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Ácidos Graxos Trans: Alimentos e efeitos na saúde

1.2 Ácidos Graxos Trans

1.2.3 Ácidos Graxos Trans: Alimentos e efeitos na saúde

Atualmente, observa-se a presença cada vez mais significativa de AGT nos alimentos, o que demanda atenção à comunidade científica, aos profissionais de saúde e aos consu- midores sobre os efeitos desses isômeros sobre a saúde. As principais preocupações sobre os efeitos dos ácidos graxos trans na saúde têm aumentado, uma vez que estes isômeros são estruturalmente similares às gorduras saturadas, modificam as funções metabólicas das gorduras poliinsaturadas e competem com os ácidos graxos essenciais em vias metabólicas complexas (VALENZUELA; KING; NIETO, 1995).

Os ácidos graxos trans foram incluídos entre os lipídios dietéticos que atuam como fa- tores de risco para doença arterial coronariana, modulando a síntese do colesterol e suas frações e atuando sobre os eicosanóides. Diversos estudos têm sugerido uma relação direta entre os mesmos e o aumento do risco de doenças vasculares (MENSINK; KATAN, 1990;GURR, 1990;LICHTENSTEIN, 1993;ENIG, 1996).

A relação entre o consumo de ácidos graxos trans presentes nas gorduras hidrogenadas e os níveis de lipídios no sangue tem sido um tema muito estudado há quase 50 anos. Os estudos em humanos, em sua maioria, sugerem que o consumo de gordura parcialmente hidrogenada resulta em níveis de colesterol sanguíneo mais altos do que os obtidos com o consumo de óleo no seu estado natural. Conseqüentemente, aumenta o risco de doenças cardiovasculares (HAN et al., 2002; OLIVEIRA et al., 2003). No entanto, estas observações são

motivo de discussões que procuram avaliar se os ácidos graxos trans seriam melhores ou piores do que os ácidos graxos saturados sob o aspecto nutricional.

Nos últimos anos os ácidos graxos trans em alimentos têm recebido considerável atenção, tanto na literatura científica quanto nas publicações populares. Pesquisas recentes da litera- tura científica indicam que altos níveis de ácidos graxos trans na dieta, comparado com altos níveis de ácidos graxos cis, resultam em efeitos desfavoráveis para a saúde (HUNTER, 2005).

Estudos têm mostrado que a ingestão de ácidos graxos trans ocasiona o aumento da lipopro- teína de baixa densidade (LDL) em grau similar ao causado pelos ácidos graxos saturados. Em contraste com todos os demais ácidos graxos, os isômeros trans implicam na diminui- ção da lipoproteína de alta densidade (HDL). Logo, a razão LDL/HDL é afetada de modo desfavorável em comparação à modificação causada apenas pelos ácidos graxos saturados

1.2. ÁCIDOS GRAXOSTRANS

graxos trans aumentam a lipoproteína a (Lpa) e os níveis de triacilgliceróis plasmáticos, que estão independentemente associados com o aumento do risco de doenças cardiovasculares (ARO, 1997;ASCHERIO, 1999).

Diversos estudos têm avaliado os ácidos graxos trans como fatores que apresentam im- plicações na etiologia de várias desordens metabólicas e funcionais. Estudos indicam que os mesmos aumentam a fragilidade dos eritrócitos (DECKER; MERTZ, 1967), reduzem o con-

sumo de oxigênio e a síntese de ATP pelas mitocôndrias (ZEVENBERGEN; HOUTSMULLER;

GOTTENBOS, 1988) e exibem interações competitivas com os ácidos graxos essenciais no me-

tabolismo (PEACOCK; WAHLE, 1998).

Os isômeros trans também podem ser incorporados pelos tecidos e metabolizados de ma- neira semelhante aos ácidos graxos de configuração cis, competindo inclusive pelos mesmos sistemas enzimáticos envolvidos nas sínteses de ácidos graxos poliinsaturados e eicosanói- des. Segundo pesquisa com os isômeros dos ácidos linoléico e α-linolênico, os efeitos ne- gativos dos ácidos graxos trans sobre a síntese de ácidos graxos poliinsaturados podem ser minimizados com concentrações adequadas de ácido linoléico, isto é, superiores a 10% do total de ácidos graxos (CÉPHORA; MANCINI-FILHO, 2003).

Os estudos mais recentes sugerem que os ácidos graxos trans são mais deletérios que os ácidos graxos saturados, e que seu consumo está relacionado com a incidência de doen- ças cardiovasculares e diabetes tipo 2 (LICHTENSTEIN et al., 2003). Todos os estudos, porém apóiam a recomendação da FAO/WHO de que se deve substituir as gorduras mais duras pelas mais macias e por óleos para reduzir a ingestão tanto dos ácidos graxos trans quanto dos saturados (ZOCK; KATAN, 1997).

Estudos realizados em cobaias têm mostrado a competição de AGT com ácidos graxos das famílias ômega-6 e ômega-3, nas reações de dessaturação e elongação da cadeia, resul- tando na formação de eicosanóides sem atividade biológica. Tem sido sugerido a ocorrência deste processo em humanos, com destaque para o impacto na fase gestacional, ao alterar o desenvolvimento intra-uterino pela inibição da síntese dos ácidos araquidônico e docosa- hexaenóico. Outra possível conseqüência deste processo é a alteração no balanço existente entre prostaglandinas e tromboxanos, o que pode favorecer a agregação plaquetária, contri- buindo para o desenvolvimento de arteriosclerose (HU; MANSON; WILLETT, 2001).

Sobre a saúde materno-infantil, as concentrações de ácidos graxos trans ingeridos pela nutriz estão associadas às concentrações encontradas no leite materno. Além do leite, tais

isômeros podem ser transferidos ao recém-nascido pela via placentária. Os estudos sugerem que os ácidos graxos trans afetariam o crescimento intra-uterino devido a inibição do meta- bolismo dos ácidos graxos essenciais, pelas enzimas dessaturases (COSTA; BRESSAN; CÉPHORA, 2006).

Dados obtidos do "TRANSFAIR Study"indicam que não foram encontradas associações entre o consumo de AGT e os níveis séricos de LDL, HDL ou a razão LDL/HDL, após terem sido ajustados os fatores de risco para doenças cardiovasculares (VIJVER et al., 2000). Segundo este estudo, não se exclui a possibilidade dos AGT estarem envolvidos com o risco de doen- ças cardiovasculares.

Lemaitre et al. (2001), investigaram a associação da ingestão de AGT com o risco de pri- meiro infarto. Os resultados indicaram que um aumento moderado de isômeros trans do ácido linoléico, presentes nas membranas de glóbulos vermelhos, estavam associados a um grande aumento no risco de primeiro infarto, porém os isômeros trans do ácido oléico não apresentaram associação. Os autores concluíram que novos estudos devem ser realizados para elucidar os efeitos dos isômeros trans do ácido linoléico e do ácido oléico.

Os ácidos graxos trans deveriam apresentar prioridade nutricional secundária quando comparados aos ácidos graxos saturados, embora o consumo destes últimos também pro- mova efeitos desfavoráveis à saúde e deva ser minimizado (VALENZUELA; KING; NIETO, 1995).

Em geral, os estudos, apesar de controversos, não descartam a possibilidade dos áci- dos graxos trans estarem envolvidos na gênese das doenças cardiovasculares. A ação destes isômeros sobre essas doenças vem sendo amplamente investigada. Neste contexto, são ne- cessários mais estudos, tanto para elucidar os mecanismos de ação dos ácidos graxos trans, quanto para se verificar seus efeitos em longo prazo.

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