadoras, nomeadamente no que diz respeito ao processo de seleção do líder, mas que continuam reticentes em algumas áreas, por exemplo na escolha dos candidatos para cargos públicos e na formulação das políticas do partido. Vimos ainda que existem diferenças importantes entre os partidos, sendo o PS, de entre os partidos com experiência governativa, aquele que mais avançou nesta matéria, e o LIVRE o mais inclusivo dentro do espectro da es-querda. Nesta secção analisamos as perceções que os militantes têm deste processo. Esta passagem das regras formais às práticas é fundamental por-que as estruturas democráticas formais podem esconder práticas oligár-quicas (Schattschneider 1942; Duverger 1959; Michels 1962; Saglie e Hei-dar 2004) e porque as perceções dos militantes são importantes para compreender o funcionamento dos partidos políticos e o impacto que as medidas de democratização têm na mobilização dos militantes (Sandri 2012; Sandri e Amjahad 2015; Lisi 2015).

Consequentemente, esta secção irá analisar 1) as perceções que os mi-litantes têm sobre a DIP, e 2) as consequências destas perceções no seu grau de envolvimento em atividades político-partidárias. Para isso serão utilizados os dados do projeto «Filiados e Delegados dos Partidos. Por-tugal em Perspetiva Comparada», que consistiu num inquérito que com-preendeu uma amostra global de 2915 militantes divididos entre BE (N = 669), CDS-PP (N = 443), LIVRE (N = 143), PS (N = 1347) e PSD (N = 313). Os resultados deste inquérito devem ser lidos com cautela no que toca ao tipo de comparações e generalizações que permite efetuar. Em primeiro lugar, porque não se trata de uma amostra representativa;

A democracia intrapartidária em Portugal

(30)

os questionários foram preenchidos online e voluntariamente, daí que te-nhamos amostras bastante diferentes por partido. Em segundo lugar, por-que enquanto no caso do PS, do BE e do LIVRE a amostra é constituída por filiados, no caso do CDS-PP e do PSD ela é constituída por delega-dos; esta diferença condiciona a comparabilidade dos resultados, uma vez que de acordo com a «Lei da disparidade curvilinear» de May (1973), podemos esperar posicionamentos mais críticos por parte das elites in-termédias vis-à-vis com as bases dos partidos. Ainda assim, estes dados são importantes para efeitos comparativos e descritivos e são únicos no contexto português.

Relativamente às perceções dos militantes sobre o funcionamento do seu partido, o questionário incluiu uma bateria de oito questões relacio-nadas com a DIP, nomeadamente: a importância das regras estatutárias, o grau de autonomia do líder, o modelo de participação, o nível de de-mocracia interna, a influência nas políticas do partido e a importância dada às opiniões dos militantes. Para cada uma destas questões foi pedido aos militantes que se posicionassem numa escala de quatro pontos com variação entre 1 (discorda totalmente) e 4 (concorda totalmente). Para simplificar a apresentação e a leitura dos dados em cada uma das afirma-ções agregamos as respostas em duas categorias: «concorda» e «discorda». Os resultados são apresentados no quadro 6.2 em forma de percentagem sendo as diferenças entre os grupos estatisticamente significativas.

Mais de dois terços dos militantes discordam que as regras estatutárias não influenciam o funcionamento interno do partido (69%). Este posi-cionamento é particularmente elevado nos partidos da nova esquerda (LIVRE: 86% e BE: 73%) e mais baixa no CDS-PP (63%) – ainda que maioritária. Apesar da perceção generalizada de que as regras estatutárias são importantes, a maioria esmagadora dos militantes (74%) concorda com a afirmação de que o funcionamento interno do partido está de-pendente das tendências/divisões que existem dentro do partido. O LIVRE é o partido onde a proporção de militantes que concorda com esta afirmação é mais baixa (56%) seguido do CDS-PP (62%), do BE (73%), do PSD (74%) e finalmente do PS (78%).

No que concerne à autonomia do líder, 76% dos militantes conside-ram que os líderes gozam de autonomia suficiente, sendo essa percenta-gem particularmente mais elevada entre os militantes do CDS-PP (92%), do LIVRE (91%) e do PSD (83%). Complementarmente, vale a pena sa-lientar que, quando questionados sobre a forma preferencial de eleição do líder, os militantes tenham oscilado entre duas formas específicas: eleição pelos filiados e eleição pelos delegados (ver a figura 6.1). A maioria

Militantes e Ativismo nos Partidos Políticos

(31)

A democracia intrapartidária em Portugal

201

Q

uadro 6.2 – Experiência partidária dos militantes (% que concorda ou discorda de cada uma das afirmações)

N T otal B E C D S -P P L IVR E P S P S D Níveis de significância ( x 2) C D C D C D C D C D C D

As regras estatutárias não influenciam o funcionamento interno do partido

2 598 31 69 2 7 7 3 3 7 63 14 86 33 6 7 30 45 x 2(12)= 46,169***

O funcionamento interno depende das tendências/divisões dentro do partido

2 59 7 7 4 20 7 3 19 62 28 56 32 7 8 17 7 4 20 x 2(12)= 80,166***

O líder do partido não tem uma autonomia suficiente

2 593 24 7 6 26 7 4 8 92 9 91 30 7 0 17 83 x 2(12)= 160, 731***

A participação interna dos militantes depende dos benefícios que podem receber do partido

2 600 30 7 0 10 90 2 7 7 3 9 91 41 59 32 68 x 2(12)= 288,5 71***

É desejável aumentar a democracia interna do partido

2 593 7 7 23 7 9 21 58 42 50 50 86 14 7 2 29 x 2(12)= 246,17 6***

A estrutura do partido não permite a expressão do pluralismo interno

2 589 32 68 23 7 7 2 7 7 3 5 95 41 59 2 7 7 3 x 2(12)= 193,268***

Os filiados não influenciam as políticas do partido

2 598 46 55 31 7 0 41 59 10 90 5 7 43 4 7 53 x 2(12)= 2 70,521***

Os dirigentes não se interess

am

pelas opiniões dos militantes

2 606 45 55 29 7 1 35 65 5 95 5 7 43 55 45 x 2(12)= 328,565***

Fonte: Projeto «Filiados e D

eleg

ados dos Partidos. P

ortug

al em P

erspetiva C

omparada» (Espírito Santo e Lisi 2014).

N

ota: *** p < 0,001. O quadro apresenta percentagens em linha. N = Amostra, C = C

oncorda (agreg

a as opções concorda totalmente

e concorda) e D = D

iscorda

(agreg

(32)

dos militantes do BE (59%) e do CDS-PP (45%) prefere que o líder seja eleito pelos delegados, enquanto os militantes do PS (68%), do PSD (53%) e do LIVRE (43%) preferem a eleição pelos filiados. Em certa me-dida estes resultados acompanham os resultados obtidos na análise dos estatutos: no BE o coordenador «é eleito» pelo congresso (o principal proponente da moção é eleito) enquanto o CDS-PP regressou ao sistema de eleição pelos delegados após breve experiência de primárias fechadas. LIVRE e PS são os mais inclusivos deste ponto de vista, mesmo que con-sideremos que no caso do PS este inquérito tenha sido aplicado antes das primárias abertas de 2014.

Relativamente às motivações da participação, 70% discordam que ela seja dependente dos benefícios que os militantes esperam receber do par-tido. Esta perceção menos utilitária ou instrumental da participação está mais vincada no LIVRE e no BE, onde 91% e 90% dos militantes, res-petivamente, expressam este posicionamento. Apesar de maioritária, esta percentagem é mais baixa nos dois principais partidos do sistema político português, o PS (59%) e o PSD (68%).

No que diz respeito ao nível de democracia interna a grande maioria dos militantes (77%) concorda que ela precisa de ser aumentada. Com exceção do LIVRE em que há um empate entre aqueles que concordam e que discordam (50%) desta afirmação, nos restantes partidos a opinião maioritária é a de que é desejável aumentar a democracia interna. No en-tanto, isto não significa que os atuais regulamentos sejam desfavoráveis à participação dos militantes. Com efeito, mais de dois terços dos mili-tantes (68%) discordam da afirmação de que a estrutura do partido não permite a expressão do pluralismo interno. A quase totalidade dos mili-tantes do LIVRE (95%) tem essa opinião, sendo essa perceção também elevada no BE (77%), no CDS-PP (73) e no PSD (73%) e mais baixa no PS (59%) – ainda que maioritária.

Na mesma linha, mais de metade dos respondentes concordam com as afirmações de que os militantes têm influência nas políticas do partido e de que os dirigentes se interessam pelas suas opiniões. Concretamente, 55% dos militantes discordam da afirmação de que não influenciam as políticas do partido e outros 55% da afirmação de que os dirigentes não se interessam pelas suas opiniões. O LIVRE destaca-se claramente dos outros partidos; 90% e 95% dos militantes, respetivamente, discordam destas duas afirmações. Logo a seguir está o BE (69% e 71%, respetiva-mente) e o CDS-PP (59% e 65%, respetivarespetiva-mente). No PSD e no PS en-contramos perceções menos positivas a este respeito: 53% dos militantes sociais-democratas discordam da afirmação de que não influencia as

po-Militantes e Ativismo nos Partidos Políticos

(33)

líticas do partido mas uma maioria de 55% concorda que os dirigentes não se interessam pelas suas opiniões. No PS, único partido onde a maio-ria concorda com ambas as afirmações, 57% dos militantes concordam que não influencia as políticas do partido e que os dirigentes não se in-teressam pelas suas opiniões.

Assim se justifica que grande parte dos militantes esteja pouco ou nada satisfeita com a influência que tem no partido (58%) (ver a figura 6.2). Contrariamente ao que seria de esperar, a proporção de insatisfeitos é maior no PS (68%) e no BE (54%) do que no PSD (47%) e no CDS-PP (49%) uma vez que estes são menos inclusivos do ponto de vista formal. Este resultado decorrerá em parte do facto de as amostras do CDS-PP e do PSD serem constituídas por delegados e não por filiados, mas tam-bém pode ter razões ideológicas. O facto de os inquiridos dos partidos da direita estarem mais satisfeitos com o nível de democracia interna dos seus partidos pode ter a ver com questões de cultura política (Baras et al. 2012).

Será que a experiência partidária dos militantes (quadro 6.2) está cor-relacionada com o seu grau de participação em atividades político-parti-dárias? Será que existem diferenças significativas entre os militantes de diferentes partidos? Antes de responder a estas questões consideremos a forma como os militantes avaliam o seu grau de ativismo.

O questionário incluiu uma bateria de nove questões (medidas numa escala de cinco pontos entre 1 = nunca e 5 = frequentemente) em que

A democracia intrapartidária em Portugal

203

Figura 6.1– Procedimento para a escolha do líder (%)

Figura 6.2 — Satisfação com a influência exercida no partido (%)

Fonte: ver o quadro 6.2.

Nota: teste do x2 é estatisticamente significativo (x2(12) = 182,818, p < 0,001). As percentagens não incluem não-respostas.

Fonte: ver o quadro 6.2.

Nota: teste do x2 é estatisticamente significativo (x2(24) = 1227,845, p < 0,001). As percentagens não incluem não-respostas.

Eleitores Delegados Outro Filiados Órgãos nacionais 8 9 59 22 2 10 43 45 21 21 43 14 21 22 68 7 13 13 53 30 1 2 17 50 26 5 2 BE CDS LIVRE PS PSD Total Nada satisfeito Bastante satisfeito Pouco satisfeito Muito satisfeito 11 43 41 5 8 41 43 8 4 26 52 18 17 51 29 3 3 44 50 3 12 46 37 5 BE CDS LIVRE PS PSD Total

(34)

os militantes foram questionados sobre a frequência com que realizam um conjunto de atividades político-partidárias, nomeadamente: ajudam na organização de reuniões locais, de convívios ou de encontros com a comunidade, se reúnem com colegas para discutir política, doam

di-nheiro ao partido ou participam em atividades de campanha.12No

qua-dro 6.3 apresentamos dados de um índice que agrega as respostas dadas a este conjunto de questões.

De um modo geral, encontram-se valores relativamente baixos de en-volvimento ou de participação dos militantes no conjunto de atividades consideradas. Com efeito, perto de 50% dos militantes posicionam-se nos dois pontos mais baixos (1 e 2) da escala de frequência. Apenas 2% referem participar frequentemente nas várias atividades mencionadas.

Militantes e Ativismo nos Partidos Políticos

204

12Numa escala em que 1 é Nunca e 5 é Frequentemente indique com que regularidade

desenvolve as seguintes atividades: a) Ajudar na organização das reuniões locais do par-tido; b) Ajudar na organização das atividades e convívios do parpar-tido; c) Ajudar na orga-nização de encontros do partido com a comunidade; d) Livre doação de dinheiro para o partido, além das quotas; e) Encontro com colegas de partido para discutir política; f) Encontro com colegas de partido para realizar atividades não políticas; g) Encontro com pessoas fora do partido para falar sobre política; h) Distribuição de propaganda e material no período de campanha eleitoral; e i) Desempenho de outras atividades no pe-ríodo de campanha eleitoral.

Quadro 6.3 – Índice de participação em atividades político-partidárias, por partido

1 2 3 4 5

Nunca Frequentemente Total Total N 586 716 825 526 42 2695 % 22 27 31 20 2 100 BE N 148 172 174 108 8 610 % 24 28 29 18 1 100 CDS-PP N 25 82 144 89 5 345 % 7 24 42 26 1 100 LIVRE N 66 29 22 12 1 130 % 51 22 17 9 1 100 PS N 338 384 361 208 17 1308 % 26 29 28 16 1 100 PSD N 9 49 124 109 11 302 % 3 16 41 36 4 100

Fonte: ver o quadro 6.2.

Nota: teste do qui2é estatisticamente significativo (p < 0,001); as percentagens revelam diferenças significativas entre os partidos. As percentagens não incluem as não-respostas. Alfas de Cronbach, por partido: BE = 0, 904, CDS-PP = 0, 867; LIVRE = 0,909; PS = 0,897; PSD = 0,846; Global: 0,900.

(35)

Note-se que estes valores não se distribuem de forma homogénea em todos os partidos, e que as diferenças de percentagem encontradas são es-tatisticamente significativas. O PSD é o partido cujos militantes parecem ser mais participativos, enquanto o PS é aquele em que estes se dizem menos participativos. Entre os militantes do LIVRE os níveis de partici-pação são excecionalmente baixos, o que se pode dever ao facto de o par-tido se ter formado em Março de 2014 e, logo, de os militantes terem exercido menos as atividades político-partidárias incluídas no estudo.

Para analisar até que ponto militantes com diferentes perceções sobre a DIP diferem significativamente no seu grau de participação em ativi-dades político-partidárias, comparamos as médias do índice acima des-crito em função do posicionamento dos militantes nas questões apre-sentadas no quadro 6.2. Os resultados (apresentados no quadro 6.4) evidenciam que no PS as diferenças entre os militantes são sistematica-mente significativas: os que têm perceções mais negativas apresentam sistematicamente níveis mais baixos de participação. Com efeito, aqueles que concordam que as regras estatutárias não influenciam o funciona-mento do partido têm níveis mais baixos de participação quando com-parados com os que discordam desta afirmação. O mesmo padrão é en-contrado entre os militantes que concordam que o funcionamento interno do partido depende das suas divisões internas, que o líder não tem autonomia, que os militantes participam porque antecipam benefí-cios, que é desejável aumentar a democracia interna, que a estrutura in-terna não permite a expressão do pluralismo, que os filiados não influen-ciam as políticas do partido e que os dirigentes não se interessam pelos filiados. Todos os que concordam com estas afirmações participam menos do que os que têm uma opinião oposta, e esta diferença é estatis-ticamente significativa.

No BE e no CDS-PP também se encontram várias diferenças impor-tantes no grau de participação dos miliimpor-tantes em função das suas perce-ções sobre o funcionamento do partido (ver o quadro 6.4). No BE, com exceção da questão sobre a importância das regras estatutárias, todas as outras questões distinguem significativamente os militantes. No entanto, a tendência é idêntica à encontrada no PS. Lido de outra forma, os que discordam que o funcionamento interno depende das tendências dentro do partido, que o líder não tem autonomia suficiente, que os militantes participam em função de benefícios, que o partido não permite a expres-são do pluralismo interno, que os filiados não influenciam as políticas dos partidos e que os dirigentes não se interessam pelas opiniões dos mi-litantes, participam mais.

A democracia intrapartidária em Portugal

(36)

Militantes e Ativismo nos Partidos Políticos

206

Fonte: ver o quadro 6.2. Nota: Níveis de significância: †

p < 0,10; * p < 0,05; ** p < 0,01; *** p

< 0,001, associados a testes de comparações de médias (AN

O

V

A). O Índice de participação em

atividades político-partidárias varia entre 1 (nunca) e 5 (frequentemente); logo quanto mais elevada a média maior o grau de pa

rticipação. As percentagens não incluem

as não respostas.

Q

uadro 6.4 – Índice de participação em atividades político-partidárias, de acordo com a experiência partidária dos militantes

B E D iscorda C oncorda Total C D S -P P D iscorda C oncorda Total L IVR E D iscorda C oncorda Total P S D iscorda C oncorda Total P S D D iscorda C oncorda Total

As regras esta- tutárias não influenciam o funcionamento interno do

partido 2,88 2,83 2,8 7 3,42 3,22 3,34* 2,25 2,38 2,2 7 2,85 2,69 2,80* 3,68 3,56 3,65 O funcionamento interno depende das

tendências/divisões dentro do partido

3,0 7 2,80 2,88** 3,55 3,22 3,34** 2,58 1,98 2,25** 3,01 2,74 2,80*** 3,61 3,6 7 3,66

O líder do partido não tem uma autonomia suficiente

2

,93 2,71

2,88* 3,33 3,45 3,34 2,30 1,92 2,2

7

2,85 2,69 2,80* 3,66 3,63 3,65

A participação interna dos militantes depende dos benefícios que podem receber do partido

2,90 2,63 2,87† 3,35 3,31 3,34 2,23 2,5 7 2,26 2,90 2,65 2,80*** 3,6 7 3,58 3,64

É desejável aumentar a democracia interna do partido

2,69 2,92 2,87* 3,44 3,2

7

3,34† 2,16 2,38 2,2

7

2,98 2,77 2,80* 3,65 3,65 3,65

A estrutura do partido não

permite

a expressão do pluralismo

interno 2,96 2,61 2,88** 3,43 3,11 3,34** 2,30 1,89 2,28 2,91 2,64 2,80*** 3,66 3,62 3,65

Os filiados

não influenciam as políticas do

partido 2,9 7 2,65 2,87** 3,46 3,18 3,34** 2,31 1,8 7 2,2 7 2,93 2,70 2,80*** 3,62 3,66 3,64 Os dirigentes não se interess am

pelas opiniões dos militantes

2,92 2,77 2,88 3,42 3,19 3,34* 2,28 1,8 7 2,2 7 2,94 2,70 2,80*** 3,65 3,64 3,64

(37)

No CDS-PP o nível de participação não difere significativamente, quer os militantes concordem ou discordem sobre se o líder tem uma auto-nomia suficiente, se a participação interna depende de benefícios e se é desejável aumentar a democracia interna. Contudo, em todas as outras questões consideradas, existem diferenças significativas. No LIVRE ape-nas encontramos diferenças significativas relativamente a uma questão: os que concordam que o funcionamento interno depende das tendên-cias/divisões dentro do partido exibem um nível de participação signifi-cativamente mais baixo do que os que discordam. Por último, no PSD as diferenças de médias de participação em cada uma das questões con-sideradas não são estatisticamente significativas.

Conclusão

Este capítulo teve como objetivo principal analisar a DIP em cinco partidos portugueses, considerando dois aspetos em particular. Em pri-meiro lugar, as perceções dos militantes relativamente ao funcionamento interno do seu partido e em, segundo lugar, a forma como estas perceções influenciam o seu grau de ativismo político-partidário.

Começámos com a análise dos estatutos com vista a criar o pano de fundo para o enquadramento das perceções dos militantes. Esta análise comparada considerou três domínios em que se têm registado mudanças nos últimos anos – a seleção do líder, a seleção dos candidatos para car-gos públicos e a formulação das políticas do partido – e confirmou o que tem sido escrito sobre o grau de inclusividade dos órgãos de seleção dos partidos portugueses. Em particular, o PS é o partido que mais tem avançado nesta matéria, promovendo a participação para além da esfera da militância tradicional e tornando estatutariamente mais inclusivo o processo de elaboração das listas de candidatos a deputados. Porém, o LIVRE, organizado sob preceitos de democracia interna desde a sua fun-dação, parece ser o partido que permite níveis mais elevados de participação aos seus membros e apoiantes. No BE os mecanismos de parti -cipação surgem elencados de forma mais difusa, no PSD a abertura dos processos decisórios é apesar de tudo limitada, embora se tenha permi-tido que membros com capacidade eleitoral ativa possam eleger o líder e os presidentes das estruturas distritais. A este respeito o CDS-PP apre-senta um desenho menos inclusivo na medida em que reintroduziu o processo de eleição do líder pelos delegados eleitos ao Congresso Na-cional.

A democracia intrapartidária em Portugal

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