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As duas abordagens econômicas mais discutidas que tratam de questões ambientais são a Economia Neoclássica e a Economia Ecológica.

A economia neoclássica pressupõe que o “capital natural pode ser substituído infinitamente pelo capital material (feito pelo homem)”. Nessa hipótese está inclusa a idéia de que o progresso tecnológico sempre superará os limites do crescimento impostos pelas reservas de recursos naturais. A economia neoclássica também não traz embutido em seu custo a energia e o tempo necessários para a formação e

restabelecimento dos recursos naturais, e não “trata adequadamente as questões associadas à impossibilidade de sua reposição, como por exemplo, os recursos não renováveis ou a perda de biodiversidade” (MARQUES; SKORUPA; FERRAZ, 2003, p.23). O conjunto dessas características também é conhecido através do termo “sustentabilidade fraca”.

Turner (1993 apud EKINS et al., 2003, p.168) definiu sustentabilidade forte e fraca como: (a) Sustentabilidade ambiental fraca deriva da percepção de que o bem estar não é normalmente dependente de uma forma de capital específica e pode, com algumas exceções, ser mantida pela substituição do capital natural pelo capital humano; (b) Sustentabilidade ambiental forte deriva de uma percepção diferente, de que a substituição do capital natural pelo capital humano é fortemente limitada por algumas características ambientais, como irreversibilidade, incerteza e existência de serviços indispensáveis ao bem estar da biosfera.

Segundo Victor (2005), que criticou a abordagem da sustentabilidade fraca, as possibilidades de substituição de recursos dependem de um elevado grau de fornecimento contínuo e crescente de energia barata, cuja hipótese está sendo desconsiderada por pesquisadores (CAMPBELL; LAHERRÈRE, 1998; CAMPBELL, 2006) que acreditam que a humanidade alcançou o fim do petróleo barato de fontes convencionais.

Segundo Brown (2006 pág. 15), “a mudança central, a chave para construir uma nova economia, é obrigar o mercado a mostrar a verdade ecológica. A economia global disfuncional de hoje é formada por preços de um mercado distorcido que não incorpora os custos ambientais”. Com esse objetivo a Economia Ecológica estuda a aplicação de metodologias que contabilizem as contribuições da energia do meio ambiente para os sistemas econômicos, mas poucas comparam as contribuições ambientais e econômicas numa mesma base de análise. Usualmente, questões de desenvolvimento, planejamento de políticas públicas e uso de recursos envolvem a avaliação dos impactos ambientais em relação aos ganhos econômicos, onde os impactos e benefícios são quantificados em diferentes unidades, gerando uma paralisia no processo de tomada de decisões porque nenhuma unidade comum foi utilizada para avaliar as transações entre o meio ambiente e a economia (HABERKORN, 2003).

Segundo Romeiro (2004), para a economia ecológica é fundamental a elaboração de indicadores de sustentabilidade e de sistemas de contas ambientais que fundamentem o processo de tomada de decisão em face da incerteza que caracteriza o enfrentamento

dos grandes problemas ambientais. Os primeiros, além de contribuir para o processo de conscientização ecológica, fornecem subsídios científicos para a decisão sobre a escala aceitável de uso de um recurso natural, de modo a minimizar o risco de perdas irreversíveis. Os segundos são fundamentais como fator de conscientização ecológica e para justificar a adoção de políticas ambientais, na medida em que propiciam visibilidade econômica à magnitude do passivo ambiental, na escala de uma região ou país.

As duas abordagens discutidas a seguir, mostram dois caminhos que atualmente estão sendo considerados por pesquisadores que objetivam valorar os recursos naturais e/ou obter índices que expressem a sustentabilidade de um sistema.

Abordagem monetária

Segundo Maia, Romeiro e Reydon (2004), não há um padrão universalmente aceito para classificação dos métodos de valoração existentes. Alguns procuram obter o valor do recurso diretamente sobre as preferências das pessoas, utilizando-se de mercados hipotéticos ou de bens complementares para obter a disposição a pagar (DAP) dos indivíduos, e podem ser classificados como métodos diretos (avaliação contingente, preços hedônicos e custo de viagem; ver Figura 1). Por sua vez, os denominados métodos indiretos procuram obter o valor do recurso através de uma função de produção relacionando o impacto das alterações ambientais aos produtos com preços no mercado (produtividade marginal, custos evitados, de controle, de reposição e de oportunidade).

Métodos de valoração ambiental

Métodos diretos de valoração » Obtém as preferências dos consumidores através da disposição a pagar do indivíduo para bens e serviços ambientais

Métodos indiretos de valoração » Recuperam o valor dos bens e serviços ambientais através das alterações nos preços de produtos do mercado resultantes das mudanças ambientais DAP direta » Avaliação contingente DAP indireta » Preços hedônicos » Custo de viagem Produtividade marginal » Produtividade marginal

Mercado de bens substitutos » Custos evitados

» Custos de controle » Custos de reposição » Custos de oportunidade

Cada método apresenta uma eficiência específica para determinado caso, mas a maior dificuldade de todos encontra-se na estimativa de valores não relacionados ao uso, sem utilidade atual ou futura. O método de avaliação contingente é atualmente o único capaz de obter alguma estimativa destes valores de não uso dos atributos ambientais – valores de existência, usualmente relacionados ao comportamento ético, cultural ou altruísta dos indivíduos –, baseando suas estimativas na disposição a pagar da população. Simula um mercado hipotético onde fosse possível pagar pela provisão do recurso ambiental. Alguns estudos reconhecem a validade do método para casos específicos, mas ainda há muita dúvida quanto sua real eficiência, e sua utilização continua sendo muito polêmica (MAIA; ROMEIRO; REYDON, 2004).

Embora estes métodos de valoração apresentem resultados muitas vezes divergentes, todos partem do mesmo princípio da racionalidade econômica: consideram apenas o ponto de vista do consumidor e desprezam o lado produtor, ou seja, os própios recursos naturais e seus processos. As pessoas realizam suas escolhas a partir do que observam procurando maximizar o bem-estar, mas limitadas pelas restrições orçamentárias. Não se trata de transformar um bem ambiental num produto com preço de mercado, mas sim mensurar as preferências dos indivíduos sobre as alterações em seu ambiente (PEARCE, 1993 apud MAIA; ROMEIRO; REYDON, 2004, p.3).

Abordagem física

Um índice de sustentabilidade deve inicialmente referir-se aos elementos relativos da sustentabilidade de um sistema e a explicitação de seus objetivos, sua base conceitual e seu público usuário (ROMEIRO, 2004).

Um dos aspectos críticos de um índice de sustentabilidade é a metodologia adotada, tanto para sua determinação, quanto para sua leitura e interpretação. Independente da escolha, esta deve ser clara e transparente, não deixando dúvidas sobre quais os princípios que estão na base do processo. Outro aspecto determinante em uma avaliação ambiental de um sistema, é que não existe a possibilidade de determinar sua sustentabilidade considerando apenas um indicador ou indicadores que se refiram a apenas um aspecto do sistema. A sustentabilidade é determinada por um conjunto de fatores (econômicos, sociais e ambientais), e todos devem ser contemplados no cálculo do índice de sustentabilidade através dos correspondentes indicadores (BOUNI, 1996 apud SICHE et al., 2007).

Existem diversos índices de sustentabilidade, entre eles podemos citar: Índice de degradação ambiental (JHA; BAHNU MURTHY, 2003); Barômetro da sustentabilidade (PRESCOTT-ALLEN, 1995, 1997); Pegada ecológica (WACKERNEGAL; REES, 1996); Índices de desempenho emergético (BROWN; ULGIATI, 1997); Índice de sustentabilidade ambiental (SAMUEL-JOHNSON; ESTY, 2000); Índice de desempenho Ambiental (ESTY et al., 2006). Todos esses índices são utilizados em maior ou menor escala, sendo definido pelo fato de que indicadores elaborados e utilizados apenas por alguns indivíduos sejam pesquisadores ou consultores, não podem ser equiparados àqueles que já foram assumidos por organizações internacionais de grande prestígio em assuntos ambientais. Na prática, os únicos índices de sustentabilidade que adquiriram grande visibilidade internacional são os divulgados pelo WWF (World Wide Fund for Nature) e pelo WEF (World Economic Forum): Pegada Ecológica, Índice de Desempenho Ambiental e Índice de Sustentabilidade Ambiental.

A metodologia emergética, que é utilizada na presente tese, estima os valores das energias naturais incorporadas em produtos, processos e serviços, que geralmente não são contabilizadas. Ela parte do ponto de vista do produtor, ou seja, quanto custa à própria natureza produzir um bem. Por meio de indicadores, esta abordagem desenvolve uma imagem dinâmica dos fluxos anuais dos recursos naturais e dos serviços ambientais providenciados pela natureza na geração de riqueza e o impacto das atividades antrópicas nos ecossistemas (COMAR, 1998). Os Índices de Desempenho Emergético não possuem, ainda, grande destaque nas organizações citadas acima, mas trata-se de uma ferramenta importante que consegue superar grandes limitações que os outros índices não conseguem.

Siche et al. (2008) compararam em seu trabalho três índices de sustentabilidade (ver Tabela 1): Pegada Ecológica (EF); Índice de Sustentabilidade Ambiental (ESI); Índices de Desempenho Emergético (EMPIs). Para os autores, esses índices têm sido utilizados em avaliações ambientais de diferentes escalas, por exemplo, a situação global da terra tem sido avaliada através da Pegada Ecológica (WWF, 2006) e dos índices de desempenho emergético (BROWN; ULGIATI, 1999). Estas duas ferramentas também estão sendo utilizadas para avaliar sistemas menores como países, regiões e também pequenos negócios e produtos. Por outro lado, o ESI vem sendo utilizado apenas na avaliação da sustentabilidade de países. O ESI é um índice robusto e muito laborioso de calcular, podemos até dizer que é quase impossível reproduzir seus resultados. Já a EF é mais simples, mas atrás da simplicidade aparente deste índice, existem cálculos

relativamente complexos, como por exemplo, mensurar o consumo da sociedade sob avaliação. Os autores concluem em seu trabalho que é possível dizer que os três métodos são importantes alternativas para calcular a sustentabilidade de países, mas precisam ser refinados para obter, em um contexto geral, melhores indicadores.

No Brasil existem interessantes índices de desenvolvimento elaborados através do sistema de indicadores (“dashboards”), entre eles os Indicadores de Desenvolvimento Sustentável (IBGE, 2004) e o GeoBrasil (2002). Para Veiga (2006), por mais importante que seja a construção de sistemas de indicadores, isoladamente eles terão pequena influência na governança ambiental, porque ferem pelo menos três dos princípios de Bellagio1: (a) Não garantem comunicação eficiente; (b) Dificultam ampla participação; (c) Dificilmente podem orientar visão e metas. Ainda segundo o autor, esses indicadores devem ser valorizados mas, sobretudo, como base de dados primários para a elaboração de indicadores com algum nível de agregação ou de síntese.

Tabela 1. Vantagens e limitações da Pegada Ecológica (EF), do Índice de Sustentabilidade Ambiental (ESI) e dos Índices de Desempenho Emergético (EMPIs).

Vantagens Limitações

(a) Avaliação dos níveis de sustentabilidade (ESI, EMPIs, EF);

(b) Capacidade de sintetizar a informação de caráter técnico/científico (ESI, EMSI, EF); (c) Identificação das variáveis-chave do

sistema (EMSI, EF);

(d) Facilidade de transmitir a informação (EF); (e) Bom instrumento de apoio à decisão e aos

processos de gestão ambiental (EF, EMPIs, ESI);

(f) Sublinha a existência de tendências pressagiadoras (EMPIs, EF);

(a) Subestima informação associada à sustentabilidade (EF);

(b) Dificuldades na definição de expressões matemáticas que melhor traduzem os parâmetros selecionados (ESI); (c) Perda de informação nos processos de

junção dos dados (ESI);

(d) Diferentes critérios na definição dos limites de variação (EMPIs, ESI);

(e) Complexidade nos cálculos para chegar ao índice final (ESI);

(f) Dificuldades na aplicação em determinadas áreas como o ordenamento do território e a paisagem (ESI).

Fonte: Adaptado de Gomes et al. (2000 apud SICHE et al., 2007).

Veiga (2006, p.14) conclui em seu trabalho que é impossível vislumbrar alguma forma de mensurar o desenvolvimento sustentável que tenha ampla aceitação, devido, principalmente, à incipiência dos bancos de dados primários sobre o meio ambiente e, à incipiência conceitual sobre o que realmente pode ser a sustentabilidade ambiental.

1

Em 1996, o Instituto Internacional para o Desenvolvimento Sustentável reuniu especialistas no Centro de Conferência da Fundação Rockfeller, em Bellagio, Itália, com o objetivo de estabelecer princípios destinados a orientar a avaliação do progresso rumo ao desenvolvimento sustentável.

Todavia, esclarece o autor, “estão surgindo algumas iniciativas que parecem se aproximar de tão ambicioso propósito”.

Finalmente, índices ou indicadores de sustentabilidade constituem alternativas válidas e importantes para descrever a sustentabilidade de sistemas, mas que precisam considerar seu verdadeiro significado e alcance. O mais importante é que tanto índices como indicadores de sustentabilidade já são vistos como padrões utilizados nas decisões políticas, estratégicas e empresariais dos países, sob a premissa ambiental (SICHE et al., 2007).