• Nenhum resultado encontrado

3. PRESSUPOSTOS TEÓRICOS PARA COMPREENSÃO DO TEMA

3.7 CARACTERIZAÇÃO DAS REDES DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA

3.7.3 Árvores urbanas e sua interação com as redes de distribuição de energia elétrica

Estudos realizados por Biondi (1985) destacaram alguns aspectos relevantes entre as redes de distribuição e o manejo da vegetação nas vias públicas da cidade do Recife, tais como: a altura da árvore, que é determinada pelo espaço urbano disponível, considerando-se sempre a altura de árvores adultas; as raízes; e a altura das redes de energia, entre outros. Esses fatores continuam contribuindo para os conflitos entre as árvores e as redes de energia.

As áreas disponíveis para o enraizamento dos vegetais no sistema viário são restritas. Isso permite o desenvolvimento desse processo. Além disso, as árvores são prejudicadas pelos distúrbios causados pelos serviços de alargamento de ruas, reparos das linhas subterrâneas, entradas de garagem, implantação de telefone público, posteação e placas.

Para o desenvolvimento de árvores na zona urbana, a área livre na base deve ser de 6m2 por árvore. Isso necessitaria de uma rua planejada, com calçadas largas e distanciamentos recomendados entre os outros elementos urbanos. A companhia energética de São Paulo - CESP, entretanto, sugere apenas 1m2; e a companhia Energética de Minas Gerais - CEMIG sugere que o espaço livre ao redor da árvore não deve ser inferior a 1m² (ABRADEE, 1990).

A área de crescimento da árvore deve ser preferencialmente gramada e mantida livre de ervas daninhas, de modo a evitar a competição que possa facilitar a aeração e penetração da água.

Tradicionalmente, a forma de canteiros usada nas cidades americanas é retangular. Essa forma é mais conveniente porque combina com as divisões das quadras e lotes, com grades de ferro no entorno, como galerias, de maneira a facilitar o manejo das espécies e drenagem da água. Na Região Metropolitana do Recife, os canteiros são, porém, circulares, quadrados (com e sem alegretes) e muitas vezes o espaço do entorno da árvore não ultrapassa 50 cm.

As cidades brasileiras, de um modo geral, não planejam a arborização viária, nem mesmo cuidam dos projetos de implantação e de expansão das redes de distribuição. Ocorrem, portanto, conflitos quando um elemento vivo - árvore - neutro, toca em um elemento fase - rede energizada. O atrito entre esses dois elementos pode causar curto-circuito, dependendo da parte do vegetal. No caso das folhas e galhos, estes podem ser condutores se, no momento em que a umidade é alta, se encontram com gotas de água na superfície, tornando-se uma fonte ionizada. Apesar de que a madeira é considerada um mau condutor, as ocorrências registradas têm provado que os índices de desligamentos são maiores na época chuvosa.

Esse risco é menor quando as redes são protegidas ou são colocados espaçadores para que se evite o curto quando um galho cai sobre a rede e os fios se tocam. Isso provoca o desligamento automático do disjuntor, devido ao acionamento de proteção.

Quanto às redes de alta tensão ou média tensão, como são classificados, os perigos são maiores quando não são obedecidas às distâncias mínimas - o chamado Limite de Segurança - entre a extremidade da vegetação e o condutor elétrico. Esse limite deve ser constituído por uma distância de 2m para as redes primárias e 1m para as redes secundárias que representam respectivamente, tensões de 13.800V e 220/127 V(CPFL, 2004).

Outra alternativa encontrada, que deve ser considerada, para que ocorra interação das árvores com as redes, refere-se a iluminação pública. Como em áreas densas a iluminação das ruas fica prejudicada, realiza-se o rebaixamento ou avanço do ponto de luz, através de fixação do braço da luminária no poste. Essa alternativa deve ser adotada até o limite em que as alterações no nível de iluminância e no grau de uniformidade sejam toleráveis. Este serviço poderá ser executado nas ocasiões de manutenção, sem necessidade de programação específica (ABRADEE, 1990).

3.8 ASPECTOS LEGAIS

Com a instituição da Política Nacional do Meio Ambiente, pela Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, o meio ambiente foi consagrado como patrimônio público a ser assegurado e protegido. Também se formularam normas e planos a fim de orientar o poder público quanto à preservação da qualidade ambiental.

Dessa forma, como toda cidade metropolitana, Recife encontra-se com grande concentração de população necessitando de ordenamento no seu espaço territorial, a partir de uma legislação municipal direcionada à proteção das árvores urbanas, buscando maior consonância com a Constituição Federal.

Com a urbanização, surge a necessidade de expansão dos serviços essenciais - como energia, água e esgoto -, além dos serviços de infra-estrutura, como pavimentação, telefones públicos, placas de sinalização. Há também a necessidade de uma regulamentação conjunta para disponibilização e uso das áreas onde esses serviços são implantados.

Nos dois artigos existentes na Constituição Brasileira (artigos 182 e 183), voltados para o estabelecimento de uma disciplina de ocupação do solo urbano e para as políticas

públicas, comenta Antunes (2002) a necessidade de se assegurar uma ocupação racional e socialmente justa dos territórios de nossas cidades.

Diante da necessidade de aplicação das legislações vigentes, surgiu o Direito Ambiental, definido como a ciência que estuda as questões ambientais e suas relações com o homem. Essa área do Direito tem como objetivo a proteção do meio ambiente para a melhoria da qualidade de vida, como um todo, da atual e da futura geração. A expressão meio ambiente já está consagrada na doutrina, jurisprudência e na própria consciência da população, e pode ser conceituada como sendo o conjunto de condições, leis, influências, alterações e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas ( art. 3º., inciso I, da Lei n◦ 6.938/81).

Um dos princípios fundamentais do Direito Urbanístico é o da função social da propriedade. Esse princípio é citado, por diversas vezes, pela Constituição Federal ( art. 5◦, XXIII, art. 156, § 1◦, art. 170, II,art. 182, caput, art. 184, caput, art. 185, parágrafo único, e art. 186). É, sem dúvida, uma limitação ao direito de propriedade, devendo esta exercer uma função social e não somente individual. Em outras palavras a propriedade privada não pode ser utilizada inadequadamente (MEDEIROS, 2003)

Esse princípio deve estar em consonância com a necessidade também de proteger o meio ambiente. Isso está previsto no art. 225, caput, da CF, que declara: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. Cabe ainda ao Município definir espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, sendo vetada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção (art. 225, § 1◦, inc. III, da CF).

Os procedimentos legais necessários para se ter a autorização de implantação dos projetos de arborização urbana, como também para a manutenção através do processo de poda, são de responsabilidade do poder público municipal, em atendimento aos Planos Diretores e aos planos específicos de Arborização Urbana e o de Uso e Ocupação do Solo.

Entretanto, a Legislação Ambiental - seja Federal, Estadual ou Municipal -induz o cidadão, como elemento da sociedade, a uma conscientização ambiental. O cidadão, por princípio do direito público ou privado, tem responsabilidade civil pelos danos causados ao meio ambiente (art. 225, § 3 da Constituição 1988).

Assim exposto, qualquer atividade humana que seja lesiva ao meio ambiente, está sujeita a penalidades legais, como também será facultada, por competência comum, o direito de proteger o meio ambiente e preservar a flora.

Como instrumentos para uma gestão e implantação de projetos de arborização, faz-se necessário o cumprimento das leis e de normas ambientais Federal, Estadual ou Municipal.