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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Força Tarefa Lava Jato

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Academic year: 2021

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA 7ª VARA FEDERAL CRIMINAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO RIO DE JANEIRO

DISTRIBUIÇÃO POR DEPENDÊNCIA:

AUTOS Nº 0509503-57.2016.4.02.5101 (Ação Penal – Operação Calicute) D

EMAIS REFERÊNCIAS:

AUTOS Nº 0506739-64.2017.4.02.5101 (Colaboração premiada Antonio Bernardo Herrman e Outros) AUTOS Nº 0509565-97.2016.4.02.5101 (Operação Calicute – prisões cautelares)

AUTOS Nº 0509567-67.2016.4.02.5101 (Operação Calicute – buscas e apreensões) AUTOS Nº 0509566-82.2016.4.02.5101 (Operação Calicute – bloqueio de bens) AUTOS Nº 0509505-27.2016.4.02.5101 (Operação Calicute – monitoramento telefônico) AUTOS Nº 0506602-19.2016.4.02.5101 (Quebra de sigilo telemático)

AUTOS Nº 0506973-80.2016.4.02.5101 (Quebra de sigilos fiscal e bancário) AUTOS Nº 0506980-72.2016.4.02.5101 (Quebra de sigilo de registros telefônicos) AUTOS Nº 0506530-32.2016.4.02.5101 (Homologação leniência Andrade Gutierrez) AUTOS Nº 0509504-42.2016.4.02.5101 (PIC nº 1.30.001.000680/2016-32 MPF/PRRJ) AUTOS Nº 0507582-63.2016.4.02.5101 (Compartilhamento – provas da 13ª VF/Curitiba) AUTOS Nº 0509504-42.2016.4.02.5101 (Op. Calicute – apenso do IPL 102/2016-Delecor)

AUTOS Nº 0506972-95.2016.4.02.5101 (Homologação leniência CARIOCA CHRISTIANI NIELSEN ENGENHA-RIA)

AUTOS Nº 0507551-43.2016.4.02.5101 (Adesões à leniência CARIOCA CHRISTIANI NIELSEN ENGENHARIA)

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pelos Procuradores da República que ao final subscrevem1, no exercício de suas atribuições constitucionais e legais, em especial a

disposta no art. 129, I, da Constituição Federal, comparece perante esse Juízo para, com base nas provas contidas nos diferentes autos eletrônicos em epígrafe, oferecer DENÚNCIA em desfavor de: 1) ANTONIO BERNARDO HERRMAN, CPF nº 196.668.707-97, RG nº 02107774-8/IFP-RJ, brasileiro, divorciado, designer, nascido 04 de setembro de 1947, filho de Lydia Gonçalves Herrmann e Rudolf Hermann, com endereço na Rua Visconde de Albuquerque, 333, apto. 401, B, Leblon, Rio de Janeiro-RJ, e endereço comercial na Rua Jardim Botânico, 635, sala 1001, Jardim Botânico, Rio de Janeiro-RJ; 2) VERA MARINA HERMANN, CPF nº 334.624.707-44, RG nº 1565017/IFP-RJ, brasileira, divorciada, economista, nascida a 01 de novembro de 1941, filha de Lydia Gonçalves Herrmann e Rudolf Hermann, com endereço na Rua Timóteo da Costa, 297, apto. 701, Leblon, Rio de Janeiro-RJ, e endereço comercial na Rua Jardim Botânico, 635, 11º andar, Jardim Botânico, Rio de Janeiro-RJ;

pelos fatos adiante narrados:

1 Designados para atuar neste feito e conexos pelas Portarias 502 e 503 de 09 de junho de 2017.

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1. CONTEXTUALIZAÇÃO DA INVESTIGAÇÃO

A presente denúncia é resultado da investigação realizada pelo Ministério Público Federal, Polícia Federal e Receita Federal em desdobramento das Operações Calicute2 e Eficiência3,

tendo por objeto crimes de lavagem de dinheiro cometidos pela venda de joias, mediante pagamento em espécie, sem emissão de nota fiscal, sem comunicação ao COAF e sem identificação do adquirente no certificado nominal da joia, revelados, inicialmente, após a quebra de registro de ligações telefônicas do operador da ORCRIM liderada por SÉRGIO CABRAL, CARLOS MIRANDA, e confirmado, posteriormente, a partir de medidas de busca e apreensão, depoimentos e celebração de acordo de colaboração premiada com os sócios e funcionários da ARANY ADORNOS LTDA (JOALHERIA ANTONIO BERNARDO), quais sejam ANTONIO BERNARDO HERRMAN, VERA MARINA HERMANN e VERA LÚCIA GUERRA, homologado por esse Juízo nos autos do processo nº 0506739-64.2017.4.02.5101.

As investigações empreendidas comprovaram que uma das principais formas de SÉRGIO CABRAL, no comando da ORCRIM, promover a lavagem de ativos, no Brasil, foi pela aquisição de joias. Os fatos começaram a vir à tona durante as investigações, quando chamou atenção os registros na agenda telefônica de CARLOS MIRANDA, onde foram encontrados os números de VERA LÚCIA GUERRA, gerente da JOALHERIA ANTONIO BERNARDO. Além disso, os dados obtidos através da quebra de registros de ligações telefônicas revelaram que VERA LÚCIA recebeu 208 ligações telefônicas desse operador. No entanto, apesar desses constantes contatos, a Receita Federal não identificou qualquer documento fiscal que retratasse transações comerciais entre CARLOS MIRANDA e a joalheria.

Imediatamente após a deflagração da fase mais ostensiva da Operação Calicute foram tomados os depoimentos de VERA LÚCIA GUERRA, requisitadas informações à JOALHERIA ANTONIO BERNARDO e promovida uma busca e apreensão na principal loja dessa empresa, no Shopping da Gávea, descortinando-se um sistema contábil milionário e paralelo de aquisição de joias em dinheiro e sem a emissão de notas fiscais, que, junto as transações realizadas com a JOALHERIA HSTERN (já objeto de ação penal em separado), movimentou um montante 2 Processo nº 0509503-57.2016.4.02.5101

3 Processo nº 0502041-15.2017.4.02.5101

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total de R$ 6.562.270,00 dos ativos ilícitos da organização criminosa, apesar de SERGIO CABRAL ter afirmado em seu interrogatório policial que não se lembrava sobre eventuais aquisições e pagamentos de joias em dinheiro, e ADRIANA ANCELMO, por sua vez, ter afirmado que “nunca adquiriu joias através de pagamento em espécie”.

O cometimento de crime de lavagem de dinheiro pela compra e venda de joias já foi objeto de quatro4 outras denúncias oferecidas em decorrência das denominadas operações

Calicute5 e Eficiência6. Inicialmente, no processo nº 0509503-57.2016.4.02.5101, o MPF imputou a

SERGIO CABRAL, ADRIANA ANCELMO, CARLOS MIRANDA, CARLOS BEZERRA e PEDRO RAMOS o cometimento de crime de lavagem de dinheiro, sendo por 64 vezes no caso dos dois primeiros e 41 vezes em relação aos três últimos, por terem ocultado e dissimulado, por meio de organização criminosa, a origem, natureza, localização, movimentação e disposição sobre valores de pelo menos R$ 6.562.270,00, com a aquisição de joias de altíssimo valor de mercado, algumas exclusivas, nas joalherias ANTONIO BERNARDO (ARANY ADORNOS LTDA), na loja da Rua Marques de São Vicente, 52, Lj. 330, Shopping da Gávea, e H STERN (HSJ COMERCIAL SA), na loja da Rua Garcia D'Avila, 113, 8º andar, Ipanema, ambas na cidade do Rio de Janeiro. Nos termos da denúncia oferecida, as aquisições eram feitas em espécie, sem emissão de notas fiscais, e os pagamentos eram realizados em momento posterior, com o propósito indisfarçável de lavar o dinheiro sujo angariado pela ORCRIM.

Posteriormente, no processo nº 0502041-15.2017.4.02.5101, o MPF imputou a SERGIO CABRAL, MARCELO HASSON CHEBAR e RENATO HASSON CHEBAR o cometimento de mais um crime de lavagem de dinheiro, por terem ocultado e dissimulado, por meio de organização criminosa, a origem, a natureza, disposição, movimentação e a propriedade de bens diretamente provenientes de infrações penais, com a compra de um anel e um par de brincos de ouro branco com safira, pagando para a H STERN, na Alemanha, o valor de € 229.000,00 (duzentos e vinte e nove mil euros), correspondentes a USD 258.372,26 (duzentos e cinquenta e oito mil, trezentos e setenta e dois dólares e vinte e seis centavos), por meio da conta WINCHESTER DEVELOPMENT SA, do banco BSI, na Suíça.

4 Processos nº 0509503-57.2016.4.02.5101, nº 0502041-15.2017.4.02.5101, nº 2017.51.01.135964-8 e nº 0148420-79.2017.4.02.5101.

5 Processo nº 0509503-57.2016.4.02.5101 6 Processo nº 0502041-15.2017.4.02.5101

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Na ação penal nº 2017.51.01.135964-8, o MPF imputou a SÉRGIO CABRAL, ADRIANA ANCELMO, CARLOS MIRANDA e CARLOS BEZERRA o cometimento de lavagem de dinheiro por 5 (cinco) vezes, por terem distanciado ainda mais o dinheiro derivado de crimes praticados pela organização criminosa de sua origem ilícita, como também ocultado e dissimulado a origem, a natureza, disposição, movimentação e a propriedade de bens diretamente provenientes de infrações penais, com a compra de outras tantas joias, diversas daquelas objeto das denúncias supramencionadas, na joalheria H STERN (HSJ COMERCIAL SA), avaliadas no valor total de R$ 4.527.590,00 (quatro milhões quinhentos e vinte e sete mil quinhentos e noventa Reais), com a finalidade de converter o dinheiro recebido a título de propina em ativo lícito e também de ocultar o real proprietário do bem.

Por fim, na ação penal nº 0148420-79.2017.4.02.5101, o MPF imputou a ROBERTO STERN, RONALDO STERN, OSCAR LUIZ GOLDEMBERG e MARIA LUIZA TROTTA, diretores da joalheria HSTERN, a participação em crime de lavagem de dinheiro por 14 vezes, por terem concorrido para a prática de lavagem de dinheiro ao auxiliarem e favorecerem a ocultação e dissimulação da origem, natureza, disposição, movimentação e propriedade de bens diretamente provenientes de infrações penais, pela venda de joias avaliadas no valor total de R$ 6.819.590,00 (seis milhões oitocentos e dezenove mil quinhentos e noventa reais), mediante recebimento de milionárias quantias em espécie, por intermédio de operadores financeiros sob orientação ora de SÉRGIO CABRAL, ora de ADRIANA ANCELMO, invariavelmente sem emissão de notas fiscais e sem identificação no certificado nominal, bem como sem manter adequadamente os cadastros e registros exigidos pelo COAF.

Nos termos das denúncias, as aquisições de joias eram feitas com o propósito indisfarçável de lavar o dinheiro sujo angariado pela ORCRIM, com o auxílio, em parcela delas, dos representantes das joalherias ANTONIO BERNARDO, uma vez que a quase a totalidade dos pagamentos foram efetuados pela entrega de altas quantias em espécie, por intermédio de terceiros, nos seus estabelecimentos comerciais, ou compensando-se valores de outras joias, sem emissão de notas fiscais e sem identificação no certificado nominal da joia. Ademais, não eram mantidos adequadamente os cadastros e registros exigidos pelo COAF, nos termos do art. 11 da Lei 9.613/98.

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Com efeito, a partir da celebração de acordo de colaboração premiada com os sócios e empregada da JOALHERIA ANTONIO BERNARDO, foi confirmada a sua participação em diversas infrações penais de lavagem de dinheiro perpetradas pela ORCRIM liderada por SÉRGIO CABRAL, através de operações de compra e venda realizadas entre os mesmos de forma dissimulada.

Outrossim, foram localizados bens e valores objeto dos crimes acima narrados, tendo sido possível, então, desarticular esse braço da logística criminosa estruturada a pretexto da aquisição de joias, nessa joalheria, por SÉRGIO CABRAL e ADRIANA ANCELMO, com intermédio de CARLOS MIRANDA e CARLOS BEZERRA. Nesta toada, foi detalhado ao MPF como se davam as vendas sem emissão de notas fiscais e sem identificação no certificado nominal da joia, por parte dos representantes da JOALHERIA ANTONIO BERNARDO.

Postas tais considerações de natureza introdutória, é necessário esclarecer que, considerando o tamanho e a complexidade da atuação da ORCRIM liderada pelo ex-governador SÉRGIO CABRAL, no presente momento da investigação foram produzidas e analisadas provas referentes ao oferecimento de denúncia englobando a participação dos diretores da joalheria ANTONIO BERNARDO (ARANY ADORNOS LTDA) nos crimes de lavagem de dinheiro perpetrados por alguns integrantes do grupo criminoso do ex-governador, não representando, portanto, arquivamento implícito quanto a pessoas não denunciadas ou fatos ora não imputados, especialmente em razão de ainda estar em curso investigação sobre os demais ilícitos penais.

Ademais, no que se refere às condutas ora tipificadas, previamente foram denunciados os seus autores integrantes da ORCRIM7, subsistindo ainda, por outro lado, a

imputação relativa à participação dos agentes econômicos do mercado de joias envolvidos no esquema criminoso, pelo que resta afastada, desde logo, qualquer futura alegação de litispendência ou bis in idem pelos crimes ora descritos.

Portanto, a participação nos fatos aqui narrados são, evidentemente, correlatos aos ilícitos imputados nas ações penais acima aludidas, tendo, porém, os integrantes da ORCRIM articulada por SÉRGIO CABRAL sido separadamente denunciados. Importa, por ora, tão somente a 7 Processo nº 0509503-57.2016.4.02.5101.

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análise do fato típico sob a perspectiva da participação em ilícitos por parte dos donos da JOALHERIA ANTONIO BERNARDO H STERN ( ARANY ADORNOS LTDA).

2. IMPUTAÇÃO TÍPICA

Consumados os delitos antecedentes de corrupção8 entre os anos de 2007 e 2016,

os ora denunciados ANTONIO BERNARDO HERRMANN e VERA MARINA HERRMANN, por 96 (noventa e seis vezes) vezes, também entre os anos de 2007 a 20169, de modo consciente e

voluntário, concorreram para a prática dos crimes de lavagem de dinheiro10, ao auxiliarem e

favorecerem a ocultação e dissimulação da origem, natureza, disposição, movimentação e propriedade de bens diretamente provenientes de infrações penais, na forma do art. 29 do Código Penal, através da venda de joias pela JOALHERIA ANTONIO BERNARDO (ARANY ADORNOS LTDA), avaliadas no valor total de R$ 4.270.270,00 (quatro milhões, duzentos e setenta mil e duzentos e setenta Reais), mediante recebimento de vultosas quantias em espécie, por operadores financeiros sob orientação ora de SÉRGIO CABRAL, ora de ADRIANA ANCELMO, ora de CARLOS MIRANDA, invariavelmente sem emissão de notas fiscais e sem identificação no certificado nominal, bem como sem manter adequadamente os cadastros e registros exigidos pelo COAF.

As vendas eram feitas encobrindo-se os reais proprietários dos bens e valores a eles entregues como forma de pagamento, tendo como propósito distanciar ainda mais o dinheiro derivado de crimes praticados pela ORCRIM de sua origem ilícita, propiciando a conversão do dinheiro recebido a título de propina pelo ex-Governador e seus comparsas em ativo lícito (Art. 1º, §4º, da Lei 9.613/98, na forma do artigo 29 do Código Penal).

3. DOS CRIMES ANTECEDENTES AOS CRIMES DE LAVAGEM DE DINHEIRO

8 Processos nº 0509503-57.2016.4.02.5101 e nº 0502041-15.2017.4.02.5101.

9 Conforme detalhamento da tabela de compra de joias e planilha apresentada pelos próprios denunciados abaixo descriminada e que instrui a presente denúncia.

10 Processos nº 0509503-57.2016.4.02.5101, nº 0502041-15.2017.4.02.5101 e nº 2017.51.01.135964-8.

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A configuração dos crimes de lavagem de capitais imputados adiante está alicerçada, na forma do Art. 2º, § 1o, da Lei 9.613/9811, em crimes antecedentes, que já foram

denunciados no âmbito das Operações Calicute, Eficiência e Tolypeutes praticados no âmbito da licitação, contratação e execução de grandes obras públicas de construção civil ocorridas no Estado do Rio de Janeiro, tendo sido revelados crimes de corrupção passiva (art. 317 do CP), corrupção ativa (art. 333 do CP), pertinência a organização criminosa (art. 2º da Lei 12.850/2013), cartel (art. 4º, inciso II, “a” e “b” da Lei 8.137/90) e fraude a licitações (artigos 90 e 96, V, da Lei 8.666/93).

Esse esquema de cartelização mediante pagamento de propina teve início a partir do momento em que SÉRGIO CABRAL assumiu em 2007 o cargo de Governador do Estado do Rio de Janeiro, perdurando até o ano de 2014, englobando praticamente todas as grandes obras públicas de construção civil contratadas junto ao ente público, quase sempre custeadas ou financiadas com recursos federais. Enquanto agentes públicos se beneficiavam do esquema criminoso estabelecido recebendo vantagens ilícitas calculadas a partir de uma porcentagem do faturamento desses contratos públicos, empreiteiras se articulavam para dividir o mercado de serviços de engenharia e construção civil, impedindo a concorrência de empresas não coligadas, contando sempre com a anuência desses mesmos agentes públicos beneficiados.

No que interessa à presente acusação, as quatro principais obras em face das quais houve o acerto de pagamento de propina por parte de empreiteiras com recursos públicos federais foram: (i) urbanização e regularização fundiária em comunidades carentes (PAC Favelas); (ii) construção do Arco Metropolitano (Segmento C – Lote 01); iii) reforma do Maracanã para a Copa do Mundo de 2014; iv) construção da linha 4 do metrô.

É fato, porém, que as investigações apontaram que, além dos atos de corrupção, houve também a prática de crimes de cartel e fraude às licitações, com acerto prévio dos vencedores, por meio de determinação ou anuência do governador SÉRGIO CABRAL e dos secretários WILSON CARLOS e HUDSON BRAGA, todos beneficiários dos atos de corrupção.

11 Art. 2º, § 1o, da Lei 9.613/98: A denúncia será instruída com indícios suficientes da existência da infração penal antecedente, sendo puníveis os fatos previstos nesta Lei, ainda que desconhecido ou isento de pena o autor, ou extinta a punibilidade da infração penal antecedente.(Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012).

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Não obstante, há que se constatar que as circunstâncias reveladas pelas investigações também apontaram que o esquema não se restringia aos agentes públicos e às empreiteiras signatárias dos acordos de leniência e colaboração, mas também contaminava as ações das demais construtoras integrantes dos consórcios participantes das licitações corrompidas. São substanciais, portanto, as evidências de que todas as empreiteiras participantes das respectivas licitações aderiram ao esquema, beneficiando-se das medidas antieconômicas traçadas, ao menos, entre os anos de 2007 e 2014.

3.1 Da propina paga pela Andrade Gutierrez (ação penal nº 0509503-57.2016.4.02.5101 – Operação Calicute)

No período compreendido entre os anos de 2007 e 2011, por pelo menos 24 vezes, em razão: (I) do tratado em 03 reuniões de SÉRGIO CABRAL e WILSON CARLOS com os executivos ROGÉRIO NORA, CLÓVIS PRIMO e ALBERTO QUINTAES, realizadas no Rio de Janeiro em 2007 e em 2009; (II) das 20 parcelas mensais entregues em espécie por ALBERTO QUINTAES a CARLOS MIRANDA entre 2007 e 2011; (III) de 01 doação de companha para o PMDB realizada em 2010, SÉRGIO CABRAL, WILSON CARLOS e CARLOS MIRANDA, de modo consciente e voluntário, solicitaram, aceitaram promessa e receberam vantagem indevida (calculada, como regra geral, em 5% do valor faturado relativo às contratações realizadas) em razão do exercício da chefia do Poder Executivo do ESTADO DO RIO DE JANEIRO, ofertados por ação de representantes da empreiteira ANDRADE GUTIERREZ, praticando-se ou retardando-se atos de ofício, com infração de deveres funcionais, notadamente em relação à licitação, contratação e execução, inclusive em regime de consórcio com outras empresas, das obras de: expansão do Metro em Copacabana (dívida do governo); reforma do Maracanã para os Jogos Pan-americanos de 2007 (dívida do governo), construção do Mergulhão de Caxias (dívida do governo), urbanização no Complexo de Manguinhos – PAC Favelas, construção do Arco Metropolitano (Segmento C – Lote 01) e reforma do Maracanã para a Copa de 2014.

3.2 Da propina paga pela Carioca Engenharia (ação penal nº 0504113-72.2017.4.02.5101) Entre março de 2008 e abril de 2014, com periodicidade mensal, por pelo menos 73 (setenta e três) vezes, em razão: (I) do tratado em 01 reunião de WILSON CARLOS com os

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executivos RICARDO PERNAMBUCO JUNIOR e EDUARDO BACKHEUSER, realizadas no Rio de Janeiro em 2008; (II) do tratado em ao menos 01 reunião de WILSON CARLOS com os executivos da CARIOCA CHRISTIANI NIELSEN ENGENHARIA quando do início do segundo mandato de SÉRGIO CABRAL em 2011; (III) das dezenas, de parcelas entregues em espécie por EDUARDO BACKHEUSER, RODOLFO MANTUANO e TÂNIA FONTENELLE a CARLOS MIRANDA e a CARLOS BEZERRA entre 2008 e 2014, SÉRGIO CABRAL, WILSON CARLOS, CARLOS MIRANDA e CARLOS BEZERRA, de modo consciente e voluntário, solicitaram, aceitaram promessa e receberam vantagem indevida em razão do exercício da chefia do Poder Executivo do Estado do Rio de Janeiro, ofertados por ação de representantes da empreiteira CARIOCA CHRISTIANI NIELSEN ENGENHARIA, dentre eles RICARDO PERNAMBUCO, praticando-se e omitindo-se de atos de ofício, com infração de deveres funcionais, notadamente em relação à licitação, contratação e execução, inclusive em regime de consórcio com outras empresas, das obras de: urbanização na Comunidade da Rocinha – PAC Favelas, construção do Arco Metropolitano (Segmento C – Lote 02) e construção da Linha 4 do Metrô do Rio de Janeiro.

3.3 Licitação das obras de reforma do Maracanã (ação penal nº 0017513-21.2014.4.02.5101 – Cartel e nº 0509503-57.2016.4.02.5101 – Operação Calicute)

No que se refere às obras de reforma e modernização de estádios para a Copa do Mundo, a ANDRADE GUTIERREZ, baseada no disposto na Lei 12.529/11, firmou acordo de leniência. Em tal acordo, em complementação às informações trazidas nos acordos individuais de colaboração premiada com o MPF, revelou-se com detalhes a prática de condutas anticompetitivas no mercado nacional de obras da construção civil. Neste contexto, foram esclarecidas as ações de formação e atuação de cartel e fraude em procedimentos licitatórios no interesse de uma pretendida modernização e reforma de estádios para a Copa do Mundo de 2014, dentre eles o estádio do Maracanã.

A partir desse acordo de leniência foi elaborado um histórico de conduta por meio do qual são detalhadas as ações do cartel no bojo das obras de modernização e reforma do Maracanã. Segundo consta desse histórico de conduta, a consolidação de acordos anticompetitivos firmados pelas construtoras se deu no período entre junho de 2009 e meados de 2011, ocasião em

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que as empreiteiras se articularam com o objetivo de criar uma partilha das obras de reforma ou modernização de estádios para a Copa do Mundo de 2014.

Segundo o relato, as violações à ordem econômica se concretizaram com: (i) a fixação de preços, condições, vantagens e abstenções entre os concorrentes; (ii) divisão do mercado e alocação de projetos, por meio da formação de consórcios, supressão de propostas, apresentação de propostas de cobertura e promessas futuras de subcontratação.

Foi nesse contexto que a ANDRADE GUTIERREZ externou às empreiteiras e ao próprio governador SÉRGIO CABRAL o seu interesse em participar do consórcio que ficaria responsável pelas obras de reforma do Maracanã. No entanto, conforme relatado, já existia um acordo prévio com o governador SÉRGIO CABRAL para que a DELTA fizesse parte do consórcio, ao lado da ODEBRECHT, que venceria o procedimento licitatório referente às obras do Maracanã.

Desse modo, uma vez acordada a entrada da ANDRADE GUTIERREZ no consórcio formado por ODEBRECHT e DELTA, o que contou com a anuência do então governador SÉRGIO CABRAL, restou firmado que a ANDRADE GUTIERREZ ficaria com 30% de participação sobre o percentual de 70% que a ODEBRECHT detinha no consórcio. Com isso, a ANDRADE GUTIERREZ ficou com percentual de 21% de participação no consórcio, enquanto ODEBRECHT e DELTA ficaram com, respetivamente, 49 e 30%.

Fato ilustrativo da dimensão da liberdade com que as empreiteiras se articulavam para frustrar o caráter competitivo das licitações com a anuência do Poder Público foi a criação de métodos de compensação de serviços a serem contratados. É que, em compensação à inclusão da ANDRADE GUTIERREZ no consórcio que ficou responsável pelas obras do Maracanã, houve o compromisso da empreiteira de conceder à ODEBRECHT 30% de eventual participação da ANDRADE GUTIERREZ nas obras de reforma e modernização do Estádio do Mineirão12, em Belo

Horizonte.

12 No entanto, essa compensação jamais ocorreu, uma vez que a Andrade Gutierrez decidiu não participar do procedimento licitatório referente ao estádio de futebol de Belo Horizonte, em razão de ter sido definido pela entidade licitante que a obra seria realizada por meio de parceira público-privada, modalidade que não era de interesse da empresa.

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3.4 Licitação das obras do PAC Favelas (ação penal nº 0017513-21.2014.4.02.5101 – Cartel e nº 0509503-57.2016.4.02.5101 – Operação Calicute)

No que diz respeito ao programa de urbanização e regularização fundiária denominado PAC Favelas, a ANDRADE GUTIERREZ e a CARIOCA ENGENHARIA, baseadas no disposto na Lei 12.529/11, firmaram acordo de leniência, no qual revelaram com detalhes mais práticas de condutas anticompetitivas no mercado nacional de obras da construção civil. Nesse sentido, foram detalhadas as ações de restrição ao carácter competitivo dos procedimentos licitatórios direcionados aos três conjuntos de obras de urbanização de favelas mediante disponibilização de recursos do Programa de Aceleração do Crescimento. Nesse tema, convém esclarecer que o PAC Favelas foi dividido em três lotes: (i) Lote 1 – Comunidade da Rocinha; (ii) Lote 2 – Complexo de Manguinhos e; (iii) Lote 3 – Complexo do Alemão.

Foram nessas circunstâncias que as empresas coligadas em cartel repartiram interesses e dividiram o mercado, tendo sido revelado que, após tratativas iniciadas por várias empresas13, restou acordado que as obras de urbanização no Complexo de Manguinhos (Lote 2)

ficariam a cargo do consórcio liderado pela ANDRADE GUTIERREZ, conforme indicado em reunião específica pelo então secretário de governo WILSON CARLOS.

Em um segundo momento, entre maio de 2007 e janeiro de 2008, as empresas envolvidas passaram a se reunir, montando um grupo de trabalho com o objetivo de discutir formas de modificar o edital de licitação, de modo que todos os participantes atendessem aos requisitos técnicos e, paralelamente, que fossem criadas exigências técnicas que limitassem a participação de outras empresas não coligadas.

Por fim, em um terceiro momento, entre janeiro e fevereiro de 2008, fora implementado de fato o acordo anticompetitivo com a realização dos respectivos procedimentos licitatórios, que já tinham os seus vencedores predeterminados. Ao final, o Lote 1 (Comunidade da Rocinha) ficou com o consórcio formado pelas construtoras CARIOCA, CAENGE e QUEIROZ GALVÃO, enquanto que o Lote 2 (Complexo de Manguinhos) ficou com as construtoras ANDRADE GUTIERREZ, CAMTER e EIT, e o Lote 3 (Complexo do Alemão) ficou com o 13 Caenge, Camargo Corrêa, Camter, Carioca Engenharia, Odebrecht, OAS, Queiroz Galvão, Delta, EIT e Andrade

Gutierrez.

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consórcio integrado por ODEBRECHT, OAS e DELTA. Dessa forma, todas as empresas envolvidas nas tratativas iniciais do cartel, com exceção à CAMARGO CORRÊA, que optou por não participar da concorrência ao final, foram atendidas com uma parte dos serviços de engenharia prestados no bojo das obras de urbanização e regularização fundiária de comunidades carentes (PAC Favelas), tudo com ciência e determinação de gestores do Estado do Rio de Janeiro.

Tais fatos foram igualmente relatados pelo colaborador ROQUE MANUEL MELLIANDE, mediante adesão ao acordo de leniência da CARIOCA ENGENHARIA com o MPF, oportunidade em que afirmou já se saber de antemão quais seriam as empresas vencedoras das respectivas licitações, havendo um acerto entre elas para que uma não atrapalhasse a pretensão da outra e para que se desse cobertura em relação às propostas a serem apresentadas. Ainda segundo o colaborador, agentes do governo do ESTADO DO RIO DE JANEIRO estavam envolvidos nesse processo de acerto prévio sobre os vencedores das licitações, sendo certo que logo no início das obras, o então subsecretário de obras HUDSON BRAGA cobrou da empresa líder do consórcio o pagamento de 1% do valor do faturamento como “taxa de oxigênio”.

Portanto, pelo relato dos colaboradores da ANDRADE GUTIERREZ e da CARIOCA ENGENHARIA, cuja veracidade foi corroborada com o avanço das investigações, restam demonstradas provas robustas de que a propina paga a agentes do Estado do Rio de Janeiro (5% para SÉRGIO CABRAL e 1% para HUDSON BRAGA) não se restringia às empeireiras citadas.

3.5 Licitação das obras do Arco Metropolitano (ação penal nº 0017513-21.2014.4.02.5101 – Cartel e nº 0509503-57.2016.4.02.5101 – Operação Calicute)

Outro empreendimento que também serviu de dreno para a prática dos crimes antecedentes de corrupção, cartel e fraude à licitação no âmbito da cúpula do governo do ESTADO DO RIO DE JANEIRO foi a construção do Arco Metropolitano, havendo também neste caso frustração do caráter competitivo nas licitações pelos consórcios participantes14.

14 Os consórcios vencedores foram os seguintes: Consórcio Arco Metropolitano do Rio, formado pela ODEBRECHT e ANDRADE GUTIERREZ (Lote 1), Consórcio Carioca/Queiroz, formado pela CARIOCA ENGENHARIA e QUEIROZ GALVÃO (Lote 2), Consórcio Arco do Rio, formado pela OAS e CAMARGO CORRÊA (Lote 3) e Consórcio Arco Metropolitano Rio, formado pela DELTA e ORIENTE (Lote 4).

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Assim, o colaborador JOÃO MARCOS DA FONSECA, após aderir ao acordo de leniência do MPF com a ANDRADE GUTIERREZ, relatou entendimentos feitos com representantes da OAS, ODEBRECHT e QUEIROZ GALVÃO sobre estipulação prévia às licitações, por representantes do governo estadual, a respeito de quais empreiteiras seriam agraciadas com as obras do arco rodoviário que seria contratado. A estipulação prévia envolvia inclusive a composição dos consórcios e a participação das empreiteiras em cada um deles, contando sempre com a determinação de WILSON CARLOS.

No mesmo sentido, ROQUE MANUEL MELLIANDE, diretor comercial da CARIOCA ENGENHARIA, admitiu que, em relação ao Arco Metropolitano, o processo de fraude à licitação repetiu-se. O colaborador ainda confirmou que participou previamente de entendimentos com HUDSON BRAGA para a elaboração do edital com cláusulas que restringissem a competitividade do certame, sendo certo que, após a contratação, o então subsecretário de obras públicas exigiu o pagamento da “taxa de oxigênio” nos mesmos moldes do que foi pactuado com relação ao PAC Favelas.

3.6 Construção da Linha 4 do metrô do Rio de Janeiro (ação penal nº 0104011-18.2017.4.02.5101 – Operação Tolypeutes)

No tocante à obra de construção da Linha 4 do metrô do Rio de Janeiro, conforme depoimento da leniente LUCIANA SALLES PARENTE, o consórcio RIO BARRA S.A., integrado pela CARIOCA CHRISTIANI NIELSEN ENGENHARIA, através da ZI-GORDO PARTICIPAÇÕES S.A (posteriormente denominada ZI PARTICIPAÇÕES S.A.) em conjunto com a QUEIROZ GALVÃO PARTICIPAÇÕES – CONCESSÕES S.A. e ODEBRECHT PARTICIPAÇÕES E INVESTIMENTOS S.A., passou a ser responsável pela obra de construção da linha 4 do Metrô Rio, por meio do 1º Termo Aditivo ao Contrato de Concessão para a Exploração dos Serviços Públicos de Transporte Metroviário de Passageiros da Linha 4.

O custo da obra foi originalmente orçado em R$ 880.079.295,18 (oitocentos e oitenta milhões setenta e nove mil duzentos e noventa e cinco reais e dezoito centavos) em 1998 e reajustado, em 2015, para R$ 9.643.697.011,65 (nove bilhões seiscentos e quarenta e três milhões

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seiscentos e noventa e sete mil onze reais e sessenta e cinco centavos), conforme documentos acima citados.

Como se depreende do depoimento de RICARDO PERNAMBUCO JUNIOR, os pagamentos mensais feitos a SÉRGIO CABRAL e sua organização criminosa também se relacionavam às obras da Linha 4 do Metrô do Rio de Janeiro:

“Que o primeiro contrato do Metrô com a CARIOCA foi assinado em 1998; Que o contrato estava suspenso; Que o Metrô entrou no caderno de encargos da Prefeitura em razão das Olimpíadas; Que em 2010 o Metrô voltou a ficar ativo porque a cidade ganhou as Olimpíadas; Que o aumento para 500 mil mensais teve relação também com o Metrô, que tinha um peso muito grande”

Por essas razões, aponta-se que os crimes antecedentes aos atos de lavagem de capitais a seguir imputados também estão caracterizados em outros crimes de corrupção envolvendo outras empreiteiras, praticados entre 2007 e 2014 (arts. 317 e 333 do CP), na prática de formação e atuação em cartel (art. 4º, inciso II, “a” e “b” da Lei 8.137/90) e na fraude às licitações (artigos 90 e 96, inciso V, da Lei 8.666/93), conforme delineado supra.

4. DA TEORIA DA CEGUEIRA DELIBERADA APLICADA AOS DENUNCIADOS QUANTO AOS CRIMES ANTECEDENTES

Se é certo que os denunciados ANTONIO BERNARDO e VERA HERMANN não participaram dos crimes antecedentes descritos no item 3, acima, é também certo que agiram de forma a assumir o risco de estarem auxiliando o então governador do Estado a lavar dinheiro proveniente de corrupção e fraudes à frente do governo do Estado do Rio de Janeiro.

A técnica de lavagem de dinheiro através da compra de joias e outros bens de luxo já é conhecida no Brasil desde os primórdios da criminalização da conduta de lavagem. A Lei 9.613/98, em sua redação original, arrolou “as pessoas físicas ou jurídicas que comercializem joias, pedras e metais precioso, objetos de arte e antiguidades” (Art. 9º, inc. XI) entre os particulares que se sujeitam às obrigações de coibir a ocorrência do crime de lavagem de dinheiro – através dos deveres de (1) identificação dos clientes; (2) manutenção de registros; (3) comunicação às

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conforme os critérios estabelecidos administrativamente pela autoridade competente que, para o caso do comércio de joias, é o Conselho de Controle de Atividades Financeiras – COAF (arts. 10 e 11 da Lei 9.613/98).

Disposição legal análoga para outros setores, incluindo as pessoas físicas no âmbito da obrigação de fiscalização em colaboração com as autoridades públicas, adveio com a Lei 12.683/12, que alterou o caput do art. 9º da Lei 9.613/98, evidenciado que a especial fragilidade do comércio de joias a esquemas de lavagem já é há muito conhecida. Nesse sentido, a exposição de motivos da Lei 9.613/98 demonstrou as razões da preocupação em submeter essas entidades ao controle das autoridades, asseverando que “apesar da proeminência do sistema financeiro no processo de lavagem, outros setores da economia também são utilizados. Para o combate à lavagem de dinheiro, portanto, é necessário que o regime administrativo atinja também setores outros da economia que, no curso de suas operações regulares, movimentam consideráveis somas de dinheiro. Só assim a eficácia do combate à lavagem será otimizada”.

Por isso que o artigo 9º, ao definir as pessoas jurídicas sujeitas ao regime administrativo, procura abarcar não só as instituições financeiras (bancos, financeiras, distribuidoras de títulos mobiliários, sociedades creditícias etc), como também todas aquelas instituições que, por terem como atividade principal ou acessória, o giro de médias e grandes quantidades de dinheiro, podem ser utilizadas como canais para a lavagem de dinheiro, em virtude do que o projeto abrange também as entidades seguradoras, de capitalização, distribuidoras de prêmios, administradoras de cartões de crédito e de credenciamento, joalherias... etc.

Por isso a Lei dos crimes de lavagem de dinheiro prevê uma série de prerrogativas e restrições direcionadas à própria administração e às pessoas jurídicas e físicas ali relacionadas. Dessa forma, as pessoas jurídicas e físicas sujeitas à Lei n. 9.613/98 possuem as seguintes obrigações: identificação dos clientes; manutenção de cadastro atualizado; registro de algumas, transações; atendimento às requisições do COAF; atenção às operações 'suspeitas' e comunicação de tais operações às autoridades competentes.

No presente caso, os denunciados, a pedido de SÉRGIO CABRAL, ADRIANA ANCELMO e CARLOS MIRANDA, ignoraram suas obrigações legais acessórias, porquanto

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deixaram de identificar esses clientes, a pedido dos mesmos, em seus cadastros formais, pior, os identificaram por codinomes inteligíveis somente para os próprios denunciados, e também a pedido desses adquirentes de joias omitiram a emissão das respectivas notas fiscais e a comunicação das operações suspeitas ao COAF. Tudo num contexto em que um então governador de Estado e sua esposa consumiam de forma contumaz as peças mais caras e exclusivas da joalheria, com pagamentos em centenas de milhares de Reais precedidos de entregas de cheques em nome de CARLOS MIRANDA e posterior substituição por dinheiro vivo, entregue em malas e de forma escamoteada por CARLOS MIRANDA ou PEDRO RAMOS, este vindo a ser motorista do então governador15.

A eventual compra de joias, ainda que com recursos ilícitos, não configura o crime de lavagem. Porém, a compra de joias utilizando meios de dissimulação, como a utilização de pessoas interpostas e acordo com o comerciante dos bens para evitar a fiscalização do COAF – e.g., através da não emissão de notas fiscais, falta de registro de comprador, não comunicação de operações típicas de lavagem – é suficiente para caracterizar a ocultação de patrimônio e, por conseguinte, o crime do art. 1º da Lei 9.613/98 se presentes as demais elementares típicas. E responde pelo mesmo não somente o agente diretamente beneficiado pela conduta de lavagem, mas também os ora denunciados, na qualidade de agentes econômicos que tinham a obrigação de obstaculizar a consumação do crime e/ou reportar as suspeitas às autoridades competentes.

Aqui cabe a aplicação da teoria da cegueira deliberada, perfeitamente adequada ao ordenamento jurídico nacional, em especial no caso concreto, porquanto o tipo legal imputado aos denunciados admite punição a título de dolo eventual. Sobre a doutrina, relevantes as lições de Vladimir Costa Magalhães:

"(...) A teoria da cegueira deliberada (willful blindness, também conhecida como doutrina das instruções do avestruz (ostrich instructions) e doutrina da evitação da consciência (conscious avoidance doctrine), consiste em construção jurisprudencial assemelhada à formulação do dolo eventual e por meio da qual se afigura possível o enquadramento, por lavagem de dinheiro, daquele que, mesmo ciente da elevada probabilidade da procedência ilícita dos recursos, assume o risco 15 Nesse contexto vale ressaltar que os denunciados admitiram em suas declarações prestadas perante o MPF que perceberam um substancioso aumento da aquisição de joias por CABRAL após ele ter assumido o governo do Estado do Rio de Janeiro.

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de produzir o resultado ao agir, ainda assim, de modo indiferente a este conhecimento.

Dessa forma, embora seja possível checar a natureza dos bens, o indivíduo que detém o dever de impedir o resultado (ex.: compliance officer ou agente econômico-financeiro) opta pela ignorância confortável, comportando-se como o avestruz que enterra a cabeça para não ver a luz do sol. Em bom português, o garante ou quem se encontre nessa posição faz 'vista grossa' e 'ouvidos de mercador', viabilizando, dessarte, a ocultação de patrimônio ilícito pelo que responderá por lavagem de dinheiro, ainda que com base em dolo eventual."

(Vlamir Costa Magalhães, in Emerj, RJ, v. 17, n.64, pag. 164-186) Também relevantes os elementos de direito comparado trazidos por Christian Laufer e Robson A. Galvão da Silva e de Bruno Teixeira de Castro sobre o tema:

"(...) A jurisprudência dos EUA, ao longo do último século, construiu o raciocínio segundo o qual atua dolosamente o agente que preenche o tipo objetivo ignorando algumas peculiaridades do caso concreto por ter se colocado voluntariamente numa posição da alienação diante de situações suspeitas, procurando não se aprofundar no conhecimento das circunstâncias objetivas. Trata-se da teoria da cegueira deliberada.

Fora do sistema da Common Law, o Tribunal Constitucional da Espanha vem acatando esse entendimento há quase uma década, no sentido de dizer que atua dolosamente quem pratica o núcleo do tipo, diante de uma situação suspeita, colocando-se em condição de ignorância, sem se importar em conhecer mais a fundo as circunstâncias de fato.

No Brasil, Moro, em matéria de lavagem de capitais, defende serem subjetivamente típicas condutas que tenham sido praticadas nessa situação de 'autocolocação em estado de desconhecimento', quando o agente procura não conhecer detalhadamente as circunstâncias de fato de urna situação suspeita. (...) Na doutrina brasileira, ensinam Zaffároni e Pierangeli que não se exige, para o dolo eventual, o 'completo conhecimento dos elementos do tipo objetivo'. Para eles, há dolo eventual mesmo quando o autor duvida de alguns desses elementos e, mesmo assim, age de modo a assumir o risco de produzir o resultado normal do tipo, conformando-se com ele.

Esse é o mesmo entendimento de Roxin, que afirma 'agir com dolo eventual' aquele que, suspeitando da presença dos elementos do tipo objetivo - mas sem a certeza absoluta - age de modo a possivelmente produzir o resultado típico.

(Christian Laufer e Robson A. Galvão da Silva, in Boletim, IBCCRIM, ano 17, n" 204, Novembro 2009, pag. 10)

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A jurisprudência pátria tem adotado o mesmo entendimento, inclusive em relação aos crimes antecedentes da lavagem de dinheiro. Confira-se as seguintes ementas do TRF-3a.

Região:

PENAL. PROCESSUAL PENAL. LAVAGEM DE DINHEIRO. OCULTAÇÃO DA ORIGEM E PROPRIEDADE DE BENS. LEI Nº 9.613/98. CRIME CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL. LEI Nº 7.492/86, ART. 21. PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA. PRELIMINARES REJEITADAS. INTERROGATÓRIOS. CARTA ANÔNIMA. DISTRIBUIÇÃO. TESTEMUNHAS. CRIMES ANTECEDENTES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. DUAS IMPUTAÇÕES DE LAVAGEM. CONCURSO MATERIAL. DOSIMETRIA DAS PENAS. RECURSO PARCIALMENTE CONHECIDO. (…) 11. Crimes antecedentes. O Juízo a quo afastou, corretamente, a imputação de lavagem pela prática de crime cometido por organização criminosa, pois, à época dos fatos de que trata a denúncia, não havia definição legal desse tipo penal. Entendeu o Juízo, porém, haver prova de crimes antecedentes praticados contra a Administração Pública. Conforme dispõe o art. 155 do Código de Processo Penal, o juiz, ao sentenciar, deve formar sua convicção "pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas". 12. Crimes antecedentes. A prova do crime antecedente não precisa ser direta, pois, pelo princípio do livre convencimento, o juiz forma sua convicção em razão de todo o conjunto probatório, que é constituído por provas diretas e indiretas ou exclusivamente por um desses tipos. O conjunto probatório deve ser robusto o suficiente para permitir ao juiz formar sua convicção acerca da existência do crime antecedente, a fim de que possa julgar o crime de lavagem. Deve o juiz, enfim, mostrar claramente as razões pelas quais fundamenta sua convicção sobre a existência da infração antecedente. 13. Crimes antecedentes. Não há necessidade, para a configuração do crime de lavagem, de sentença condenatória em processo que trate do crime antecedente, dado que são autônomos os delitos (antecedente e lavagem). O art. 2º, I, da Lei nº 9.613/98, em sua redação original, dispunha que o processo e julgamento dos crimes previstos nessa Lei independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos no artigo anterior, ainda que praticados em outro país. Na redação dada pela Lei nº 12.683/2012, essa independência foi mantida, explicitando-se, no inciso I, que o processo e julgamento dos crimes de lavagem "independem do processo e julgamento das infrações penais antecedentes, ainda que praticados em outro país, cabendo ao juiz competente para os crimes previstos nesta Lei a decisão sobre a unidade de processo e julgamento". 14. Crimes antecedentes. O Superior Tribunal de Justiça já decidiu que, "[p]or definição legal, a lavagem de dinheiro constitui crime acessório e derivado, mas autônomo em relação ao crime antecedente, não constituindo post factum impunível, nem dependendo da comprovação da participação do agente no crime antecedente para restar caracterizado" (REsp 1342710/PR, Sexta Turma, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, j. 22.04.2014, DJe 02.05.2014). 15. Crimes antecedentes. A prescrição da pretensão punitiva em concreto, relativamente a um dos corréus (no que toca ao crime de quadrilha, pelo qual ele foi condenado), não interfere no reconhecimento do crime de lavagem, tampouco quanto à sua participação. Isto porque a prescrição pode impedir qualquer efeito decorrente daquela condenação, mas não torna inexistente aquele fato, ou seja, que esse corréu, por ter sido reconhecido pela Justiça como integrante de quadrilha voltada ao cometimento de crimes contra a Administração Pública, tinha conhecimento dos crimes antecedentes. 16. Primeira imputação de lavagem. Não há dúvida quanto à materialidade do crime de lavagem, relativamente à aquisição do apartamento da rua Maranhão, estando comprovado que houve a ocultação da origem e da propriedade de bem cujos recursos para aquisição foram transferidos do exterior e provinham de crimes contra a Administração Pública. O verdadeiro adquirente (e proprietário) do apartamento era o ex-juiz federal, que contou com o concurso de advogado, procurador da empresa offshore uruguaia CADIWEL - da qual o ex-juiz também era o verdadeiro dono - para comprar o imóvel em nome dela. Em seguida, simulou-se um contrato de locação para dar aparência de legalidade e legitimidade ao uso do imóvel. Ambos agiram com dolo direto. 17. Primeira imputação de lavagem. Para viabilizar a aquisição do imóvel, foi articulada uma operação de câmbio no valor de US$ 300.000 (trezentos mil dólares

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norte-americanos), registrando, junto ao Banco Central do Brasil, sob a rubrica de "Capital Estrangeiro de Longo Prazo - Aquisição de Imóveis", que esse valor seria empregado na aquisição de imóvel pela empresa CADIWEL COMPANY SOCIEDAD ANONIMA. Todavia, como o contrato de câmbio não foi fechado em tempo hábil, o pagamento se deu por outra forma. A terceira ré adiantou vultosa quantia em dinheiro para o primeiro réu, a fim de que ele concluísse a compra do apartamento da rua Maranhão. Posteriormente, recebeu dele o cheque administrativo nº 00877, no valor de R$ 349.730,04 (trezentos e quarenta e nove mil setecentos e trinta reais e quatro centavos), que fora endossado em branco pelo segundo réu, em decorrência da conclusão do contrato de câmbio e do ingresso no país de dinheiro da CADIWEL. Ela, então, levou o cheque para compensação junto ao BICBANCO, depositando-o em conta da KALI, empresa de fachada cujos sócios eram laranjas. O valor resultante da compensação foi transferido para a empresa COMPUGRAPHICS INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA., cujo sócio e gerente era o quarto réu. 18. Primeira imputação de lavagem. Do contexto da operação envolvendo a KALI (empresa de fachada) e a COMPUGRAPHICS (outra empresa de fachada) pode-se inferir que a terceira ré tinha consciência de que estava a colaborar com algo ilegal, agindo, por isso, com dolo eventual, pois, apesar de potencialmente não desejar o resultado, assumiu o risco de alcançá-lo. No mínimo, trata-se de um caso de cegueira deliberada, em que o agente, embora saiba possível a prática de ilícitos no meio em que atue, procura criar mecanismos que o impeçam de tomar conhecimento dos fatos. (ACR 00403674720004030000, DESEMBARGADOR FEDERAL NINO TOLDO, TRF3 - DÉCIMA PRIMEIRA TURMA, e-DJF3 Judicial 1 DATA:12/08/2015).

APELAÇÃO CRIMINAL. PENAL. PROCESSO PENAL. LAVAGEM DE CAPITAIS. ARTIGO 1º, LEI 9.613/98. CRIME ANTECEDENTE DEMONSTRADO. MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS. DOLO EVENTUAL. REINCIDÊNCIA. CAUSA DE AUMENTO: HABITUALIDADE E ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. 1. Apelação criminal interposta pela defesa contra sentença que os condenou como incursos no artigo 1º, inciso I, c.c. o § 4º, da Lei n. 9.613/1998. 2. Houve efetiva ocorrência do crime antecedente à lavagem de capitais, qual seja, o tráfico ilícito de entorpecentes praticado por Livrado, que foi denunciado nos autos da ação penal 2008.61.05.013110-2 juntamente com os demais membros da organização criminosa, tendo sido ao final condenado pelos crimes de tráfico e associação ao tráfico internacional de drogas e a sentença transitado em julgado aos 11/07/2011. Dessa forma, não procede a alegação da defesa no sentido de que não restou comprovado o envolvimento do acusado Livrado com o crime de tráfico de drogas. 3. Mantida a condenação pelo crime de lavagem de capitais, tendo em vista a comprovação de que os depósitos efetuados nas contas de terceiros, a mando de Livrado, tinham como objetivo a ocultação e dissimulação dos valores advindos do tráfico de drogas. 4. A sentença encontra-se fundada nas declarações do acusado, prestadas nas fases policial e judicial e nas conversas telefônicas captadas nos autos, autorizadas judicialmente e submetidas ao crivo do contraditório e ampla defesa. 5. O contraditório das interceptações telefônicas é diferido, tendo sido viabilizado às Defesas, no curso de toda a instrução processual, a possibilidade de apresentar contra-argumentos com o objetivo de desconstituí-las como meio de prova. 6. É cediço que o crime em comento admite do dolo eventual, considerando a previsão legal do artigo 18, inciso I, do Código Penal e a ausência de disposição legal na lei de lavagem, aplicando-se nas situações em que o agente tenha conhecimento da probabilidade de que os bens, direitos ou valores envolvidos eram provenientes de crime, agindo de modo indiferente quanto a isso. 7. Demonstrado que o acusado Libero confirmou ter passado o número de sua conta para que o corréu Livrado recebesse dinheiro e ouviu desse que o dinheiro seria oriundo do tráfico de drogas, respondendo-lhe que não queria saber de onde viria o dinheiro, Libero deliberadamente aderiu à conduta de Livrado, auxiliando na ocultação e dissimulação dos valores oriundos do tráfico de drogas. 8. Não se mostra crível que alguém empreste sua conta bancária pessoal a uma terceira pessoa, ainda que seja conhecida de longa data, permitindo o depósito constante de vultosas quantias sem que tenha ciência da razão e origem dos valores, ou ao menos, faça questionamentos nesse intuito. 9. Quanto às condenações transitadas em julgado, transcorridos mais de cinco anos do cumprimento da pena (ou pelo tempo decorrido, pela prescrição da pretensão executória) não pode ser considerada para efeitos de reincidência. No entanto, tal registro implica o reconhecimento de maus antecedentes.

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Precedente. 10. Edson confirma ter emprestado sua conta bancária para que Livrado recebesse depósitos, sendo que Edson sacava o dinheiro e entregava para Livrado, após a confirmação do depósito. 11. Verifica-se das degravações que Edson auxiliou Livrado na prática de lavagem de dinheiro, tendo este confirmado o depósito feito por JOB na conta de EDSON. 12. A forma como EDSON entabulava o diálogo com LIVRADO demonstra o conhecimento do motivo e quem seria o depositante, denotando do modo como se dirige ao corréu sua familiaridade com os fatos e as pessoas envolvidas. 13. Ademais, o número de depósitos efetuados na conta de Edson e sua confirmação de que logo após os depósitos efetuava o saque do dinheiro para entregar a Livrado, demonstra que o apelante, cônscio da situação ilícita, aderiu à conduta de lavagem de capitais, dada a forma como ocorriam a dinãmica dos fatos. 14. Mantida a causa de aumento da pena do §4º do artigo 1º da Lei 9.613/98, considerado que os depósitos nas contas bancárias se deram de forma habitual, no período de agosto a dezembro de 2008, bem como por ter sido cometido por organização criminosa. Patamar de aumento reduzido para metade, considerado o período em que o delito foi cometido. 15. Apelações parcialmente providas. (ACR 00045017820094036105, DESEMBARGADOR FEDERAL HÉLIO NOGUEIRA, TRF3 - PRIMEIRA TURMA, e-DJF3 Judicial 1 DATA:05/11/2015)

5. DA PARTICIPAÇÃO EM LAVAGEM DE ATIVOS POR MEIO DA VENDA DE JOIAS PELOS DENUNCIADOS DONOS DA JOALHERIA ANTONIO BERNARDO

Consumados os delitos antecedentes de corrupção entre os anos de 2007 e 201616,

os ora denunciados ANTONIO BERNARDO HERRMANN e VERA MARINA HERRMANN, por 96 (noventa e seis vezes) vezes, também entre os anos de 2007 a 201617, de modo consciente e

voluntário, concorreram para a prática dos crimes de lavagem de dinheiro18, ao auxiliarem e

favorecerem a ocultação e dissimulação da origem, natureza, disposição, movimentação e da propriedade de bens diretamente provenientes de infrações penais, na forma do art. 29 do Código Penal, através da venda de joias pela JOALHERIA ANTONIO BERNARDO (ARANY ADORNOS LTDA), avaliadas no valor total de R$ 4.270.270,00 (quatro milhões, duzentos e setenta mil e duzentos e setenta reais), mediante recebimento de vultosas quantias em espécie, por intermédio de operadores financeiros sob orientação ora de SÉRGIO CABRAL, ora de ADRIANA ANCELMO, ora de CARLOS MIRANDA, invariavelmente sem emissão de notas fiscais e sem identificação no certificado nominal, bem como sem manter adequadamente os cadastros e registros exigidos pelo COAF. As vendas eram feitas encobrindo-se os reais proprietários dos bens e valores a eles entregues como forma de pagamento, tendo como propósito distanciar ainda mais o dinheiro derivado de crimes praticados pela ORCRIM de sua origem ilícita, propiciando a conversão do 16 Processos nº 0509503-57.2016.4.02.5101 e nº 0502041-15.2017.4.02.5101.

17 Conforme detalhamento da tabela de compra de joias e planilha apresentada pelos próprios denunciados abaixo descriminada e que instrui a presente denúncia.

18 Processos nº 0509503-57.2016.4.02.5101, nº 0502041-15.2017.4.02.5101 e nº 2017.51.01.135964-8.

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dinheiro recebido a título de propina pelo ex-Governador e seus subordinados em ativo lícito. (Art. 1º, §4º, da Lei 9.613/98, na forma do artigo 29 do Código Penal).

O esquema de branqueamento de ativos aqui narrado já foi objeto de ação penal anterior19, na qual foi feita a imputação pertinente exclusivamente aos autores por lavagem de

dinheiro, em relação a 96 (noventa e seis) joias vendidas pela JOALHERIA ANTONIO BERNARDO, sem a emissão de nota fiscal e sem identificação no certificado nominal, bem como sem atender às exigências do COAF, ao casal SÉRGIO CABRAL e ADRIANA ANCELMO, e a CARLOS MIRANDA, detalhadas a seguir:

JOALHERIA ANTÔNIO BERNARDO: SÉRGIO CABRAL JOIA ADQUIRIDA SEM NOTA

FISCAL VALOR (R$) AQUISIÇÃO FORMA DE PAGAMENTO

Colar Mel R$ 21.000,00 11.05.2016 dinheiro à vista

Pulseira Ala Au B R$ 98.000,00 15.05.2013 compensação paralela Brinco Ala múltiplo Au B R$ 63.000,00 15.05.2013 compensação paralela Anel Blues Au B R$ 79.000,00 15.05.2013 compensação paralela Anel imperial Passion R$ 65.000,00 19.12.2012 compensação paralela Pulseira Soul com diamante R$ 158.000,00 19.12.2012 compensação paralela Brinco clímax com diamante R$ 77.000,00 19.12.2012 compensação paralela Anel Mozart com turmalina R$ 159.000,00 18.07.2012 compensação paralela Colar Blue Paradise com turmalina R$ 229.000,00 18.07.2012 compensação paralela Brinco espeto de turmalina paraíba R$ 612.000,00 18.07.2012 compensação paralela Anel Leblon laranja Au B R$ 72.000,00 11.06.2012 compensação paralela Brinco Volúpia R$ 82.000,00 10.04.2012 compensação paralela Anel Gênesis com diamante R$ 78.000,00 10.04.2012 compensação paralela Anel Blue Cluster Au B R$ 48.800,00 13.07.2011 compensação paralela Brinco Blue CLuster Au B R$ 125.100,00 13.07.2011 compensação paralela Anel Anêmona com turmalinas R$31.950,00 18.05.2011 compensação paralela Anel Folhagem com esmeralda R$ 67.050,00 18.05.2011 compensação paralela

19 Conforme já consignado, SÉRGIO CABRAL e ADRIANA ANCELMO e CARLOS MIRANDA já foram denunciados no processo nº 0509503-57.2016.4.02.5101, com pagamentos feitos em espécie, sem a emissão de nota fiscal e sem a emissão de certificado nominal da joia.

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Brinco Folhagem com esmeralda R$ 138.960,00 19.05.2011 compensação paralela Brinco Rubro Au B R$ 162.000,00 23.12.2010 compensação paralela Anel Rubro Au B R$ 158.000,00 23.12.2010 compensação paralela Anel Ar com diamante R$ 23.400,00 04.06.2010 compensação paralela Brinco Gaudi com diamantes R$ 198.000,00 18.05.2010 compensação paralela Aliança Eu te amo R$ 19.000,00 18.052010 compensação paralela Anel Dream R$ 8.300,00 31.03.2010 compensação paralela Pulseira Dream R$ 23.000,00 31.03.2010 compensação paralela Brinco Helicônia maior R$ 58.000,00 31.03.2010 compensação paralela Pulseira Íntimo R$ 57.000,00 23.12.2009 compensação paralela Brinco Íntimo retangular R$ 26.000,00 23.12.2009 compensação paralela Anel Janela R$ 7.000,00 23.12.2009 compensação paralela Brinco Fractalis especial II R$ 60.000,00 23.12.2008 compensação paralela Anel Tech com diamante R$ 50.000,00 23.12.2008 compensação paralela

TOTAL R$ 3.054.560,00

JOALHERIA ANTÔNIO BERNARDO: ADRIANA ANCELMO JOIAS ADQUIRIDAS SEM

NOTA FISCAL VALOR (R$) AQUISIÇÃO FORMA DE PAGAMENTO

Brinco Leblon laranja Au B

maior R$ 50.000,00 15/08/2013 compensação paralela

Brinco espeto Coruja R$ 18.950,00 31/05/2012 dinheiro à vista Terço Angel com diamantes II Au

B R$ 121.000,00 16/02/2012 compensação paralela

Anel Lumière com beads R$ 38.600,00 16/022012 compensação paralela Brinco Ray com pérola R$ 55.900,00 16/02/2012 compensação paralela20 Brinco Prisma múltiplo R$ 10.000,00 23/03/2011 dinheiro à vista Brinco Asteca 86 R$ 10.000,00 23/03/2011 dinheiro à vista Terço Angel com diamantes Au B R$ 48.800,00 05/10/2010 compensação paralela Brinco Sucata R$ 22.000,00 05/10/2010 compensação paralela Brinco Pólen Triplo especial R$ 80.400,00 28/03/2011 compensação paralela Brinco com pérolas da cliente R$ 28.000,00 21/06/2010 compensação paralela

20 Apenas parte desse valor, num total de R$ 21.600,00 (cheque 302530), foi depositado no Banco Itaú, Ag 8598, CC 015686, da Zaaf Adornos Ltda.

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Aliança tipo Yes R$ 2.797,00 18/06/2010 compensação paralela Aliança tipo Yes R$ 2.797,00 18/06/2010 compensação paralela Anel Contraste com pedra R$ 7.798,00 18/06/2010 compensação paralela Aliança Eterna especial R$ 46.400,00 15/12/2009 compensação paralela Brinco Dress maior ST R$ 7.900,00 15/12/2009 compensação paralela Anel Puzzle com diamante C R$ 13.700,00 15/12/2009 compensação paralela Brinco Fieira R$ 4.000,00 15/12/2009 compensação paralela Anel Passagem Au B R$ 4.757,00 06/11/2009 compensação paralela Anel Passagem Au B R$ 4.757,00 06/11/2009 compensação paralela Anel Passagem R$ 4.757,00 06/112009 compensação paralela Brinco Sol Nascente R$ 3.100,00 16/09/2008 compensação paralela Brinco Fascínio Especial R$ 200.000,00 28/08/2008 compensação paralela Brinco Fértil R$ 4.010,00 19/082008 compensação paralela

TOTAL R$ 790.423,00

JOALHERIA ANTÔNIO BERNARDO: CARLOS MIRANDA JOIA ADQUIRIDA SEM NOTA

FISCAL VALOR (R$) AQUISIÇÃO FORMA DE PAGAMENTO

Anel Black Cluster Especial R$ 30.000,00 10/12/2012 compensação paralela Colar Delus com pérola barroca R$ 42.000,00 11/06/2012 compensação paralela Brinco Pierrot R$ 28.500,00 10/04/2012 compensação paralela Brinco Eva R$ 33.750,00 10/02/2012 compensação paralela Aliança Dany ballet R$ 518,00 16/01/2012 dinheiro à vista Brinco espeto Flash R$ 923,00 16/01/2012 dinheiro à vista Aliança Dany Color com

esmeralda R$ 659,00 16/01/2012 dinheiro à vista

Colar Encanto R$ 4.900,00 30/092011 dinheiro à vista Aliança Dany com diamante R$ 598,00 30/062011 compensação paralela Aliança Dany Ritmo R$ 515,00 30/062011 compensação paralela Aliança Dany Concreta R$ 515,00 30/062011 compensação paralela Anel Celebration R$ 3.994,00 30/062011 compensação paralela

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Aliança Dany color com rubi R$ 598,00 30/11/2011 compensação paralela Colar Bolero com safira azul R$ 34.936,00 30/11/2011 compensação paralela Anel Mozart com diamante R$ 51.000,00 2010 compensação paralela Cordão Veneziano 42 R$ 660,00 16/12/2010 compensação paralela Cordão couro pequeno R$ 286,00 16/12/2010 compensação paralela Pingente Japão R$ 466,00 16/12/2010 compensação paralela Pingente Eu e você R$ 581,00 16/12/2010 compensação paralela Colar Entre R$ 34.213,00 16/12/2010 compensação paralela Colar Flash com diamante R$ 1.425,00 16/12/2010 compensação paralela Brinco Fitas R$ 5.671,00 16/12/2010 compensação paralela 02 alianças lisa com diamante R$ 2.800,00 14/04/2010 compensação paralela Aliança Mais Realce R$ 16.975,00 09/02/2010 compensação paralela Colar líquido II com bead R$ 26.800,00 2009 compensação paralela Brinco espeto Embrace diamante R$ 24.445,00 09/02/2010 compensação paralela Colar Lovely R$ 8.460,00 29/04/2009 compensação paralela Anel Blume com granadas R$ 9.060,00 10/12/2008 compensação paralela Anel múltiplos R$ 4.165,00 10/12/2008 compensação paralela Colar Satélite com quartzo R$ 15.555,00 10/12/2008 compensação paralela Brinco Entre R$ 5.068,00 07/05/2008 compensação paralela Colar Botânico R$ 3.128,00 01/02/2008 compensação paralela Anel Revelação R$ 8.364,00 01/02/2008 compensação paralela Anel Layer R$ 3.060,00 18/01/2008 compensação paralela Colar Mimo R$ 1.150,00 29/10/2007 compensação paralela Anel Casa R$ 4.900,00 29/10/2007 compensação paralela Brinco Hug R$ 2.039,00 27/09/2007 compensação paralela Brinco Vivo Longo R$ 4.053,00 27/09/2007 compensação paralela Brinco Leaves R$ 5.628,00 18/04/2007 compensação paralela Brinco impulso R$ 1.785,00 26/02/2007 compensação paralela

TOTAL R$ 425.287,00

Todas essas joias foram vendidas sem emissão de notas fiscais, no âmbito de transações de lavagem de dinheiro, pelas quais SÉRGIO CABRAL e sua ORCRIM, com a

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participação dos representantes da JOALHEIRA ANTONIO BERNARDO, promoveram o branqueamento de R$ 4.270.270,00 (quatro milhões, duzentos e setenta mil e duzentos e setenta reais) obtidos pelo esquema de corrupção que lideraram durante a gestão do ex-governador no Estado do Rio de Janeiro.

A ação delituosa tipificada no art. 1º, § 4º da Lei 9.613/98, praticada por SÉRGIO CABRAL, ADRIANA ANCELMO e CARLOS MIRANDA, foi produto da concorrência de várias condutas ilícitas praticadas por sujeitos distintos. Essa reunião de agentes no cometimento da infração penal deu origem ao concurso de pessoas, na qual se inserem os representantes da JOALHERIA ANTONIO BERNARDO. Muito embora seja nítida a distinção entre a conduta praticada pelos representantes da joalheria (partícipes) e os autores, conforme a teoria monista adotada como regra geral no art. 29 do Código Penal, deverão todos responder por um único tipo penal, qual seja o crime de lavagem de dinheiro previsto no art. 1º, § 4º da Lei 9.613/98.

Frise-se que ANTONIO BERNARDO HERRMAN, VERA MARINA HERRMAN e a colaboradora imune VERA LÚCIA GUERRA auxiliaram na prática dos crimes de lavagem de dinheiro praticados por SÉRGIO CABRAL e ADRIANA ANCELMO e seus operadores, no âmbito da ORCRIM articulada pelo primeiro, através de três formas principais: venda de joias sem a emissão de nota fiscal e sem identificação no certificado nominal; inclusão de falsas informações no cadastro de identificação de clientes da joalheria; e, operacionalização dos meios dissimulados pelos quais os negócios de compra e venda seriam efetivados, mediante o final recebimento de altas somas de dinheiro em espécie.

A punibilidade dos representantes da JOALHERIA ANTONIO BERNARDO deve se dar, nos termos explanados a seguir, pois com as suas condutas secundárias aderiram à principal (lavagem de dinheiro), adquirindo assim relevância jurídico-penal, porém, digno de nota, neste ponto, que os mencionados partícipes colaboraram de modo espontâneo com as autoridades, prestando esclarecimentos que conduziram à apuração das infrações penais, à identificação dos autores e coautores, bem como à localização dos bens e valores objeto do crime, motivo pelo qual deverão fazer jus aos benefícios previstos no art. 1º, § 5º da Lei 9.613/98.

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Importante salientar que a aquisição de joias com dinheiro sujo é uma tipologia conhecida de lavagem de dinheiro em razão da sua facilidade de transporte e ocultação. Com efeito, a compra de objetos preciosos permite transformar uma grande quantidade física de dinheiro em objetos de pequeno tamanho que podem ser facilmente transportados e ocultados. A prática é tão comum que a legislação brasileira prevê, no artigo 9º, § Único, XI, da Lei 9.613/98, a obrigação de que joalherias devam identificar e manter registros de seus clientes e comunicar operações suspeitas relativas às suas atividades21.

Desde a vigência da Resolução nº 004/99 do COAF, publicada em 04/06/199922,

as pessoas físicas ou jurídicas que transacionem joias, pedras e metais preciosos estão obrigadas a manter um cadastro das operações, sendo certo que neste cadastro deve constar a identificação dos clientes e o registro das transações (consistindo em informações sobre as mercadorias, o valor da transação, a forma de pagamento e a data da transação). Assim, são consideradas incomuns, com fortes indícios de prática de crime de lavagem, as operações em que o comprador não se disponha a cumprir exigências cadastrais, mediante a prestação de informações falsas, ou ainda quando induza os responsáveis pelo negócio a não manter registros que permitam reconstituir a transação ocorrida.

O envolvimento da JOALHERIA ANTONIO BERNARDO com SÉRGIO CABRAL, ADRIANA ANCELMO e CARLOS MIRANDA é antigo. As planilhas apresentadas pelos colaboradores ao MPF dão conta de que ADRIANA ANCELMO fez sua primeira compra em 16.01.2003, SÉRGIO CABRAL em 10.06.2000 e CARLOS MIRANDA em 23.12.1999, sem emissão das correlatas notas fiscais23 e sempre ocultando o nome dos reais compradores.

21 “Art. 9º – Sujeitam-se às obrigações referidas nos arts. 10 e 11 as pessoas físicas e jurídicas que tenham, em caráter permanente ou eventual, como atividade principal ou acessória, cumulativamente ou não:

Parágrafo único. Sujeitam-se às mesmas obrigações: (…)

XI – as pessoas físicas ou jurídicas que comercializem joias, pedras e metais preciosos, objetos de arte e antiguidades.” Aliás, pela mesma Lei nº 9.613/98 - que definiu os crimes de lavagem de dinheiro, constitui dever de toda joalheria identificar, manter registro de seus clientes e de toda transação em moeda nacional pelo período mínimo de cinco anos, e comunicar operações suspeitas – tais como aquisições de grande monta em dinheiro vivo entregue por desconhecidos – ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF). A eventual tomada de providências, em âmbito penal e administrativo, diante da omissão praticada pelas joalherias relatadas ao longo da presente imputação será objeto de apreciação e tomada de providências cabíveis oportunamente.

22 A Resolução nº 004/99 do COAF foi revogada pela Resolução nº 28, de 07 de dezembro de 2016, quando já estava em vigor Resolução nº 23, de 20 de dezembro de 2012, que estabeleceu procedimentos mais rigorosos a serem adotados pelas pessoas físicas ou jurídicas que comercializam joias, pedras e metais preciosos, na forma do § 1º do art. 14 da Lei nº 9.613, de 1998. A Resolução nº 23, de 20 de dezembro de 2012 manteve a necessidade de manutenção do cadastro de seus clientes, ampliando, inclusive, o rol das informações que deve constar do referido cadastro.

23 À exceção de compras feitas por CARLOS MIRANDA através de cartão de crédito, em que foram emitidas as

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Em relação às vendas de joias ora imputadas aos denunciados como prática do crime de lavagem de dinheiro, a dinâmica de venda a SÉRGIO CABRAL e ADRIANA ANCELMO incluía invariavelmente a entrega inicial de cheques de contas do próprio CARLOS MIRANDA nos bancos Itaú (341), Ag. 6171/CC 4550-0, e Citibank (745), Ag 0003/CC 53111044. Em momento posterior, pegava-se o cheque de volta efetuando-se a sua troca por dinheiro em espécie.24

Em um primeiro momento, com a diligência de busca e apreensão realizada na sede da JOALHERIA ANTONIO BERNARDO no Shopping da Gávea, e depois com os documentos fornecidos pelos colaboradores, foi possível identificar no sistema de cadastro de clientes da joalheria os registros dissimulados relativos às compras feitas por SÉRGIO CABRAL, ADRIANA ANCELMO e CARLOS MIRANDA.

A verdadeira origem e titularidade desses cadastros restou clara do depoimento ao MPF prestado por VERA LUCIA GUERRA no âmbito do acordo de colaboração:

“(...) Que SERGIO CABRAL, ADRIANA ANCELMO e CARLOS MIRANDA era cliente da joalheria do Shopping da Gávea há anos, podendo afirmar que as joias mais caras foram adquiridas durante o mandato do ex-governador; Que já chegou a atender SÉRGIO CABRAL em sua residência e também no Palácio de Governo; Que os três pediram para que os nomes deles não aparecessem na loja, sendo que a depoente criou três cadastros para controlar as vendas, a fim de que não comprassem joias repetidas, assim, SÉRGIO CABRAL era RAMOS FILHO, que era o nome do motorista do ex-governador25 , que assim como CARLOS

MIRANDA e CARLOS BEZERRA (este poucas vezes) também ia à loja levar dinheiro para torca dos cheques; Que o codinome de ADRIANA ANCELMO era LOURDINHA, e CARLOS MIRANDA era JOÃO CABRA; Que inventou este nome porque sabia que CARLOS MIRANDA criava cabra (...)”

A seguir os três cadastros disfarçados com o aval dos ora denunciados e que de fato pertenciam a SERGIO CABRAL (“RAMOS FILHO”), ADRIANA ANCELMO

notas fiscais. Fatos esses que não são objeto da presente imputação.

24 Conforme cadastro de clientes do sistema da joalheria, apreendido em busca determinada por esse Juízo (Autos nº 0510038-83.2016.4.02.5101), bem como declarações dos denunciados e de Vera Lucia Guerra ao MPF.

25 De fato, “RAMOS FILHO”, adotado pela joalheria para efeito de cadastro dissimulado, não foi escolhido por acaso. Ele reúne os sobrenomes do assessor de SERGIO CABRAL para assuntos que envolvem pagamentos espúrios, PEDRO RAMOS, e o seu próprio (SÉRGIO DE OLIVEIRA CABRAL SANTOS FILHO), o que se justifica à vista do fato deste assessor atuar, juntamente a CARLOS MIRANDA e a CARLOS BEZERRA, como homem de confiança e responsável por carregar o dinheiro sujo da organização criminosa.

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(“LOURDINHA”) e CARLOS MIRANDA (“JOÃO CABRA”), destacando a anotação em cada um da expressão “não enviar comunicação”, o que revela o dolo dos denunciados ANTONIO BERNARDO e VERA HERMANN, já que essa não comunicação buscava impedir o COAF de receber informações sobre atos suspeitos de lavagem:

Referências

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