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3.1 Localização

O Delta do Rio Parnaíba (DRP) está localizado no nordeste do Brasil, entre os estados do Maranhão e Piauí (Fig.3-1), cobrindo aproximadamente 3138 km² (MMA, 2006), onde vivem mais de 280.000 habitantes (IBGE, 2016). Conforme de Paula Filho et al. (2015), 48% da região deltaica é classificada como áreas florestais não cultivadas, 16% em áreas de conservação, 17% em dunas e manguezais, 10% em pastagens, 8% em áreas agrícolas e apenas 1% em áreas urbanas.

O Delta do Rio Parnaíba é um delta assimétrico, dominado tanto por ondas quanto por marés, com uma plataforma continental estreita (aproximadamente 50 km de largura), relativamente rasa (profundidade média de 25 metros) e suave (0.04º), típico da costa do nordeste brasileiro. (Szczygielski et al. 2014; Vital 2014; Aquino da Silva et al. 2016)

Figura 3-1: Localização do Delta do Rio Parnaíba (DRP).

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3.2 Aspectos climáticos, oceanográficos e fluviais

Os estados do Piauí e Maranhão estão situados entre a Pré-Amazônia Úmida e o Nordeste Semiárido (Belda et al. 2014). De acordo com esse autor, a área de estudo apresenta um clima tropical com estação seca de inverno (Aw), caracterizado por ter uma estação chuvosa no verão (janeiro a julho) e uma nítida estação de seca no inverno (agosto a dezembro). A duração de cada período depende da posição da Zona de Convergência Intertropical – ZCIT (El-Robrini et al 2018). Entre 1965 a 2009, a precipitação acumulada média foi de 1210 mm/ano (Aquino da Silva et al. 2015a)

Os ventos alísios, na costa nordestina, exibem uma direção preferencial para E- NE com uma velocidade média de 2.1 a 5.9 m/s (Paula et al 2016). Os ventos alísios atuantes próximos a linha de costa do Delta do rio Parnaíba (DRP) são influenciados pela locomobilidade da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) (Paula et al 2016). Os autores acima argumentam que quando a ZCIT se locomove ao sul do equador, nos meses de abril a maio, os ventos alísios são mais fracos. Por sua vez, no momento em que a ZCIT se locomove ao norte do equador, entre agosto a dezembro, os ventos alísios são mais fortes, atingindo velocidades de até 10.7 m/s.

No período correspondente entre 2010 a 2012, as ondas situadas próximas ao DRP, apresentaram uma direção N, N-NE e/ou E-NE, com altura variando entre 0.6 a 1.1m e com período de 5 a 9 segundos (El-Robrini et al, 2018; Paula et al, 2016). No período chuvoso, entre janeiro a junho, a altura das ondas variou entre 0.53 a 0.71m, ostentando uma média de 0.64m (Paula et al 2013). Já no período seco, de julho a dezembro, os autores acima relatam que as ondas têm uma altura média de 0.83 metros, com valores mínimos de 0.58m e máximo de 1.25m. Ainda segundo os autores, há a incidência de ondas N-NW e N-NE, influenciadas diretamente pela presença de promontórios e recifes de arenito e ao efeito da barreira hidráulica. Por fim, as correntes longitudinais exibem uma velocidade máxima de 1 m/s, com uma direção predominante de E-W.

No Delta do Rio Parnaíba, a maré é classificada como semi-diurna e de transição entre meso a macromaré, com uma amplitude de maré de sizígia de 1.70 metros na maré de quadratura e 3.06 a 6.1 na maré sizígia (Aquino da Silva et al. 2015a). Levantamentos realizados por Aquino da Silva et al. (2015b) demonstram que a velocidade média das correntes de maré é de 0.19 m/s (atingindo valores máximos de 0.52 m/s) com direção preferencial para NNE.

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A bacia hidrográfica do Parnaíba apresenta aproximadamente 1.400 Km de extensão e 331.441 km² de área de captação (MMA, 2006). De acordo com esse órgão ambiental, esta bacia de drenagem pode ser dividida em três regiões: o alto Parnaíba (151.630 km²), médio Parnaíba (137.000 km²) e baixo Parnaíba (42.810 km²). A vazão média anual do Baixo Parnaíba, região hidrográfica mais próxima da área de estudo, é de 841 m³/s, com concentração de sedimentos em suspensão em torno 50 mg/l. estima-se um transporte de sedimentos para o litoral na ordem de 115ton/ano/km2 (MMA, 2006).

3.3 Geologia e Geomorfologia

A 700 km da foz, há uma represa no rio Parnaíba (RP), onde opera a usina hidrelétrica de Boa Esperança. O Rio flui principalmente sobre rochas sedimentares da Bacia do Parnaíba e sobre a Bacia de Barreirinhas em seu curso mais baixo.

A bacia do Parnaíba é composta principalmente de rochas sedimentares depositadas em cinco Supersequência do Siluriano até o Cretáceo (Feijó 1994; Góes e Feijó 1994). A bacia de Barreirinhas possui composição sedimentar semelhante, e sua formação está relacionada à fragmentação do supercontinente Gondwana, durante o Mesozóico (Feijó 1994). Os tipos de rocha de ambas as bacias variam de conglomerados e arenitos de granulação grossa a folhelhos e siltitos. Ambas as bacias possuem forte componente estrutural com ocorrência de falhas listrica normais (Feijó, 1994; GóeS e Feijó, 1994). Dados de turbidez coletados antes e depois da represa do rio demonstram que a maior parte do sedimento é gerado a jusante da barragem(Aquino da silva et al. 2019)

O Delta do Rio Parnaíba apresenta feições geomorfológicas distintas ao longo da sua zona costeira (Cavalcanti 2004; Szczygielski et al. 2014). Conforme esses autores, a parte oriental do delta (setores I, II), localizada no Estado Piaui, consiste em um campo de dunas costeiras ativa, que se sobrepõe sobre os manguezais e paleodunas parcialmente vegetadas. Praias de até 200 metros de largura caracterizam a geomorfologia dessa região. Já a oeste da desembocadura (setores III e IV), no Estado do Maranhão, a costa é dominada por canais de maré associados às condições estuarino-lagunares. Além dos campos de dunas e praias relativamente estreitas (larguras menores do que 50 metros), a ocorrência de pontais arenosos (“spits”) são comuns.

As praias se estendem em toda costa até a base das dunas móveis (Cavalcanti, 2004; Lima e Brandão et al 2010). Os autores acima asseguram que esses depósitos são compostos por areias quartzosas medias a grossa, bem selecionadas e com grande

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presença de matéria orgânicas, sedimentos biogênicos e minerais pesados. Nas praias ainda são encontrados “beach rocks” (arenitos de praia), que estão distribuídos paralelamente a linha de costa, comumente aflorando na zona de estirâncio (Paula et al 2013).

Os campos de dunas têm significativa expressão territorial no Delta do Parnaíba, dispostas de forma continua, dispostas paralelamente a linha de costa, sendo as vezes interrompidas pelas planícies fluvio-marinhas e fluvio-lacustre (Cavalcanti, 2004; Lima e Brandão, 2010). De acordo com esses autores, essa feição geomorfológica pode ser dividida em dunas recentes (depósitos eólicos costeiros holocênicos) e em paleodunas (depósitos eólicos costeiros pleistocênicos).

As dunas recentes apresentam pouca ou nenhuma cobertura vegetal, causando uma instabilidade e uma grande mobilidade (Calvancanti 2004). Gonçalves et al (2003) classifica as diversas formas de depósitos eólicos costeiros holocênicos na região associado à presença da vegetação. Dunas barcanas, transversais de crista reta (2D), crista sinuosa (3D), dunas obliquas e cordões longitudinais estão associadas às dunas sem vegetação. As dunas relativamente vegetadas ocorrem próximos a desembocadura do rio Parnaíba e podem ser do tipo nebkha e sombra (shadow dunes). Por fim, as dunas fixas, que representam mais de 70% dos depósitos eólicos recentes, são do tipo parabólica e lençóis de areia.

As paleodunas estão localizadas afastadas em relação a linha de costa e depositadas de forma discordante sobre os tabuleiros costeiros (Cavalcanti, 2004; El- Robrini et al, 2018). Essa feição geomorfológica é composta por sedimentos quartzosos e feldspáticos, de cores acastanhada a acinzentada, tendo sua formação relacionada a um período de nível relativo do mar (NRM) mais elevado que o atual, ocorrido durante o pleistoceno.

As Planícies Fluviais ou fluvio-lacustres ocorrem ao longo das margens do rio Parnaíba, caracterizado por áreas de baixo gradiente topográfico, resultante da combinação de processos fluviais e lacustres, podendo comportar canais anastomosados, paleomeandros, etc (Ferreira e Dantas, 2010). Essa unidade é formada por sedimentos quaternários, englobando depósitos aluvionais e colúvio-aluvionais, sendo compostos essencialmente por silte, argila, areia, cascalho e matéria orgânica (Cavalcanti, 2004).

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3.4 Vulnerabilidade costeira

Análise multicritério feita por Nicolodi e Petermann (2010), envolvendo dados populacionais, climáticos e altimétricos, demonstraram que apesar da escassa densidade populacional (menor do que 12 habitantes/km²), as regiões próximas ao DRP apresentam média a alta vulnerabilidade. Conforme os autores, o risco se dá pela presença de pronunciados eventos de erosão associados ao regime de inundações periódicas no baixo curso do rio em períodos de cheia. Também por análise multicritério (geologia, geomorfologia, altimetria, declividade e uso e ocupação do solo), Frota et al (2017), comprovaram as informações dos autores acima, ao relatar que as cidades de Luís Correia (setor I), Parnaíba e Ilha Grande (setor II) são altamente susceptíveis a inundação e erosão. Os autores alegam que esse problema se dá pelo fato das cidades estarem situadas em planícies de inundação (fluvio-marinha e fluvio-lacustre) e com a expansão urbana próxima a linha de costa.

Dados de imagem de satélite demonstram que as ilhas do Caju (setor IV) e do Poldro (setor III) obtiveram, respectivas perdas de 600 e 180 metros de largura, entre os anos de 1981 a 2009 (Aquino da Silva et al. 2015b). Nos setores I e II, perfis de praias demonstram que 45% da linha de costa apresentam tendências erosivas, enquanto que 6% das praias estão progradando e 50% estão estáveis (Paula et al, 2013). Conforme estes autores, além das causas naturais, a ocupação da pós-praia e da própria praia por intermédio da construção de casas de veraneio, hotéis, bares, parques eólicos e a atividade portuária em Luís Correia têm acelerado os processos erosivos. A situação só não é mais grave devido a influência do Delta do Parnaíba, que de acordo com os pesquisadores acima e Aquino da Silva et al. (2015a), provoca uma pluma de sedimentos até 10 km costa-afora, que é redistribuída para estes setores.

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