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feira no núcleo de integração

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Detalhe 1: Núcleo de

integração global –as do sistema 10% das linhas mais integradas do sistema.

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ACESSIBILIDADE E MOVIMENTO NAS FEIRAS DE CARUARU E CAMPINA GRANDE

trazidas por essa espacialidade, como constante aumento do número de conflitos – engarrafamentos, queda na mobilidade e qualidade da infra-estrutura para realização da feira.

O caso da feira campinense também não foi diferente. Após décadas situada no centro da cidade (figuras 3.5 e 3.6) e aproveitando-se do movimento de pessoas inerente a essas áreas, a presença dela passou a causar mais transtornos do que benefícios, pelo aumento do número de feirantes e de usuários nesse espaço, resultando no crescimento da dimensão dos conflitos, como a falta de mobilidade e sujeira, por exemplo.

Lá a feira continuou disposta ao longo do tecido urbano, disposta em vias um pouco mais afastadas do local que ocupavam até meados da década de 80, próxima de onde está atualmente. Em suma, ela foi transferida para afastar do centro os problemas que eram típicos dessa disposição, ou seja, pensou-se que em se afastando esse comércio informal do centro, os conflitos desapareceriam. Em Caruaru, começou-se a pensar na relocação da mesma para outro espaço mais adequado ao seu funcionamento. Diferentemente do que ocorreu com o mercado ao ar livre campinense, dos vários espaços cogitados para a relocação, o único que tinha condições de recebê-la foi uma área próxima ao centro, na margem sul do rio Ipojuca, denominada posteriormente de Parque 18 de Maio. Essa necessidade de mudança era tão urgente que muitos moradores manifestaram suas opiniões, como o fez Rodrigues (1992):

A força corrosiva dos novos tempos assumiu a responsabilidade de mudar, compulsoriamente, o curso, o objetivo e o caráter de uma feira tradicional, quase intocável. Onde os violeiros e os cantadores do povo

Figuras 3.5 e 3.6: Feira campinense no início do século 20 onde hoje é Rua Maciel Pinheiro e no centro da

cidade, em 1979. Fontes: Museu Histórico de Campina Grande e acervo do Jornal Diário da Borborema, respectivamente

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cantam as canções do povo, senão é hoje um amontoado de coisas feias e não feitas pelas mãos e pela imaginação dos artesãos de verdade de Caruaru? (...) Vai acontecer apenas um gesto. Profundo, sabemos: a transferência se tornou uma realidade. É uma necessidade. Urgente. Da Rua do Comércio para o Parque 18 de Maio (RODRIGUES, 1992, p. 22).

Portanto, mesmo as duas feiras sendo marcos urbanos para as cidades e estando nos centros urbanos que possuem uma força e dinâmica próprias, alguns processos conflituosos surgiram no crescimento e desenvolvimento das feiras campinense e caruaruense e que precisavam ser resolvidos na maior brevidade possível. Assim, foi necessário pensar algumas maneiras de resolver os principais problemas decorrentes da presença das mesmas no espaço urbano central.

3.1.2 Diferentes fases de transição: mudança e permanência

“[...] o terciário15 [leia-se comércio] está aí, dominando as nossas grandes cidades, criando e resolvendo problemas”.

(VARGAS, 2001, p.11)

Com o surgimento de conflitos nas feiras de Campina Grande e Caruaru, diversas ações tiveram de ser tomadas pelos governos municipais, especialmente no que se tratava da mobilidade nos centros, já que o fluxo e o movimento nesse espaço estavam extremamente comprometidos, exatamente pela disposição das barracas no tecido urbano.

Assim, em Caruaru, a falta de espaço para expansão, os engarrafamentos e a falta de infra-estrutura levaram à discussão de como se daria a melhor maneira de requalificar a feira livre e trazer de volta aqueles que desistiram de comprar nesses locais. Tudo isso passava também por uma reestruturação do centro da cidade para que ele pudesse “respirar” e ter todo o vigor próprio retomado, além da mudança de local da feira para uma área próxima a essa zona central. Esses

15 Relativo ao setor terciário da economia urbana, no qual está inserido o comércio. É definido pela autora como sendo “[...] aquele setor que incorpora atividades que não produzem nem modificam objetos físicos (produtos e mercadorias) e que terminam no momento em que são realizadas [...]” (VARGAS, 2001, p. 52)

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cuidados foram tomados para a manutenção da interface16 entre a feira e a cidade, algo importante para a existência desse comércio informal.

A nova área passou a abrigar a feira de Caruaru, que tinha 1861 barracas e cerca de 4000 feirantes à época da transferência, em 1992. O Parque era cerca de seis vezes maior, com 154.440m2 (RODRIGUES, 1992, 05), (figuras 3.7 a 3.8), despertando tanta curiosidade que Rodrigues (1993) descreveu esse local como um “novo teatro”, pela pujança do espaço.

A essa nova área foi dado todo o apoio e suporte para os usuários e feirantes, dotando-o de infra-estrutura necessária como água e esgoto, banheiros, calçamento e vias mais largas entre barracas, facilitando o deslocamento tanto para pedestres quanto para casos de emergências. Neste projeto, incluiu-se também a preservação da relação de vizinhança entre os feirantes17 das mais diferentes áreas (algumas com mais de 30 anos), com a delimitação das áreas seguindo o que já acontecia no centro. (Figura 3.9)

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Interface pode ser tomada neste trabalho como sinônimo de “relação”.

17 Essa relação de vizinhança foi mantida pela Prefeitura de acordo com a proximidade física das barracas ainda quando funcionavam no centro da cidade, através de entrevistas e cadastramentos. Muitos desses feirantes trabalhavam lado a lado por décadas antes de serem transferidos definitivamente para o Parque 18 de Maio, na nova configuração da feira de Caruaru em 1992. Como Rodrigues (1992b) cita, na “transferência o fator humano foi priorizado. Desde o início do projeto houve uma preocupação de manter-se a relação de vizinhança dos feirantes [algumas com mais de 30 anos] e a valorização, por local de cada ponto de comercialização”.

Figuras 3.7 e 3.8: Parque 18 de Maio em 1992 e mapa

comparativo com feira no centro de Caruaru e no Parque 18 de Maio no mesmo ano.

Fonte fotografia: Acervo jornal Vanguarda

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50m 200m 500m

Feira após a transferência LEGENDA:

Rio Ipojuca

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0m 50m 150m 300m

Figura 3.9: Setorização da feira de Caruaru após a transferência

para o Parque 18 de Maio em 1992. Fonte: Prefeitura Municipal de Caruaru – dados de 1992

Em Campina Grande, os mesmos motivos podem ser aplicados à necessidade de intervenção do governo municipal, entretanto, uma das principais razões se encontrava na permanência de parte da feira em frente a um grande supermercado, que influenciou diretamente na decisão da Prefeitura municipal. Assim, um trecho do comércio informal foi proibido de acontecer na Avenida Marechal Floriano Peixoto, uma das principais da cidade e que possui bom nível de integração global e local.

Não houve transferência de atividades da feira campinense como aconteceu em Caruaru, mas o funcionamento restrito em uma área com baixo valor de integração favoreceu, sem sombras de dúvidas, a queda do número de feirantes (tabela 3.1) e a diminuição do fluxo de usuários e de capital.