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PEDRO BLOCH. Dito, o negrinho da flauta

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Academic year: 2021

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Texto

(1)

Leitor iniciante

Leitor em processo

Leitor fluente

PEDRO BLOCH

Dito, o negrinho da flauta

ILUSTRAÇÕES: MARCELO CIPIS

PROJETO DE LEITURA

Maria José Nóbrega

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“Andorinha no coqueiro, Sabiá na beira-mar, Andorinha vai e volta, Meu amor não quer voltar.”

De Leitores e Asas

MARIA JOSÉ NÓBREGA

N

uma primeira dimensão, ler pode ser entendido como de-cifrar o escrito, isto é, compreender o que letras e outros sinais gráficos representam. Sem dúvida, boa parte das ativida-des que são realizadas com as crianças nas séries iniciais do Ensino Fundamental têm como finalidade desenvolver essa capacidade. Ingenuamente, muitos pensam que, uma vez que a criança te-nha fluência para decifrar os sinais da escrita, pode ler sozite-nha, pois os sentidos estariam lá, no texto, bastando colhê-los.

Por essa concepção, qualquer um que soubesse ler e conheces-se o que as palavras significam estaria apto a dizer em que lugar estão a andorinha e o sabiá; qual dos dois pássaros vai e volta e quem não quer voltar. Mas será que a resposta a estas questões bastaria para assegurar que a trova foi compreendida? Certa-mente não. A compreensão vai depender, também, e muito, do que o leitor já souber sobre pássaros e amores.

Isso porque muitos dos sentidos que depreendemos ao ler de-rivam de complexas operações cognitivas para produzir inferências. Lemos o que está nos intervalos entre as palavras, nas entrelinhas, lemos, portanto, o que não está escrito. É como se o texto apresentasse lacunas que devessem ser preenchidas pelo trabalho do leitor.

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Se retornarmos à trova acima, descobriremos um “eu” que as-socia pássaros à pessoa amada. Ele sabe o lugar em que está a andorinha e o sabiá; observa que as andorinhas migram, “vão e

voltam”, mas diferentemente destas, seu amor foi e não voltou.

Apesar de não estar explícita, percebemos a comparação entre a andorinha e a pessoa amada: ambas partiram em um dado mo-mento. Apesar de também não estar explícita, percebemos a opo-sição entre elas: a andorinha retorna, mas a pessoa amada “não

quer voltar”. Se todos estes elementos que podem ser deduzidos

pelo trabalho do leitor estivessem explícitos, o texto ficaria mais ou menos assim:

Sei que a andorinha está no coqueiro, e que o sabiá está na beira-mar. Observo que a andorinha vai e volta,

mas não sei onde está meu amor que partiu e não quer voltar.

O assunto da trova é o relacionamento amoroso, a dor-de-cotovelo pelo abandono e, dependendo da experiência prévia que tivermos a respeito do assunto, quer seja esta vivida pessoalmente ou “vivida” através da ficção, diferentes emoções podem ser ativadas: alívio por estarmos próximos de quem amamos, cumplicidade por estarmos distantes de quem amamos, desilusão por não acreditarmos mais no amor, esperança de encontrar alguém diferente...

Quem produz ou lê um texto o faz a partir de um certo lugar, como diz Leonardo Boff*, a partir de onde estão seus pés e do que vêem seus olhos. Os horizontes de quem escreve e os de quem lê podem estar mais ou menos próximos. Os horizontes de um leitor e de outro podem estar mais ou menos próximos. As leitu-ras produzem interpretações que produzem avaliações que reve-lam posições: pode-se ou não concordar com o quadro de valores sustentados ou sugeridos pelo texto.

Se refletirmos a respeito do último verso “meu amor não quer

voltar”, podemos indagar, legitimamente, sem nenhuma

esperan-ça de encontrar a resposta no texto: por que ele ou ela não “quer” voltar? Repare que não é “não pode” que está escrito, é “não quer”, isto quer dizer que poderia, mas não quer voltar. O que teria provo-cado a separação? O amor acabou. Apaixonse por outra ou ou-tro? Outros projetos de vida foram mais fortes que o amor: os estu-dos, a carreira, etc. O “eu” é muito possessivo e gosta de controlar os passos dele ou dela, como controla os da andorinha e do sabiá?

___________

* “Cada um lê com os olhos que tem. E interpreta a partir de onde os pés pisam.” A águia e

a galinha: uma metáfora da condição humana (37a edição, 2001), Leonardo Boff, Editora

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Quem é esse que se diz “eu”? Se imaginarmos um “eu” mascu-lino, por exemplo, poderíamos, num tom machista, sustentar que mulher tem de ser mesmo conduzida com rédea curta, porque senão voa; num tom mais feminista, poderíamos dizer que a mulher fez muito bem em abandonar alguém tão controlador. Está instalada a polêmica das muitas vozes que circulam nas prá-ticas sociais...

Se levamos alguns anos para aprender a decifrar o escrito com autonomia, ler na dimensão que descrevemos é uma aprendiza-gem que não se esgota nunca, pois para alguns textos seremos sempre leitores iniciantes.

DESCRIÇÃO DO PROJETO DE LEITURA

UM POUCO SOBRE O AUTOR

Contextualiza-se o autor e sua obra no panorama da literatura para crianças.

RESENHA

Apresentamos uma síntese da obra para permitir que o pro-fessor, antecipando a temática, o enredo e seu desenvolvimento, possa considerar a pertinência da obra levando em conta as ne-cessidades e possibilidades de seus alunos.

COMENTÁRIOS SOBRE A OBRA

Procuramos evidenciar outros aspectos que vão além da trama narrativa: os temas e a perspectiva com que são abordados, cer-tos recursos expressivos usados pelo autor. A partir deles, o pro-fessor poderá identificar que conteúdos das diferentes áreas do conhecimento poderão ser explorados, que temas poderão ser discutidos, que recursos lingüísticos poderão ser explorados para ampliar a competência leitora e escritora do aluno.

PROPOSTAS DE ATIVIDADES a) antes da leitura

Ao ler, mobilizamos nossas experiências para compreendermos o texto e apreciarmos os recursos estilísticos utilizados pelo au-tor. Folheando o livro, numa rápida leitura preliminar, podemos antecipar muito a respeito do desenvolvimento da história.

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As atividades propostas favorecem a ativação dos conhecimen-tos prévios necessários à compreensão do texto.

 Explicitação dos conhecimentos prévios necessários para que os alunos compreendam o texto.

 Antecipação de conteúdos do texto a partir da observação de indicadores como título (orientar a leitura de títulos e subtítulos), ilustração (folhear o livro para identificar a loca-lização, os personagens, o conflito).

 Explicitação dos conteúdos que esperam encontrar na obra levando em conta os aspectos observados (estimular os alu-nos a compartilharem o que forem observando).

b) durante a leitura

São apresentados alguns objetivos orientadores para a leitura, focalizando aspectos que auxiliem a construção dos significados do texto pelo leitor.

 Leitura global do texto.

 Caracterização da estrutura do texto.

 Identificação das articulações temporais e lógicas responsá-veis pela coesão textual.

c) depois da leitura

Propõem-se uma série de atividades para permitir uma melhor compreensão da obra, aprofundar o estudo e a reflexão a respei-to de conteúdos das diversas áreas curriculares, bem como deba-ter temas que permitam a inserção do aluno nas questões con-temporâneas.

 Compreensão global do texto a partir da reprodução oral ou escrita do texto lido ou de respostas a questões formula-das pelo professor em situação de leitura compartilhada.  Apreciação dos recursos expressivos mobilizados na obra.  Identificação dos pontos de vista sustentados pelo autor.  Explicitação das opiniões pessoais frente a questões polêmicas.  Ampliação do trabalho para a pesquisa de informações com-plementares numa dimensão interdisciplinar ou para a pro-dução de outros textos ou, ainda, para produções criativas que contemplem outras linguagens artísticas.

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Dito, o negrinho da flauta

PEDRO BLOCH

UM POUCO SOBRE O AUTOR

Médico, escritor, jornalista, dramaturgo, Pedro Bloch nasceu em maio de 1914 e faleceu em 23 de fevereiro de 2004. Filho de pais ucranianos, cresceu em Vila Isabel, tradicional bairro do Rio de Janeiro, em cujas ruas soltou pipa, pulou carniça, jogou bola de gude, andou de patinete e juntou figurinha. Desde menino, gos-tava de escrever, chegando até mesmo a ganhar prêmios por al-guns de seus contos. Freqüentou o Colégio Pedro II, onde fundou o grêmio e colaborou nos jornais.

Formou-se médico pela Faculdade Nacional de Medicina em 1937, dedicando-se aos problemas da voz, fala, linguagem e audi-ção. Participou de congressos nacionais e internacionais, publicou livros, trabalhos científicos e de divulgação, como: Seu filho fala

bem?, Você quer falar melhor?, Sua voz e sua fala, Voz e fala da criança, Falar é viver, entre outros.

Como escritor de ficção, produziu dezenas de livros, muitos dos quais para o público infantil e juvenil, como: O segredo azul, Mira

maravilha, O menino que inventou a verdade, O som da pesada, Me dá uma força, gente!, Pai, me compra um amigo?, Chuta o Joãozinho pra cá! e O velho careta!.

Como jornalista, durante muitos anos, assinou as colunas A voz

humana e Criança diz cada uma!, na antiga revista Manchete.

Como dramaturgo, fez mais de vinte peças de teatro, algumas das quais traduzidas para vários idiomas, como: As mãos de

Eurídice, Os inimigos não mandam flores!, Esta noite choveu pra-ta!, Procura-se uma Rosa e até uma que foi transformada em

no-vela para a tevê: Dona Xepa.

Pedro Bloch gostava muito de escrever para crianças e jovens e de ouvir o que tinham a lhe dizer, porque, segundo ele, se a gente

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RESENHA

Dito, um menino negro, é muito sensível à música e gosta de Bidu, uma garota negra como ele. Como não tem família, vive e trabalha numa fazenda, sofrendo as maldades de sua patroa, d. Laura. Tem, porém, no dr. Meireles um amigo. Com um pedaço de madeira, o garoto confecciona uma flauta rústica, mas seus patrões não reconhecem seu talento e acham isso perda de tempo e barulho inútil. Um dia, depois de uma discussão, Dito resolve tentar a vida fora dali. Vai para o Rio de Janeiro comprar sua tão sonhada flauta, com o dinheiro que havia economizado. Lá, con-fundido com um trombadinha, sofre bastante e acaba por voltar à fazenda. Passa por novas humilhações, até que o dr. Meireles re-solve não só defendê-lo e presentear-lhe com a tão sonhada “flauta de verdade”, como ainda adotá-lo como filho. Coincidentemente, a fazenda de dr. Meireles prospera muito enquanto a de d. Laura entra em decadência. O narrador sugere que Dito é uma espécie de rei Midas.

COMENTÁRIOS SOBRE A OBRA

Dito, o negrinho da flauta é a história comovente de um garoto

órfão, negro, injustiçado, explorado e... muito sensível. A música parece habitá-lo, sem que ele –– e ninguém –– compreenda bem como. É o sonho de tocar uma flauta de verdade que o move o tempo todo, além do amor que sente por Bidu.

Contar com a amizade do dr. Meireles promove o equilíbrio, em relação às maldades da patroa, d. Laura. Apesar das injustiças so-ciais e dos preconceitos, a história de Dito tem um final feliz...

Áreas envolvidas: Língua Portuguesa, História Temas transversais: Pluralidade cultural Público-alvo: leitor fluente

PROPOSTAS DE ATIVIDADES Antes da leitura:

1. Converse com os alunos sobre alguns dos temas desenvolvidos

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2. Peça que os alunos identifiquem as diferentes ilustrações de

Marcelo Cipis que compõem a capa do livro, procurando relacioná-las ao título: por exemplo, no canto superior direito há uma ilustra-ção que representa o Pão de Açúcar –– pode ser que a história se passe no Rio de Janeiro –– ; no centro, logo abaixo ao título, há um casal de crianças negras que vestem roupas remendadas –– é prová-vel que o menino seja o Dito do título e que ele vai se apaixonar por essa menina ou é possível deduzir que os dois são pobres etc.

Durante a leitura:

1. Solicite que os alunos leiam a história toda, prestando atenção

nas relações de Dito com as seguintes personagens: • Bidu;

• d. Laura e sua família; • dr. Meireles.

2. Proponha que assinalem, no próprio livro, as falas de d. Laura

que demonstram seu preconceito, pelo fato de Dito ser um meni-no negro.

3. Antecipe que, no livro, há muitas seqüências textuais

envolven-do diálogos. Peça para que observem como o autor procurou ca-racterizar Dito também pela sua forma de falar.

Depois da leitura:

1. Faça com os alunos o levantamento das expressões usadas por Dito

e aproveite para observar a língua em uso de maneira a dar conta da variação intrínseca ao processo lingüístico: no que diz respeito aos fa-tores geográficos (variedades regionais), sociais (linguagem dos dife-rentes grupos sociais) e de registro mais ou menos informal, depen-dendo da situação comunicativa. Compreender o fenômeno da va-riação lingüística é uma forma de combater o preconceito lingüístico, afinal, ninguém pode ser discriminado pela maneira como fala.

2. No capítulo 33, o narrador inventa dois verbos –– “besourar” e

“grilar” –– , como falas de besouro e grilo, respectivamente. Proponha que os alunos inventem outros verbos, à maneira do livro. Faça, de-pois, a relação dessas invenções na lousa, discutindo-as com os alunos.

3. Peça que retomem suas anotações durante a leitura sobre o

preconceito que Dito sofre nessa história. Conversem a respeito.

4. Dito adorava tocar flauta. Qual será a relação dos alunos com a

música? De que gêneros gostam? Quem toca algum instrumento? Promova junto a eles uma programação musical para cada um mostrar seu talento.

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5. No capítulo dois, o narrador fala que Benedito dava sorte, ou

seja, era “um pé-quente”. Depois, no capítulo 33, ele é compara-do ao rei Midas, aquele que transformava em ouro tucompara-do o que tocava. Solicite que os alunos pesquisem sobre essa história e com-bine um dia para socializar o que descobriram a respeito.

6. Prepare, com antecedência, tiras de cartolina contendo os

prin-cipais acontecimentos narrados. Distribua as tiras, aleatoriamen-te, e peça aos alunos para lê-las em voz alta. Em seguida, com a participação de toda turma, vá afixando na lousa ou em um mu-ral, os episódios na ordem em que ocorreram. Aproveite para es-clarecer alguma dúvida de compreensão.

BENEDITO, CANSADO DA EXPLORAÇÃO E QUERENDO MUITO SUA FLAU-TA, RESOLVE FUGIR PARA O RIO DE JANEIRO.

DITO DESCOBRE QUE SUA FLAUTA DESAPARECIDA HAVIA IDO PARAR NO FOGO, POR PURA MALDADE DE D. LAURA.

DITO FAZ UMA FLAUTA DE BAMBU.

DITO FOGE DO RIO E ENCONTRA O DR. MEIRELES NO CAMINHO.

ELE, MUITO FURIOSO, DESTRÓI AS LOUÇAS, OS QUADROS DA CASA DA FAZENDA E É PRESO POR ISSO.

DITO PERCEBE QUE A FLAUTINHA NÃO É BOA PARA O QUE QUER FAZER E PEDE UMA FLAUTA PARA D. LAURA.

DR. MEIRELES CONSEGUE RETIRAR O GAROTO DA PRISÃO, LEVANDO-O PARA CASA.

DR. MEIRELES DÁ DE PRESENTE A DITO UMA FLAUTA DE VERDADE. BIDU TEM UMA VISÃO DE NOSSA SENHORA E TEME POR DITO.

O MENINO SOFRE NO RIO DE JANEIRO E É CONFUNDIDO COM UM TROMBADINHA.

O GAROTO PASSA A MORAR COM O DR. MEIRELES E A FAZENDA DO MÉ-DICO PROSPERA.

O GAROTO É MAL RECEBIDO NA FAZENDA DE D. LAURA, NA VOLTA DO RIO DE JANEIRO.

MAIS UMA VEZ O DR. MEIRELES SALVA O GAROTO, ANUNCIANDO QUE VAI BATIZÁ-LO COMO PADRINHO.

FINALMENTE, DITO E BIDU SE REENCONTRAM.

A MÚSICA DA FLAUTA DE DITO VAI ATÉ A FAZENDA DE D. LAURA, QUE MANDA UNS CAPANGAS DAR UMA SURRA NO MENINO.

O MENINO DESCOBRE QUE SUA MÚSICA TAMBÉM ERA AMOR POR BIDU. A FAZENDA DE D. LAURA ENTRA EM DECADÊNCIA.

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LEIA MAIS... 1. DO MESMO AUTOR

Dicionário de humor infantil — Rio de Janeiro, Editora

Ediouro

• O menino que inventou a verdade — Rio de Janeiro, Editora

Ediouro

• Pai, me compra um amigo? — Rio de Janeiro, Editora Ediouro • Essa garota é demais! — Rio de Janeiro, Editora Ediouro

2. SOBRE O MESMO ASSUNTO

• Sobre música, veja os títulos da coleção “Mestres da Música”

–– São Paulo, Editora Moderna

• Sobre a questão do preconceito racial, leia:

• Saudade da vila — Luiz Galdino, São Paulo, Editora Moderna • Tião Sabará –– Renato Pacheco e Luiz Guilherme S. Neves,

São Paulo, Editora Moderna

• Um ano novo danado de bom! –– Angela-Lago, São Paulo,

Referências

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