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Para compreender a ação dos mecanismos psíquicos patológicos no contexto do adoecer e a participação das pulsões, é necessário saber que fazem parte do funcionamento mental os processos psíquicos inconscientes que atuam também nas dinâmicas dos comportamentos neuróticos, nos desvios da perversão e nas diversas alterações mentais. Dentre os mecanismos psíquicos mais representativos na pesquisa realizada, a análise dos aspectos pulsionais e suas vertentes patológicas ou não se apresentam como os mais significativos: 1. As fixações da libido em que está correlacionado o seu represamento e sua ligação com o instinto de morte. 2. As discriminações e identificações do ego e a possibilidade de uma adequada inscrição psíquica; de uma retratação narcísica ajustada sugerindo um bom investimento narcísico e a evitação de excessivas identificações objetais do ego na relação com o id.

5.2.1 A fixação da libido

A fixação da libido vem pela fixação a um trauma psíquico das neuroses traumáticas em que as defesas do aparelho psíquico ocorrem segundo Freud (1920), quando a “preparação para a ansiedade” e a “hipercatexia dos sistemas receptivos” não se encontram em condições de agir no psiquismo; ou por um excesso de estímulos que adentram ao mundo interno do sujeito, não sendo possível manter a barreira protetora

contra esses estímulos nocivos, ou pela imaturidade muito precoce de um ego infante. Abre-se então caminho para o aparecimento na relação psique x soma das inibições e nos distúrbios do desenvolvimento das perversões.

As “vicissitudes da libido” e os “fatores pré-disposicionais da neurose” apontam para as condições principais do acometimento das doenças. Os “fatores disposicionais” descritos por Freud (1912) são os mecanismos psíquicos diferenciadores para a existência das perturbações neuróticas e das manifestações psíquicas. O que favorece esse adoecer psíquico é a “introversão da libido”, quando o sujeito perde seu interesse frente ao mundo real. A permanência desse estado pode provocar uma busca de fantasias, mantendo-se elas num caráter patológico quando da presença da regressão desencadeando o conflito psíquico e a possível “formação do sintoma”, único meio encontrado pelo sujeito para se relacionar com a realidade, por isso, chamado de “formação substituta”.

A libido e as “variações inatas” de sua constituição sexual juntamente com as influências do mundo externo contribuem, na primeira infância, para a constituição do psiquismo de forma ajustada ou não. Na experiência infantil, as frustrações assumem um caráter rumo ao adoecimento quando diante da abstinência e da privação de suas necessidades. Essas frustrações levam ao represamento da libido, fixações que dependem das “reações de quantidades” para instaurar o trauma.

As intensas demandas do mundo interno, as exigências do sujeito de satisfazer as solicitações que não se tornam possíveis de serem realizadas apontam para uma disponibilidade à condição patológica. Manter as tensões psíquicas no nível psíquico suportável depende da condição de transformá-las em energia ativa na relação com a realidade, causando uma satisfação da libido. A segunda saída é a renúncia da satisfação libidinal rumo à sublimação, distanciando-se dos impulsos sexuais, realizando outros interesses e, por conseguinte, desfazendo-se da frustração.

A identificação de outro processo psíquico é a libido ligada às fixações infantis manifestando uma inibição do desenvolvimento e a propensão ao adoecer neurótico. Outro exemplo de inibição seria a ausência de situações que viessem a enriquecer o mundo emocional do indivíduo, permitindo-lhe novas experiências. Além

do represamento da libido, a relação entre a quantidade de libido e a capacidade que o ego pode suportar também contribui enquanto mecanismos psíquicos para o estado patológico.

Outro mecanismo psíquico patológico é a relação da libido com o ego quando a libido expressa características narcisistas, sugerindo uma fixação que aponta para uma ligação primária da libido com suas zonas erógenas. Para que suceda um funcionamento psíquico saudável, é necessário que o desenvolvimento das fases sexuais atinja a maturidade sexual, não havendo uma inibição do desenvolvimento sexual; para isso, é preciso que ocorra uma retenção das catexias libidinais de caráter primitivo, vindo a fazer parte da função sexual na busca do prazer até o alcance de uma supressão dos impulsos instintuais ou seguindo as adaptações junto à personalidade ou à própria sublimação.

5.2.2 A fusão pulsional: discriminações e identificações do ego

A discriminação do ego e seu objeto apontam para um dos mecanismos psíquicos que permitem a retratação narcísica como uma manifestação em que expressaria a própria pulsão de vida agindo. Tal retratação é possível pela elaboração de uma experiência de luto adequada, pelos caminhos do ajustamento psíquico. O seu contrário, a não-retratação narcísica, um dos significados de conteúdos identificados na revisão bibliográfica, reafirma o mau investimento narcísico. Esse não-investimento se dá pela ausência do seu objeto de amor; o outro, enquanto alteridade no mundo do infante não operou a satisfação libidinal narcísica necessária para a tomada de seu desenvolvimento normal.

O “enfraquecimento do ego”, segundo Freud (1940), é fator que aponta para a ocorrência dos estados patológicos e do aparecimento das doenças. Uma das condições debatidas são as “exigências do id e do superego” como propulsoras para o desencadeamento do adoecer. O id busca que suas necessidades instintivas sejam satisfeitas, o que, diante de uma extrema exigência do id, leva a um estado de desorganização psíquica. Situação similar ocorre quando de um supereu de

características severas e hostis trazendo para o ego conseqüências desalentadoras com seu empobrecimento.

A atuação de um superego desalentador, que provoca, pelo seu caráter de severidade, um adoecimento neurótico, manifesta-se, pelo sentimento de culpa, que está na base do que Freud (op.cit.) chama de uma das “fontes de resistência”. O fenômeno da resistência acomete sujeitos que perseveram em quadros neuróticos e insistem em permanecer na doença. O que se encontra na psicodinâmica destes pacientes é uma perda de uma das funções mais vitais de sobrevivência do ego, a pulsão de autopreservação.

Portanto, um ego organizado e preservado depende de sua capacidade de interagir com as três instâncias psíquicas: o id, o superego e a realidade, representada pelo mundo externo, o que vai propiciar uma condição de evitação de perturbação, de doença e de desequilíbrio psíquico.

Para Freud (1940), um ego estruturado depende para se conservar ajustado, de superar as forças psíquicas da resistência, da repressão e da transferência negativa. Fazem parte dessas condições de possibilidades ao desequilíbrio a “inércia psíquica” e a fixação da libido. Em contraposição, as condições que podem facilitar um ajustamento do ego envolvem a capacidade de sublimar os instintos e de permanecer acima deles e, ainda, as funções intelectuais do sujeito.

Em relação às vicissitudes das pulsões, um dos destinos é o próprio Eu do sujeito. Quando isso acontece, o ego sofre uma espécie de regressão de uma condição ativa para uma passiva, tornando-o um ego ligado a um narcisismo egóico, tendo as pulsões sexuais uma ação auto-erótica, o que remete a uma dinâmica do ativo para o passivo. A dinâmica aponta para o mecanismo de investimento libidinal no Eu, tornando-se este o próprio objeto libidinal. Conseqüentemente ocorreria uma mudança de catexia de uma libido objetal para narcisista, refletindo uma desfusão das pulsões, pois a libido se dessexualiza e segue o caminho da sublimação.

A inadequação das fusões pulsionais no aparelho psíquico propiciado pela incapacidade do ego de remanejar as energias psíquicas, pela demanda dos impulsos pulsionais através de sua função motora e pela tendência para a fixação da pulsão de

destruição no interior do ego, é gerada por uma severidade do superego. Portanto, a permanência da agressividade no interior do Eu torna-se uma manifestação psíquica patológica, a doença propriamente dita.

A experiência da repressão que atua na presença de forças psíquicas guarda em si uma condição de mobilidade que pode levar à existência do conflito psíquico quando os “fatores quantitativos” comportam-se como sendo um “representante instintual”. As idéias e as “quotas de afetos”, enquanto representantes psíquicos, interferem nesse processo da repressão e podem ser responsáveis tanto pelo fim do instinto quanto pelo seu retorno através da ansiedade ou seu surgimento pelo afeto.

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