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D OENÇAS C RÔNICAS NÃO T RANSMISSÍVEIS (DCNT)

Há algum tempo, as doenças mais comuns dos brasileiros migraram das agudas para as crônicas, que, segundo o Ministério da Saúde, são a principal causa de morte entre adultos. Antigamente, as doenças crônicas eram tipicamente encontradas em pessoas com idade mais avançada, mas nos últimos anos elas estão sendo constantemente detectadas em adultos jovens, adolescentes e até mesmo crianças.

A alimentação inadequada37 contribui significativamente para o ganho de peso e para o

aparecimento de doenças crônicas não transmissíveis, que, em âmbito mundial, também se revelam como principal causa de mortes, representando 70% (56,4 milhões) dos óbitos do ano de 201538. No Brasil, o índice de morte por doenças crônicas se mostrou ainda mais elevado:

74%39.

37 Pesquisas contemporâneas apontam que a alimentação inadequada é o fator de risco que mais contribui para o surgimento de doenças em todo o mundo. Estimativas realizadas em 188 países quantificaram a relação entre doenças e 79 fatores de riscos ambientais, comportamentais e metabólicos, revelando que os fatores de risco alimentar são os mais decisivos para o surgimento de doenças e foram responsáveis por 11,3 milhões de mortes em 2013. [Global Burden of Disease Study 2015 apud AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA). Relatório Preliminar de Análise de Impacto Regulatório sobre Rotulagem

Nutricional, p. 30-33].

38 WHO, Global Health Observatory (GHO) apud AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA). Relatório Preliminar de Análise de Impacto Regulatório sobre Rotulagem Nutricional, 2018, p. 30-33.

39 Destacam-se as doenças cardiovasculares, o câncer e a diabetes, que juntos representam mais de 50% da mortalidade da população brasileira. [WHO, Noncommunicable Diseases Country Profiles, Brazil, 2014 apud AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA). Relatório Preliminar de Análise de

As doenças cardiovasculares constituem a principal causa de morte e de internação hospitalar no Brasil, sendo responsáveis por 31,2% (424.058) do total de óbitos40 em 2015. O número de mortes por câncer, por sua vez, vem crescendo ao longo dos anos, alcançando 17,4% (236.345) do total41. Aumentos na incidência da doença e de óbitos também se apresentam para a diabetes, com dados do Vigitel42 mostrando um crescimento de 61,8% no número de pessoas que relataram diagnóstico da enfermidade, que passou de 5,5% para 8,9% entre 2006 e 201643.

O Departamento de Doenças não Transmissíveis e Saúde Mental da OPAS aponta alguns hábitos ou fatores de risco comuns que potencializam o surgimento de malefícios à saúde e que são passíveis de mudança pela ação humana, como uso excessivo de álcool, uso de tabaco, inatividade física e alimentação de baixa qualidade44.

A OPAS esclarece que o aumento da precariedade da saúde e das mortes prematuras decorrentes deste tipo de doença é mais frequente em países de baixa e média renda. Além das perdas pessoais para as famílias e a sociedade, as doenças crônicas não transmissíveis representam um alto custo para a saúde pública. Dados do Global Health Observatory (GHO) projetam perdas econômicas no patamar de US$ 7 bilhões entre os anos de 2011 e 2025 nos países de baixa e média renda, caso o cenário atual se mantenha. Este montante suplanta o custo de US$ 11,2 milhões anuais para a implementação de políticas voltadas à redução de doenças

40 BRANT et al. apud AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA). Relatório Preliminar

de Análise de Impacto Regulatório sobre Rotulagem Nutricional, 2018, p. 30-33.

41 GUERRA et al. apud AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA). Relatório

Preliminar de Análise de Impacto Regulatório sobre Rotulagem Nutricional, 2018, p. 30-33.

42 O Vigitel foi implantado em 2006 e compõe o sistema de Vigilância de Fatores de Risco para doenças crônicas não transmissíveis do Ministério da Saúde, com o objetivo de monitorar a frequência e a distribuição de fatores de risco e proteção para estas doenças em todas as capitais dos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal. Entre as doenças monitoradas pelo sistema estão: diabetes, obesidade, câncer, doenças respiratórias crônicas e cardiovasculares como hipertensão arterial, que têm grande impacto na qualidade de vida da população. Esses grupos de doenças possuem quatro fatores de risco modificáveis em comum, também monitorados pelas pesquisas: tabagismo; alimentação não saudável; inatividade física; uso nocivo de bebidas alcoólicas. A pesquisa Vigitel é realizada pela Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério da Saúde por meio de entrevistas telefônicas realizadas anualmente em amostras da população adulta (18 anos ou mais) residente em domicílios com linha de telefone fixo. O Vigitel apoia também o monitoramento das metas do Plano Regional de DCNT da OPAS e do Plano Global para o Enfrentamento das DCNT da OMS [BRASIL. Ministério da Saúde. Vigitel. Disponível em: <http://portalms.saude.gov.br/saude-de-a- z/vigitel#dados>].

43 BRASIL. Ministério da Saúde, Vigitel, 2016 apud AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA). Relatório Preliminar de Análise de Impacto Regulatório sobre Rotulagem Nutricional. 2018, p. 30-33.

44 ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE (OPAS). Alimentos e bebidas ultraprocessados na

não transmissíveis45. A OMS prevê que, a cada aumento de 10% do número de doenças crônicas não transmissíveis, há uma perda de 0,5% anual do Produto Interno Bruto (PIB), o que demonstra que a diminuição de produtividade derivada dessas enfermidades representa considerável retrocesso no combate à pobreza e no desenvolvimento dos países46. É importante ressaltar que grande parte das DCNT são preveníveis, principalmente com controle do sedentarismo e dos hábitos alimentares47.

No Brasil, a obesidade ocasiona um impacto expressivo nos gastos do Sistema Único de Saúde (SUS). A avaliação de custos diretos com o tratamento de obesidade e das patologias a ela associadas da população adulta em 2011 foi de R$ 488 milhões (1,9% dos gastos com assistência à saúde de média e alta complexidade)48.

A OMS ainda estima que 2,6 milhões de mortes ocorridas em 2012 na América Latina e no Caribe foram decorrentes de DCNT, denotando uma elevação de 30% em relação aos anos 2000. Comparada ao crescimento anual, a quantidade de mortes na região foi 20% superior aos índices mundiais49.

O Ministério da Saúde, por meio de dados obtidos pelo Vigitel50, contabiliza um avanço anual de obesidade de aproximadamente 1% entre os adultos. Esse aumento guarda estreita relação com a forma que o indivíduo se alimenta51 e com a realização ou não de atividades

45 OMS, Global Health Observatory (GHO) apud ORGANIZACIÓN DE LAS NACIONES UNIDAS PARA LA ALIMENTACIÓN Y LA AGRICULTURA (FAO); ORGANIZACIÓN PANAMERICANA DE LA SALUD (OPS), 2016, p. 100.

46 OMS, Global status report on noncommunicable diseases, Ginebra, 2010 apud ORGANIZACIÓN DE LAS NACIONES UNIDAS PARA LA ALIMENTACIÓN Y LA AGRICULTURA (FAO); ORGANIZACIÓN PANAMERICANA DE LA SALUD (OPS), América Latina y el Caribe: Panorama de La Seguridad

Alimentaria y Nutricional- sistemas alimentarios sostenibles para poner fin al hambre y la malnutrición, 2016,

p. 100.

47 Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), a alimentação equilibrada é considerada como um dos fatores modificáveis mais importantes para a diminuição do risco de doenças e agravos não transmissíveis (DANT) [INCA. Inquérito domiciliar sobre comportamentos de risco e morbidade referida de doenças e agravos não transmissíveis: Brasil, 15 capitais e Distrito Federal 2002–2003, 2006 apud BRASIL. As causas sociais das

iniquidades em saúde no Brasil, 2008, p. 83].

48 OLIVEIRA, UnB, 2013 apud AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA). Relatório

Preliminar de Análise de Impacto Regulatório sobre Rotulagem Nutricional, 2018, p. 30-33.

49 OMS, Global Health Observatory apud ORGANIZACIÓN DE LAS NACIONES UNIDAS PARA LA ALIMENTACIÓN Y LA AGRICULTURA (FAO); ORGANIZACIÓN PANAMERICANA DE LA SALUD (OPS), América Latina y el Caribe: Panorama de La Seguridad Alimentaria y Nutricional- sistemas

alimentarios sostenibles para poner fin al hambre y la malnutrición, 2016, p. 100.

50 BRASIL. Ministério da Saúde. Vigitel. Disponível em: <http://portalms.saude.gov.br/saude-de-a- z/vigitel#dados>.

51 Dados de consumo alimentar mostram que os brasileiros ingerem quantidades elevadas de nutrientes críticos. Quanto aos volumes diários recomendados pela OMS, 61% da população consome quantidades de açúcares acima do limite, enquanto 70% o supera no nível de sódio. Os pesquisadores demonstraram que a alimentação

físicas. O estágio de obesidade é composto por fatores de natureza demográfica, socioeconômica, epidemiológica, cultural e ambiental, multiplicidade que explica como seu controle é complexo. Ao se avaliar alguns indicadores de saúde e nutrição, percebe-se que as desigualdades de renda e raça ainda causam impacto na incidência de doenças crônicas não transmissíveis: entre mulheres negras e de baixa renda os índices de doenças são superiores aos encontrados entre mulheres brancas e com maiores rendimentos52.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, 80% dos casos de doenças coronarianas, 30% dos casos de câncer e 90% dos casos de diabetes tipo 2 poderiam ser evitados com mudanças reais nos hábitos de vida53.

Em virtude da maior ocorrência das doenças crônicas não transmissíveis, a implementação de políticas públicas voltadas ao controle de peso e à alimentação adequada ganha cada vez mais relevância. Neste cenário, a melhoria da informação ao consumidor por meio da introdução da nova rotulagem nutricional frontal que evidencie o excesso de nutrientes críticos é uma das ações necessárias para a conscientização da população sobre perdas pessoais, econômicas e sociais acarretadas pela alimentação desequilibrada. Passemos, portanto, a analisar alguns atributos dos produtos ultraprocessados e o ganho de mercado que eles conquistaram nos últimos anos.