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Colégio São Joaquim Lorena - Brasil. Lorena, 24 de junho de 1953, Caríssimos Irmãos,

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1 Colégio São Joaquim

Lorena - Brasil

Lorena, 24 de junho de 1953,

Caríssimos Irmãos,

No dia 29 de abril deste ano de 1953, o anjo da morte visitava este Colégio de São Joaquim de Lorena, levando para o celeste jardim salesiano o virtuoso Irmão

com 72 anos de idade e 43 anos de sacerdócio.

A sua morte quase repentina, levou à consternação salesianos, alunos, amigos e um exército de ex-alunos que o amavam muitíssimo, de modo todo especial pela sua bondade.

O padre João Renaudin descendia de uma nobre família francesa. Seus antepassados sofreram muito na Revolução francesa por causa da nobreza do seu linguajar e por causa da sua religião. Os bens da família foram confiscados, e por isso se exilaram na Inglaterra e mais tarde, ainda pelo motivo de sua fé católica romana, se estabeleceram no Brasil, no Estado do Paraná. E foi justamente em Jacarezinho, cidade deste Estado, que no dia 20 de setembro de 1880, nascia o menino predestinado, que na fonte batismal teve o nome de João. Quando a família veio se

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2 estabelecer em São Paulo, o pequeno João teve a oportunidade de frequentar o Oratório Festivo e as escolas do Liceu Coração de Jesus.

Um particular: a família Renaudin foi grande benfeitora dos salesianos. Entre tantas coisas Joãozinho tinha a incumbência de levar ao Liceu todas as semanas um grande pão. O avô foi o primeiro médico daquela casa salesiana. Na família reinava um profundo espírito de piedade. O pai do nosso jovenzinho, todos os dias, percorrendo vários quilômetros, chegava para ajudar às 4,30 da manhã a primeira missa no nosso santuário do Sagrado Coração de Jesus.

Dom Bosco estava ainda vivo e os seus filhos nas estradas do Pai, faziam de tudo para que a casa de São Paulo reproduzisse o Oratório de Turim. O nosso João ficou encantado e atraído para seguir de perto Dom Bosco. O seu diretor, na época o Padre Lourenço Giordano conhecendo uma assim tão bela vocação, o enviou para esta casa de formação de Lorena, como aspirante.

A casa estava nos seus primórdios, e, portanto, com suas graves dificuldades. O jovem não se deixou vencer, mas começou o trabalho da sua formação. Piedade, estudo sério e muito trabalho manual. Tudo parecia correr bem. Mas, pela alma delicada de Joãozinho houve um momento em que sentiu fortemente saudades da família e de seus pais. Não pode resistir e fugiu. Maria Auxiliadora, porém, velava a vocação de seu protegido. O padre Carlos Peretto, na época, inspetor salesiano, com aquela sua grande alma de pai, foi o instrumento que reconduziu à casa de Dom Bosco o pequeno João. Já com idade avançada, recordava o padre Renaudin esse fato de sua vida e cheio de comoção dizia: “Se não fosse a bondade do padre Peretto, hoje eu não seria salesiano e sacerdote”.

Terminados com sucesso os estudos ginasiais, pelas suas ótimas qualidades foi admitido ao santo noviciado. No dia 28 de janeiro de 1898, no santuário São Benedito, nesta cidade de Lorena, recebia das mãos do senhor padre Carlos Peretto o hábito eclesiástico, ingressando no noviciado. Foi um ano de fervor, distinguindo-se pela piedade e exatidão no cumprimento de todos os seus deveres. Fez a sua profissão religiosa e, sempre em Lorena, completou os estudos filosóficos. Em 1900 é pela obediência mandado para a casa de Santa Rosa em Niterói para fazer o tirocínio. Aqueles anos foram de intenso apostolado. Mas quanta dificuldade! Trabalho excessivo, assistência contínua, muitas horas de aulas; e bom e caridoso como era, não sabia o clérigo João negar-se a tantos serviços para ajudar os irmãos. Deitava-se muito tarde e às 04h. já estava de pé. Só uma sólida piedade o podia sustentar. A sua saúde, porém, foi prejudicada. Os superiores o obrigaram deixar Niterói e retornar

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3 para Lorena em 1903. Aqui deverá passar o resto da vida, fora alguns meses de permanência em Niterói para receber as ordens sacras. Se na cidade de Lorena o clima era mais suave, não encontrou, todavia menos trabalho de quando estava em Niterói. Eram ainda tempos heroicos nos quais um salesiano devia trabalhar por três ou por mais. E como fazer os estudos teológicos? Não havia ainda curso para frequentar. E dar aulas, assistir, atender à prefeitura e fazer mil outras coisas, isso era o seu pão cotidiano. De noite dedicava-se às matérias eclesiásticas, roubando horas de sono. Mas os seus exames foram satisfatórios. Tudo vence o ardoroso clérigo. Foram anos de verdadeira “prova de fogo”, da qual saiu vencedor o nosso bom irmão, formado no caráter, fiel em cumprir exatamente o dever, e habituado ao sacrifício. Preparou-se assim para sua ordenação sacerdotal que se deu no dia 4 de julho de 1909. E ei-lo chegando finalmente à meta tanto suspirada do sacerdócio. Podia agora dedicar-se mais que antes na vinha do Senhor.

Padre João Renaudin não ocupará na sua vida sacerdotal muitos cargos importantes. Na verdade tem apenas o encargo de prefeito de 1915 a 1922. Não será homem que suscitará grandes rumores ao seu redor. Será, porém, grande salesiano, dotado de bondade, simplicidade, generosidade, espírito de sacrifício e perfeição no cumprimento de todos os seus deveres. Será um ótimo religioso e um ótimo sacerdote. Isso o demonstra a estima e a veneração com que é tratado pelos salesianos e os não salesianos.

Nos 50 anos transcorridos neste Colégio “São Joaquim de Lorena”, de 1915 a 1922 foi prefeito da casa. Eram tempos difíceis da primeira grande guerra. Não obstante as dificuldades, não somente consegue que nada falte para a casa, mas lhe foi ainda possível ampliar, e muito, o edifício já existente do colégio. Os antigos ainda se recordam do amor e dedicação que tinha para com os irmãos e alunos. Procurava até adivinhar suas necessidades. Não economizava cansaços, sacrifícios para o bem da querida casa. a sua saúde, porém, não lhe permite continuar neste posto.

O padre Renaudin, pelo seu longo trabalho de professor especialista, de piedoso e douto diretor de almas, devia deixar de um modo todo particular, o seu nome ligado a este Colégio. Como clérigo, e mais ainda como padre, foi exímio mestre dedicando-se com grande amor ao ensino. Queria que dedicando-seus alunos aprendesdedicando-sem realmente. Como bom salesiano que era, procurava não somente instruir as mentes, mas, sobretudo formar os corações. O ensino era para ele potente instrumento para formar caracteres. Queria, com caridade sim, mas ao mesmo tempo com firmeza e tenacidade o cumprimento exato dos deveres na sua aula. E dava ele mesmo o exemplo. A preparação para a aula, como dizem todos os seus alunos, era caprichada.

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4 Fazia tudo para os seus alunos, e para a aula ensinou sempre e com grande competência a língua inglesa; nesta era uma autoridade, consultado até pelos mesmos professores. Nos últimos dias de sua vida, não obstante a idade avançada dava aula com grande entusiasmo, de literatura inglesa para os clérigos da nossa Faculdade. Os seus inúmeros ex-alunos se recordam com saudade da dedicação do seu grande mestre.

Outro campo muito grande, onde o padre Renaudin desenvolvia o seu apostolado sacerdotal era o confessionário. Foram inúmeras as almas dirigidas por ele. O povo em geral, mas, sobretudo os alunos e os salesianos encontravam nele o confessor piedoso, prudente, calmo e paciente, que sabia infundir coragem e entusiasmo na prática da virtude e formar as consciências. Quantas almas se declararam sorteadas por tê-lo tido como diretor espiritual. E confessou sempre, também quando a saúde, gravemente frágil, exigia grandes sacrifícios.

A piedade era simples, mas profunda. Em todo lugar se mostrava sempre piedoso. Edificante o modo com que celebrava a santa Missa, recitava o santo breviário, e fazia as suas práticas de piedade. Nas horas livres tinha continuamente o terço na mão. Várias vezes ele fazia as suas visitas a Jesus Sacramentado. No angula da igreja ficava com um Serafim absorto nos seus colóquios com Jesus.

Seria muito longo enumerar todas as benemerências e virtudes deste bom e zeloso sacerdote. Viveu plenamente a vida salesiana e sacerdotal. Era exemplar em tudo, tanto nas pequenas como nas grandes coisas que custam sacrifícios. A característica da sua vida foi uma singular bondade. Todos se sentiam bem ao seu lado. Na sua simplicidade tinha cuidados de mãe, simples, delicado, cheio de caridade e compreensão, interessando-se continuamente pelo bem e pelas necessidades dos salesianos, dos alunos e do pessoal do serviço doméstico. Nãosabia fazer distinções. Queria bem a todos e todos encontravam nele um sorriso, uma palavra salesianamente amiga. Sempre, também nos últimos dias de sua vida, quando sofria muito por causa da fragilidade de sua saúde, parecia que se esquecia de si mesmo para ocupar-se dos outros. Como era bonito ver o padre Renaudin receber as visitas de seus ex-alunos. Que alegria, que festa! Recordava com eles com entusiasmo os tempos passados, os acompanhava por todos os lugares da casa, para que ficassem satisfeitos e revivessem nos seus corações todos os belos ensinamentos dos tempos transcorridos no Colégio. Sabia também nisso realizar um apostolado de bem. Eram inúmeros os ex-alunos de todas as classes sociais, que se recordando de seu bom professor, o visitavam com imensa satisfação.

A esta grande bondade se unia uma sincera humildade. Em tudo procurava não aparecer. Recolhido, não queria honras e nem distinções. Sempre pronto a pedir

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5 desculpas quando pensava ter desagradado a alguém. Vivia para o seu querido Colégio “São Joaquim”. Queria vê-lo sempre grande, dentro do espírito de Dom Bosco. Ao seu constante trabalhão dava nisso o seu eficaz bom exemplo. Um simples fato: nunca foi visto sentado no pátio na presença dos meninos, no meio dos quais procurava estar sempre presente para não deixar mal exemplo, como dizia, e isso mesmo na idade avançada e cheia de achaques. Foram 50 anos de fecundo apostolado dentro das paredes desta casa.

Já há muitos anos a sua saúde vinha sempre decaindo. Com paciência admirável suportou os seus graves incômodos. Muito sofreu por causa das várias hérnias. Na intimidade da conversação manifestava os seus sofrimentos e também a sua plena conformidade com a vontade de Deus. Além dos meios que a ciência dispunha, era, sobretudo, na oração que encontrava alívio de seus males. Rezava muito e pedia que todos rezassem por ele.

No dia 25 de abril, sábado, o caríssimo padre Renaudin deu sua última aula e atendeu as confissões dos salesianos e dos alunos. Confessou muito naquela tarde. Habituado ao sacrifício e ao trabalho, não se recusou, não obstante a fadiga, e não disse nada a ninguém. No dia seguinte, domingo, não pode celebrar. Desceu, porém, na igreja e fez a santa Comunhão. Não parecia coisa grave, porém, a quem o ia procurar, ele dizia: “Estou para ir-me. Não passarei este inverno”. Também na segunda se levantou para comungar; não quis absolutamente que levasse a comunhão no quarto. Era sua constante preocupação não ser de incômodo para os irmãos. Na terça-feira, dia 28, estava muito abatido. O médico constatou que a sua acentuada taquicardia. Os remédios pareciam ter melhorado um pouco o seu estado. Aos superiores e aos irmãos que o visitavam, manifestava o seu profundo agradecimento. A sua bela alma parecia envolta numa profunda paz.

À tarde se deitou e se previa que tudo haveria de proceder regularmente. No dia seguinte de manhã, porém, às 04h. veio uma forte crise. Os irmãos correram e também eu. Dados os socorros médicos prescritos, voltou novamente a calma. Confuso, acreditava ter perturbado os irmãos; agradecendo a todos, pedia que fossem dormir que não tinha mais nada. Interrogado se queria receber a comunhão, respondeu: “Não tenho necessidade agora. Amanhã às 06h30, como combinei com o senhor Catequista, receberei a Comunhão”. E começou a descansar. Mas um irmão ficou junto dele para atendê-lo. Os demais se retiraram. Não estava longe a hora da meditação. Durante a mesma fui ver o padre Renaudin. Parecia tranquilo. Constatei, porém que a pulsação era fraca e diminuía sempre mais. O médico foi chamado imediatamente e lhe foi administrada a absolvição e a Extrema Unção. De nada adiantaram os remédios. Em poucos instantes o caro enfermo, sem nenhuma

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6 convulsão, placidamente, passou para a melhor vida. Eram 6,20. A dolorosa notícia se espalhou veloz. Salesianos e alunos sufragaram logo e abundantemente a sua bela alma. Era a hora da missa da Comunidade. A rádio local e o jornal em pouco tempo divulgaram pelo Brasil todo a notícia de sua morte. Inúmeros os telegramas e as cartas de pêsames, que bem demonstraram a estima que tinham para com o caríssimo padre Renaudin. O corpo foi exposto no locutório convertido e câmara ardente, e foi visitado por todas as classes de pessoas, do Ex.mo Sr. Bispo diocesano até os mais humildes meninos do Oratório. Não inspirava medo a ninguém. A serenidade do rosto parecia falar ainda do seu amor e da sua bondade.

Durante todo o dia e toda a noite, até à hora das exéquias, salesianos, alunos e amigos permaneceram rezando junto do corpo. Às 08 horas do dia 30, foi cantada a missa solene de “Requiem” por Mons. João Resende Costa, então, bispo eleito de Ilhéus, estando presente o senhor padre Inspetor, muitos salesianos das casas vizinhas, autoridades, clérigos estudantes da Faculdade de Filosofia, alunos e muitos amigos e admiradores do falecido. Grande cortejo acompanhou o caixão até o cemitério. Aí se pronunciaram sentidas palavras de adeus e saudação por parte de representante dos clérigos e dos alunos. Falou também Sua Ex.cia Mons. João Resende, ex-alunos do caríssimo padre Renaudin. A Prefeitura Municipal, que já havia dado ao caro extinto ainda em vida uma rua da cidade, quis que os funerais ser realizassem às suas expensas.

Caríssimos irmãos, mesmo tendo a firme esperança de que o nosso bom irmão já esteja gozando da visão beatífica, todavia, ignorando os imperscrutáveis desígnios divinos, o recomendo aos vossos fraternos sufrágios. Vos recomendo também uma oração por esta casa de Lorena, a Faculdade Salesiana e o Colégio “São Joaquim”, e pelo vosso no Coração de Jesus

Pe. Pedro Prade, Diretor.

DADOS PARA O NECROLÓGIO:

SAC. GIOVANNI RENAUDIN DE RANVILLE,

*Jacarezinho – PR (Brasile), 20 de setembro de 1880, † Lorena – SP, 29 de abril de 1953 com

72 anos de idade,

54 anos de vida religiosa salesiana e 43 anos de sacerdócio.

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