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O uso da água pelas sociedades humanas

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Tabela 1. Formas de uso da água em diversas atividades desenvolvidas pelos seres humanos e principais riscos associados (fontes variadas)

USO DA ÁGUA

ATIVIDADES DESENVOLVIDAS RISCOS ASSOCIADOS

Doméstico higiene pessoal; limpeza doméstica; alimentação; trato de jardins e animais domésticos

poluição dos mananciais; perdas durante o tratamento e

na rede de distribuição; gasto excessivo (desperdício) pela população; ausência de tratamento de esgoto

Agricultura/ Pecuária

irrigação de culturas; aplicação de fertilizantes e agrotóxicos;

dessedentação de animais e

manutenção de pastagens

desmatamento; erosão do solo; poluição difusa de águas supericiais e subterrâneas com fertilizantes e pesticidas;

salinização e desertiicação do solo; gasto de energia para

irrigação e para produção de agrotóxicos e fertilizantes; gastos indiretos com a produção (água virtual)

Pesca/

Aquícultura pesca artesanal e industrial; criação e cultivo de organismos aquáticos (peixes, crustáceos, moluscos) para consumo humano ou alimentação animal

pesca excessiva (superexploração) e consequente redução dos estoques naturais; despejo inadequado dos dejetos provenientes de viveiros, causando eutroização; introdução de espécies exóticas; contaminação dos ambientes aquáticos com antibióticos e pesticidas

Industrial diversos processos de produção, tais como lavagens de máquinas e produtos, hidratação, resfriamento

captação excessiva; desperdício; poluição da água devido ao não tratamento dos eluentes; poluição térmica

Geração de

Energia construção de hidrelétricas alagamento de extensas áreas, provocando perda de biodiversidade; eutroização da água pela decomposição da

loresta submersa com geração de gases-estufa (gás carbônico e metano); assoreamento; necessidade de deslocamento de populações riberinhas

Navegação deslocamento de cargas e pessoas

por vias luviais poluição dos rios e mares com óleo e lixo; transporte de espécies exóticas (“poluição genética”) e vetores de

doenças nos lastros dos navios; erosão e assoreamento em conseqüência de obras de retilinização e aprofundamento do leito dos rios; destruição das matas ciliares

Turismo/ Lazer

aquecimento econômico do setor de serviços relacionados ao turismo para visitação de belezas naturais e à prática de esportes náuticos e aquáticos

acúmulo de lixo em praias e margens de rios; alteração da paisagem pela intensa visitação; coleta de espécies nativas

Cultural cerimônias religiosas; diversas expressões artísticas (pintura, música, escultura, poesia, literatura, etc.)

perda da identidade cultural e do valor simbólico da água para as culturas humanas acelerando os processos de degradação já em curso

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Pode-se destacar da tabela anterior que alguns ris- cos estão associados a mais de uma forma de uso da água, tais como poluição, erosão e perda de bio- diversidade. Isso signiica que, em alguns casos, as perdas da qualidade da água são mais difíceis de serem minimizadas, porque existem várias ativi- dades que resultam no mesmo tipo de degradação. Outro ponto que deve ser considerado em países que possuem água em abundância, como no caso do Brasil, é a geração de energia elétrica. As usi- nas hidrelétricas de grande porte, apesar de serem muitas vezes consideradas formas de geração de

energia limpa e renovável, podem provocar danos

ambientais irreparáveis (ex: extinção de espécies) ao alagarem imensas áreas de loresta nativa No contexto brasileiro pode-se ainda identiicar (Figura A) que a maior parte da água é utilizada para ins agropastoris e industriais (87%), sen- do o uso doméstico (urbano e rural) responsável por 13% do consumo total (Agência Nacional de Águas, 2007 http://www.ana.gov.br/AcoesAdmi- nistrativas/CDOC/CatalogoPublicacoes_2007. asp). Mundialmente, observa-se claramente um grande aumento do uso da água para ins agríco- las e industriais a partir dos anos de 1960 (igura B). Isso se deve, provavelmente, ao crescimento das populações humanas e às melhorias técnicas ocorridas recentemente nesse setor, bem como a uma considerável perda nos reservatórios, em con- cordância com o acúmulo no número de grandes

represas artiiciais usadas para ins de abastecimento urbano ou para geração de energia.

Mananciais: fontes de onde se retiram a água. Po- dem ser subterrâneos, no caso de poços, ou superi- ciais, no caso de rios e lagoas.

Dessedentação: consumo de água pelos animais. Salinização: acúmulo de sais, devido a processos continuados de evapotranspiração dos solos, em re- giões de climas desérticos, ou concentração salina de solos irrigados, em regiões semi-áridas. A salinização pode tornar o solo incapaz de suportar o crescimento vegetal.

Desertiicação: transformação de pastagens ou ter- ras cultivadas em áreas desérticas. Normalmente é o resultado da combinação de uso excessivo do solo, erosão, seca prolongada e efeitos das mudanças cli- máticas.

Água virtual: cálculo inventado pelo cientista John Anthony Allan, do King´s College, de Londres, que estima o valor de água necessário para produzir um alimento ou produto.

Eluentes: rejeito industrial ou doméstico lançado no ambiente na forma líquida ou gasosa.

Decomposição: degradação de materiais orgânicos complexos em produtos mais simples.

Poluição genética: termo utilizado para deinir a mis- tura de material genético entre duas espécies diferen- tes ou a organismos transgênicos.

Energia limpa: formas alternativas de geração de energia em que a produção de resíduos poluentes ou os danos ao meio ambiente são muito reduzidos, como por exemplo, energia eólica e solar.

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Figura - Consumo de água no Brasil (A) e no mundo (B)

Cerca de 70% da água doce disponível no planeta (supericial e subterrânea) vem sendo usada para agricultura. Há um esforço crescente em conseguir maior economia, reuso e reciclagem da água nesse setor. Há ainda uma preocupação especial quanto à exaustão e à contaminação de aquíferos, já que estes se recompõem muito lentamente. Disponibilizar e utilizar corretamente a água, seja para consumo direto, seja para a produção de alimentos e a geração de energia, bem como retornar de forma adequada essas águas para o ambiente (com o tratamento do esgoto, por exemplo), contribuem signiicativamente para o desen- volvimento econômico e social das populações humanas. Só dessa forma será possível re- duzir os níveis de doenças de veiculação hídrica, o que signiica diminuir gastos com saúde pública, bem como produzir e consumir alimentos de qualidade superior, gerando ganhos econômicos e melhorias nas condições de vida.

Como você pode notar, utilizamos água de diversas formas no nosso dia-a-dia, seja direta ou indiretamente. Apesar de quase todas as formas de uso da água gerarem algum tipo de desajuste ambiental, aumentou o número de pesquisas com o intuito de minimizar as perdas de água ao longo dos processos produtivos. Ainal, muitos governos e empresas já percebe- ram que icar sem água no futuro será um mau negócio…

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Assista ao curta metragem Águas de Romanza, dirigido por Gláucia Soares e Patrícia Baía (disponível no site: http://www.

portacurtas.com.br/Filme.asp?Cod=1539) e tente identiicar aspectos relacionados ao ciclo da água, água-clima e ao contexto social em que a história se passa.

Leia o artigo intitulado Modelo econômico e degradação ambiental (http://www.agsolve.com.br/noticia.php?cod=336) e relita sobre as seguintes palavras do autor: “Estamos diante da opção privilegiada

pela acumulação de capital em detrimento do bem-estar social amplo”.

Você viu no tópico 3 que a água é consumida em diversos processos industriais, na agricultura e pecuária com o objetivo inal de produzir alimentos para sustentar as populações humanas. Mas todas as sociedades humanas dispõem água na mesma quantidade? Caso disponham de quantidades similares, estas usam a água da mesma forma e na mesma quantidade? Enfocando apenas os alimentos consumidos durante uma semana por famílias ao redor do mundo, o fotógrafo Peter Menzel registrou a situação discrepante que a humanidade vive, apesar de todos os avanços tecnológicos na produção de alimentos... Veja as imagens do livro

Hungry Planet: What the World Eats (Planeta faminto: o que o mundo come) no site da revista Time (http://www.time.com/time/

photogallery/0,29307,1626519_1373675,00.html) e relita sobre os contrastes que podem ser observados.

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“A poluição dos mananciais, o desmatamento, o assoreamento dos rios, o uso inadequado de irrigação e a impermeabilização do solo, entre tantas outras ações do homem moderno, são responsáveis pela morte e contaminação da água. Atualmente, mais de 1,3 bilhão de pessoas carecem de água doce no mundo, e o consumo humano de água duplica a cada 25 anos, aproxi- madamente. Com base nesse cenário, a água doce adquire uma escassez progressiva e um valor

cada vez maior, tornando-se um bem econômico propriamente dito.”

Carlos J. S. Machado (2003), antropólogo, professor da UERJ

S

egundo Tundisi (2008) os principais problemas associados à crise da água são: 1) urbanização, devido ao aumento de consumo e à descarga concentrada de resíduos; 2) distribuição desigual da água no planeta; 3) infraestrutura inadequada para mini- mização de perdas; 4) alteração dos padrões de chuvas/secas, em conseqüência das mudan- ças climáticas globais; e 5) falta de ações governamentais eicientes para a correta gestão das águas. De acordo com o autor, todos esses problemas levam ao aumento da poluição, à exaustão de mananciais e a maior risco de disseminação de doenças, fatores que reduzem a qualidade de vida das populações humanas, principalmente a da parcela economicamente menos privilegiada.

Acesse e assista à Mídia Educacional – Neon no site: http://www. rbrecursoshidricos.com/downloads/sistemas/Midia_Educacional_- Neon.zip . A Trata-se de uma animação, narrada pelo peixinho Neon, que mostra as características e os impactos causados pelas atividades humanas em uma bacia hidrográica. O material poderá ser usado para estimular a relexão sobre as problemáticas da água com seus alunos e alunas.

Poluição

A água é considerada poluída quando sofre qualquer alteração física ou química que pre- judique a sobrevivência dos seres vivos ou a torne inadequada para certos usos. Na tabela 2 estão listadas as categorias de poluentes, suas fontes de emissão e os potencias efeitos nocivos para o ambiente e para as populações humanas.

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