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MOVIMENTO NATURAL

3. ACESSIBILIDADE E MOVIMENTO NAS FEIRAS DE CARUARU E CAMPINA GRANDE

São diversos os aspectos que podem ser investigados em um estudo sobre feiras livres, contudo os aspectos configuracionais desses espaços (ou seus os padrões espaciais) são quase sempre negligenciados. Como visto, os estudos que mais se aproximaram de investigações desta natureza foram os realizados por Azinzadeh (2003) e Nejad (2005) nos bazares iranianos. Com exceção desses, pouco ou quase nada foi desenvolvido. De modo que, a carência de investigações sobre padrões de ocupação do comércio informal no espaço urbano serviu de incentivo para o desenvolvimento deste trabalho.

Assim, visando contribuir para o incremento do quadro de investigações existentes sobre este em particular, o trabalho abordou tal temática a partir dos conceitos de acessibilidade e movimento – duas variáveis que estão intimamente ligadas e presentes em qualquer discussão sobre padrões de ocupação do espaço, mas que isoladamente explicam apenas parte dessa dinâmica.

Tomando-se como estudo de caso as feiras de Caruaru e Campina Grande, verificou-se que a acessibilidade acontece de maneiras distintas e peculiares a cada caso. Embora seja independente dos usos existentes, pois o movimento acontece pela configuração da malha local, alguns fatores influenciam no movimento natural existente em ambas as feiras, como a presença de magnetos atraindo um fluxo de pessoas e movimentos diferenciados.

Além disso, a diversidade encontrada em uma feira livre também favorece a um constante processo de mutação a certas regras de disposição no espaço, de tamanho, materiais etc, mas também responde a condições encontradas a cada dia. Se mais cheio ou mais vazio, as diferentes atmosferas nas feiras permitem diferentes tipos de padrões de movimento.

Portanto, este capítulo tenta identificar se os padrões de ocupação espacial das feiras de Campina Grande e Caruaru seguem um mesmo modelo, a partir do conceito topológico de acessibilidade.

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3.1 Movimento e fluxo nas feiras: a lógica dentro do espaço ocupado

Cada uma das feiras aqui analisadas tem uma disposição espacial bem própria: uma está dentro de uma área convexa e à parte do tecido urbano central e original da cidade; outra se encontra ainda na mesma malha que constituiu a formação urbana. Porém, ambas já estiveram dispostas ao longo do grid das cidades, resultando em processos de ocupação do espaço bem diferentes, mas que concorrem a alguns pontos em comuns, como o surgimento de conflitos semelhantes ou mesmo de articulação feira-cidade.

Para isso, este sub-capítulo tratará exclusivamente das feiras livres nos espaços urbanos. O objetivo é dimensionar a acessibilidade e o movimento dentro das áreas ocupadas por essas feiras, utilizando como instrumental principal a Sintaxe Espacial.

Ele está dividido em três partes. (1) A primeira procura mostrar a ocupação das feiras de Caruaru e de Campina Grande nos centros das cidades e como se deram as relações urbanas entre elas até o momento que sofreram intervenções governamentais, em períodos diferentes. (2) A segunda se refere às intervenções propriamente ditas, onde um momento de transição foi necessário para uma adaptação às mudanças sofridas pelas feiras livres em suas espacialidades.(3) E na terceira, tentaremos mostrar que o espaço interno dos mercados ao ar livre possuem dinâmicas próprias, com resultados diferentes, especialmente pela disposição no tecido urbano.

Neste sentido, procurou-se desenvolver uma análise da dinâmica espacial de cada feira, interna e externamente a elas, por meio da observação dos seus padrões de acessibilidade e movimento, mas sem deixar de levar em conta que esse tipo de comércio tem peculiaridades, observadas in loco, que devem ser somadas às teorias aplicadas, ou seja, associando a observação dos fenômenos locais com as técnicas de Sintaxe Espacial.

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3.1.1 Os centros das cidades de feiras

Os centros das cidades normalmente são os locais com maior acessibilidade global de todo o sistema. Em muitas dessas áreas estavam situadas as feiras livres, recebendo o forte fluxo de pessoas gerado pelo movimento natural dos tecidos urbanos, como cita Hillier (1999). E em Caruaru e Campina Grande isso não foi diferente.

Cada um dos centros histórico-geográfico analisados neste trabalho compõe um “centro vivo14” (HILLIER, 1999, p. 02) da cidade. Sintaticamente, esse centro se encontra no ponto mais integrado do sistema, ou seja, a fácil acessibilidade a ele permite irrigar diretamente as áreas próximas e indiretamente as demais com grande aporte de usuários. Por isso, é onde se localizam as principais lojas da cidade pela maior possibilidade de vendas e para onde converge a grande maioria das linhas de ônibus, reflexo da associação entre a necessidade de deslocamento da população e alto nível de integração global.

Em Caruaru, onde a integração global é alta no centro da cidade, o valor de integração do sistema cai desse centro para as bordas (figura 3.1), estendendo-se da margem norte do rio Ipojuca até o encontro da Avenida Agamenon Magalhães com a BR-104. Até 1992, a feira de Caruaru estava situada nesse centro, exibindo uma estrutura linear e seguindo a forma das vias, ocupando aproximadamente 20 ruas e becos, com uma área de 22.760m2. (figuras 3.2 e 3.3).

14 O autor chama de “live centrality”. Em seu trabalho, Hillier explica que esse “centro vivo” “means the element of centrality which is led by retail, markets, catering and entertainment, and other activities which benefit unusually from movement. The argument is confined to the live centre because the spatial processes governing live centrality appear to invoke spatial requirements over and above those related to other central functions such as administration, office, employment or religion. (HILLIER, 1999, p. 01-02)

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Figuras 3.2 e 3.3: Feira de Caruaru no centro da

cidade, em 1992 e década de 70 (à direita). Fonte: Acervo Jornal Vanguarda

Figura 3.1: Integração global de Caruaru, em1992, com destaque para a

área ocupada pela feira no tecido urbano Av. Agamenon Magalhães

Núcleo de integração global

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Já o sistema axial de Campina Grande tem um bom nível de acessibilidade global, com valor de integração global máximo em 1,3583, enquanto que em Caruaru ele é de 1,3063. A área mais acessível forma o núcleo de integração global, que possui uma dupla forma de “espinha de peixe”, onde duas das avenidas principais são as “espinhas dorsais” e as axiais transversais conformam as “espinhas” (figura 3.4 - detalhes 1 e 2)

E nesses centros se dispuseram por muitas décadas tanto a feira de Caruaru quanto a campinense, aproveitando-se do forte fluxo e movimento de pessoas exercido pelo tecido urbano através do bom nível de acessibilidade global que os sistemas possuem.

Por isso, a feira caruaruense pôde crescer e expandir-se, incrementando ainda mais o grande fluxo de pessoas e capital à cidade, passando a contar com cinco mil feirantes. Entretanto, ao longo do tempo, surgiram graves conseqüências

Figura 3.4: Mapa de integração global de Campina Grande

Av. Juscelino Kubitscheck

Av. Floriano Peixoto

Área da feira

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