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Ao partir deste tema um dos significados de conteúdo envolvidos no adoecer psíquico, estavam os estados mórbidos vinculados aos comportamentos neuróticos em que a conduta do sofrimento e a satisfação encontrada nesses estados patológicos configuravam um adoecer de traços patogênicos, retratados nos quadros melancólicos. Os processos somáticos, que fazem parte dos processos psíquicos, são muito comuns na melancolia e nas doenças psicossomáticas em que estão envolvidos os sistemas psíquicos (o consciente, o pré-consciente, o inconsciente) e as suas inter- relações em que podem contribuir para a causa dos distúrbios neuróticos.

Nos quadros melancólicos, atua um forte mecanismo de aniquilamento nos limites do patológico agindo sobre o ego, desejando mortificá-lo. Esse desejo de mortificação do ego vem em forma de um comportamento de ataques, vindos de um supereu aniquilador, sádico e perverso em que se objetiva o instinto de morte e, de acordo com Freud (1923), sobra-lhe como saída uma conduta maníaca. Assim, neste estudo bibliográfico, nota-se que as manifestações da doença destacam-se com maior freqüência e intensidade na melancolia e nos estados limites quando estão envolvidas as estruturas narcísicas e da ordem do psicossomático, demonstrando uma relação com um corpo cindido perdido da sua representatividade simbólica. No corpo destituído da sua dimensão simbólica.

Ao se enfatizarem os quadros neuróticos, os sofrimentos persistentes nas perturbações afetivas demonstram o masoquismo atuando na forma de se manter na dinâmica da doença. Essa dinâmica aponta para o significado de conteúdo da presença da pulsão de morte que surge através da autodestruição. Outro aspecto que se percebe nesses quadros são as resistências e a presença de um sentimento de culpa inconsciente.

A manifestação da ansiedade nas neuroses, outro significado de conteúdo encontrado na pesquisa, aponta para a existência da punição e dos conteúdos sádicos agindo sobre o ego do sujeito, o que sugere, possivelmente, uma incorporação ou demonstração da ação do masoquismo no interior do Eu. Tal masoquismo indica uma dinâmica psíquica de atração pelo sofrimento e pela dor, comportando-se como uma manifestação de uma fusão pulsional patológica das pulsões.

Segundo Freud (1940), as neuroses surgem de uma interferência de um conjunto de forças psíquicas, as chamadas “disposições inatas”, considerando o período de vida e a natureza das pulsões que, em interação com as experiências de vida trazidas pelo sujeito, podem levá-lo ou não ao desencadeamento de reações patológicas. Para Freud (op.cit.), não existe um determinante psíquico agindo sobre o aparelho mental que deflagre a doença neurótica em si mesma ou a ação de conteúdos patogênicos específicos que levem a tal ensejo.

Mesmo que não se caracterize uma busca de determinantes psíquicos causadores do sofrimento neurótico, Freud (1940) aborda a questão das lembranças

enquanto um “determinante à compulsão neurótica”. São lembranças que a criança traz no seu desenvolvimento através das influências de sua vida infantil, influências formadas pelas “impressões” que vieram do interesse que as crianças demonstravam pela vida sexual do adulto.

O que permite à criança passar pelo processo da internalização dos vínculos afetivos trocados com o outro de forma gratificante é a experiência das relações objetais que lhe dará o alicerce para a sua organização psíquica. Do contrário, os riscos dos conflitos psíquicos e das inibições do ego fazem-se presentes. Dentre esses contextos do desenvolvimento do ego, a fixação libidinal (esse foi um dos significados de conteúdo mais enfatizados nas diversas categorias temas) apresenta-se como um mecanismo psíquico que aponta para o perigo das manifestações patológicas.

Assim, se o vínculo com o outro não facilita o acesso a sua primeira alteridade para a formação do Eu, a criança não recebe deste as satisfações necessárias que se transformarão noutro instante na satisfação narcísica libidinal. Um dos significados de conteúdos indicativos é o mau investimento libidinal na criança, proveniente, segundo a pesquisa realizada, de um “desfalque narcísico”.

As “sensações corpóreas”, traduzidas enquanto espaços de erogenicidade do corpo em que partes destes se transformam nas chamadas “zonas erógenas”, que são percebidas enquanto estímulos sexuais, que podem proporcionar intensas sensações de prazer. Excitações erógenas, segundo Freud (1914), indicam uma “modificação da catexia do ego”. Um dos significados de conteúdo encontrado foram as falhas deixadas no desenvolvimento da relação mãe x bebê que refletem as perdas e situações traumáticas.

Um dos mecanismos psíquicos descobertos pelo autor, a partir dessas pulsões parciais, é o “represamento da libido” dando vazão ao adoecimento. As manifestações psíquicas advindas desse represamento da libido indicam que a libido se encontra aprisionada no ego. Quando ocorre de a libido, através das catexias libidinais, investir no ego, há um maior ajustamento deste; do seu contrário, resta-lhe uma perda, um empobrecimento de suas funções egóicas.

5.1.1 O Adoecer e sua relação com o aparelho psíquico

A organização do aparelho psíquico depende, para se preservar, da boa intervenção do ego em seu papel de controle do aparelho motor, facilitando o remanejamento das excitações psíquicas. A consciência caracteriza uma parte do ego que, na sua relação com o mundo externo, através das percepções sensoriais, das sensações e dos sentimentos, contribui com os outros sistemas pré-consciente e inconsciente a manterem o funcionamento psíquico.

As representações verbais através das idéias e pensamentos do pré- consciente podem alcançar o consciente juntamente com as sensações; em relação aos sentimentos podem atingir diretamente a consciência. O ego guarda, em si, além das interações com o id e o mundo externo, as percepções internas e externas e, dentre elas, as sensações da dor, que envolvem as doenças e os seus estados de sofrimento. Dessas sensações percebidas pelo corpo nomeia-se o ego corporal.

O ego, na sua relação com o id, faz surgir os processos de identificações e substituições em que ocorre uma identificação com o objeto perdido, condição comum nos estados melancólicos, quando o sujeito pela introjeção reintroduz o objeto. No desenvolvimento inicial, as catexias e as identificações coexistem numa tentativa de apropriar-se do objeto. Quando acontece de as catexias mudarem, ocorre a desfusão das pulsões, pois com a transformação da libido objetal para narcísica, a libido se dessexualiza, chegando à sublimação de suas energias psíquicas.

A desfusão das pulsões causada por esses processos de “identificações objetais do ego” pode levar o ego a uma ruptura e, conseqüentemente, a processos psicopatológicos. Ainda sobre a relação do ego x o id, as “catexias deslocáveis” recebem o nome de libido dessexualizada, sublimada. A libido sofre uma passagem de libido sexual para libido do ego, facilitando a formação de um ego narcísico no sentido de um ego que veio dos objetos.

As relações do ego com os distúrbios neuróticos estão vinculadas à transferência negativa, corroborando para um estado de depreciação quando os pacientes se conservam em sua doença e sofrimento. A permanência neste estado

mórbido de doença aponta para um sentimento de culpa. O mecanismo psíquico de um ideal de ego aniquilador e severo na sua relação com o ego culmina no adoecimento mental. Das neuroses obsessivas, a melancolia, o sentimento de culpa consciente se faz presente, diferentemente dos quadros histéricos e do mecanismo da repressão, quando age o sentimento de culpa inconsciente dando vazão à existência dos quadros neuróticos. O ataque hostil do superego ao ego é o mecanismo usado nos estados melancólicos; diferentemente das neuroses obsessivas, a regressão à organização pré- genital responde ao mecanismo psíquico nesses quadros.

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