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O Brasil é o país de maior extensão da América do Sul, com área territorial de

8.515.767,049 km2 (incluindo águas internas). Sua dimensão faz com que seja considerado

um país continental, ou seja, cujas dimensões geográficas são proporcionalmente continen- tais, com 1,7% da área do globo terrestre, 5,7% das terras emersas da Terra, 20,8% da área das Américas e 47,3% do subcontinente sul-americano (IBGE, 2011).

Sua divisão geopolítica interna é constituída pela união indissolúvel de 26 estados- membros, um Distrito Federal e municípios, agrupados nas cinco regiões. Dentre os 26 estados, 17 são litorâneos e 9 são interioranos.

Há cerca de 5.570 municípios em todo território nacional, alguns com população maior que alguns países, como a cidade de São Paulo (11 milhões de habitantes), e área maior do que vários países no mundo, como Altamira, no Pará (duas vezes maior que Portugal). A Tabela 4 apresenta a quantidade de municípios e suas respectivas populações, agregado por Estados e Região (IBGE, 2011).

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Tabela 4 – Quantidade de Municípios e População

Estados Municípios População

Norte 450 18.182.253 AC 22 869.265 AM 62 4.080.611 AP 16 829.494 PA 144 8.513.497 RO 52 1.757.589 RR 15 576.568 TO 139 1.555.229 Nordeste 1.794 56.760.780 AL 102 3.322.820 BA 417 14.812.617 CE 184 9.075.649 MA 217 7.035.055 PB 223 3.996.496 PE 185 9.496.294 PI 224 3.264.531 RN 167 3.479.010 SE 75 2.278.308 Centro Oeste 467 16.084.929 DF 1 2.974.703 GO 246 6.921.161 MS 79 2.748.023 MT 141 3.441.042 Sudeste 1.668 87.710.324 ES 78 3.972.388 MG 853 21.039.876 RJ 92 17.159.960 SP 645 45.538.100 Sul 1.191 29.754.036 PR 399 11.348.937 RS 497 11.329.605 SC 295 7.075.494 Total 5.570 208.492.322

Apesar de ser uma vantagem em relação a questões geopolíticas, a extensão territo- rial brasileira também apresenta desvantagens. A diversidade de estados e municípios, com problemas próprios, devido a diferenças como solos, climas e potencialidades produtivas diver- sificadas é uma delas. A heterogeneidade gera dificuldades para a integração das populações

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do país e para o atendimento às suas necessidades específicas (MONTES; REIS, 2011). No que tange a gestão dos recursos hídricos, o país apresenta uma política geren- cial para a administração dos bens públicos. O marco inicial é a aprovação da Lei Federal

no 8.987/1995, também conhecida como Lei de Concessões, no início de 1995. Apesar da

legislação, a expansão da gestão privada ocorre lentamente neste setor, que permanece majo- ritariamente alocado na estrutura pública tendo, atualmente, uma atuação inferior a 10% da população urbana com acesso à água encanada; existem, ao todo, 25 Companhias Estaduais de Saneamento Básico (CESB). Assim como estabelece a matriz de governança, quase todos os contratos de concessão em vigor concernem a esfera local, criando descentralização na gestão hídrica (BRASIL, 2017; VARGAS, 2005; VARGAS; GOUVELLO, 2011; MONTES; REIS, 2011).

Dada a descentralização da gestão hídrica, São Paulo se torna pioneira no Brasil, em

1991, ao criar uma Lei Paulista das Águas (Lei no 7.663/1991). Semelhante ao aplicado na

França, a lei estabelece normas de orientação à Política Estadual de Recursos Hídricos bem como ao Sistema Integrado de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Essa semelhança se dá pela gestão de recursos hídricos superficiais e é transferida, em grande parte, para associações de água com base nas bacias hidrográficas existentes, havendo uma cobrança pelo uso da água, como instrumento central de política sobre emissão de poluição e captação. Contudo, essa disposição de desenvolvimento de novas legislações hídricas não se refletiu em outras cidades do país. Dessa forma, tornou-se papel do Governo Federal regular essas situações (BONFIM, 2011; SMA, 2008; Rede de Águas, 2013).

Após a lei de 1991, o Estado estabelece a Lei Federal 9.433/1997, que desenvolve a Política Nacional de Recursos Hídricos no Brasil e cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Essa lei representou um exercício de cidadania na medida em que possibilitou e aumentou a participação e a mobilização social em torno do tema água, por meio da organização social em comitês e conselhos permanentes e assembleias públicas, visando a realização dos planos de recursos hídricos nas diferentes formas do poder executivo. O Estado brasileiro assume que a água é um bem de domínio público e reconheceu que ela é também um recurso limitado, dotado de valor econômico. A lei também orienta a gestão dos recursos hídricos e institui as bacias hidrográficas como unidades territoriais para a implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos. Existem 140 comitês de bacias hidrográficas e 27 conselhos estaduais (além de um conselho do Distrito Federal) que estão em atividade no País (SMA, 2008).

Com a instauração dessas leis, o Estado nacional se torna apenas um inspetor das ações municipais e do setor privado. Em julho de 2000, foi criada a Agência Nacional de

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Águas (ANA), que tem como objetivo implementar a Política Nacional de Recursos Hídricos e coordenar o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, com a participação do Conselho Nacional de Recursos Hídricos, além de regular o acesso à água, promovendo seu uso sustentável em benefício das atuais e futuras gerações. Desde 2003, a política nacional de saneamento experimenta uma nova fase de planejamento com a Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental (NOVAES, 2003; BORJA, 2014).

Apesar da tentativa de estabelecer uma boa governança, com incentivos à transferência dos bens públicos para o setor privado, cumprimento de normas internacionais de regulação e descentralização política da gestão dos recursos hídricos, o modelo brasileiro e, consequen- temente, o paulista, é amplamente criticado por dois motivos interligados. Primeiramente, a capacidade reduzida de realizar investimentos e a baixa oferta do saneamento básico. A crí- tica deve-se à reduzida capacidade de realizar investimentos, com baixa qualidade de serviços e transferência de recursos tarifários auferidos de um município para outros. Ademais, apesar dos esforços para a privatização, a esfera pública é a principal investidora do setor, atrelando os investimentos em infraestrutura ao desempenho do setor público, tornando-se submissa às restrições orçamentárias decorrentes de políticas monetárias e fiscais, comumente austeras, levando a crises no setor (MONTES; REIS, 2011).

A ineficiência do setor em realizar investimentos e dificuldade de coordenação entre políticas nacionais e municipais, leva a déficits de saneamento ao redor do país. Borja (2014) denuncia que, em 2010, uma parcela significativa da população brasileira se abastecia com fontes inseguras e, as que eram atendidas pela rede pública de distribuição, nem sempre recebiam água com qualidade adequada e em quantidade suficiente; ademais, a infraestrutura atual concentra-se fora das áreas rurais (com 73% de déficit). Além de exclusões regionalistas, Raupp et al. (2017) apontam exclusões raciais do saneamento básico, especialmente dos povos indígenas.

Em 2019, a Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) lançou o programa Saneamento Brasil Rural. O programa tem o objetivo de levar água tratada e esgotamento sanitário à 25 milhões de domicílios rurais, para que cerca de 40 milhões de brasileiros sejam beneficiados pelo primeiro programa voltado para o saneamento básico em zona rural. Segundo a FUNASA (2019), as metas do programa são:

[...] estabelecidas prevendo-se horizontes de curto, médio e longo prazos, no período de 2019 a 2038. Assim, o Programa prevê, em 20 anos, melhorias nas condições sanitárias da população rural brasileira, com investimentos totais em medidas estruturais e estruturantes, totalizando de R$ 218,94 bilhões, distribuídos entre medidas estruturais (R$ 179,53 bilhões) e estruturantes (R$ 39,41 bilhões).

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Para o presidente da Funasa, Ronaldo Nogueira, o Programa do Governo Fe- deral traz inclusão social e desenvolvimento para as regiões beneficiadas. ”O Pro- grama Saneamento Brasil Rural revoluciona o saneamento em áreas rurais e con- tribui para o desenvolvimento do país durante 20 anos, melhorando as estruturas físicas das pequenas comunidades, trazendo dignidade às populações e estimulando os empregos”.

A Medida Provisória do Saneamento Básico (MP 868/2018) que atualizava o marco legal do saneamento básico e dava competência para a Agência Nacional de Águas (ANA) editar normas nacionais sobre esse serviço público perdeu sua validade. Atualmente, há um texto similar que está em tramitação no Senado. O Projeto de Lei 3.261/2019 foi aprovado na Comissão de Serviços de Infraestrutura (CI) e seguiu com pedido de urgência para o Plenário (Agência Senado, 2019).

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