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A erosão costeira é um geohazard que afeta diversos deltas ao longo do planeta, acarretando prejuízos no âmbito econômico, social e ecológico. Suas causas naturais estão relacionadas aos processos oceanográficos (ondas, maré, correntes longitudinais), hidro climáticas (precipitação, descarga fluvial, fenômeno ENSO), elevação do nível do mar e os eventos extratropicais, enquanto que as causas antrópicas são associadas às obras que alteram a vazão do rio (barragens, transposição, canalização), implementação de estruturas rígidas ou flexíveis na zona costeira, extração de areias em áreas estuarinas e/ou deltaicas, conversão de terrenos naturais (praias, dunas e manguezais) em áreas urbanas, etc. Neste sentido, o principal objetivo deste estudo foi analisar a evolução temporal (1984 – 2017) das praias situadas no delta do Parnaíba, e discutir as principais mudanças, por meio da utilização de imagens de satélites, técnicas de sensoriamento remoto, de sistema de informação geográfica e métodos estatísticos.

A integração de técnicas de sensoriamento remoto com modelos estatísticos permitiu, de forma satisfatória, quantificar a variação temporal da linha de costa do Delta do Rio Parnaíba (Nordeste do Brasil) em escalas temporais de curta e média duração. Uma das grandes vantagens do uso de imagens de satélite foi a possibilidade da extração automática da linha de costa, que permitiu um ganho no tempo de processamento e diminuiu a margem de erro em relação aos métodos manuais. Entretanto, várias incertezas relacionadas a aquisição de imagens de satélite (sazonalidade, maré), às características do sensor (resolução especial, temporal e acervo histórico) e aos métodos de processamento devem ser analisadas afim de assegurar uma melhor precisão ao modelo.

Em uma escala intermediário de tempo (1984 a 2017), 52% do litoral do delta do Rio Parnaíba foi submetido a erosão costeira, enquanto 48% experimentaram uma progradação de sedimentos. Majoritariamente a erosão ocorre a oeste da desembocadura do Rio Parnaíba (setores III e IV), enquanto que a deposição e estabilidade, prevaleciam no lado leste (setores I e II). Levando-se em conta os valores de média (-0.5 m/ano) e mediana (-1 m/ano), a região deltaica sofreu uma leve erosão, porém, nada alarmante. Com a exceção da Praia dos Coqueiros (setor I) e do subsetor leste da Ilha do Caju (setor IV), todas as demais apresentaram um valor de coeficiente de determinação (WLR²) acima do aceitável (0.70), validando o resultado da regressão linear ponderada (WLR).

A grande quantidade de sedimentos em suspensão (2.54*106) e em carga sólida (115ton/ano/km²) que chega à zona costeira é favorecida pela continua e alta descarga

FERREIRA, T.A.B (2019) CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS

fluvial do rio Parnaíba, o alto fator de erosão das chuvas, que esta relacionado com o clima da região, e a geologia na bacia de drenagem, composta principalmente por rochas sedimentares deformadas e sedimentos quaternários, fáceis de serem erodidos e transportados para a zona costeira. Ademais, o Delta do Rio Parnaíba não é severamente impactado pela ação antropogênica (como comumente ocorre nas regiões deltaicas do planeta), tendo uma baixa densidade populacional na sua zona costeira, apenas uma barragem em todo o curso fluvial do rio Parnaíba, baixa taxa de extração de areia e argila no baixo curso fluvial e a preservação dos manguezais ao longo do tempo, sugerindo assim, que a condição de desenvolvimento natural seja o fator responsável pela sua relativa estabilidade.

As barreiras hidráulicas ocorrem em áreas próximas a desembocadura do delta, sendo formadas quando o rio apresenta uma alta vazão. Estas barreiras modificam localmente a direção e intensidade das correntes litorâneas e das ondas, consequentemente, alterando o transporte sedimentar local. Esse efeito pode ter sido o responsável tanto pela acresção da barra desembocadura na Praia das Canárias (Setor II) quanto a migração de pontais arenosos na direção oposta à deriva litorânea (subsetor oeste da ilha dos poldros – Setor II).

Já nas regiões mais afastadas dos deltas, a ação das ondas é responsável pelo transporte sedimentar na direção da corrente longitudinal (E-W), como ocorre no subsetor leste da praia dos poldros (Setor III), que registrou tanto um aumento na largura (cerca de 3 m/ano) quanto no comprimento do seu pontal arenoso (spit). Mudanças na direção e na intensidade das ondas, ocasionada pela presença de promontórios rochosos, arenitos costeiros, obras transversais e/ou a mudança da orientação da linha de costa, foram responsáveis pela erosão em algumas praias, tais como a Pedra do Sal (Setor II), e alguns trechos da praia Itaqui (Setor I) e Coqueiros (Setor I).

Os ventos são preferencialmente provenientes de NE e E, com uma velocidade média de 4.12 m/s, atingindo suas maiores velocidades nos meses de outubro a dezembro. Nos setores I e II da área de estudo, esse componente é responsável por transportar os sedimentos da praia rumo aos campos dunares, enquanto que nos setores III e IV, o mesmo transporta os sedimentos das praias aos canais de maré, que por sua vez, conduz os sedimentos até outros setores, onde são depositados.

Em curtos intervalos de tempo, o comportamento da linha de costa pode estar diretamente relacionado com a ação hidro climática na bacia de drenagem, devido as altas

FERREIRA, T.A.B (2019) CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS

progradação ocorreram, respectivamente, durante os ciclos de El Niño (1995 – 1999) e La Niña (2007 – 2009). No primeiro caso, a diminuição da quantidade de chuvas e descarga fluvial irá ocasionar uma pouca oferta de sedimentos a zona costeira. Somado isso ao intenso processo de redistribuição de sedimentos, ocasionado pela ação dos ventos, ondas, correntes e maré, grande parte do delta será erodido. No segundo caso (La Niña), o aumento dessas variáveis acarretou em uma maior oferta de sedimentos à zona costeira, fazendo com que houvesse um ganho sedimentar em quase todos os setores. Ademais, o escoamento fluvial é proporcional ao efeito da barreira hidráulica, favorecendo uma maior progradação sedimentar em áreas próximas a desembocadura do delta.

Para uma melhor compreensão dos fatores oceanográficos na área de estudo, sugere-se num futuro próximo, levantamentos batimétricos e sonar na foz do rio Parnaíba, com o intuito verificar a existência de possíveis barras submersas e paleocondições deposicionais. A determinação das direções e velocidades de ondas e correntes, por intermédio de técnicas de sensoriamento remoto, seria de grande valia para estudar o comportamento morfodinâmico do delta ao longo do tempo. Já análises temporais dos campos de dunas não vegetadas ajudariam a estabelecer a influência eólica no DRP.

Por fim, é aconselhável determinar quais são as melhores técnicas automáticas de extração da linha de costa de acordo com litologia e morfologia da praia e elaborar um modelo de erosão para todo litoral brasileiro, indicando quais áreas necessitam de um maior direcionamento técnico.

FERREIRA, T.A.B (2019) BIBLIOGRAFIA