2. REVISÃO DE LITERATURA
2.5. Interpretação geoquímica da distribuição dos isótopos do rádio
2.5.1. Água subterrânea
A presença de rádio nas águas subterrâneas é o resultado da interação destas águas
com o solo, as rochas ou depósitos minerais que se encontra em contato com o aqüífero,
através do processo de exploração e beneficiamento de minerais contendo quantidades
finalidade. Por outro lado, minerais ricos em fosfato (apatita), cobre, ouro, carvão, dentre
muitos outros de importância econômica, podem apresentar teores anormais de
radionuclídeos naturais. Isto é devido à presença de urânio e seus produtos de decaimento
de meia-vida longa nestes minérios, como o 226Ra, o 230Th, o 210Po e o 210Pb. Os processos
de exploração e mineração destes minerais, com o objetivo de separar o elemento de
interesse econômico, contribuem para o aumento das concentrações de rádio no meio
ambiente, acima dos níveis considerados normais.
O país que possui o maior banco de dados quanto aos níveis de rádio 226Ra em
águas subterrâneas é os Estados Unidos, onde este recurso constitui uma fonte significante
da água destinada ao abastecimento público. A concentração de 226Ra em 25 poços de
águas não tratadas, destinadas ao abastecimento público em Illinois, nos Estados Unidos,
apresentou um amplo intervalo de concentração, variando de 0,74 a 836 mBq/L. A análise
desses poços mostrou que altas concentrações de 226Ra estavam associados às rochas
matrizes de aqüíferos profundos (HOLTZMAN, 1964).
Na Carolina do Sul (EUA), em uma região sedimentar da planície costeira, junto a
uma falha no relevo, Michel e Moore (1980) determinaram as concentrações de 226Ra e
228
Ra na água subterrânea, cujos valores variaram de 100 a 981 mBq/L e de 174 mBq/L a
440 mBq/L, respectivamente.
Um estudo realizado na Flórida (EUA) mostrou que as concentrações de 226Ra em
águas subterrâneas aumentam quando a salinidade aumenta, variando com a profundidade
e o regime do poço dentro do aqüífero. Os resultados encontrados variaram na faixa de 7,4
anteriormente pelos mesmos autores, na região central do mesmo país, encontraram
concentrações de 226Ra variando desde não detectável até 2810 mBq/L.
Em águas destinadas ao abastecimento público, as concentrações de 226Ra, no
município de Ottawa, em Oklahoma (EUA), variaram em um amplo intervalo de 3,7 a
570 mBq/L. No mesmo país, em poços localizados em Iowa, as concentrações de 226Ra e
228
Ra variaram na faixa de 66,6 a 925 mBq/L e 22,2 a 233 mBq/L, respectivamente
(IYENGAR, 1990).
Em poços localizados em Kalpakkam (Índia), as concentrações de 226Ra e 228Ra
variaram na faixa de 1,11 a 77,7 mBq/L e 20,2 a 23,3 mBq/L, respectivamente
(IYENGAR, 1990). Em outro trabalho, IYENGAR (1990) analisou as concentrações de
226
Ra, em águas destinadas ao abastecimento público na Áustria, em Salzburg
apresentando desde valores inferiores de 3,7 a 270 mBq/L.
As fontes geotermais constituem outra fonte de radioatividade natural, pois estas
águas termais geralmente apresentam altas concentrações de 226Ra e 222Rn. Ao determinar
a radioatividade associada a águas geotermais na região oeste dos Estados Unidos e em
poços profundos localizados no Arizona, Califórnia, Colorado, Idaho, Nevada, New
Mexico, Oregon e Utah, foram obtidos para as concentrações de 226Ra variações na faixa
de 1,52 a 55.500 mBq/L (O’CONNEL E KAUFMANN, 1976).
Pesquisas realizadas na Austrália, em Yeelirrie, mostraram que as concentrações de
226
Ra em águas subterrâneas variaram num intervalo de 18,5 a 33.400 mBq/L
(BROWNSCOMBE et al., 1978). Estes níveis foram observados em regiões ricas em Urânio
Outros trabalhos que foram realizados na Finlândia (Helsinki) com o objetivo de
determinar os níveis de radioatividade natural de 226Ra e 228Ra em água subterrânea (poços
amazonas e artesianos) utilizada para o abastecimento público, encontraram concentrações
de 226Ra que variaram até valores máximos de 233 mBq/L (poços amazonas), sendo
menores do que às de poços artesianos que variaram no intervalo de 3,7 a 947 mBq/L
(ASIKAINENN, 1982). De acordo com Asikainen e Kahlos (1979) este fato é devido aos
altos níveis de 238U e de 226Ra presentes nas rochas. A concentração do 228Ra nas águas de
poços artesianos obteve resultados próximos às concentrações de 226Ra em poços
amazonas e variaram de 14,8 a 207 mBq/L. Asikainen (1981), em um outro estudo, em
águas subterrâneas provenientes de outros locais na Finlândia, fora da cidade de Helsinki,
observou concentrações de 226Ra variando entre 122 e 1900 mBq/L e concentrações de
228
Ra variando entre 18,5 e 570 mBq/L. Deste modo, a água subterrânea da região de
Helsinki é considerada anômala com respeito à radioatividade natural.
Philippe (1984), em uma pesquisa com a finalidade de analisar a água subterrânea
não tratada na Arábia Saudita apresentou concentrações elevadas de 226Ra que variam em
de 163 a 392, enquanto que as concentrações de 228Ra foram menores que 174 mBq/L.
No município de Águas de Prata, região ocidental do Planalto de Poços de Caldas,
no Noroeste do Estado de São Paulo, foram encontradas concentrações que variaram de
2,2 até 2106 mBq/L, para 226Ra, e de 3,7 até 23,1mBq/L, para o 228Ra, em fontes de águas
minerais (OLIVEIRA, 1993).
Na região urano-fosfática do nordeste do Brasil Lima (1996) encontrou valores da
concentração médias de 226Ra, nas águas do lençol freático que variaram de 358 a 4680 e
foram de 225,4 a 855,0 e 243,4 a 1268 para os períodos de seca e de chuva. Os recursos
superficiais apresentaram valores de 86,6 a 375,6 e 64,3 a 299,5 , respectivamente, no
período seco e de chuva de uma área de aproximadamente 40 Km2, onde estão localizadas
as principais jazidas da região urano-fosfática do nordeste do Brasil. Comparando os
valores das concentrações médias gerais de 226Ra dos recursos hídricos subterrâneos
(lençol freático 334,0 mBq/L e semiconfinado 240,6 mBq/L) com os recursos superficiais
(73,9 mBq/L), nota-se que os valores encontrados nos primeiros são bem superiores. Esse
comportamento foi observado por Aieta (1987) no levantamento das concentrações de
rádio nos sistemas de abastecimento de água superficial em alguns rios, nos Estados
Unidos e no Rio Nilo, no Egito.