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Horticultura Ambiental

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Horticultura Ambiental

cOBErTurAs AJArDiNADAs:

uMA sOLuÇãO PArA As ciDADEs?

Paulo Palha

introdução

Em 1957, com o lançamento do primeiro satélite na órbita da Terra foi privilegiada a observação do planeta. Vista do espaço, a beleza da nossa biosfera era indescritível, bem como era visível a sua fragilidade. As manchas de poluição, as feridas da devastação das florestas, as cicatrizes da industrialização e a expansão caótica da cidade eram, definitivamente, evidentes e irrefutáveis. A partir desse momento tornou-se importante diminuir o efeito negativo destes impactes na concentração atmosférica de oxigénio e dióxido de carbono, no efeito de ilha de calor, na poluição sonora, atmosférica e visual e na área dedicada a espaços verdes.

Essas preocupações mantêm-se até aos nossos dias. Todos nós estamos conscientes que continua errada a planificação das nossas cidades, e que a tendência é para piorar se nos acomodarmos nesta situação. Uma vez que é evidente que a expansão construtiva é devastadora e que os espaços verdes são cada vez mais residuais na malha urbana porque não utilizar um espaço “infinito” que as coberturas dos edifícios nos oferecem para aumentarmos a área verde de uma cidade?

As coberturas dos edifícios podem ser ajardinadas de forma simples ou mais elaborada, com comunidades botânicas mais ou menos complexas, dependendo apenas da generosidade

do perfil de solo, que as plantas possam explorar.

Entendo como cobertura ajardinada qualquer espaço verde que se desenvolva sobre uma lage de um edifício. Este conceito engloba jardins convencionais, que oferecem condições ao desenvolvimento de todo o tipo de botânica, até jardins que apresentem espessuras mínimas de substrato (6 cm, dependendo da zona climática) e que permitem o desenvolvimento de comunidades botânicas muito simples (ex: sedum).

Deste modo a expansão de coberturas ajardinadas é possível, não só em edifícios a construir, que devem desenvolver o planeamento da cobertura ajardinada em sede de projecto, como também em edifícios já construídos, que nunca tenham contemplado esta possibilidade.

As coberturas ajardinadas contribuirão de forma determinante para o equilíbrio do sistema urbano. A proliferação deste conceito implica uma grande expansão da área verde na malha urbana, com consequente impacto positivo nas condições ambientais, na qualidade da paisagem citadina, na qualidade de vida das populações e no desenvolvimento económico, nomeadamente no sector de produção de plantas.

estado da arte

Os primeiros registos de jardins em coberturas e telhados aparecem nas antigas civilizações do rio Tigre e Eu-frates, exemplo disso foram os jardins suspensos da Babilónia no século 7 e 8 antes de Cristo. Os Romanos também desenvolveram este conceito em al-guns dos seus edifícios. No entanto só o aparecimento de modernas técnicas de construção e instalação permitiram o alargamento da aplicação deste tipo de ajardinamento.

O aparecimento do betão, em mea-dos do século dezanove, como mate-rial estrutural dos edifícios possibilitou, entre outras vantagens, a criação de coberturas e telhados planos um pouco por toda a Europa e América.

Em 1868, na Exposição Mundial de Paris foi apresentado um edifício mo-delo com uma cobertura ajardinada,

A revolução industrial do século XIX exigiu o deslocamento

de grandes massas populacionais do campo para a cidade, não

permitindo a execução de planos urbanísticos ponderados e

equi-librados. Como consequência imediata da ausência desse

planea-mento surgiram vários problemas: de saúde, sociais, ambientais,

de ocupação do solo, entre outros. Esses desequilíbrios levaram

Ebenezer Howard em 1898 e Patrick Abercrombie em 1944

(Dun-net & Kingsbury, 2004) a proporem o conceito de Cidade-Jardim:

diminuir a densidade populacional por metro quadrado e

aumen-tar o número de espaços verdes.

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tendo sido a primeira de várias expe-riências que se desenvolveram então na Europa Ocidental. Entre essas refiro em 1903, em Paris, a construção de um bloco de apartamentos cujo telhado plano foi ajardinado; em 1014, em Chi-cago, um restaurante com um jardim na cobertura foi desenhado por Frank Lloyd Wrigh, tendo sido desenhado um projecto semelhante em Colónia desta vez por Walter Gropius. O arquitecto Le Corbusier foi talvez o primeiro, a partir de 1920, a utilizar as coberturas ajar-dinadas de forma sistemática embora, apenas, quando projectava edifícios de elite para clientes ricos. O mais fa-moso jardim de cobertura, que ainda existe, construído em 1938, para o armazém Derry and Toms, localiza-se em Londres. É um jardim com cerca de 6000 m2 onde se podem encontrar

la-gos, pontes, caminhos, árvores, ar-bustos, zonas de estadia, e até alguns elementos escultóricos. Parte do jardim representa a floresta típica britânica, através da utilização de, aproximada-mente, 100 espécies arbóreas típicas daquela região. Neste jardim também se encontra uma representação de um jardim espanhol, com influências ára-bes, através da utilização de pequenas fontes e canais, e elementos decorati-vos nos pavimentos. Este jardim foi ad-quirido em 1981 por Richard Branson e é hoje conhecido como Edifício Virgin. Mais do que qualquer outro exemplo de cobertura ajardinada, este contri-buiu significativamente para a divulga-ção do interesse deste tipo de soludivulga-ção construtiva.

Foi apenas no século 20 que as téc-nicas construtivas fizeram das cobertu-ras planas a regra na grande maioria dos edifícios das zonas urbanas. Estas coberturas, cujo sistema construtivo possibilitava agora maiores cargas, le-varam ao desenvolvimento e expansão das coberturas ajardinadas.

Hoje em dia as coberturas ajardina-das são uma área de negócio em fran-ca expansão, já representada por uma indústria poderosa e organizada. Por outro lado, o reconhecimento público das enormes vantagens deste tipo de instalação levou a que alguns gover-nos já tenham estabelecido incentivos para quem adopte este tipo de solução construtiva. Como exemplos refiro que 43% das cidades Alemãs oferecem incentivos fiscais para a instalação de coberturas ajardinadas.

coberturas ajardinadas

A instalação de vegetação em cober-turas e fachadas é um dos mais inova-dores e actuais campos da horticultura e das disciplinas que se ocupam com a eficiência energética e o impacto am-biental dos edifícios (arquitectura, en-genharia civil, etc.).

Viajando pela Europa central será fá-cil notar o aumento de áreas plantadas em telhados e coberturas. Não aquelas luxuosas coberturas ajardinadas ob-serváveis em magníficos apartamen-tos, mas sim, áreas com relvados ou prados, ou com plantações rasteiras de cobertura de solos instaladas em telha-dos planos ou ligeiramente inclinatelha-dos.

Na cidade alemã de Stuttgart há um pequeno e bonito jardim chinês. Nas suas traseiras há um local com uma vista espectacular sobre a cidade onde é possível observar os telhados e co-berturas dos edifícios, com uma grande quantidade de coberturas executadas com uso de vegetação.

Na cidade suíça de Zurich é possível observar uma surpreendente glicínia que, fixa por cabos, cobre parcialmente a torre de seis andares do museu nacional. Aí se percebe que a convivência das plan-tas com os edifícios não é só possível (e desejável) nas suas coberturas, mas também é possível e interessante como parte das fachadas dos mesmos.

Com exemplos como os apresen-tados, mesmo os mais sépticos ficam surpreendidos com a clara noção do impacto positivo destas instalações nas cidades actuais, mais ainda por já serem um requisito legal em cidades de alguns países.

O actual uso de plantas em co-berturas e fachadas de edifícios distingue-se do uso anterior pela in-tegração das zonas de plantação no próprio edifício, bem como a utilização de modernos materiais (substratos de plantação, etc.) e técnicas (sistemas de rega, etc.).

As antigas técnicas estavam restritas à utilização de vasos e floreiras coloca-dos após a construção do edifício, ou através da utilização de terra vegetal, igual à usada para ajardinamentos con-vencionais.

As novas técnicas reconhecem dois tipos de classificação: coberturas inten-sivas e coberturas exteninten-sivas.

As coberturas ajardinadas intensivas são semelhantes aos antigos jardins de cobertura, onde se espera que as pessoas utilizem essa área ajardina-da como um jardim convencional. As plantas são mantidas de forma indi-vidual tal como se estivessem insta-ladas num jardim na base do edifício. A profundidade do perfil de solo é de, pelo menos, 15 cm mas, actualmente, utilizam-se substratos mais leves, de modo a minimizar a carga sobre a es-trutura do edifício. As coberturas inten-sivas mais simples são caracterizadas por relvados e plantas de cobertura de solo, opções que requerem manuten-ção regular. Neste tipo de instalamanuten-ção a grande diferença para as instalações do género, mais antigas, é o uso de menores perfis de substrato, logo me-nores custos de instalação. São co-berturas preparadas para ter acesso e utilização mas, normalmente, são exe-cutadas como uma paisagem para se observar do interior do edifício.

As coberturas ajardinadas exten-sivas não são executadas para uso humano regular, e muitas vezes nem sequer estão visíveis. As plantas são tratadas em massa, sendo as opera-ções de manutenção executadas por toda a área (ex: corte de prado). Em qualquer caso, este tipo de cobertura é usado para reduzir a manutenção ao mínimo. A profundidade do perfil de solo varia entre 6 e 15 cm reduzindo assim de forma considerável o acrésci-mo de carga que este tipo de cobertura implica no edifício.

Os Brown Roofs são um outro con-ceito de cobertura que está a ser de-senvolvido. Refere-se a coberturas que foram cobertas com substrato prove-niente de materiais sobrantes da cons-trução, e em que mais nenhum material vegetal é, propositadamente, instalado.

Coberturas ecológicas

Extensivas Semi Intensivas Intensivas

Uso Ecológicas (não utilizáveis) Jardim Jardim/Parque

Tipo de

vegetação Musgos/herbáceas/gramíneas Herbáceas/gramíneas/arbustos Relvado/perenes/arbustos/árvores Benefícios Reserva de água/> eficiência térmica/> biodiversidade Reserva de água/> eficiência térmica/> biodiversidade/uso Reserva de água/> eficiência térmica/> biodiversidade/uso

Altura do

substrato 60-200 mm 120-250 mm 150-400 mm

Peso

(saturado) 80-150 kg/m2 120-200 kg/m2 180-500 kg/m2

Tipo de

manutenção Inexistência/baixa Periódica Elevada

Necessidade

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Outro dos problemas ambientais que as coberturas ajardinadas podem ajudar a minimizar prende-se com as consequências provocadas pelo desti-no das águas pluviais recebidas pelas coberturas e fachadas dos edifícios. Sabe-se hoje que 75% da chuva que cai numa cidade é conduzida directa-mente para as condutas de águas plu-viais que as levam aos rios e mar. Com-parativamente, apenas 5% da chuva que cai numa área florestal é perdida superficialmente (Scholz-Barth 2001). Investigações indicam uma causa di-recta entre a má qualidade da água dos rios e ribeiros e a qualidade das águas pluviais que neles vêm desaguar. As grandes cheias verificadas em inúme-ras cidades Inglesas em 2000 e 2001 têm como causa, em parte, o grande desenvolvimento de zonas construí-das em leito de cheia e a consequente interrupção das zonas de drenagem natural. Algumas cidades Portuguesas (ex: Lisboa) sofrem do mesmo proble-ma grave. As coberturas ajardinadas permitem reter parte das águas pluviais no seu substrato, libertando lentamente parte dela e aproveitando parte através das plantas aí presentes. Para além de reduzirem o volume de água perdida superficialmente, também têm um con-tributo no melhoramento da qualidade da mesma, através da retenção de al-guns poluentes no seu substrato. Os poluentes atmosféricos, também, po-dem ser reduzidos através do desen-volvimento das coberturas ajardinadas. A vegetação pode filtrar poluentes e poeiras sendo parte absorvidos pelas folhas. No caso dos metais pesados, grandes responsáveis pela poluição nas cidades, as coberturas ajardinadas desempenham um papel importante. Estudos demonstram que essa vegeta-ção pode reter 95% do cádmio, cobre e chumbo e, 16% de zinco (Peck et al., 1999). As melhorias na qualidade do ar têm consequências significativas na melhoria das condições de saúde das populações, nomeadamente na redu-ção das doenças respiratórias e alér-gicas.

Outro benefício das coberturas ajar-dinadas será a redução do efeito da ilha de calor. De todos os benefícios este será provavelmente o mais difícil de quantificar. Têm sido feitas algu-mas tentativas nesse sentido como, por exemplo, Bass et al. (2002) no seu modelo matemático que relaciona a in-fluência das coberturas ajardinadas no efeito da ilha de calor na cidade de To-ronto. Simulando que 50% dos edifícios da baixa de Toronto teriam coberturas ajardinadas verificou que a redução na temperatura seria de apenas 0,5ºC. No entanto, quando no modelo estudado se acrescentava a possibilidade de rega, assegurando uma evapotranspi-ração efectiva mesmo durante largos alguns países (por exemplo: Haiti,

Co-lômbia, Tailândia e Rússia) as cobertu-ras e as varandas de edifícios têm sido utilizadas para a produção de produtos comercializáveis em mercados tais como frutos, vegetais e até orquíde-as (Garnett, 1997). Um dos melhores exemplos de produção de alimentos em coberturas é o Hotel Fairmount sito em Vancouver, Canadá. Esta cobertu-ra ajardinada de 195 m2 com 45 cm de

profundidade de substrato fornece to-das as ervas consumito-das pela cozinha do hotel, poupando anualmente cerca de 25000 a 30000 dólares canadianos ao orçamento do hotel.

Quanto às vantagens estéticas será fácil de entender a profunda alteração da paisagem que se iniciaria se todas aquelas coberturas, visíveis de uns pré-dios para outros, começassem a ser ajardinadas. Em vez de se observar o asfalto e as telas de isolamento das coberturas começaríamos a usufruir de paisagens naturais que nos transmiti-riam sensações de conforto. Mesmo as coberturas que não possuem acesso, mas são claramente visíveis, contri-buem para o efeito terapêutico que as plantas e a natureza provocam nas pes-soas que convivem com esses espaços. Esses efeitos terapêuticos incluem a re-dução do stress, diminuição da pressão arterial, diminuição da tensão muscular e o aumento dos sentimentos positivos (Ulrich & Simmons 1986).

vantagens ambientais

As coberturas ajardinadas extensi-vas, projectadas para não serem utili-zadas, e como tal isoladas das pesso-as, podem ser habitats imperturbáveis para plantas, pássaros e insectos. Também importa recordar que os subs-tratos utilizados na construção das co-berturas ajardinadas têm fertilidade reduzida dado que o factor preponde-rante é a percentagem de inertes que garantam a drenagem. Nessas condi-ções de reduzida fertilidade assiste-se a um aumento do número de espécies pois não existem condições suficientes para a proliferação das espécies alta-mente dominantes. Assim coexistindo mais espécies vegetais no mesmo ha-bitat temos uma maior biodiversidade, traduzida num aumento do número de pássaros e insectos (Grime, 2002). Certo é que em climas continentais todo o substrato pode congelar no In-verno, impossibilitando a vida de insec-tos e pássaros durante essa altura. No entanto, durante a estação de cresci-mento, as coberturas ajardinadas ofe-recem autênticas ilhas ecológicas onde insectos e pássaros podem descansar, alimentar-se e reproduzir-se. Observa-dores da natureza encontraram muitas espécies de insectos em vigésimos pi-sos (Peck et al., 1999).

Apenas se cria o espaço para que a biodiversidade espontânea o vá ocu-pando.

Um outro conceito mais recente tem vindo a ser desenvolvido: coberturas ajardinadas semi-extensivas. A filosofia do mínimo input ecológico é respeita-da, sendo utilizados perfis de substrato leves entre 10 a 20 cm que permitem uma mais vasta escolha de espécies a utilizar. Este conceito vem tentar demonstrar que não há razão alguma para que as coberturas extensivas não sejam visitáveis e utilizáveis, desde que projectadas para tal.

porquê construir coberturas ajardi-nadas?

Os benefícios das coberturas ajar-dinadas são vastos. Alguns apenas serão efectivos se considerarmos a instalação de coberturas ajardinadas em larga escala, em bairros inteiros ou grandes áreas de cidades. Outros be-nefícios fazem-se sentir directamente no edifício onde se instala a cobertu-ra ajardinada. Poderemos classificar as várias vantagens em três grandes áreas: vantagens de conforto e estéti-ca, vantagens ambientais e vantagens económicas.

vantagens de conforto e estética

As coberturas ajardinadas, quando projectadas para espaços recreativos e de lazer, são espaços de recreio acti-vo em áreas urbanizadas onde pouco resta de espaço no solo para espaços verdes. São assim uma alternativa aos espaços verdes convencionais tendo a vantagem do seu acesso ser limitado, conferindo a este espaço maior priva-cidade e segurança, evitando o vanda-lismo, assaltos, e outros problemas so-ciais que tende a persistir nos parques e jardins públicos das grandes cidades. Muitas vezes o medo de crimes ou as-saltos é maior do que a própria realida-de, conferindo estes espaços privados grande conforto aos seus utilizadores. Quando observada uma cobertura ajardinada no topo de um edifício lo-calizado em Portland estavam a de-correr actividades tão diversas como: colocação de roupa a secar, churras-cos e refeições, passeios com cães, e mesmo lançamento de fogo-de-artifício (Hutchison et al., 2003). Lembro que estes espaços são cada vez maiores e já albergam campos de jogos. Outro potencial das coberturas ajardinadas, prende-se com a produção de alimen-tos. Há uma preocupação crescente com a qualidade dos alimentos e a forma como são produzidos. Uma das questões levantadas é o custo energéti-co e a poluição causada pelo transporte (desde longas distâncias) deste tipo de produtos. As coberturas oferecem uma excelente oportunidade para a produ-ção de vegetais e outros alimentos. Em

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períodos de seca, a redução de tem-peratura já foi de 2ºC, tendo aumenta-do a área da cidade influenciada pelo abaixamento da temperatura. Os volu-mes de água considerados para rega poderiam ser de água armazenada da chuva ou desperdiçada pelo próprio edifício.

Nos problemas de ruído das cidades também parece ser possível contar com o contributo das coberturas ajar-dinadas. O isolamento acústico foi uma das principais razões para a instalação de uma cobertura ajardinada no edifí-cio da Gap’s 901 Cherry Hill, Califórnia. Este edifício, que ganhou um prémio de arquitectura, situa-se perto de uma via rápida muito ruidosa e na rota do aeroporto internacional de São Fran-cisco. A cobertura reduziu a transmis-são de ruídos em cerca de 50 decibéis (Burke, 2003).

vantagens económicas

A reacção inicial de muitos curiosos às coberturas ajardinadas é julgarem que estas vão danificar as telas tectoras e isolantes da cobertura pro-vocando danos e consequentes des-pesas. De facto o que acontece é que, se utilizados os métodos correctos, a cobertura ajardinada prolongará o tem-po de vida desses materiais isolantes (protege dos raios solares, diminui a temperatura, reduz a amplitude térmi-ca, etc.), trazendo desde logo esse be-nefício económico. Num estudo efec-tuado sobre coberturas ajardinadas e não ajardinadas na cidade de Toronto, concluiu-se que à mesma hora da tar-de a membrana tar-de impermeabilização da cobertura não ajardinada tinha uma temperatura de 70ºC; contudo a mem-brana da cobertura ajardinada apenas media 25ºC (Liu & Baskaran, 2003). Mas a principal vantagem económica, sendo um dos argumentos mais for-tes para a execução de uma cobertu-ra ajardinada, é o gcobertu-rande aumento de eficiência energética que esta solução construtiva confere aos edifícios. As coberturas ajardinadas diminuem em 90% a acção térmica dos raios solares incidentes nas coberturas. As tempera-turas no interior do edifício mostraram ser de menos 3/4ºC quando a tempera-tura exterior se situa entre os 25 e 30ºC (Peck et al., 1999). Em climas onde o ar condicionado é essencial para a manutenção de condições decentes de trabalho, esta poderá ser uma ra-zão fundamental para se adoptar uma cobertura ajardinada: cada redução de 0,5ºC na temperatura interior do edi-fício reduzirá o consumo de energia (destinada a aparelhos de ar condicio-nado) em mais de 8%. No Canadá, a

Environment Canada, encontrou esta

típica situação num edifício de escri-tórios em Toronto que após a instala-ção de uma cobertura ajardinada com

10 cm de espessura de substrato, re-duziu em 25% a necessidade de uso de ar condicionado durante o período quente. Também no Inverno se verifica uma poupança de energia nos edifícios que têm coberturas ajardinadas (muito dependente da espessura do substra-to), pois a sua característica isolante diminui as perdas de calor. As cober-turas ajardinadas e as fachadas verdes não possuem apenas a possibilidade de redução dos custos no aquecimento e arrefecimento dos edifícios; conferem também uma directa redução nos cus-tos de construção pois reduzem a ne-cessidade de isolamento bem como a potência dos aparelhos de ar condicio-nado. Fazendo contas, uma cobertura convencional (não ajardinada), nos Estados Unidos da América, utilizan-do preços de 2002, custa entre 43,00 e 90,00 dólares por metro quadrado. O valor mais baixo aplicando um sistema que não durará mais de 15/20 anos sem uma grande reparação, sendo o valor mais elevado para um sistema que poderá durar entre 30 e 50 anos sem reparação. Uma cobertura ajardi-nada extensiva custa cerca de 100,00 a 200,00 dólares por metro quadrado e durará entre 50 e 100 anos. Uma co-bertura ajardinada intensiva poderá ter um custo de instalação compreendido entre 200,00 e 400,00 dólares por me-tro quadrado (Broili, 2002).

Pesquisas efectuadas na Europa sugerem que as coberturas ajardina-das duplicam a esperança de vida ajardina-das membranas das coberturas (Peck & Kuhn, 2000). As propriedades protec-toras das coberturas ajardinadas têm desempenhado um papel fundamental na sobrevivência das antigas membra-nas utilizadas na construção dos edifí-cios. Prova disso o Edifício Derry and

Toms (já enunciado), situado no centro

de Londres, que mantém uma especta-cular cobertura ajardinada desde 1938

com uma membrana ainda em bom es-tado (Peck et al., 1999).

Os benefícios das cobertura ajardi-nadas são tão vastos que se tona difícil estudá-los de maneira integrada. Um dos estudos mais transversais sobre este tema foi efectuado com o patrocí-nio de Toronto City Authority,

Environ-ment Canada, Green Roofs for Healthy Cities e Canadian National Reserch Council Institute for Reserch in Cons-truction. Trabalharam num cenário

mo-desto em que apenas 6% das cober-turas de Toronto seriam ajardinadas nos próximos 10 anos (representando 1% da área total de Toronto: rondando os 6 milhões de metros quadrados). O tipo de cobertura proposta tinha 15 cm de espessura com uma fina camada de relva ou prado. Os benefícios esti-mados, resultantes da possível imple-mentação deste programa seriam os seguintes:

• Postos de trabalho directos e indirec-tos: 1350 postos de trabalho anos/ano; • Redução no efeito de ilha de calor da cidade de 1 a 2ºC;

• Redução da emissão de gases de efeito de estufa por parte dos edifícios: 1,56 mega toneladas;

• Redução das ocorrências de episó-dios graves de smog: 5-10%;

• Quantidade de partículas captura-das/retidas pelas plantas: 29,5 ton/ano; • Retenção de águas da chuva: 3,6 milhões de metros cúbicos por ano (o custo para construir reservatórios com essa capacidade seria de 60 milhões de dólares);

• Produção de alimentos assumindo 10% de utilização da área das cobertu-ras: 4,7 milhões de quilos por ano; • Poupança anual de energia: 1 mi-lhão de dólares por ano;

• Área potencial para recreio activo de uso público e privado: 650 000 m2.

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• Benefícios económicos/fiscais: o Criação directa e indirecta de

emprego: 1350 pessoas/ano de acordo com a simulação efectuada para Toronto, se 6% da sua área total for ocupada por coberturas ajardinadas com uma espessura de 15 cm, nos próximos 8 anos) (Dunnet & Kingsbury, 2004).

o 43% das cidades alemãs concedem incentivos fiscais para instalação de coberturas (Dunnet et al. 2004);

o Possibilidade de obtenção de benefícios fiscais: entre outros a Suíça a Áustria e a Alemanha concedem benefícios fiscais (Dunnet & Kingsbury, 2004).

conclusões

As coberturas ajardinadas são responsáveis por um importante impacte paisagístico em ambientes citadinos. A significância deste impacte será tanto mais determinante quanto maiores forem as diferenças de relevo da cidade. Veja-se como exemplo algumas das cidades da Galiza: Vigo, Ourense e Santiago de Compostela.

Por outro lado, as coberturas ajardinadas exercem grande influência na melhoria das condições de vida das populações: aumento da produção de oxigénio, diminuição do efeito de estufa e do efeito de “ilha de calor”, redução da poluição sonora, absorção de partículas poluentes, aumento do conforto bioclimático. A todos esses factores bióticos juntemos o incremento no tecido económico, nomeadamente a expansão da actividade de produção de plantas e de instaladores de coberturas ajardinadas. Isto significara a abertura de um mercado gigantesco com um retorno ainda difícil de calcular, mas fácil de perceber pela forma como este sector se tem vindo a desenvolver nos últimos anos.

A definição de políticas que promo-vam a instalação de coberturas ajardi-nadas não deve substituir as políticas necessárias à criação dos corredores verdes nas cidades, tão importantes para o seu equilíbrio; nem tão pouco permitir a construção onde esta seja desaconselhada/desajustada.

Portugal encontra-se cerca de 20/30 anos atrasado em relação aos Países do norte da Europa, na implementação de medidas que estimulem a adopção das coberturas ajardinadas na constru-ção/remodelação de edifícios.

Só com o envolvimento, sem pre-conceitos, dos decisores políticos, bem como a sensibilização e formação das populações (em particular das novas gerações) será possível recuperar este atraso.

Se está ao nosso alcance, só nos resta fazer acontecer!

Esta nova perspectiva da bioenge-nharia tem vindo a desenvolver-se rapi-damente nos países do norte de Europa e, mais recentemente, nos Estados Uni-dos da América, contando com a partici-pação de várias especialidades: desde engenheiros de estruturas, viveiristas, construtores civis, arquitectos, enge-nheiros de hidráulica, entre outros.

resumo das vantagens

• Aumento significativo da área verde em contexto urbano e consolidação da sua estrutura ecológica;

• Importante papel na integridade e sustentabilidade dos sistemas de dre-nagem urbanos:

o Capacidade de retenção de água: 3,6 milhões m3/ano - simulação para

Toronto, se 6% da sua área total for ocupada por coberturas ajardinadas com uma espessura de 15 cm, nos próximos 8 anos; 10 cm de substrato absorvem 90% da precipitação de Verão; 10 cm de substrato absorvem 75% da precipitação de Inverno (Dunnet & Kingsbury, 2004);

o Diminui o risco de inundações: 50-80% da água da chuva é maioritariamente absorvida pelas plantas, outra é evaporada e a restante é conduzida para os colectores (Dunnet & Kingsbury, 2004);

• Diminuição do impacte negativo da massificação das estruturas construí-das em meio urbano;

• Aumento da actividade fotossintética que implica: aumento na produção de oxigénio, maior reciclagem de dióxido de carbono e redução no efeito de estufa; • Aumento da biodiversidade e dos nichos ecológicos: diversidade de co-res, formas, texturas, expressões fe-notípicas ao longo do ano, aumento da diversidade faunística (insectos, ara-nhas, pássaros) e promoção do equi-líbrio ecológico;

• Redução do efeito de “ilha de ca-lor”: redução de 681 a 1714 toneladas de emissão de gases indirectamente provenientes do efeito de ilha de calor - simulação para Toronto, se 6% da sua área total for ocupada por coberturas ajardinadas com uma espessura de 15 cm, nos próximos 8 anos) (Dunnet & Kingsbury, 2004);

• Absorção/redução da poluição so-nora: 10 cm de substrato implica uma redução mínima de 5 decibéis (aero-porto de Frankfurt), 12 cm de substra-to – redução de 40 decibéis, 20 cm de substrato – redução de 46-50 decibéis (Dunnet & Kingsbury, 2004);

• Absorção/filtragem de gases po-luentes e de partículas em suspensão na atmosfera: redução de problemas respiratórios (redução de 5 a 10%), di-minuição de 1 a 2ºC no microclima ur-bano, melhoria da qualidade ambiental e de vida (Dunnet & Kingsbury, 2004); • Prevenção do risco de incêndio: composições florísticas que incluam plantas suculentas retardam a propa-gação do fogo:

• Capacidade de isolamento térmi-co: redução nas oscilações térmicas dos edifícios, redução em 12ºC entre as temperaturas máximas diurnas e nocturnas (valores medidos na Alema-nha), diminuição de 8% do consumo de energia eléctrica destinada ao ar con-dicionado (Dunnet & Kingsbury, 2004), conservação de energia;

• Possibilidade de produção de plan-tas hortícolas: produção de 4,7 milhões kg de plantas hortícolas/ano – simula-ção para Toronto, se 6% da sua área total for ocupada por coberturas ajardi-nadas e hortícolas com uma espessura de 15 cm, nos próximos 8 anos) (Dun-net & Kingsbury, 2004);

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autor

paulo palha

paulopalha@neoturf.pt Director Geral da Neoturf, Lda. Especialidade: Coberturas ajardinadas Peck, S. & Kuhn, M. 2000. Design Guidelines for

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Referências

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