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AS DESIGUALDADES REGIONAIS E O PROCESSO DE CONCENTRAÇÃO ECONÔMICA NO RIO GRANDE DO SUL 2 INTRODUÇÃO 3 DESENVOLVIMENTO 4 CONCLUSÃO 11 BIBLIOGRAFIA 12

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AS DESIGUALDADES REGIONAIS E O PROCESSO DE CONCENTRAÇÃO ECONÔMICA

NO RIO GRANDE DO SUL 2

INTRODUÇÃO 3

DESENVOLVIMENTO 4

CONCLUSÃO 11

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AS DESIGUALDADES REGIONAIS E O PROCESSO DE CONCENTRAÇÃO ECONÔMICA NO RIO GRANDE DO SUL

INAJARA MARTINS BATISTA* VICENTE CELESTINO PIRES SILVEIRA** JOÃO GARIBALDI ALMEIDA VIANA***

RESUMO:

Por ser um Estado bastante heterogêneo, o Rio Grande do Sul apresenta acentuadas diferenças regionais.

O que se observa é que essas diferenças foram, ao longo dos séculos promovendo uma concentração econômica restrita a poucos municípios do Estado, de acordo com a análise do Produto Interno Bruto dos mesmos. A Metade Sul, que antes detinha o poder econômico no Rio Grande do Sul acaba, a partir do século XX, por entrar em um período de estagnação econômica que persiste até os dias atuais. A Metade Norte, por sua vez, passa de condição de “atrasada” para a Região economicamente mais desenvolvida do Estado. Porém hoje esta realidade restringe-se a um grupo reduzido de municípios localizados na zona metropolitana de Porto Alegre e imediações. Dentre os fatores que contribuíram para essa condição, destaca-se a imigração, o processo de industrialização do Estado, além das vantagens da proximidade com os principais portos, o que influencia também o Setor Produtivo Agropecuário, o qual se apresenta bastante diferenciado entre as regiões. Essa análise demonstra a importância de um estudo mais aprofundado a respeito do desenvolvimento econômico do Estado a fim de que sejam elaboradas políticas públicas eficientes para que a distribuição de riqueza se dê de forma mais eqüitativa nas diferentes regiões do Rio Grande do Sul.

Palavras-chaves: Desigualdades Regionais, Setor Produtivo Agropecuário

* Aluna do Curso de Pós-graduação em Extensão Rural – Universidade Federal de Santa Maria, Centro de Ciências Rurais, Departamento Educação Agrícola e Extensão Rural. E-mail: inajaramb@yahoo.com.br

**

Professor Adjunto – Universidade Federal de Santa Maria, Centro de Ciências Rurais, Departamento Educação AgrícolaExtensão Rural. E-mail: vicentesilveira@smail.ufsm.br

*** Aluno do Curso de Graduação em Zootecnia - Universidade Federal de Santa Maria, Centro de Ciências Rurais, Departamento Educação Agrícola e Extensão Rural. E-mail: joaogaribaldi@brturbo.com.br

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INTRODUÇÃO

O Estado do Rio Grande do Sul apresenta uma realidade bastante particular no que diz respeito ao seu desenvolvimento econômico, quando comparado aos demais Estados brasileiros. Ocorre que esse crescimento se deu de forma desigual, fazendo com que atualmente uma Região acabe por concentrar a maior parte da riqueza do Estado.

A Região Sul, que apresenta maior extensão territorial e até o século XIX detinha o poder econômico, advindo do setor primário, vai aos poucos tendo sua importância econômica reduzida a nível Estadual. Atualmente, esta região enfrenta sérias dificuldades econômicas e sociais como conseqüência dos problemas enfrentados pelo setor agropecuário e pelo reduzido processo de industrialização.

A Região Norte, ao contrário, era inexpressiva economicamente até o final do século XIX, quando passa a apresentar um acelerado desenvolvimento econômico a partir da chegada dos imigrantes, com o desenvolvimento da agricultura e a intensificação da indústria e do comércio. No entanto, gradativamente este desenvolvimento vai se concentrando na Região Nordeste do Estado, de localização privilegiada no que diz respeito ao escoamento de produtos e ligação com mercados internacionais.

O setor agropecuário foi e continua sendo influenciado por essas mudanças, uma vez que as atividades agrícolas desenvolvidas em cada região são decorrentes principalmente da realidade econômica local. Entretanto, algumas atividades agrícolas dependem de características como solo, clima e área, não podendo se adaptar a nova realidade, ao contrário daquelas atividades mais dinâmicas que podem migrar ou intensificar o seu processo de produção, e vir a contribuir para a concentração econômica na região Nordeste.

Tendo em vista a atual situação de desigualdade econômica e a importância do setor agropecuário no Rio Grande do Sul este trabalho procura, através de uma análise, verificar como as desigualdades econômicas foram se acentuando nas últimas décadas e qual o impacto no setor agropecuário. Para tanto, é necessário utilizar um indicador que contemple a base geofísica territorial, visto que o solo é fator fundamental nos processos agrícolas.

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DESENVOLVIMENTO

Historicamente o desenvolvimento econômico do Rio Grande do Sul deu-se sobre uma matriz agropecuária. Inicialmente na Metade Sul, a qual é privilegiada para o desenvolvimento da bovinocultura, e mais tarde na Metade Norte através da agricultura.

Segundo Arend e Cario (2004), a pecuária era o setor que ocupava posição-chave na estrutura produtiva no século XIX, através do setor charqueador. Assim o gado das estâncias transformava-se num produto que chegava aos mercados consumidores, sendo este o setor econômico regional onde a riqueza acumulava-se. De acordo com os autores a Metade Norte, caracterizada pelas florestas e relevo acidentado, apresentava até o século XIX pouca importância econômica. Porém, com a chegada dos imigrantes, inicialmente os portugueses e mais tarde os italianos e alemães, a realidade desta região começa a mudar com o desenvolvimento de uma agricultura diversificada em pequenas propriedades. Portanto, o Estado apresentava-se economicamente dividido até o início do século XX entre a Metade Sul, desenvolvida, caracterizada por latifúndios onde a maior parte da produção, que era baseada na pecuária, destinava-se a atender o mercado europeu, e a Metade Norte do Estado, menos desenvolvida, formada em sua maioria por pequenos estabelecimentos familiares, diversificados, onde os produtos eram industrializados e comercializados a nível local e que abastecia também o Brasil-Central (Arend e Cario, 2004).

De acordo com Jansen (2002) foi a partir da segunda metade do século XIX que a economia do Estado se desenvolveu. Dois pólos regionais, oriundos do processo histórico da forma de ocupação, passam a consolidar o perfil econômico do Estado: de um lado o eixo Rio Grande-Pelotas com produção centralizada no charque, no trigo e produtos de origem da pecuária; e de outro lado o eixo Porto Alegre- São Leopoldo, concentrado na produção rural das colônias, uma indústria de base artesanal, e um comércio. Destaca, ainda, que não existia uma linha que estabelecesse uma ligação ferroviária entre as duas principais cidades na época (Rio Grande e Porto Alegre) de maneira a concentrar ainda mais a diferenciação econômica entre os dois pólos: o sul e o norte.

Enquanto a realidade da Metade Norte começa a mudar com o desenvolvimento de uma agricultura diversificada em pequenas propriedades, passando a crescer em um processo acelerado, as indústrias do Sul do Estado, ao contrário, não apresentavam a mesma dinâmica. Segundo Alonso et al (1994), a incapacidade de sustentar um processo de industrialização diversificada foi, provavelmente, o principal entre os fatores que contribuíram para determinar o baixo dinamismo característico da evolução histórica da economia da região Sul. Soma-se a isso o fato da região Norte ter sido favorecida por boas estradas de ferro, excelentes estradas rodoviárias e uma malha de distribuição de energia elétrica que facilitou o

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desenvolvimento industrial e a fácil comunicação entre a capital com o resto do país. Além disso, a população numerosa de Porto Alegre, era um mercado consumidor muito importante de tudo quanto se produzia no eixo Porto Alegre/Caxias do Sul (Arend e Cario 2004).

A partir destas características o desenvolvimento econômico na Metade Norte foi se acentuando de forma acentuada na Região Nordeste, que acabou por concentrar a riqueza nesta área. Neste sentido, Fonseca (1983) afirmava que o Estado podia ser dividido entre norte e sul (Campanha), dado às diferenças significativas entre ambos. Entretanto, o norte pode ser subdividido em duas zonas: a Serra e o Planalto. Alonso et al1 (1994) propõem, dentro desta mesma lógica, a subdivisão do estado (Figura 1) em três regiões: A Sul, onde predominam a grande propriedade, a pecuária e a lavoura de arroz. A Norte, predominantemente agrária, caracterizada pelas pequenas e médias propriedades, onde a produção inicialmente diversificada cedeu espaço para as lavouras mecanizadas de trigo e soja. E a última região, a Nordeste, que se caracteriza pela presença de vários setores industriais, além de grandes concentrações urbanas. Estas duas últimas constituem a chamada Metade Norte do Rio Grande do Sul (Rio Grande do Sul, 1996).

Com relação às características produtivas, Souza (apud Jansen, 2002) afirma que o Estado pode ser dividido em duas grandes regiões originárias da forma de ocupação histórica: região norte e região sul. No norte existe grande diversidade de culturas envolvendo cultivo de grãos, fumo e fruticultura, onde o uso de mão-de-obra familiar é predominante nesta região de pequenas propriedades. Mesmo as áreas de campos, que possibilitaram o desenvolvimento da pecuária, vêm sendo absorvidas pela agricultura. No sul, incluindo a porção de serra que fica a sudeste, há predomínio da produção animal e de arroz.

Posteriormente, Ilha et al. (2003) e Silveira et al. (2004) também ressaltam as diferenças entre a Metade Sul e Metade Norte, mas alertam sobre a crescente concentração econômica no eixo Porto Alegre – Caxias do Sul 2 .

1 ALONSO, J.A.F.,BENETTI, M.D., BANDEIRA, P.S. Crescimento Econômico da Região Sul do Rio Grande do Sul- Causas

e Perspectivas. POA. FEE,1994. Pg.215-228 2

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Figura 1- Regiões Econômicas do Rio Grande do Sul baseado na divisão descrita por Alonso et al (1994)

Assim podemos verificar, através da participação das diferentes regiões na composição do Produto Interno Bruto (PIB) que se inverteram os papéis, ao longo do século XX, quanto à dinâmica econômica regional. (Tabela 1).

Tabela 1- Participação das regiões Nordeste, Norte e Sul no Produto Interno Bruto do Rio Grande do Sul

Região 1939 1959 1970 1980 2002 Nordeste Norte Sul 33,03 28,65 38,33 40,14 30,40 29,43 47,86 28,17 23,95 51,20 25,70 23,09 53,44 28,53 18,03 Total RS 100 100 100 100 100

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O presente trabalho considera em sua análise o PIB3 dos Municípios do Rio Grande do Sul, cuja

metodologia de cálculo baseia-se na distribuição pelos municípios do valor adicionado (VA) das

atividades econômicas das Contas Regionais4 do Brasil. (IBGE, 2004). Como o enfoque do trabalho é no setor agropecuário, consideramos como um fator importante a relação do PIB e do VA com a base geofísica territorial no qual as atividades agropecuárias são desenvolvidas (Tabela 2). Neste caso acreditamos que os indicadores PIB/área e VA/área expressam melhor o impacto do setor agropecuário na dinâmica econômica regional.

Tabela 2- Área e Produto Interno Bruto nas diferentes regiões econômicas do Rio Grande do Sul..

Área PIB Total*

Região

KM2 % R$ %

Nordeste Norte

Sul Lagoa dos Patos

Lagoa Mirim 25.310,20 93.385,70 150.281,20 10.049,62 2.811,53 8,98 33,13 53,32 3,57 1,00 57.959.657.158,22 30.949.073.265,25 19.562.007.479,04 - - 53,44 28,53 18,03 - - Total RS 281.838,25 100 108.470.737.902,52 100

* PIB 2002. Fonte FEE

Na tabela 3 podemos verificar a enorme diferença quando relacionamos o PIB e os VA dos setores pela área nas diferentes regiões do Estado. A região Nordeste demonstra uma clara concentração dos setores industrial e de serviços. No entanto, mesmo que percentualmente a participação do VA agropecuária seja baixa (4,06%) quando comparado ao da indústria (48,94%) e dos Serviços (47,00%), a região apresenta maior contribuição econômica da agropecuária por área que as outras regiões do Estado.

3Total dos bens e serviços produzidos pelas unidades produtoras residentes, podendo, portanto, ser expresso por três óticas: a)

do lado da produção – o produto interno bruto é igual ao valor da produção menos o consumo intermediário mais os impostos, líquidos de subsídios, sobre produtos não incluídos no valor da produção; b) do lado da demanda – o produto interno bruto é igual à despesa de consumo final mais a formação bruta de capital fixo mais a variação de estoques mais as exportações de bens e serviços menos as importações de bens e serviços; c) do lado da renda - o produto interno bruto é igual à remuneração dos empregados mais o total dos impostos, líquidos de subsídios, sobre a produção e a importação mais o rendimento misto bruto mais o excedente operacional bruto.

4 O âmbito da atividade Agropecuária nas Contas Regionais é constituído por grupos de atividade econômica compostos por: lavoura permanente, lavoura temporária, pecuária, horticultura, extrativa vegetal, silvicultura, investimentos em formação de matas plantadas e lavouras permanentes, pesca, indústria rural, produção particular do pessoal residente no estabelecimento rural e serviços auxiliares da agropecuária. A atividade indústria nas Contas Regionais é constituída por: extrativa mineral, indústria de transformação, construção civil e serviços industriais de utilidade pública. A atividade de prestação de serviços nas Contas Regionais é constituída por: comércio; alojamento e alimentação; transportes; comunicações; serviços financeiros; atividades imobiliárias e serviços prestados às empresas; administração pública e demais serviços.

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Tabela 3- Contribuição econômica por área das regiões Nordeste, Norte e Sul no PIB e no VA Rio Grande do Sul. VA/AREA R$/ Km2 Região PIB/ÁREA R$/Km2

Agropecuário Indústria Serviços

Nordeste Norte Sul 2.289.972,31 311.411,27 130.169,36 92.641,25 83.421,45 33.014,92 1.117.082,59 98.663,48 33.188,89 1.072.644,95 117.362,31 58.170,24

Historicamente, a participação percentual das regiões no VA agropecuário (Tabela 4) apresenta uma trajetória um pouco diferente, porém se compararmos os dados mais recentes (2002) com aqueles de 1959 podemos verificar que os percentuais atuais são bastante similares. Portanto, a industrialização da região Nordeste afetou somente o tipo de atividade agropecuária desenvolvida, pois a medida que esse processo de concentração econômica foi ocorrendo, seu impacto no setor agropecuário foi se tornando mais evidente, a medida que as atividades agrícolas vão se adaptando a realidade local. Os setores agropecuários mais dinâmicos, como a avicultura de corte, buscam aproximar-se de regiões mais prósperas (mercados estáveis). Não é o que ocorre em atividades como a bovinocultura de corte, que necessita de maior espaço físico para desenvolver-se, além de ser uma atividade que apresenta menor margem de lucratividade, onde o custo de produção para animais para abate é, em algumas situações, inferior ao preço recebido pelos produtores (Silva et al, 2004).

Tabela 4- Participação percentual das regiões Nordeste, Norte e Sul no Valor Agregado da Agropecuária

do Rio Grande do Sul.

Região 1939 1959 1970 1980 2002 Nordeste Norte Sul 16,77 44,12 39,11 13,50 52,69 33,79 11,77 54,03 33,18 10,95 49,95 39,08 15,53 51,60 32,87 Total RS 100 100 100 100 100

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De acordo com Arbage (2000) em meados da década de 50 a renda gerada pelo setor industrial já superava a renda oriunda do setor primário, quando ainda estavam em processo de implantação as indústrias de base. No recente percurso traçado pela economia nacional, o país passou gradativamente de uma economia centrada no setor rural para uma economia dependente mais diretamente do setor urbano/industrial. Carvalho (1991) afirma que este fenômeno, na realidade, se constitui numa das características de um país desenvolvido, que é a queda da importância relativa do setor agrícola em relação aos demais setores da economia.

A agricultura desenvolvida na Região Nordeste apresenta inúmeras vantagens em contraste com àquela praticada nas demais Regiões, como o elevado grau de industrialização da região, a proximidade com os principais portos e com um mercado consumidor de poder aquisitivo superior ao restante do Estado. Estas características tornam os produtos agrícolas mais competitivos, uma vez que as atividades podem ser diversificadas e com uma agregação de valor aos mesmos.

Uma atividade bastante dinâmica é a avicultura de corte, que se desenvolveu rapidamente no País. Isso se deve em grande parte ao alto grau de controle do processo biológico, isto é, diferentemente de outras atividades agropecuárias o seu desempenho não depende de solo e clima. (Sorj apud Silva, 2004). Outra característica da produção avícola de corte é a alta conversão de cereais em carne, proporcionando melhores índices de produtividade, baseados em retornos mais rápidos. A empresa integradora transforma seu capital, na forma de insumos, em produtos finais em curto espaço de tempo, eliminando grande parte dos riscos existentes no processo produtivo (Bortoglio et al, 2004).

De acordo com Calcanhotto (2001), a tendência que se observa quando se analisa os dados do IBGE (1994) e da Região Metropolitana de Porto Alegre é de que municípios com altos níveis de industrialização influenciam o seu meio rural a desenvolver atividades com significativo valor agregado, intensivas em mão-de-obra e capital, como ocorre com as criações de aves sob o regime de confinamento e com o cultivo de hortigranjeiros, comportamento que difere em municípios onde o fenômeno da industrialização e urbanização são inferiores.

Também verifica-se que a maior concentração das unidades produtivas encontra-se em propriedades com características de agricultura familiar, ou seja, baixa mecanização e pequenas extensões, onde a produção avícola de corte brasileira se diferencia das outras atividades agropecuárias no que se refere às relações existentes entre as unidades produtivas e a indústria (Bortoglio et al, 2004). Neste mesmo sentido, Scussel (2002) afirma que as criações de pequeno porte desenvolvidas próximas a Porto Alegre, que apresentam escalas de produção compatíveis com pequenos e médios estabelecimentos, estão, muitas vezes, localizadas na sede da região ou próximas a ela, obtendo, com a proximidade, relativas facilidades logísticas e inúmeras vantagens comerciais. Abramovay (2003) afirma que o bem-estar econômico das

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áreas de povoamento mais disperso está ligado e depende da atividade econômica das áreas mais densamente povoadas, não sendo uma coincidência o fato de que as áreas rurais mais prósperas tenham estreitos laços econômicos com outras partes do mundo e com grandes centros urbanos.

A Região Norte apresentou nos últimos anos significativas mudanças quanto a estrutura das propriedades rurais. Nesta prevalecem as pequenas e médias propriedades familiares diversificadas, embora esta característica esteja mudando uma vez que as pequenas unidades familiares estão perdendo seu espaço frente à cultura da soja (Ilha et al., 2003). Pois esta cultura necessita cada vez mais da escala de produção, para tornar-se rentável. Em contraste, pequenas propriedades, localizadas em regiões onde as condições de solo e relevo são menos favoráveis, há restrições para práticas agrícolas intensivas como o uso de tecnologias moto-mecânicas que, potencialmente, permitiriam obter melhor produtividade e, conseqüentemente, maiores rendas ao produtor (Waquil e Schneider, 2001). Assim, a região Norte convive por um lado com o aumento do tamanho da propriedade e a concentração de terra, e por outro com a descapitalização dos pequenos produtores.

A Região Sul do Rio Grande do Sul, por suas características históricas associadas às questões ambientais, tem na produção pecuária extensiva grande importância econômica, social e cultural, uma vez que é sua principal fonte de receita. Apesar dos conceitos, e preconceitos, existentes em relação ao Sul do estado, de que aí existem apenas grandes propriedades, os estabelecimentos com até 100 ha são a maioria, representando cerca de 70% das propriedades da região (Ribeiro, 2002). Os demais 30% associam a pecuária e a lavoura de arroz, sendo a principal atividade agrícola com expressiva representação estadual (Silveira et al. 2004). De acordo com Alonso (apud Ilha, 2004): “Tal como a lavoura, a pecuária regional apresenta um leque relativamente pequeno de produtos, fato que representa no longo prazo, uma limitação à formação de níveis mais elevados de renda, na medida em que fica caracterizada uma estrutura produtiva quase – monocultura”.

O sucesso das atividades agrícolas extensivas como a bovinocultura de corte, bem como a cultura soja e do arroz, está relacionado com produtividade e escala de produção, uma vez que a margem de lucro/ha é pequena. A produtividade, que permite produzir com menores custos e concorrer em preços, e a qualidade, que permite concorrer pela preferência dos consumidores, são questões chaves, e ambas estão significativamente relacionadas com a tecnologia empregada na produção (Vieira, 1998). Este fato fica bastante evidente ao compararmos o dinamismo da agricultura desenvolvida na região Nordeste com as demais áreas do Estado.

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O que se verifica nas áreas fora da Região Nordeste é a venda geralmente dos produtos agrícolas in natura ou com baixo nível de beneficiamento. Estes produtos seguem basicamente dois roteiros: direto para exportação ou serão beneficiados na Região Nordeste, onde os mesmos, após um processo de industrialização, passam a ser vendidos ou exportados por um valor muito superior ao inicial, disponibilizando renda, empregos e oportunidades para grande parcela dos moradores desta área (Silveira et al. 2004). Nestas regiões, segundo Calcanhotto (2001), os municípios estão submetidos a uma menor pressão econômica das áreas urbanas–industriais em relação ao meio rural onde, nestas circunstâncias, a tendência é que as atividades agropecuárias sejam desenvolvidas com menores exigências no uso de capital e mão-de-obra, conseqüentemente, gerando produtos de restrito valor agregado - arroz irrigado e a pecuária de corte.

Finalmente, O enfoque do agronegócio é essencial para retratar as profundas transformações verificadas na agricultura brasileira, nas últimas décadas, período no qual o setor primário deixou de ser um mero provedor de alimentos in natura e consumidor de seus próprios produtos, para ser uma atividade, integrada aos setores industriais e de serviços. Gasques et al. (2004) descrevem que o agronegócio é visto como a cadeia produtiva que envolve desde a fabricação de insumos, passando pela produção nos estabelecimentos agropecuários e pela sua transformação, até o seu consumo. Essa cadeia incorpora todos os serviços de apoio: pesquisa e assistência técnica, processamento, transporte, comercialização, crédito, exportação, serviços portuários, distribuidores (dealers), bolsas, industrialização e o consumidor final. Portanto, é clara a vantagem que a região Nordeste tem sobre as demais regiões neste novo arranjo da economia globalizada.

CONCLUSÃO

A observação de que ocorre um processo de concentração econômica em uma região do estado conduz a preocupação do efeito deste processo na má distribuição da riqueza e suas conseqüências. O Setor Agropecuário, que é de grande importância econômica e social para o Estado, também é afetado por este processo. Este agrega muito mais por área na Região Nordeste do que nas demais regiões, mesmo sendo pouco expressivo percentualmente quando relacionado aos outros setores da economia. O que se verifica é que, quando ocorre uma agregação de valor ao produto, seja através da diferenciação, venda direta ao consumidor ou agroindustrialização, existe maior possibilidade de sucesso na atividade agropecuária. Nas Regiões Sul e Norte, os outros setores da economia não são tão expressivos quanto os da região Nordeste, assim a atividade econômica intersetorial é pouco dinâmica dificultando, conseqüentemente, a agregação de valor aos produtos primários. Assim, estas regiões produzem basicamente commodities, que

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tem seu valor reduzido ano a ano, essa característica faz com que se acentue cada vez mais a desigualdade entre as regiões.

A estagnação econômica da Região Sul conduz a elaboração de inúmeras políticas de desenvolvimento. Os projetos buscam, em sua maioria, incentivar o desenvolvimento do setor agropecuário, seja através de projetos de crédito ou de novas atividades ligadas ao setor primário. Porém, parece claro que no cenário econômico atual, o impacto de políticas que fortaleçam o setor industrial e de serviços deveria ser prioridade para a região, pois o desenvolvimento do setor primário depende da dinâmica econômica local, dentro de uma visão intrasetorial, ou seja, o agronegócio.

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