• Nenhum resultado encontrado

À PROCURA DOS BARCOS: O ROMANCE HISTÓRICO NA ARGENTINA

No documento O de um amor da vida (páginas 99-114)

3 HERDEIROS DE UMA NARRATIVA: CONQUISTADORES DE UM NOVO TEMPO

3.3 À PROCURA DOS BARCOS: O ROMANCE HISTÓRICO NA ARGENTINA

País representativo para o contexto latino-americano, é de se esperar que o romance histórico na Argentina tenha obtido grande relevância, em razão de a nação ter registrado ao longo de sua história muitos dos fatos históricos já comentados e que, literalmente, acabaram por servir como ponto de partida para a enunciação. Tamanha fonte de inspiração permitiu que alguns estudiosos pudessem pensar que tal modalidade narrativa tenha tido especificidades a ponto de conquistar uma “personalidade argentina”:

[...] es cierto que la producción argentina guarda una estrecha relación con la de los otros países latinoamericanos, la misma ha demostrado poseer características propias que la distinguen y le otorgan una personalidad particular. (GIUFFRÉ, 2004, p. 11, grifos nossos)137.

Para compactuar ou não com a impressão de uma então

“personalidade argentina” seria necessário prender a respiração e mergulhar ainda mais fundo em algumas questões que dizem respeito à própria epistemologia da literatura argentina e, claro, da especialidade do romance histórico no país. A tarefa – canto de sereia para futuras aventuras – parece necessitar a viabilidade de horizontes próprios e mais amplos, não atendendo, nesse momento, ao objetivo primário da dissertação. Por conta disso, aqui, parece ser válido apenas comentar que tal distinção proposta por Giuffré acaba

137 “[...] é certo que a produção argentina guarda uma estreita relação com a produção de outros países latino-americanos, a mesma tem demonstrado possuir características próprias que a distinguem e lhe outorgam uma particular personalidade.”.

versando diretamente com o fato de a modalidade narrativa encontrar nas águas do Prata (e na América Latina, em diversos locais particulares) uma franca possibilidade de disseminação, quase paralelamente ao início do romance histórico na Europa. Para ratificar tal comentário, bastaria lembrar as palavras de Jitrik em seu ensaio Historia e imaginación literaria: las posibilidades de un género (1995), atento ao fato de que “[…] aunque no se haya producido espontáneamente en América Latina, ese producto histórico de la cultura europea se implantó tan rápidamente y con tanta perdurabilidad en el continente138.” (JITRIK, 1995, p. 20).

Para ampliar tal impressão no contexto específico argentino, bastaria expandir um pouco o raciocínio e pensar sobre a escrita de ficção histórica no país como um todo. Dessa forma, seria válido aludir mais uma vez Facundo e Amalia, por exemplo, ou, ir mais longe: nesse caso, pensando nos trabalhos dos irmãos Lucio e Eduarda Mansilla; na obra La novia del hereje139 (1854), de Vicente Fidel López; ou, ainda, em El matadero (1838-1840), de autoria de Esteban Echeverría, intelectual reconhecido como uma espécie de fundador do trabalho do Romantismo na América Latina a partir do ano de 1830 (JITRIK, 1995). Oferecendo uma espécie de panorama da construção da ficção histórica na Argentina, Corina Mathieu referenda:

La ficción histórica en la Argentina goza de una tradición bien establecida cuyo origen se remonta al siglo XIX y coincide con la organización nacional. La trascendencia que el romanticismo otorgó al individuo y a la libertad política, fundamento de la creación artística, en conjunción con los acontecimientos políticos que se dieron en el Río de la Plata durante este período, contribuyeron a la rica y heterogénea producción literaria de la primera etapa independiente del país140. (MATHIEU, 2004, p. 29).

138 “[...] ainda que não tenha sido produzido espontaneamente na América Latina, esse produto histórico da cultura europeia implantou-se tão rapidamente e com tanta perdurabilidade no continente.”.

139 A obra de Fidel López é considerada por muitos teóricos, como o caso de Noé Jitrik, um dos romances históricos fundadores no país (JITRIK, 1995). Já Cristina Bajo, por sua vez, parece convicta ao afirmar que La novia del hereje seria, então, o segundo romance histórico publicado no país e Amalia, de José Mármol, o terceiro. A fundação do romance histórico na Argentina estaria a cargo de um autor desconhecido, um sacerdote, que vivia em Córdoba (ANEXO 2, BAJO, 2014a).

140 “A ficção histórica na Argentina goza de uma tradição bem estabelecida cuja origem remonta-se ao século XIX e coincide com a organização nacional. A transcendência que o romantismo outorgou ao indivíduo e à liberdade política, fundamento da criação artística, em conjunto com os acontecimentos políticos que se deram no Rio da Prata durante este período, contribuíram à rica e heterogênea produção literária da primeira etapa independente do país.”.

A “personalidade argentina” de Giuffré também se explicaria em uma pujante e contínua produção – do século XIX até a grande presença nas últimas três décadas –, notoriamente percebida não somente a partir das publicações que advêm do centro, ou seja, de Buenos Aires, mas que inundam as prateleiras a partir da surpreendente presença de leitores de diversas províncias, como é o caso de Bajo e de Córdoba. Mais ainda, ganha relevância o fato de que muitos dos escritores contemporâneos, ao contrário de Tomás Eloy Martínez, por exemplo, acabarem preferindo dar continuidade a características e pilares não relacionados ao novo romance histórico cultuado por Menton.

Há, portanto, uma revisão da historiografia sem a sua completa dinamitação, buscando, para isso, a verossimilhança e o respeito de novos dados (não simplesmente aqueles escolhidos pelos vencedores e que insistem em afogar quem tem realmente apreço pelo questionamento mais controlado).

Em outras palavras, aqui, entende-se essa “personalidade argentina” a um romance histórico refinado pela delicadeza, inteligência e intuição feminina (não somente de mulheres, claro), de escritores que fazem do seu trabalho de escrita um trabalho de ourives literário, verdadeiros escritores históricos. Nesse sentido, mais uma vez, Cristina Bajo parece ser um grande exemplo, o que, por sorte, pode ter sido verbalizado pela mesma em entrevista exclusiva:

Eu fico louca com isso [com a busca dos detalhes para reconstituir o plano histórico] Você sabe que há vezes que estou... Um das coisas que eu decidi, até pedir-lhe que ajudasse [referindo-se a Ana Mulqui e ao seu trabalho de assistência histórica para as buscas solicitadas por Cristina Bajo], foi que eu, por uma frase, em um capítulo, demorei um mês para fazê-lo, simplesmente porque não encontrava o dado histórico que queria. No encontrava os documentos para me basear.

(ANEXO 2, BAJO, 2014a, p. 315).

O fato de Como vivido cien veces, romance histórico de Cristina Bajo que assumirá figura de proa nesta dissertação, estar inserido na esfera argentina – e em todos os pontos que dela se pressupõe – exige um olhar mais atento sobre algumas questões. Do ponto de vista da fortuna crítica em relação à teoria literária, vale destacar as ponderações de Manuel Gálvez e Noé Jitrik.

Aquele concretiza seu trabalho enquanto escritor desenvolvendo romances históricos muito próximos à estética do romance histórico romântico europeu.

Porém, mais do que trabalhar enunciando no plano da ficção, Gálvez também contribui para a reflexão do romance histórico que, segundo ele, poderia ser elaborado em três instâncias narrativas:

1. La N.H. propiamente dicha, cuyo argumento se desarrolla entre personajes que han existido y que pertenecen a la historia.

2. La novela de ambientación histórica (…) los personajes esenciales son creaciones del autor y los seres históricos participan de la trama sólo en determinados momentos. (…) En esta clase de novelas, el autor no tiene derecho de poner en boca de los personajes históricos lo que no dijeron ni pudieron decir, ni atribuir pensamientos que no pudieron tener.

3. La novela biográfica, en la que predomina un personaje histórico determinado.141 (GIUFFRÉ, 2004, p. 23).

Como grande parte das subdivisões aportadas a um tema, no caso, o romance histórico argentino, é preciso pensar que divisões estritamente claras são bastante custosas e, muitas vezes, resultado de perspectivas de leituras distintas. Em todo o caso, vale lembrar que a categorização de Gálvez apresentada teria como distinto, entre os casos 1 e 3, o fato de que, no terceiro caso, necessariamente, o foco de atenção estaria atrelado a um personagem histórico único, ou seja, um personagem devidamente responsável para ocupar a visão do narrador e da narrativa; ao contrário, no primeiro caso, a trama estaria ocupada por mais de um personagem histórico, sem qualquer centralidade ou foco narrativo.

Já Noé Jitrik, em ensaios primorosos como La Novela Histórica a partir de sus propios términos (1994), ratifica a modalidade como um presente acordo entre as partes, responsável por associar-se ao romance e à história.

Um ano depois, no já comentado Historia e imaginación literaria (1995), o crítico, percebendo a característica de confundir e jogar entre limites aparentemente contraditórios e, sobretudo, a sua predileção por responder às indagações silenciosamente, acaba titulando o romance histórico como um aparente oxímoro (JITRIK, 1995). Metáfora engenhosa para entender uma

141 “1. O Romance Histórico propriamente dito, cujo argumento desenvolve-se entre personagens que existiram e que pertencem à história. 2. O romance com ambientação histórica (...) os personagens essenciais são criações do autor e os seres históricos participam da trama somente em determinados momentos. (...) Nesse tipo de romances, o autor não tem direito de colocar na boca dos personagens históricos o que não disseram nem puderam dizer, tampouco atribuir pensamentos que não puderam ter. 3. O romance biográfico, no qual predomina um personagem histórico determinado.”.

modalidade narrativa que é capaz de extrapolar as esferas literárias e promover, paulatinamente, grandes reflexões:

Así, la fórmula “novela histórica”, que parece ser muy clara, puede ser vista, desde la perspectiva de la imagen que presenta, como un oxímoron. En efecto, el término “novela”, en una primera aproximación, remite directamente, en la tradición occidental, a un orden de invención; “historia”, en la misma tradición, parece situarse en el orden de los hechos; la imagen, en consecuencia, se construye con dos elementos semánticos opuestos142. (JITRIK, 1995, p. 09).

O embate entre ficção e história, assim, é deflagrado na junção topológica da modalidade narrativa, nesse batismo estratégico de um nome, uma categoria literária. Epidermicamente, duas partes com razões de aparentes discordâncias; após a primeira página de leitura, dois caminhos que se bifurcam, mas em um trajeto narrativamente semelhante. A possibilidade para que as duas áreas convivessem harmonicamente está relacionada – como já visto no primeiro capítulo desta dissertação – ao próprio processo de construção e significação de literatura e história. Porém, há um momento precioso para que a modalidade narrativa obtivesse exatamente a condição necessária para o seu início. Tal “autorização”, como relembra Noé Jitrik,

[…] se produce a fines del siglo XVIII a través de un concepto, el

“historicismo”, en el que culmina y se concreta el paso del racionalismo kantiano al romanticismo o prerromanticismo filosófico hegeliano, a través de Herder. Y, por el lado de la literatura, la autorización proviene de que se ha impuesto la idea de “ficción”, que se venía preparando desde hacía un tiempo143. (JITRIK, 1995, p. 10).

Pensando especificamente no romance histórico argentino, este parece sempre ter tido como convivência um processo peculiar de construção e compreensão da história. Aqueles descentes dos barcos – expressão lírica e pujante de Fuentes que deu origem a toda esta reflexão –, de alguma maneira,

142 “Assim, a fórmula “romance histórico”, que parece ser muito clara, pode ser vista, da perspectiva da imagem que apresenta, como um oxímoro. Como causa, o termo “romance”, em uma primeira aproximação, remete diretamente, na tradição ocidental, a certa ordem de invenção; “história”, na mesma tradição, parece situar-se na ordem dos fatos; a imagem, como consequência, constroi-se com dois elementos semanticamente opostos.”.

143 “[...] é produzido, em fins do século XVIII, por meio de um conceito, o “historicismo”, no qual culmina e se concretiza com a passagem do racionalismo kantiano ao romantismo ou pré-romantismo filosófico hegeliano, através de Herder. E, no lado da literatura, a autorização provém do fato de ter sido imposto a ideia de “ficção”, a qual vinha se preparando desde há algum tempo.”.

parecem lutar contra a sua memória e o seu próprio passado, em uma espécie de jogo que nega qualquer estrutura precedente, oferecendo para quem o comunga o esquecer e o “apagar”:

Si existe un hilo conductor en nuestra historia (y creemos que, de hecho, existe), lo hemos evitado sistemáticamente, entrampados en el extraño y nocivo mecanismo de la negación y la abolición sistemática de todo elemento precedente que otorgue algún atisbo de continuidad.

Los argentinos descendemos de los barcos, como sugiere reiteradamente Fuentes. Detrás y dentro de cada individuo, el océano o la llanura marcan el límite – ilimitado144. (GIUFFRÉ, 2004, p. 13).

Negar o que ficou para trás pode, sem dúvida alguma, ser mais complexo e prejudicial para o sujeito-argentino do que se imagina. Mas, nesse momento, é possível perguntar-se: a respeito do que mesmo se trata essa necessidade de se esquecer? De forma paralela ao que já foi comentado no processo de constituição da origem histórica no Ocidente, na Argentina, ocorreu um exercício de “apagamento” de tudo o que existiu (e que por anos tinha relação hereditária) aos que não faziam parte da história exercida pelos agentes colonizadores. Daí provém a sedimentação de obras literárias com cunho político (ainda vistas como canônicas), tais como Facundo (1845), de Domingo Faustino Sarmiento, e Amalia145 (1855), de José Mármol, reiterando o exercício de ficcionalização de personagens históricas. O postulado consciente de ficcionalização de personagens históricos já fora declarado pelo próprio Mármol no prólogo do seu romance, na edição datada de 1851:

La mayor parte de los personajes históricos de esta novela existe aún y ocupa la posición política y social que al tiempo en que ocurrieron los sucesos que van a leerse. Pero su autor, por una ficción calculada, supone que escribió su obra con algunas generaciones de por medio.146 (MÁRMOL apud GIMÉNEZ PASTOR, 1945, p. 230).

144 “Se existe um fio condutor em nossa história (e cremos que, de fato, ele existe), temos o evitado sistematicamente, encurralados no estranho e nocivo mecanismo da negociação e da abolição sistemática de todo elemento precedente que outorgue algum pressentimento de continuidade. Nós, argentinos, descendemos dos barcos, tal como sugere reiteradamente Fuentes. Atrás e dentro de cada indivíduo, o oceano ou a planície intocada marcam o limite – ilimitado.”.

145 Em sua obra Ficções de Fundação: os romances nacionais da América Latina (2004), Doris Sommer reserva atenção especial no terceiro capítulo exatamente para discorrer a respeito da representatividade de Amalia (1855) dentro do contexto do romance romântico, entendendo a obra de José Mármol como um elemento determinante para a estruturação nacional literária na Argentina (SOMMER, 2004).

146 “A maior parte dos personagens históricos desse romance ainda existe e ocupa a posição política e social que ocorreram no tempo dos sucessos que serão lidos. Mas, seu autor, por

Esquecendo-se da prerrogativa mais conservadora de que um romance, para ser histórico, deve estar afastado do momento de enunciação do responsável por sua escrita, Mármol passa, então, a figurar como importante referência quando o assunto é a sedimentação da modalidade do romance histórico na Argentina. Interessante, porém, é a afirmação do teórico Arturo Giménez Pastor, entre tantas distinguidoras em relação à obra de José Mármol147, a qual define Amalia como um exemplo de romance contemporâneo que “nació, sin embargo, histórica” (GIMÉNEZ PASTOR, 1945, p. 230).

Enquanto o romance de José Mármol é lido por Giménez Pastor como

“la más cumplida afirmación de la genialidad argentina en el campo de la novela, conquistado de improviso con osado aletazo por el instintivo empuje nativo148” (GIMÉNEZ PASTOR, 1945, p. 232), a obra escorregadia de Sarmiento é tomada como um ponto-chave para o entendimento do que seria tomado para os estudos a respeito da temática “lo argentino” (GIMÉNEZ PASTOR, 1945, p. 234). Mais ainda, o responsável pela historiografia literária argentina percebe na obra mais cara ao patrimônio sarmentino uma espécie de interface, uma trama articulada entre história e romance, este último que, aqui, seria ampliado para além de um gênero literário, pensando, sim, em um composto de ficção:

En ese libro, el panfleto y el ensayo sociológico, la biografía y la flagelación cívica, la pintura de ambiente y la caracterización significativa de costumbres y figuras, entretejen historia y novela, oratoria y demografía, actualidad política y leyenda anecdótica y concepto trascendente del fenómeno social en el medio físico, integrando un conjunto de la más bizarra fisionomía, pero también, y por eso mismo, de una originalidad y de una individualidad indiscutibles.149 (GIMÉNEZ PASTOR, 1945, p. 250, grifos nossos).

conta de uma ficção calculada, supõe que escreveu sua obra com a média de algumas gerações.”.

147 Em sua historiografia Historia de la Literatura Argentina (1945), Pastor ainda caracteriza o romance de Mármol como uma espécie de mistura de “novela amorosa y de novela histórico-dramática” (GIMÉNEZ PASTOR, 1945, p. 232). Em português, “romance amoroso e de romance histórico-dramático”.

148 “a afirmação cumprida com a maior genialidade argentina no campo do romance, conquistado de improviso, com ousado e com um súbto golpe, por conta de um instintivo empuxo nativo.”.

149 “Nesse livro, o panfletário e o ensaio sociológico, a biografia e a flagelação cívica, a pintura de ambiente e a caracterização significativa de costumes e figuras, entretecem história e romance, oratória e demografia, atualidade política e lenda anedótica e conceito transcendente do fenômeno social no meio físico, integrando um conjunto da mais bizarra fisionomia, mas também, e, por isso mesmo, de uma originalidade e de uma individualidade indiscutíveis.”.

Seja como for, o que interessa aqui é que, em maior ou menor grau, Amalia e Facundo acabaram por consolidar projetos calcados no imaginário, diferenciando certa “civilização” de uma “barbárie” de acordo com os interesses e as vozes dos vencedores. É exatamente nesse imaginário que se constrói um composto onde um povo, no caso o argentino, busca as imagens para explicar suas ideias e compreensões em relação a si e aos outros. Por tal mecanismo de complexidade e relevância, Mercedes Giuffré ainda elucida:

El imaginario responde no sólo a la idiosincrasia de un pueblo sino también a determinados proyectos políticos, instaurados desde el poder, que sostienen la estructura de la memoria, y es popular en tanto pertenece a todos los individuos por adquisición (en ocasiones, como sucede en nuestro país, a través de la formación escolar). En él operan claramente recortes, selecciones y reelaboraciones poco realistas del pasado, en vistas a un fin determinado como por ejemplo, el culto a los héroes y los símbolos patrios que buscó la inserción y homogeneización de la diversidad inmigrante a fines del siglo XIX y comienzos del XX.150 (GIUFFRÉ, 2004, p. 24).

Nesse âmbito do imaginário argentino, a não exatidão das origens e a falta de parâmetros para lidar com o que acontece no presente acabam por limitar as possibilidades de um eventual futuro. Ainda que não com a mesma dimensão, os já mencionados irmãos Mansilla acabam, portanto, representando um contraponto em relação ao pensamento dicotômico argentino, navegadores corajosos por tentar remar contra uma rota tão persuasiva. Sobre isso, a escritoria María Rosa Lojo destaca:

Si Sarmiento había estampado en su Facundo la célebre frase “el mayor mal que aqueja a la Argentina es su extensión”, los hermanos Mansilla (Lucio y Eduarda) que no acuñaron otra frase de celebridad paralela, sostuvieron, sin embargo, a través de su obra, que el mayor mal de la Argentina era el pensamiento dicotómico, según el cual había que obliterar una forma de cultura, un modo de vida, para que otra cultura y otras costumbres ocupasen su lugar. O era preciso, incluso, eliminar físicamente a quienes representaban esos valores

150 “O imaginário responde não somente à idiossincrasia de um povo, mas também a determinados projetos políticos, instaurados desde o poder, os quais sustentam a estrutura da memória, e é popular, tanto que pertence a todos os indivíduos por aquisição (em ocasiões, como acontece em nosso país [referindo-se a Argentina], por meio da formação escolar). Nele operam claramente recortes, seleções e reelaborações pouco realistas do passado, com objetivo de um fim determinado por exemplo, o culto aos heróis e aos símbolos pátrios que buscou a inserção e homogeneização da diversidade imigrante no final do século XIX e começo do XX.”.

contrarios para que un nuevo mundo fuese posible . (LOJO, 2005, p. 15).

A ligação não resolvida com os seus ancestrais acabou ecoando ao longo de diversas gerações que, insistentemente, buscavam na terra dos seus

A ligação não resolvida com os seus ancestrais acabou ecoando ao longo de diversas gerações que, insistentemente, buscavam na terra dos seus

No documento O de um amor da vida (páginas 99-114)