Cada século possui o seu par, a sua síntese disjuntiva do saber e da fé: Duns Scotus e Tomás de Aquino, Descartes e Pascal, Hume e Kant, Hegel e Kierkegaard, Marx e Nietzsche, Sartre e Heidegger. No presente, as demarcações se tornam ainda mais difíceis: Derrida (a différance como a teologia negativa aplicada aos textos literários)* e Deleuze (necessitamos de ter fé no mundo para recuperar os nos- sos vínculos com ele, vínculos que a esquizofrenia capitalista está rompendo),* Badiou (ateu absoluto que prefere usar a terminologia religiosa para enfrentar o jargão ecologista, feminista, laico, iden- titário, multiculturalista)* e Zizek (vale a pena defender o cristia- nismo, pois a nossa cultura liberal não crê sequer em suas próprias convicções),* Agamben (a religião como a vitória sobre a vitória)* e Negri (um comunismo franciscano),* Türcke (a ressurreição do corpo como consequência última do materialismo)* e Sloterdijk (a tensão vertical, a teo-morfologia do círculo).*
Para a elaboração deste constructo foi necessário articulá-lo a quatro correntes da psicanálise. A princípio, o absoluto filiar-se-ia à teoria das representações de Freud (1915a/1976). Porém, embora Freud destaque os investimentos libidinais nos representantes ideativos, não o faz considerando os de ódio. Por outro lado, ainda que enfoque o ódio, Klein (1932) fala em ataques destrutivos aos objetos internos — e não em investimentos de ódio nas representações. Índice de trau- mas para além da relação primária, o absoluto liga-se à transgeracionalidade de Eiguer (1997) e de Kaës (1998). Os dois autores investigam em suas obras a transmissão da vida psíquica entre as gerações, os efeitos do trauma sobre a representabilidade psíquica, os segredos, as criptas, as pragas, a vergonha, entre outros. Termo cunhado por Herrmann (1991), o sistema das representações, quando é atingido em sua representabilidade pelo trauma ancestral, adquire outra concep- ção no contexto do absoluto. Cada um desses vértices fornece elementos teóricos que ajudam a autora a construir a formulação do absoluto, sem que essa hipótese se associe, em particular, a nenhum deles. Dessa maneira, dialoga-se com eles, sem desrespeitar suas diferentes bases metapsicológicas.
No Brasil, obras similares foram Cozinheiro Imperial, de 1840, e Cozinheiro Nacional, que surgiu entre as décadas de 1870 e 1880, sem autoria certa. De acordo com Dória (2008, p. 8), esses livros “representam um esforço de nacionalização do saber culinário e são, por isso mesmo, o marco de formação de um pensamento autóctone sobre o comer entre a elite agrária e os nascentes setores urbanos do país”. Da mesma forma, Leme e Basso (2013) incluem na lista as obras de Monteiro Lobato, Mário de Andrade, Gilberto Freyre e Luis da Câmara Cascudo, publicadas no início do século XX e observam que em um momento em que se buscava identificar o que era nacional e se distanciar da imagem europeia, essas produções serviram de forma geral para pintar uma imagem de Brasil.
Tomando um fato empírico para exemplificar o argumento, permito-me inverter a lógica de demonstração deste estudo analítico para antecipar uma constatação. Apesar de o discurso normativo sobre o telejornalismo ainda indicar que repórteres e apresentadores devem agir como sujeitos isentos que não se confundem com a notícia e nem com um personagem (BARBEIRO & LIMA, 2002), nos programas, atuam sujeitos sociais que se implicam nos relatos e fazem do seu corpo lugar de personificação da notícia. E se o telejornal brasileiro foi concebido historicamente pelo esforço de se distanciar da herança radiofônica, marcada pela emotividade, em direção a um estilo sóbrio e distanciado do público, o que supostamente lhe garantiria autoridade e credibilidade, hoje a disputa por esses mesmos valores também se faz por estratégias de proximidade com o espectador. Dentre as questões que essa constatação põe em jogo, a que nos interessa, por hora, é o considerável incremento dos usos de elementos expressivos da TV (o corpo, a transmissão direta, o audiovisual etc.) responsáveis por constituir espaços de subjetividade, que ainda contrastam com o discurso normativo sobre as práticas do campo.
Maria Orlanda Pinassi Paradoxalmente, o avesso desse idílio, na verdade mais um dos tantos dilemas relativistas exasperadamente tentados ao longo desta estrutura histórica que vivenciamos, supõe a intolerância completa das utopias que projetam o mundo protagonizado por uma única “tribo”, eleita certamente por suas virtudes étnicas, re- ligiosas, civilizatórias, virtudes que, na verdade, só podem existir e fornecer privilégios neste mundo aos que comprovarem superio- ridade em termos de capital e de um literal poder de fogo. Um tipo de neoabsolutismo a constituir os fundamentos de uma única ide- ologia e a dominação de um único e muito reduzido extrato sobre toda a população mundial, um mundo para o qual caminhamos a passos largos.
Nos oito anos do governo Lula consolidaram-se, por- tanto, as premissas neoliberais, com o apoio do capital finan- ceiro, do consenso ativo das principais organizações do mun- do do trabalho e do consenso passivo das massas trabalhado- ras desorganizadas, por meio das políticas sociais compensa- tórias. Se, aparentemente, o binômio “crescimento econômi- co com justiça social” chamaria a atenção para aspectos ino- vadores, pode-se dizer que na era Lula este desenvolvimentismo não rompe com as premissas neoliberais, revelando-se um “reformismo quase sem reformas”, na expressão de Arcary. Embora nas gestões do PT tenha ocorrido a redução do de- semprego – ainda que a taxas menores das verificadas ao longo dos anos noventa –, garantindo uma elevação real do salário mínimo acima da inflação, o aumento da mobilidade social e a ampliação dos benefícios do PBF (ARCARY, 2013), tais alterações, contudo, pouco modificaram o quadro social, uma vez não terem ocorrido mudanças estruturais na sociedade brasileira, sendo exemplar o sistema tributário e seu caráter regressivo, que incide sobre o consumo de bens e salários, mas não sobre as grandes fortunas (COSTA, 2012). Se o retrocesso da pobreza absoluta, com os programas sociais compensatórios, é de inequívoca importância, pouco se alterou na “concentração de renda”, persistindo ainda um alto índice de desigualdade social. A avaliação do Banco Mundial (2011) sobre o Brasil, apresentada no documento Estratégia de Parce- ria de País (Country Partnership Strategy – CPS), para o resultado do período 2008-2011 e para as metas do período 2012-2015, no entanto, é altamente positiva. Nesse documento, o BIRD avalia que na última década o Brasil obteve “progresso econômico e social admirável e está a caminho de um crescimento inclusivo e ambientalmente sustentável”. Indica-se que, desde o governo Lula, 22 milhões de habitantes deixaram a situ- ação de pobreza, e a economia estável permitiu “superar com êxito a crise econômica global de 2008-2009”. Essa avaliação positiva prossegue no governo Dilma Rousseff, com “metas sociais e econômicas ambiciosas para os próximos anos”, tais como aumentar o potencial de crescimento do Brasil acima dos atuais 4% a 4,5%, por meio de maiores investimentos, elevação da poupança pública e investimentos em infraestrutura através dos Programas de Aceleração do Crescimento I e II (PAC I e PAC II).
Na atualidade estamos contemplando mundialmente a predominância do urbano, com mais da metade da população mundial vivendo em áreas urbanizadas. As novas formas de urbanização e de mobilidade têm assumido cada vez mais um importante papel na vida cotidiana das populações. Os processos sociais em suas múltiplas dimensões passam a se desenvolver, em grande parte, sobre novas bases territoriais e em múltiplas escalas. Observamos a conformação e evolução de sistemas urbanos complexos, que incluem formas urbanas concentradas e dispersas. O trabalho examina as formascontemporâneas de urbanização, em especial o processo de dispersão urbana em suas questões mais gerais, buscando suas origens, referências teóricas e conceituações, caracterizando-o na microrregião do Vale do Paraíba fluminense. Esse processo ocorre com a formação de áreas cuja urbanização se estende por um vasto território, com núcleos urbanos separados no espaço por vazios intersticiais, mas que mantêm vínculos estreitos entre si. Inicialmente são abordados os aspectos teórico-conceituais dos fenômenos mais amplos que formam as bases para a urbanização contemporânea e o processo de dispersão urbana. Examinam-se as relações do espaço, das formas urbanas e dos lugares com os processos de globalização e as conexões em redes físicas e informacionais. Na sequência, são tratados os antecedentes e as origens da urbanização dispersa, a partir das transformações urbanas iniciadas após a Segunda Guerra Mundial, com a percepção, evolução e desdobramentos deste processo, trazendo-se ainda exemplos internacionais e nacionais. A microrregião do Vale do Paraíba fluminense – objeto de análise empírica da tese – é estudada a partir do início de sua industrialização, nos anos 1930-1940, que teve como marco a instalação da Companhia
De qualquer modo, o livro que resultou disso tudo recebeu o título de Eine Kritik der politischen Vernunt: Foucaults Analyse der modernen Gouvernementalität [Uma crítica da razão política: análise foucaultiana da governamentalidade moder- na] [Lemke, 1997] e foi publicado em 1997 pela Argument, uma pequena editora da ala esquerda na Alemanha. Pensei que o livro iria ser do interesse de apenas um pequeno e limitado círculo de intelectuais e acadêmicos (minha estimativa na época era de que o livro vendesse no máximo trezentos exemplares), mas, por sorte, estava errado. O livro recebeu ótimas resenhas e vendeu extremamente bem. A principal tese do trabalho é que há uma transformação considerável na problemática sobre o poder na obra de Foucault, o que raramente é levado em conta. No centro desse “deslocamento teórico” (Foucault) está a noção de governo, desenvolvida principal- mente nos cursos – naquela época inéditos – ministrados no Collège de France entre 1978 e 1979. Creio que esses cursos tenham sido fundamentais para compreender a mudança que Foucault empreendeu em seu projeto da História da sexualidade e seu interesse tardio por formas pré-cristãs de subjetividade. A noção de governo também foi essencial para entender a diferenciação que ele faz posteriormente entre poder e dominação e o modo como ele complementa e revisa sua concepção de biopolítica. Ao apresentar a obra de Foucault sobreformas liberais e neoliberais de governo pela primeira vez, meu livro também contribuiu para repensar a crítica dirigida às formascontemporâneas do neoliberalismo. Acho que foi justamente esse aspecto do livro que ajudou a estimular o interesse pela obra de Foucault sobre governo como uma “história do presente”.
De fato, o filósofo aceita o desafio que lhe chega através de missivas do ar- tista (Magritte, apud Foucault, 1988), com questões que poderíamos resumir as- sim: qual a relação entre similitude e semelhança? São a mesma coisa ou coisas diferentes? A pergunta contém a provocação. Magritte leu bem o importante li- vro de Foucault. Acompanhou seus argumentos sobre os fundamentos de nossa moderna forma de conceber a linguagem. Entre eles, indicava o filósofo, a pas- sagem de um sistema de saber regulado por similitudes, para outro sustentado na ordenação de identidades e diferenças. Mudanças operadas pelo desenraizamen- to da linguagem e do mundo que implicou, entre outras coisas, a produção de um corte epistemológico entre o que se diz e o que se vê.
Contar a vida própria, fazer um autorretrato tem sempre uma di- mensão retórica e comunicacional, inscreve-se por força na história e na cultura e, como tal, está sob a alçada das relações de poder de cada so- ciedade. Sempre convocou tropos, estratégias retóricas, memória cultural, processos de seleção e arquivo de memória que sustentam a credibilidade daquele que diz que diz a verdade sobre si. Só que na contemporaneidade publicita-se sem restrições o privado; montam-se espetáculos pessoais mediados pela tecnologia, e exibem-se intimidades mais ou menos in- ventadas para serem mostradas na tela. É a cultura mediática (televisiva, em primeiro lugar) a promover a ilusão segundo a qual é possível mostrar “tudo” e que se pode viver sem interditos. Na sociedade em que o Big Brother triunfou como padrão dos olhares televisivos, faz-se acreditar que onde está uma câmara está uma verdade que não devemos discutir.
15 inscrita no espaço – alguns países europeus – e no tempo – o século XIX. Nesse sentido, todo trabalho intelectual é datado, ele dialoga com a contemporaneidade que, ao lon- go da história, se desfaz. Posto isso, retomar um clássico da sociologia seria um anacronismo? Penso que não. Nossos clássicos são datados, mas a eles não se aplica inteiramente a noção de superação. Pode-se lê-los ou relê-los a partir do presente e sob óticas diferentes, e este é o exercício que me proponho a realizar com As formas elementares. Um pri- meiro aspecto a ser destacado diz respeito à dificuldade do texto. Cabe lembrar que seus interlocutores são, em boa parte, antropólogos britânicos, já que depois da fundação do L’Année Sociologique, que privilegiava estudos de cará- ter antropológico, o vínculo entre o grupo durkheimiano e os ingleses se reforçou. A religião, os ritos, os costumes folclóricos – enfim, a tradição – tornam-se temas importan- tes para o desenvolvimento do pensamento sociológico na França. Quando Durkheim justifica a mudança de rumo de suas pesquisas (ele se refere ao curso sobre religião dado em 1895), é justamente um autor de língua inglesa que ele retém: Robert Smith 2 . Não se pode esquecer Marcel Mauss,
1) o café não se queixa quando deitamos natas em cima 2) uma xícara de café tem bom aspecto de manhã 3) não adormecemos depois de tomar um café 4) pode-se sempre aquecer um café. 5) o [r]
As que são louras tanto faz, afinal elas são minoria e são as preferidas pelos homens, As Inteligentes andam com as loiras, para se destacarem intelectualmente.. 25 aos 30 anos:.[r]
"Quando um homem comete uma asneira, os homens dizem: 'Como ele é idiota!' - Mas quando é uma mulher que a comete, dizem: 'Como as mulheres são idiotas!'.". "A beleza de uma[r]
No carnaval, quando algum cara fantasiado de mulher vem sacanear ele, ao invés de ficar meio constrangido, fica super à vontade, abraçando, alisando o cara, falando que vai largar essa[r]
E abriu a caderneta numa folha do meio, onde estavam os nomes não só do juiz de Direito e dos dois principais comerciantes e do delegado da cidade como o do marido da Dona Justina, pre[r]