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R ESPONSABILIDADE E CONÔMICA

4. ÉTICA EMPRESARIAL

4. 1 Conceituando a ética empresarial

Segundo o psicanalista Eduardo Rozenthal (2000), os conceitos de ética e moral não apresentavam diferenciação semântica até o século XX. A única diferença residia na origem das palavras: “moral” provinha do latim moris; “ética”, do grego, ethos.

De acordo com Vasquez (1997, p. 23-24), a ética é “a teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em sociedade”, ao passo que “a moral se refere ao comportamento adquirido ou modo de ser, conquistado pelo homem”, ou seja, às normas ou regras construídas pelas sociedades para orientar a conduta de seus membros na vida cotidiana. De acordo com Srour (2000, p. 29), “enquanto a ética diz respeito à disciplina teórica, ao estudo sistemático, a moral corresponde às representações imaginárias que dizem aos agentes sociais o que se espera deles, quais comportamentos são bem-vindos e quais não”. Ou seja, a ética “opera no plano da reflexão ou das indagações”, ao passo que a moral “corresponde a um feixe de normas que as práticas cotidianas deveriam observar” (SROUR, 2000, p. 29).

Para Arruda (2000), a ética foi definida como indagação sobre a natureza, fundamentada na moralidade, sendo o termo moralidade entendido como juízo moral, padrão e regra de conduta. Foi denominado também como estudo e filosofia da conduta humana, com ênfase na determinação do que é certo e do que é errado. Moreira (1999, p. 21) faz a mesma distinção ao assumir que “a ética é o estudo das avaliações do ser humano em relação às suas condutas ou às dos outros [...] de acordo com um critério que geralmente é ditado pela moral”.

Para Vaz (1982), no mundo filosófico a ética poder ser explicada como a ciência que estuda o comportamento, o procedimento moral e a atitude humana. Neste sentido, a ética avalia a consciência humana, o comportamento consciente do indivíduo e sua conduta individual e social, considerando os grupos sociais a que ele pertence, seus costumes socioeconômicos e sua cultura.

A maioria dos conceitos de ética empresarial diz respeito a regras, padrões e princípios morais sobre o que é certo ou errado em situações específicas. Assim, a ética empresarial compreende princípios e padrões que orientam o comportamento no mundo dos negócios (VALLS, 1994). Nesse contexto, Leisinger (2001) assume que as empresas para garantirem sua sobrevivência:

perceberam que não se pode levar muito a sério a tese de que a defesa do interesse individual gera o bem-estar da coletividade. Com a difusão e aceitação generalizada desta tese na sociedade, os indivíduos que trabalham nas empresas começaram também a defender os seus interesses particulares sem levar em consideração o interesse da coletividade em questão, a empresa. Com isso, os executivos passaram a defender mais os seus interesses particulares do que o dos acionistas, gerando sérios problemas de corrupção e investimento duvidosos de dinheiro nas empresas privadas. Além disso, quando o espírito da defesa do interesse próprio é o mais forte numa empresa, é impossível criar o espírito de equipe, um item fundamental para aumentar a produtividade da empresa, tão necessária num mercado competitivo. (LEISINGER, 2001, p. 66).

Assim, a transparência nos princípios organizacionais e a conduta socialmente responsável tornaram-se fatores determinantes para a sobrevivência das organizações no mercado e para a manutenção de uma imagem institucional positiva (LEISINGER, 2001). Nessa linha, Passos (2000, p. 18) afirma que a sociedade contemporânea vivencia uma redescoberta da ética deflagrada por uma profunda crise de valores morais. Assim, pode-se afirmar que “para que uma organização demonstre consistentemente altos padrões éticos, o diretor executivo e as pessoas que trabalham em torno dele devem ser abertas e inequivocamente comprometidas com a conduta ética e moral” (THOMPSON & STRICKLAND, 2004, p. 406). Neste contexto, Ferrell et al. (2001) afirmam que as responsabilidades éticas são definidas como comportamentos ou atividades que a sociedade espera das empresas, os quais não estão, no entanto, definidos em leis. Assim, abrangem regras de conduta que direcionam a tomada de decisões da organização, não podendo ser compreendidas como mera extensão do estudo da ética do indivíduo.

Para Srour (1998), ter padrões éticos significa ter bons negócios e parceiros em longo prazo, pois o consumidor está cada vez mais atento ao comportamento das empresas, exigindo certo metabolismo no relacionamento entre as empresas e as sociedades em que estão inseridas. Este cenário se torna presente à medida que o público consumidor ser revela cada vez mais exigente quanto à responsabilidade social das empresas (ASHLEY et al.; 2002). Assim, as atitudes e atividades de uma organização precisam levar em conta a promoção de valores morais, o respeito ao meio ambiente e um maior envolvimento com a comunidade que a cerca (ASHLEY et al.; 2002, p. 53)

4. 2 Relação entre ética empresarial e responsabilidade social

Segundo McIntosh et al.; (2001), as organizações começaram a perceber que a credibilidade das empresas é fruto da prática efetiva e constante de valores como respeito ao consumidor, honestidade, transparência nas relações com seus públicos, integridade nas demonstrações financeiras e preocupação com o meio ambiente e comunidade.

Neste sentido, Srour (2000) define duas “frentes” que envolvem a ética empresarial e a responsabilidade social:

Na frente interna das empresas, equacionam-se os investimentos dos proprietários (detentores de capital) e as necessidades dos gestores e dos trabalhadores. Na frente externa, são levadas em consideração as expectativas dos clientes, fornecedores, prestadores de serviços, fontes de financiamentos (bancos, credores), comunidade local, concorrentes, sindicatos de trabalhadores, autoridades governamentais, associações voluntárias e demais entidades da sociedade civil. (SROUR, 2000, p. 195).

A essência da empresa socialmente responsável consiste em conduzir seu negócio de forma a ser co-responsável pelo desenvolvimento social, em entender os interesses e demandas de seus diferentes stakeholders – clientes, comunidade, fornecedores, acionistas, funcionários, governos, entre outros – e em conseguir incorporá-los no planejamento de suas atividades. (MCINTOSH et al.; 2001).

Para o Instituto Ethos (2003), uma empresa que desenvolve programas voltados à comunidade, mas, ao mesmo tempo, sonega impostos, polui o meio ambiente, não é transparente com seus acionistas, não respeita seus consumidores ou utiliza procedimentos escusos para conseguir vantagens a qualquer custo não pode ser considerada socialmente

responsável. Isso porque a responsabilidade social envolve valores e princípios éticos adotados pela organização em todas as suas ações e relacionamentos. Assim, não existe empresa meio ética. A empresa ética deve agir de acordo com seu discurso sempre, e não apenas quando lhe é conveniente.

4. 3 Cultura e responsabilidade social

Um componente importante para entender a responsabilidade social corporativa é a cultura. Como salientam Thompson e Strickland (2004), as raízes da cultura corporativas são as crenças e a filosofia compartilhadas pela organização sobre como seus negócios devem ser conduzidos – o motivo pelo qual ela faz as coisas do jeito que faz. A cultura de uma empresa manifesta-se nos valores e princípios de negócios que os gerentes pregam e praticam, em seus padrões éticos e políticas oficiais, nos relacionamentos com os depositários (especialmente com os empregados, sindicatos, acionistas, fornecedores e a comunidade onde ela opera), nas tradições que ela mantém, em suas práticas de supervisão, na atitude e comportamento dos empregados, em suas histórias, em suas políticas e no sentimento geral do ambiente de trabalho. Todas essas forças sociológicas combinam-se para dar a definição de uma cultura da organização.

Na mesma linha, Ashley et al.; (2002) enfatiza que:

Através da cultura podemos entender responsabilidade social corporativa, pois só é possível entender como as organizações vêm concebendo e pondo em prática sua responsabilidade perante os acionistas, funcionários, demais stakeholders e a sociedade em geral se levarmos em conta que toda organização faz parte de um contexto sociocultural mais amplo, o qual determina de modo importante tanto suas atividades quanto o modo pelo qual ela se relacionará com esse ambiente sociocultural. ASHLEY et al. (2002, p. 13)

Para Ashley et al.; (2002), a responsabilidade social, do ponto de vista antropológico, é condicionada pelas culturas empresarial e nacional ou por um conjunto de mecanismos simbólicos utilizados para significar a realidade (BARBOSA, 1999; GEERTZ, 1978). Valores culturais compreendem significados e regras de interpretação da realidade e estruturas cognitivas e simbólicas que determinam o contexto no qual o ser humano, sendo sempre um ser social, pensa e age. São aqueles que imprimem sentido a tudo que se faz, às estratégias que se adotam e àquilo que gera consenso ou dissenso, seja dentro de algum grupo social, nas sociedades como um todo ou no trabalho das organizações. Portanto, as lógicas e os valores

culturais é que imprimem sentido às práticas, pensamentos e comportamentos das pessoas e empresas (ASHLEY et al., 2002)

Segundo Morgan (1996), a empresa é o resultado da produção cultural, pois se a cultura produz uma sociedade e uma empresa é uma produção de indivíduos, ela é portanto um reflexo da cultura de cada um de seus integrantes. Nesse contexto, Ashley et al. (2002) comentam que a responsabilidade social fundamenta-se a partir de valores culturais que influenciam os modos de ação e as práticas administrativas.

Assim, Srour (2000) conclui que a dimensão cultural é essencial para entender as formas que a responsabilidade social corporativa vem tomando no mundo dos negócios. De um lado, a responsabilidade social de uma empresa tem que ser pensada em relação a sua inserção em um complexo mundo social e cultural regido por valores e normas culturais comuns à sociedade; de outro, a própria noção de responsabilidade social é um valor cultural cada vez mais aceito e empregado, principalmente como conseqüência das atuais mudanças no modo como se concebe o papel social da empresa perante a sociedade.