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CAPÍTULO 4 O Problema do Relativismo na Ética

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Academic year: 2021

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Um juízo ético não pode estar unicamente ao arbítrio de uma sociedade quando o fato não se constitui apenas um problema social, mas um

problema humano.

CAPÍTULO 4

O Problema do Relativismo na Ética

O relativismo representa uma oscilação dos juízos éticos. Naturalmente que, como foi visto no capítulo anterior, mesmo o ato de mentir pode se tornar uma conduta não reprovável. Entretanto é bom observar que, as motivações de uma ação carecem estar em acordo com uma garantia comum ao ser humano, isto é, de um terreno de valores que não pode ser preterido (passado ou esquecido).

Num ambiente de relativismo, afirmar que a escravidão é errada significa dizer que a sociedade condena a escravidão. Por outro lado, se a sociedade aprova a escravidão ela não é tida como errada, quando é sabido que a igualdade entre os homens não admite o regime de escravidão. A mesma é condenada por organismos internacionais de proteção à pessoa humana.

Se uma multinacional instala uma sucursal (filial) em um país pobre e lá põe crianças “pagando balas” pelo trabalho, tal ato configura uma prática criminosa, é exploração de trabalho infantil, e o juízo ético sobre tal fato não pode estar ao arbítrio de uma sociedade, não é um problema social, é um problema humano.

É da mesma sorte que muito menos pode estar ao alvedrio (subordinado à vontade) subjetivo. É por este motivo que o dono de uma fazenda não pode reduzir seus empregados ao que se chama de condição análoga (igual) a de um escravo a quaisquer de seus subordinados ou lavradores.

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A justificação de um princípio ético não pode se dar em termos de qualquer grupo parcial ou local. A ética se fundamenta num ponto de vista mais universal.

A ética exige que seja ultrapassado o eu e o você e se atinja o nós como seres que se identificam de tal modo que os interesses de uma pessoa não atentem contra garantias fundamentais (vida, liberdade, saúde, integridade física, etc.).

O relativismo não pode prosperar sem premissas universalmente válidas que venham impedir que limites comuns possam ser ultrapassados.

4.1. Relativismo e Igualdade na Ética

O século XX foi um século de profundas mudanças no aspecto da construção de valores éticos comuns. O impacto destrutivo das grandes guerras e o potencial de aniquilamento do planeta, possivelmente tenha reposicionado o homem quanto às suas convicções.

Discursos à parte, o que costuma interessar o homem nas guerras é o espólio e na medida em que não resta qualquer possibilidade de aproveitamento do que resta do conflito bélico.

Guerras civis, as tentativas de unificação de Estados, o muro que cai unindo o oriente ao ocidente de um mesmo país que vivia sob regimes distintos, o avanço da sofisticação tecnológica, sobretudo dos recursos em noticiar fatos, certamente reconfiguraram muitas das perspectivas do homem quanto aos princípios e resultados de suas ações.

Mesmo a prática da discriminação racial foi recebendo mais atenção internacional. Durante um certo tempo o apartheid sequer era considerado um problema, mas depois o regime separatista tornou-se um problema ético para ser submetido a um juízo universal, do mundo humano, e a prática passou ser muito mais firmemente condenada, já não se tratavam de abolicionistas locais de uma colônia, mas

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de um sentimento e de uma convicção mais global.

Sem dúvida alguma que há uma personagem na história da África do Sul que merece ser lembrada pela sua luta contra dominação e contra o separatismo, a saber, Nelson Mandela, que mesmo condenado à prisão perpétua não hesitou em continuar lutando pela liberdade.

Em 31 de janeiro de 1985 o presidente da África do Sul P. W. Botha, falando no parlamento, ofereceu a liberdade a Nelson Mandela, e já era a sexta oferta, cuja finalidade era fazer com ele recusasse permanecer em seu propósito ao que Mandela respondeu comunicando ao povo a rejeição da proposta dizendo as seguintes palavras:

Apenas homens livres podem negociar. Os prisioneiros não fazem contratos

[...] Eu não posso, e não irei assumir nenhum compromisso, em uma época em

que eu e vocês, o povo, não somos livres.

A liberdade de vocês e a minha não podem ser separadas. Eu voltarei.

(Nelson Mandela, Prisão de Pollsmoor, 1985).

Assim, Mandela, anos mais tarde, foi não só libertado da prisão, como também passa a condição de dirigente do mesmo povo com que dividia a luta, ficando evidente que só pode haver um debate justo em condições de igualdade.

Por isso é que se deve ir além de um interesse pessoal ou de um segmento ou grupo e levar em consideração os interesses de todos que são por ele afetados. Quando se fala em todos não são todos os grupos, mas todos os homens que vivem em um espaço e em um tempo de experiência comum. Neste âmbito, o interesse

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comum mais uma vez se afirma como princípio da igualdade, igualando e unificando os seres humanos.

Pela argumentação apresentada, a igualdade que denunciam todos os seres humanos ocorre a despeito de raça, sexo, idade, etc.

Naturalmente que é preciso, em contrapartida, estabelecer algumas diferenças tais como características que distinguem os homens enquanto seres únicos com suas particularidades adjetivos, limitações que, ao invés de colocá-los em uma situação separação requerem um tratamento especial.

Alguns homens são altos, outros são baixos, alguns bons em matemática, outros incapazes de aprendê-la; alguns conseguem correr 100 metros em poucos segundos, outros levam mais tempo para fazer o mesmo.

Alguns jamais feriram intencionalmente seu semelhante, ao passo que outros matariam um semelhante por uma quantia em dinheiro se conseguissem fazê-lo impunemente.

Alguns têm vidas emocionais que chegam às raias do êxtase e às profundidades do desespero, enquanto outros vivem num plano mais equilibrado, relativamente imunes ao que se passa em seu redor.

As sobreditas especificidades humanas inspiram atenção e cuidado ao invés de exclusão, o que significa dizer que não se pode excluir um ser humano do convívio dos demais sob o pretexto de uma incapacidade física, da cor da pele ou de sua origem.

Eu tenho um sonho

Que minhas quatro pequenas crianças Um dia, vivam em uma nação

Onde elas não sejam julgadas Pela cor das suas peles

Mas pelo conteúdo do seu caráter.

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Hoje, o ocupante da cadeira de Isaac Newton na Universidade de Cambridge é um homem chamado Stephen Hawking1 que não pode andar e seu valor não é

diminuído por causa de suas limitações físicas, ademais sua contribuição para o mundo da ciência já não se pode estimar. Há ainda muitos exemplos como os artistas plásticos que utilizam os pés ou a boca para pintar um quadro. Muitos são os exemplo de que ética é integrar e não desintegrar a humanidade.

Relembrando:

• O relativismo representa uma oscilação dos juízos éticos.

• Um juízo ético não pode estar unicamente ao arbítrio de uma sociedade quando o fato não se constitui apenas um problema social, mas um problema humano.

• O século XX foi um século de profundas mudanças no aspecto da construção de valores éticos comuns.

• A diferença que se verifica entre um ser humano e o outro não deve inspirar o separatismo, mas um tratamento diferenciado que venha a se constituir como instrumento de integração, considerando neste âmbito, o interesse comum como afirmação do princípio da igualdade, igualando e unificando os seres humanos.

1 É Doutor em cosmologia e professor lucasiano de Matemática. É autor de obras magistrais como O universo

numa casca de noz e Uma nova história do tempo. Afirmam alguns cientistas que apenas ele é capaz de terminar

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TESTE SEUS CONHECIMENTOS:

1. O que significa dizer que o relativismo na ética representa uma

oscilação dos juízos éticos?

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2. No século XX, como se pôde identificar a construção de valores éticos

comuns? Que acontecimentos ocorreram para colaborar com tal edificação?

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3. Elabore uma reflexão sobre igualdade e diferença abordando

criticamente a sociedade quanto à exclusão.

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Referências

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