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D ÉCADA DE A ÇÃO DAS N AÇÕES U NIDAS SOBRE N UTRIÇÃO (2016-2025)

Outro importante ato internacional relacionado à alimentação foi impulsionado em 2016 com a proclamação da “Década de Ação das Nações Unidas sobre Nutrição, de 2016 a 2025” pela Assembleia Geral das Nações Unidas.

O intuito de tal marco foi promover debates e estimular ações efetivas para acabar com a fome, erradicar a desnutrição e garantir acesso universal a dietas mais saudáveis e sustentáveis para todas as pessoas por meio de estipulação de metas de nutrição para o ano de 2025 por cada um dos países. Para isso, a Resolução da ONU invocou a OMS e a FAO para coordenarem a implementação da “Década de Ação das Nações Unidas sobre Nutrição” em colaboração com o Programa Alimentar Mundial (PAM), o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), envolvendo também alguns mecanismos como o Comitê Permanente de Nutrição da ONU e o Comitê de Segurança Alimentar Mundial121.

A FAO sustenta que os países signatários, ao concordarem com a resolução, aprovaram a Declaração de Roma sobre Nutrição, que “consagra o direito de todos ao acesso a alimentos seguros, suficientes e nutritivos, e compromete os governos a prevenir a nutrição inadequada em todas as suas formas, incluindo a fome, as deficiências de micronutrientes e a obesidade”, e o Quadro de Ação adotado pela Segunda Conferência Internacional sobre Nutrição (ICN2)122,

121 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A ALIMENTAÇÃO E A AGRICULTURA (FAO).

Década de Ação das Nações Unidas sobre Nutrição (2016-2025).

122 Declaração de Roma Sobre a Segurança Alimentar Mundial e Plano de Ação da Cimeira Mundial da Alimentação: PRIMEIRO COMPROMISSO: Garantiremos um ambiente político, social e econômico propício, destinado a criar as melhores condições para erradicar a pobreza e para uma paz duradoura, baseada na participação plena e igualitária de homens e mulheres, que favoreça ao máximo a realização de uma segurança alimentar sustentável para todos; SEGUNDO COMPROMISSO: Implementaremos políticas que tenham como objetivo erradicar a pobreza e a desigualdade e melhorar o acesso físico e econômico de todos, a todo momento, a alimentos suficientes e, nutricionalmente adequados e seguros, assim como à sua utilização eficaz; TERCEIRO COMPROMISSO: Prosseguiremos com políticas e práticas participativas e sustentáveis de desenvolvimento alimentar, agrícola, da pesca, florestal e rural, em zonas de alto e baixo potencial, as quais são fundamentais para assegurar uma adequada e segura provisão de alimentos tanto a nível familiar, como nacional, regional e global, e também para combater as pragas, a seca e a desertificação, tendo em conta o carácter multifuncional da agricultura; QUARTO COMPROMISSO: Esforçar-nos-emos em assegurar que os

alimentos e as políticas comerciais agrárias e comerciais em geral contribuam com o fomento e a segurança alimentar para todos, através de um sistema comercial mundial justo e orientado ao mercado;

QUINTO COMPROMISSO: Empenhar-nos-emos em prevenir e nos preparar para enfrentarmos as catástrofes naturais e emergências de origem humana, bem como para fazer face às necessidades urgentes de alimentos de caráter transitório, de modo a encorajar a recuperação, reabilitação, desenvolvimento e capacidade de satisfazer necessidades futuras; SEXTO COMPROMISSO: Promoveremos uma distribuição e uma a utilização otimizada de investimentos públicos e privados para promover os recursos humanos, os sistemas alimentares, agrícolas, piscícolas e florestais sustentáveis e o desenvolvimento rural em áreas de alto e baixo potencial;

que “reconhece que os governos têm o papel e a responsabilidade principal de responder às questões e aos desafios nutricionais, em diálogo com um vasto leque de intervenientes – incluindo a sociedade civil, o setor privado e as comunidades afetadas”. Dentre outras ações, ele impele os governos a enfrentar a desnutrição, a baixa estatura, o desperdício, o baixo peso e o sobrepeso em crianças menores de cinco anos de idade, a anemia em mulheres e crianças, a reverter as crescentes incidências de excesso de peso e a reduzir os casos de doenças crônicas não transmissíveis decorrentes da alimentação inadequada123.

É importante ressaltar que, em maio de 2017, o Brasil foi o primeiro país a assumir os denominados compromissos “SMART”124, estipulados na “Década de Ação das Nações Unidas

sobre Nutrição, de 2016 a 2025”, com a delimitação de três metas a serem cumpridas até o ano de 2019: “deter o crescimento da obesidade na população adulta (que atualmente está em 20,8%); reduzir o consumo regular de bebidas adoçadas com açúcar em pelo menos 30% na população adulta; ampliar em no mínimo 17,8% o percentual de adultos que consomem frutas e hortaliças regularmente”.

Além disso, o Brasil destacou a adoção de medidas específicas para alcançar supracitados objetivos, tais como: a adoção de ajuste fiscal (reduções de impostos, subsídios) para diminuir o preço dos alimentos frescos, empréstimos de microcrédito a agricultores familiares e transferências de dinheiro para famílias pobres, a fim de que elas possam comprar produtos frescos; fornecimento de refeições saudáveis e educação nutricional para crianças em escolas públicas; aumento da compra de alimentos de agricultores familiares; desenvolvimento de novos materiais educativos sobre dieta saudável e sua distribuição para a população, professores e profissionais de saúde; redução da quantidade de sal e açúcar em produtos alimentícios ultraprocessados e revisão da regulação sobre rotulagem de alimentos para que a informação sobre açúcares adicionados apareça na parte frontal da embalagem; regulação da promoção de comidas e bebidas cujo como público-alvo são as crianças; restrição de venda e

SÉTIMO COMPROMISSO: Executaremos, monitoraremos, e daremos prosseguimento a este Plano de Ação, em todos os níveis, em cooperação com a comunidade internacional [ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A ALIMENTAÇÃO E A AGRICULTURA (FAO). Declaração de Roma sobre a

Segurança Alimentar Mundial e Plano de Ação

da Cimeira Mundial da Alimentação].

123 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A ALIMENTAÇÃO E A AGRICULTURA (FAO). Países

comprometem-se a combater a nutrição inadequada através de políticas e ações fortes.

124 “SMART”, da sigla em inglês: específicos, mensuráveis, atingíveis, relevantes e com prazo [ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A ALIMENTAÇÃO E A AGRICULTURA (FAO). Década de Ação das

publicidade de alimentos processados em instituições educacionais, de saúde e agências públicas; estímulo à amamentação por meio das unidades básicas de saúde; aumento do número de instalações para prática de atividade física e melhoria do acesso aos cuidados de pessoas com excesso de peso ou obesidade125.

Com os atuais problemas que a população enfrenta pelo excesso de peso, percebe-se que o direito à alimentação não se resume simplesmente ao ato de comer. Ele é mais abrangente: liga-se ao direito à segurança alimentar, à nutrição, à saúde e à vida. Para satisfazê-lo, a informação se mostra como caminho a ser trilhado, prezando-se pela transparência126 nas relações entre fabricantes e consumidores. É inegável o direito destes ao conhecimento da íntegra composição dos alimentos e da advertência sobre a presença de nutrientes críticos para lhe sejam assegurados o respeito e a liberdade de escolha de consumir os produtos que reputarem mais adequados.

125 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A ALIMENTAÇÃO E A AGRICULTURA (FAO). Brasil

é o Primeiro País a Assumir Compromissos Específicos na Década de Ação para a Nutrição da ONU.

126 Claudia Lima Marques explica que transparência é “maior clareza, é veracidade e respeito, através de maior troca de informações entre o fornecedor e o consumidor, em especial, na fase pré-contratual” [MARQUES, Claudia L. Contratos no Código de Defesa do Consumidor: o novo regime das relações contratuais, 2014, p. 840].

CAPÍTULO 2

DIREITO DO CONSUMIDOR À ADEQUADA E CLARA INFORMAÇÃO NOS RÓTULOS DOS ALIMENTOS E A FUNÇÃO PRIMORDIAL DA ANVISA NA CONCRETIZAÇÃO DESTA PROTEÇÃO

LEGAL

O direito à informação é expressamente contemplado e prestigiado pela legislação brasileira, mostrando-se de vital importância para a tomada de decisões no complexo e dinâmico mercado de consumo. Para promover este acesso, o Código de Defesa do Consumidor impõe aos fornecedores o dever de informar o consumidor sobre todos os elementos essenciais do produto ou do serviço por eles disponibilizados. A informação, contudo, precisa obedecer a requisitos de clareza e adequação a fim de possibilitar o entendimento correto por parte do consumidor, especialmente quando a circunstância é revestida por eventuais riscos à saúde, à segurança ou à vida das pessoas.

Quando o produto em análise é um alimento, o zelo com a qualidade da informação deve ser ainda maior, dada a essencialidade do produto para a existência humana. A ANVISA desempenha uma função vital como reguladora de setor intimamente ligado ao bem-estar e à saúde, em especial quando a atenção da sociedade se volta para a discussão da implementação de um sistema de rotulagem de produtos alimentícios que seja mais acessível e adequado ao perfil da população brasileira.