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ultrapassar os impasses da relação gelasiana entre os dois poderes, numa época em que Império e Igreja estavam a ser ultrapassados pelas potências nacionais

Capítulo 21 A área imperial

Introdução

Na área europeia entre a França e zona eslava, não houve um reino nacional como em Inglaterra. nem monarquia carismática como em França. A unidade política e o continuum de ideias política desde o séc. X é nessa área preenchida pelos cargos do Sacrum Imperium assente no Papa e

Imperador. O Sacrum Imperium não é um reino alemão mas apenas um domínio de forte base militar e eclesiástica na zona intermédia germano-italiana.

Esta estrutura é habitualmente mal compreendida por diversos motivos. 1) A Querela das

Investiduras e o surto dos Hohenstaufen obscurecem processos regionais. Assim, o interregno de 1254-1273 não foi tão importante como convencionalmente se pensa. 2) As unidades políticas

regionais não evoluíram para a forma de estado-nação. Os símbolos evocativos da zona imperial não atingem expressão literária em pensamento político sistemático. Ora onde não existem doutrinas, é preciso analisar as instituições. 3) A historiografia alemã oitocentista e nacionalista falou de obsessão italiana, de erros de Hohenstaufen e Habsburgos, deformando o período medieval como época das oportunidades perdidas para a criação do estado nacional alemão.

§ 1 Política sub-imperial

§ a Política imperial e sub-imperial.

A Alemanha não tem datas decisivas na sua história equivalwntes a 800, 1066, 1143, sendo significativo que a fórmula termo “império alemão” foi usada pela primeira vez em 1871.

§ b Reino Franco Oriental e Itália

Em 911 o Duque da Francónia sucede ao ultimo carolíngio como rei das tribos do reino Franco oriental. Coexistiam na Alemanha uma pluralidade de Stammesherzogtume, o que determinou o particularismo alemão. Os ducados alemães constituíam um Hinterland do Império. Era vital

manterem abertas as vias para Mediterrâneo e Império Bizantino para não caírem fora do comércio mundial. Donde, Império alemão empreender uma política Italiana. Otão o Grande renova em 962 o Império de Carlosmagno sendo os monarcas alemães reis francos orientais. Mediante a expedição a Itália, de 952, conquista as passagens alpinas e partes de Lombardia: na expedição de 962 conquista o resto, sendo coroado rei de Itália em Pavia, e assinando tratado comercial com Veneza uma vez que os impostos italianos eram essenciais. Apenas a região lombarda estava sob o controle do Papado

§ c Concentração do poder real

Os Imperadores Otões concentraram na família os feudos vagos e controlaram a Itália a partir do reduto alemão a Norte dos Alpes. Só a Saxónia resistia A partir de 1046 surgem quatro papas germânicos que iniciam a reforma cluniacense do Papado. Após o imperador Henrique III morrer prematuramente, o Interregno da regência foi fatal. Henrique IV, ao encontrar as terras redistribuídas, tenta criar base territorial na Saxónia e procura controlar as terras da Igreja através da prática de simonia. Mas o prestígio do Papa crescera com as reformas de Cluny. A Querela das Investiduras foi o conflito iniciado entre Henrique IV e Gregório VII. Após um segundo interregno que causou danos irreparáveis, reinaram Henrique V - 1106-1125 - e Frederico I - 1152-1190. Outras casas principescas na Alemanha - tais como Guelfos e Babenbergs - eram igualmente importantes.

A política dos Hohenstaufen foi muito diferente; procuraram controlar a Alemanha a partir do reduto italiano. 1) A consolidação da Lombardia com governos de podestà nas cidades. Apesar de

derrotados em Legagno, em 1172, fizeram cair o pretendente saxão, em 1180. A aquisição de Toscânia e o casamento siciliano de Henrique VI coroaram a construção do reduto italiano. Mas Henrique VI morre aos 32 anos, em 1197. O filho, o futuro Frederico II, tem apenas 3 anos. Começa o terceiro interregno.

Na história alemã o Grande Interregno é o de 1254-1273, entre o último Hohenstaufen e a eleição de Rudolfo de Habsburgo. A tradição medieval imperial morrera e cresciam os principados da

renascença e os estados nacionais. Mas os factores de crise acumulavam-se. Entre 1197-1273 existe interregno no nível sub-imperial (não nacional). Foi então que emergiu Frederico II. Não era

propriamente um príncipe alemão e desistiu de controlar a Alemanha. O Papa controla a Igreja alemã pela Bula de Ouro de Egger, de 1213. Mediante o estatuto de 1220, os príncipes eclesiásticos são independentes. Os príncipes leigos dominam os seus respectivos territórios, segundo o estatuto de 1231. A política de Hausmacht dos Habsburgos reconhece os particularismos alemães. Os velhos ducados já não serviam como base de apoio político, nem sequer na Itália após a perda da Sicília para Aragão.

§ d. A colonização do Leste

A nova solução - dos imperadores Habsburgos - foi a criação de um núcleo de poder a leste do território alemão, aproveitando a expansão germânica contra os eslavos. Enquanto os reinos da Europa fixavam fronteiras nacionais, os alemães estavam em movimento a partir do Elba e do Saale nos sécs. XII ao XIV, num movimento comparável à expansão atlântica dos europeus. Este

movimento deixou ficar uma diferença entre civilização metropolitana ocidental e civilização colonial oriental que, só no séc. XVIII, se aproximam com o movimento Sturm und Drang como assinalou Josef Nadler[1].

A integração institucional da Alemanha ficou ainda mais dificultada com os novos particularismos dos municípios do Leste.. E até hoje [1941] os padrões de co

1 Política sub-imperial

A dificuldade de integração institucional agravou-se devido aos particularismos alemães. As comunas, os municípios, a pequena nobreza e o terceiro estado da Alemanha não produziram dirigentes, porque não existia um enquadramento nacional que permitisse acumular a experiência política. Até hoje, os padrões de comportamento políticos não resultam de um pretenso carácter nacional alemão mas da ausência de instituições estabilizadoras nacionais. Ademais, a expansão para Leste, atingiu território totalmente eslavo e criou problemas de minorias. A fronteira política alemã ficou sempre em suspenso, até ao Volga.

A iniciativa da expansão não foi uma iniciativa imperial. Em 1140, Adolfo de Schaumburg funda Lubeck, primeiro posto no Báltico. Em 1144, Alberto o Urso funda Brandenburgo. A Cruzada de Wendos ocorre em 1147 com Henrique o Leão, a leste do Elba. No séc. XIII , é conquistada Riga em 1230, e a Livónia em 1225. A Ordem Teutónica na Prússia atinge a Estónia em 1346. Do Holstein ao Lago Peipus; só a conquista da Silésia se deve a imperador Frederico I, em 1163. A consolidação de Polónia e Lituânia unidas em 1386 sela o destino do Báltico alemão. Tannenberg é perdida em 1410. A perda de Samogitia corta ligação com Prússia e Livónia. Na Prússia Ocidental, Danzig fica polaca em 1466. Só reentra em Império alemão em 1815 e no Bund alemão em 1866.

A família dos Premyslid domina a Boémia em séc. XI e XII. Venceslau I acolhe a imigração alemã e funda um principado semi-alemão. Caríntia, Estíria e Áustria separam-se do Ducado de Baviera. Todo o peso político alemão deslocou-se para Leste. Após 1300, os grandes senhores vêm de Áustria, Boémia Brandenburgo e Prússia. As comunas determinaram a formação de Inglaterra e a monarquia formou a França. A colonização e a articulação territorial do leste determinou a estrutura política alemã cuja escassa articulação nacional contrasta com a sistematicidade das ideias políticas alemãs. § e Sumário da política das três dinastias imperiais alemães:

1ª Saxão-sálico: coexistência entre velhos ducados e concentração de poder real. 2ª Hohenstaufen: concentração de poder real na Sicília e Itália

3ª Habsburgos: concentração na Hausmacht e nos territórios de Leste.

§ 2 A Bula de Ouro

§ a Carlos IV

Em 1356, Carlos IV toma a iniciativa de reconhecer e formalizar a estrutura política alemã através da Bula de Ouro. Seja quem for o respectivo autor, a Bula surgiu na sua Chancelaria após negociações com os Eleitores. Carlos IV não era um carismático, mas antes um cristão devoto, sem ilusões sobre papado, e um bom europeu. Do nome original de Venceslau, rei da Boémia, passou para Carlos, rei dos Francos, Rei de Borgonha e Imperador romano. Administrador cuidadoso, tinha a intuição de que quase todos os homens têm um preço. A complexidade da figura torna-o pouco conhecido mas criou uma solução que durou mais de quatro séculos.

§ b Forma da Bula de Ouro

A Bula de Ouro foi promulgada na Dieta de Nuremberga, 1355, e na Dieta de Metz, 1357. É um estatuto solene que regula a eleição do Rei, o estatuto dos príncipes eleitores, do Rei da Boémia e outros assuntos. O processo eleitoral segue a Constituição de Melfi.

§ c. As variantes na terminologia da designação imperial - christianum imperium, sacrum imperium, sacrum imperium romanum, sacro-sanctum imperium Romanum - revelam a complexidade da

questão. O sacrum edificium tem sete candelabros. A cabeça é rex romanorum imperatorem promovendus e outros termos que reflectem a estrutura histórica de constituição do império. A dignidade do reino alemão sobre domínios alemães, regnum teutonicum, implica funções de

administração imperial em Borgonha e Itália, regiões de imperium. O rex electus era um imperador. Existe um imperium estatal e administrativo e um império mundial. Os Hohenstaufen tentaram que o império estatal fosse coextenso com o império mundial. Frederico I chamou reguli aos reinos

independentes dos governantes. Henrique VI transformou em feudos imperiais os reinos cristãos de Inglaterra, Arménia e Chipre. E Frederico II atribui-se a designação de dominus mundi. Ademais com a chefia temporal do sacrum imperium, o imperador acumulava funções de protecção do mundo cristão, promoção de cruzada e missionação, reforma da Igreja e influência na eleição papal,

atribuições de poder espiritual.

O rei-imperador acumula funções de: 1) Reinado no regnum teutonicum; 2) Funções imperiais face a império estatal que inclui Itália e Borgonha 3) Pretendente a império mundial futurus imperator;4) Poder temporal sobre o populus christianus e protectorado sobre a Igreja. Na prática, tais jurisdições coincidiam na mesma pessoa. O cargo tem um dinamismo complexo que inclui eleição secular, aprovação papal e coroação, o que se tornará fonte de conflitos entre príncipes e papas e exige negociações preliminares com eleitores seculares e eclesiásticos.

Segundo a lei romana e canónica, a dignidade imperial vem directamente de Deus e não carece de aprovação papal, tal como estatuído por Luís o Bávaro, em 1338. O documento Licet Juris considera que os príncipes eleitores criam o verus imperator. A Bula de Ouro não menciona o aprovação do papado, deixando o caso em aberto para a técnica legal e a diplomacia. Carlos edita-a logo após a sua coroação. A transformação do reino numa federação oligárquica de príncipes com cabeça eleita

exprimia o surto do sentimento nacional alemão. Contudo, tratava-se de uma solução politicamente pacífica de um problema delicado. O silêncio no ponto crítico não prejudicava o papado e tornava desnecessário que o Papa recorresse a protestos oficiais.

§ d O Colégio Eleitoral

A eleição é feita em Francoforte por sete eleitores, o que criou os problemas de representação e de maioria. "Talis electio perinde haberi et reputari debebit, ac si foret an ipsis omnibus nemine discrepante concorditer celebrata." (Bula, II, 4). A maioria de quatro eleitores (entre sete) tem o carácter de quorum porquanto são precisos quatro votos eleitorais para eleger o rei. Transforma-se em regra de maioria pela coincidência de que colégio de eleitores tem sete membros.

Assim, a fórmula da Bula transforma em eleição o que antes fora escolha. Os procedimentos de elevação ao trono formam um processo extraordinariamente complicado que, nalguns casos, durava anos. A escolha de um candidato era o primeiro passo; depois vinham as negociações com o

candidato; depois a eleição, ou seja, a concordância dos príncipes eleitores: depois a nomeação

seguida de louvor, o agrément de pessoas menores e a aclamação do povo; depois a entronização e a coroação ainda interrompida por actos de louvor e aclamação; a aquisição do consentimento das tribos; o tomar posse das insígnias; a imposição de funções face a dissidentes.

Este processo complicado em que se atinge o pleno consenso de reino e rei é reduzido no séc. XIII quando as Regras do Sachenspiegel seleccionam a eleição como momento central. O voto é acto formal que sanciona uma concordância substancial antes de começar a votação. Existe, pois, um voto de prestígio e um voto eleitoral. Em 1273, o desinteresse por eleição leva o Papa a insistir em eleição por quorum. Na bula de Ouro a representação por consenso é reduzida à ficção da concórdia. O prestigio dos votos eleitorais formaliza-se na instituição do colégio eleitoral.

e. Oligarquia dos Príncipes

As provisões para a eleição do rei-imperador determinam a influência dos Príncipes do Palatinado, Boémia, Saxónia e Brandenburgo e dos Bispos de Mogúncia Colónia e Trier. Constitui-se o Gabinete imperial com os Príncipes. São admitidas as Ligas de Paz Landfriedensbünde entre príncipes e

cidades. Outras associações são estigmatizadas como conspirações como por exemplos ligas inter- e intra-urbanas.

f. Lupold de Babenberg

Como mostrou Dempf, a literatura sobre o zelo fervente pela pátria germânica é vasta, destacando-se em particular o De juribus regni et imperii Romani, escrito por um canonista, provavelmente o Bispo de Bamberg. Para este, o reino dos francos livres é anterior ao império. Descendentes de Troianos fugitivos, os Francos são tão antigos quanto os romanos. Após translatio imperii de Gregos para Francos, por vontade do povo romano e acção do papa, a questão gira em torno da relação do regnum germânico com o imperium.

A doutrina tem cinco artigos principais:

Por jus gentium, o povo sem rei tem direito a eleger um.

Mesmo que a eleição seja in discordia, por maioria os direitos do rei são iguais. O voto de maioria produz concórdia no caso de uma universitas como é o Colégio eleitoral. Os eleitores formam um collegium, não são sete sujeitos soltos. Os príncipes são representantes do povo e a eleição é um acto do povo alemão através de seus representantes

Como noutros reinos ocidentais, também o rei-imperador é imperator in regno suo; direitos como o de legitimação de filhos e reabilitação de pessoas não lhe advêm do facto de ser imperador.

A eleição dispensa a aprovação papal.

O juramento de lealdade ao Papa não constitui feudo mas lealdade à defesa de Igreja e Papa. Lupold separa claramente o império estatal do império mundial. Para o governo do regnum, bastam os princípios de jus gentium. A aprovação papal só é requerida para o império mundial. Apesar de não atingir a posição do licet juris que declara irrelevante a aprovação e a coroação pelo papa, a doutrina de Lupold pode ter influenciado neste ponto a Bula de Ouro embora a tonalidade seja mais populista do que oligárquica.

§a Área das cidades-Estado.

O que Arnold Toynbee designou por cosmos das cidades-Estado [2]estende-se da Toscânia e Itália Superior através da Suíça, Alemanha do Sul e Vale do Reno, Holanda e Flandres; da área de Colónia ramifica-se para Vestefália e Báltico e até à Estónia. Cobre as grandes vias comerciais da Idade

Média. Permite a passagem do Próximo Oriente, através de Itália, para as regiões a Norte dos Alpes e de Novgorod para a Europa Ocidental. Na intersecção das duas estradas encontramos o rico núcleo de cidades na Holanda e Flandres. A posição nas vias comerciais era a condição económica para

comércio e indústria.

Politicamente, era uma terra de ninguém entre poderes territoriais fortes. As cidades italianas

desenvolvem-se no vácuo de poder entre papados Bizâncio, Império transalpino e mundo muçulmano entre a Borgonha e os principados alemães e franceses. A Liga Hanseática no ângulo entre

principados germânicos do Norte e reinos escandinavos e eslavos. A localização nestas áreas de transição é condição para evolução de cidades Estado com poderes menores. E, finalmente, esta área entre poderes maiores é idêntica a área de Lotaríngia estabelecia em 843 por Tratado de Verdun. E apenas no séc. XIX partes dela foram incorporadas nos estados nacionais de Itália e Alemanha, enquanto Suíça, Bélgica e Holanda mantém-se como poderes menores e a Alsácia-Lorena oscila ente França e Alemanha. A costa báltica foi terra colonial gradualmente integrada na órbita dos poderes vizinhos, e apenas o regime nacional-socialista integrou as cidades livres de Hamburgo, Lubeck e Bremen.

§b. Cidades e mundo feudal.

A partir de agora encontramos um sistema de relações directas entre os cidadãos e as autoridades municipais. As comunas representam a substância do novo tipo. A cidade é a representante de uma nova fase da civilização ocidental e o estilo civilizacional das cidades que entra em competição com o estilo dos estados primitivos e que acabará por dominar a nossa civilização.

§c. Vias comerciais e alimentos

As cidades ultrapassaram os limites e tornaram-se centros para os território circunvizinhos. A guerra de Chioggia (1378-1381) revelou a vulnerabilidade de Veneza devido a falta de controle de

abastecimentos alimentares. durante a primeira metade do séc. XV, Veneza prossegue uma vigorosa política de extensão para o Hinterland, adquirindo Padua, Bassano, Vicenza, Verona, Brescia,

§d. A Quarta Cruzada.

§e. A organização da conquista Veneziana

Se a expansão das cidades Estado revelou a respectiva força, a ordem constitucional das suas conquistas revelou as suas limitações.

§f. Borgonha

Veneza é uma cidade-estado que integra territórios rurais. Em Borgonha, a integração da rede urbana dos Países Baixos no reino da Borgonha. Um senhor feudal integra feudos sobrepondo uma

administração central. Começa com Filipe II, Duque de Borgonha em 1363, casado com herdeira de Flandres e Artois. Através de compras e cessões, Filipe o Bom adquire Holanda, Zelândia, Brabante, Limburgo Luxemburgo, Hainault, Namur, Antuérpia e Nechlin. O seu sucessor, Carlos o Temerário (1467-1477), acrescentou Guelders e Flandres.

Criou-se um Grande Conselho sob a presidência do Chanceler de Borgonha e com representantes de todas as províncias. Existia uma Câmara de Justiça desde 1473 que depois se separou como

Parlamento de Malines e tornou-se um Tribunal de Recurso Supremo. A administração financeira do reino era organizada por três Câmaras de Contas, situadas em Lille, Bruxelas, e Haia. Criou-se um exército permanente organizado em Compagnies d’Ordonnance. Em 1463 são convocados para os Estados Gerais do Reino os representantes dos estados locais que se ocuparam da racionalização do sistema financeiro. A criação da Ordem do Tosão de Ouro em 1430, mostra a intenção de formar uma nobreza do reino, distinta da nobreza local. Uma área feudal foi transformada em monarquia com administração central racionalizada mas moderada por instituições locais e congresso federal, e em que o senhor está equidistante de todos.

§g. A Liga Hanseática

No espaço báltico formou-se uma organização de cidades para a protecção do comércio, protecção mútua e aquisição e exploração de privilégios em regime de monopólio sem a pretensão de conquistar e organizar territórios. O impressionante florescimento hanseático não teve consequências para a organização da nação alemã. Quando desapareceu as cidades decaíram e integraram-se nos principados alemães. Dentro do particularismo germânico do séc. XIV, a Liga foi uma forma adequada de protecção política; no período pós-colonial de desenvolvimento nacional.

Este ponto é decisivo para compreender a interpretação do problema alemão no séc. XIX e mesmo depois, tal como a interpretação do carácter nacional inglês que geram e complicam o crescimento institucional de longa duração. Nos séc. XII e XIV a integração alemã foi prejudicada por: 1) Destruição do papel régio de integração devido aos longos interregnos; 2) Obstáculos à articulação nacional devido à existência de principados territoriais; 3) Dispêndio de forças na colonização do Leste em vez de as aplicar na ordem interna; 4) Desvio das energias políticas das cidades para políticas de Ligas efémeras.

A Liga foi favorecida pelos objectivos limitados das cerca de 160 cidades que se associaram em número variável ao longo dos tempos, dispondo como arma eficaz do boicote comercial. Entre 1350 e 1450 a pertença aumentara muito, atingindo o maior número após esta data quando já começava a declinar o poderio da Liga.

É possível distinguir duas fases neste processo. A Liga principia por ser uma associação de

mercadores alemães no estrangeiro. Após meados do séc. XII os mercadores têm auto-administração em Gothland ou Londres. Antes de 1220 estavam em Novgorod, com delegações em Pskov, Plotsk, Vitebsk e Smolensk, e em meados do séc. XII em Wisby, Londres, Bruges, Bergen.

Geralmente aponta-se o ano de 1241 como o início formal da Liga Hanseática mediante a aliança de Hamburgo e Lubeck; mas tratava-se de uma aliança entre os mercadores de ambas as cidades e não entre duas civitates, que apenas surgirá formalmente na segunda metade do séc. XIV por ocasião da guerra da Liga contra a Flandres. Os Estatutos de 1347 revelam uma organização ternária: o primeiro terço é o dos Wendos e Saxões sob a liderança de Lubeck; o segundo grupo é da Vestefália e Prússia, sob liderança de Colónia; o terceiro é de Gothland e Livland, lideradas por Wisby. Existiam sessões

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