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Capítulo III – A teoria do comportamento planeado e o modelo da influência da influência

3.2 Âmbito da teoria do comportamento planeado

A teoria da ação racional (TAR) fundamenta que os indivíduos são racionais e utilizam as informações disponíveis existentes para realizar um comportamento, podendo ser utilizada na antevisão, explicação e influência do comportamento humano em ambientes específicos (Fishbein & Ajzen, 1975). Esta teoria pressupõe que a intenção do indivíduo é um fator que determina o seu comportamento, uma vez que corresponde ao nível de motivação para realizar uma ação (Fernando Afonso & Pereira, 2017; Andrade, 2018; Downs & Hausenblas, 2005).

Desta forma, a TAR compreende duas variáveis: a atitude para realizar um comportamento e a norma subjetiva. A atitude exprime o comprometimento dos indivíduos num determinado comportamento, quando têm uma intenção; por sua vez, a norma subjetiva traduz-se na apreciação positiva do comportamento e na confiança que as pessoas que rodeiam o indivíduo consentem na adoção desse comportamento (Hackman & Knowlden, 2014; V. Pereira & Dias, 2018). A Figura 3, demonstra que a atitude (em relação a um

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comportamento) e a norma subjetiva antecedem a intenção comportamental de um indivíduo e esta, por sua vez, origina o comportamento.

Figura 3 - Teoria da ação racional

Fonte: Ajzen e Fishbein (1980, 1975) adaptado de Albarracín, Johnson, Fishbein, e Muellerleile (2001)

3.2.2 A teoria do comportamento planeado

A teoria do comportamento planeado (TCP) foi desenvolvida em 1985 por Ajzen e, como referido anteriormente é uma extensão da TAR (citado em Ajzen, 1991; Ajzen & Fishbein, 1980 e 1975; Silva et al., 2014). É semelhante à TAR, consistindo na intenção comportamental para realizar determinado comportamento (Ajzen, 1991). Com o intuito de explicar comportamentos que não estavam sob o controlo voluntário, foi adicionado o controlo comportamental percebido à TAR, dando origem à TCP (Hackman & Knowlden, 2014).

Entende-se por comportamento a realização de uma ação através de uma intenção, entre um indivíduo e o meio que o rodeia, incluindo os aspetos social, mental e físico em criar uma resposta para uma determinada vicissitude (Roazzi et al., 2014; Silva et al., 2014).

As duas teorias, apesar de serem semelhantes, diferenciam-se pela inclusão do controlo comportamental percebido. Desta forma, a TCP incorpora três conceitos no qual se baseia o comportamento humano: atitude, norma subjetiva e controlo comportamental percebido, conforme traduzido na figura seguinte.

Atitude em relação ao comportamento Norma subjetiva Intenção comportamental Comportamento

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Figura 4 - Teoria do comportamento planeado

Fonte: adaptado de Ajzen (1991)

De acordo com o modelo da TCP, representado na figura 4, é possível verificar que um os antecedentes da intenção comportamental é a atitude de um indivíduo em relação a um comportamento, a norma subjetiva e o controlo comportamental percebido (Ajzen, 1985). Partindo destes pressupostos, podemos concluir que os objetivos que definem a TCP são as relações entre comportamento e intenção, que por sua vez, está relacionada com os seus antecedentes. Estes, anteveem o comportamento e fornecem uma definição, mais precisa, do processo de tomada de decisão.

Nos pontos seguintes analisamos os indicadores da TCP.

3.2.2.1 A atitude em relação ao comportamento

Fishbein e Ajzen (1975) afirmam que a atitude é a forma, pela qual, o indivíduo manifesta as suas crenças. Estas estão associadas à compreensão do indivíduo sobre si, no seu ambiente e, portanto, se o indivíduo acreditar que possui certos atributos, poderá estar disposto a realizar um determinado comportamento. A atitude é caraterizada por ser uma avaliação positiva ou negativa sobre a realização de um comportamento. Corresponde à posição que um indivíduo adquire relativamente a um objeto, pessoa ou comportamento, julgados pela intensidade ou grau de afeto, a favor ou contra estes (Ajzen & Fishbein, 1980; Andrade, 2018). Atitude em relação ao comportamento Norma subjetiva Controlo comportamental percebido Intenção Comportamento

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Segundo Roazzi et al. (2014), o primeiro a empregar o termo atitude foi o psicólogo Herbert Spencer, em 1862, referindo-se à atitude da mente. Posteriormente, outros psicólogos estudaram este conceito, aplicado a diferentes perspetivas, até que, em 1931, Thurstone (1931) definiu a atitude “como o afeto pró ou contra um objeto psicológico, que varia de um polo positivo a outro negativo, de um favorável a outro desfavorável” (Roazzi et al., 2014, p. 176). Além disso, a intenção em relação a um objeto será maior, quanto mais favorável for a atitude em relação a ele (Moutinho & Roazzi, 2010). De acordo com Ajzen (2005), independentemente do que os outros possam pensar, a atitude em relação ao comportamento é um fator pessoal que diz respeito ao indivíduo e a mais ninguém.

3.2.2.2 A norma subjetiva

O segundo indicador da TCP é a norma subjetiva, reconhecida por ser a pressão social percebida pelo indivíduo para realizar ou não determinado comportamento (Ajzen, 1991). Na perspetiva da TAR, a norma subjetiva é o segundo indicador mais importante na determinação da intenção comportamental (Moutinho & Roazzi, 2010). Desta forma e de acordo com a TAR, quanto mais um indivíduo tem a perceção, de que quem lhe é próximo, e que pensa que ele deve executar determinado comportamento, maior tendência existirá na intenção de o executar (Ajzen & Fishbein, 1980; Moutinho & Roazzi, 2010).

Além disso, a definição de norma subjetiva é determinada, igualmente, pelas influências presentes na cultura, designadamente, no que diz respeito aos valores e crenças resultantes da Sociedade (Silva et al., 2014).

De acordo com Ajzen e Fishbein (1980, 1975); Moutinho e Roazzi (2010), a atitude e a norma subjetiva que as pessoas possuem são determinadas pelas crenças. Neste sentido, os autores sustentam que as crenças manifestam a informação que um indivíduo tem sobre um objeto (e.g., pessoas, grupos, instituições ou comportamentos) e, por essa razão, a crença associa-o a um atributo (e.g., consequência, qualidade, caraterística, etc.). Por exemplo, não fumar afasta o medo de ter cancro do pulmão, ou seja, o comportamento de não fumar é o objeto e a consequência, constituindo ter cancro do pulmão o atributo.

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3.2.2.3 O controlo comportamental percebido

O terceiro indicador da TCP é o controlo comportamental percebido e refere-se à perceção de um indivíduo sobre a sua capacidade de executar determinado comportamento, ou seja, é a noção da dificuldade ou facilidade que um indivíduo tem em realizar um certo comportamento (Ajzen, 1991; Zanitelli, 2010).

Para Silva et al. (2014) e Zanitelli (2010) o controlo comportamental percebido é visto como sendo uma forma de prever o comportamento social, a motivação e aprendizagem do indivíduo, para além de que este indicador apresenta os fatores negativos e positivos que podem conduzir a certos comportamentos adotados pelas pessoas.

Para Silva et al. (2014), este antecedente distingue-se dos restantes e revela a sua importância pelos seguintes motivos: 1) a TAR e a TCP são definidos por este indicador; 2) para além de ser um antecedente da intenção (como os outros indicadores) é também um antecedente do comportamento (ver Figura 4).

Uma vez que a TCP engloba este indicador, Zanitelli (2010) considera que esta teoria tem o benefício de a poder ser empregue a comportamentos que não estejam sob o controlo total do indivíduo, como por exemplo, ganhar peso devido a um problema de saúde. Contudo, de acordo com aquele autor, a probabilidade de querer praticar um comportamento é maior, quanto mais o indivíduo percebe que este está sob o seu controlo.

3.2.2.4 A intenção comportamental

Este antecedente diz respeito ao esforço do indivíduo para realizar um determinado comportamento, tornando-se num preditor de comportamentos (Roazzi et al., 2014). Segundo a TCP, representada na Figura 4, a intenção comportamental é constituída por três componentes descritas anteriormente: a atitude, norma subjetiva e controlo comportamental percebido.

As intenções comportamentais, de acordo com a TAR, são antecedentes contíguas do comportamento, uma vez que este está sob controlo voluntário e, quanto maior for a intenção de uma pessoa em realizá-lo, maior é a possibilidade do mesmo ocorrer (Roazzi et al., 2014).

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Assim, intenção de uma pessoa em realizar um determinado comportamento será mais forte se a atitude e a norma subjetiva forem favoráveis, pois, desta forma o controlo comportamental percebido também será maior (Moutinho & Roazzi, 2010). Deste modo, o comportamento humano será formado pela intenção comportamental, aliada ao controlo comportamental percebido (Zanitelli, 2010).

3.2.2.5 O comportamento humano

Considerou-se importante incluir, neste trabalho, um ponto para o comportamento humano, uma vez que, de acordo com a TCP, a intenção comportamental origina o comportamento. Roazzi et al. (2014) definem o comportamento como sendo o processo de passar da intenção à ação. Segundo Ajzen (2002) o comportamento humano regula-se por três crenças: 1) crenças comportamentais; 2) crenças normativas e 3) crenças de controlo.

Ainda de acordo com Ajzen (2002), as crenças comportamentais são crenças sobre os resultados possíveis de um comportamento e, em relação a este, produzem uma atitude favorável ou desfavorável. É a perceção do indivíduo relativamente ao comportamento apontado. As crenças normativas estão relacionadas com as expectativas de terceiros e resultam da pressão imposta pelas regras ou pressão social/norma subjetiva. Por sua vez, as crenças de controlo estão relacionadas com o desempenho de um comportamento, uma vez que existem fatores que podem facilitar ou dificultar esse desempenho. Neste sentido, a crença comportamental corresponde às atitudes; a crença normativa corresponde à norma subjetiva e a crença de controlo corresponde ao controlo comportamental percebido, compondo, assim, a intenção comportamental (Ajzen, 2002).

3.3 Âmbito do modelo da influência da influência presumida4