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5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1. DIAGNÓSTICO DOS SISTEMAS AGROPECUÁRIOS DA BACIA HIDROGRÁFICA ATRAVÉS DE INDICADORES

5.1.2. Recomendações para melhorar a sustentabilidade da bacia

Considerando valores médios do Índice de Sustentabilidade Emergético (ESI da Figura 34), é possível elaborar outro mapa (Figura 38) que identifica quatro regiões na bacia hidrográfica que demandam políticas públicas específicas para melhorar sua sustentabilidade. De acordo com Ulgiati, Bargigli e Raugei (2007), através do aumento da complexidade do sistema, assim como através do uso de co-produtos, seria possível utilizar de maneira mais eficiente os recursos disponíveis. A produção de mais de um produto, as retro-alimentações internas de massa e energia e a preservação de vegetação natural são algumas técnicas importantes de gerenciamento ecológico que melhoram a sustentabilidade do sistema. As recomendações listadas abaixo estão relacionadas a essas técnicas de gerenciamento.

(1) Serra da Mantiqueira: As áreas localizadas no Sudeste (montante) possuem elevadas declividades. Considerando uma abordagem agronômica para uso sustentável da terra, elas estão sendo incorretamente utilizadas como pastagem e para plantar café através do modelo convencional de produção, resultando em grande perda de solo. A produção agropecuária presente nessas áreas utiliza grandes quantidades de recursos não-renováveis e deveriam ser alterados, pois resultaram em baixo desempenho na transformação de energia, grande dependência de recursos da economia, grande impacto sobre o meio ambiente e baixa sustentabilidade. É necessário utilizar conceitos agroecológicos (plantação sobre sombras de árvores nativas; diversificação na produção; uso de esterco orgânico; controle biológico de pragas; cobertura morta; etc.) no manejo das plantações de café para reduzir o uso de recursos não-renováveis e

agrosilvopastoril para produzir carne, leite, produtos agrícolas e madeira sem utilizar recursos não-renováveis. As áreas com elevada declividade devem ser reflorestadas para fornecer produtos extrativos (por exemplo, mel e madeira) e produzir serviços ambientais (fornecimento de água, seqüestro de carbono e regulação climática).

Figura 38. Regiões da bacia hidrográfica dos rios Mogi-Guaçú e Pardo que demandam políticas públicas específicas.

(2) Médio Mogi Inferior, Médio Pardo e Baixo Pardo: Essa região produz basicamente cana-de-açúcar em sua maioria e silvicultura (eucalipto e pinus) em pequenas áreas. Os problemas encontrados aqui são aqueles relacionados à monocultura: perda de biodiversidade; perda da diversidade genética de algumas culturas agrícolas; problemas sociais como perda da produção agrícola familiar; expulsão de pessoas do campo para os centros urbanizados; prejuízos ambientais causados pelo uso de agroquímicos (no solo, na água e no ar); pelas queimadas na colheita da cana. A cana-de-açúcar produzida com o manejo de rotação com amendoim e/ou soja mostrou melhor desempenho emergético (mesmo que pequeno) do que sem esse manejo. Assim, é necessário aumentar os piquetes com esse manejo (hoje é realizado em apenas uma pequena

porcentagem da área total: de 2 a 10%) e, também, verificar a possibilidade de adotar o consorciamento com amendoim e/ou soja nas linhas de cana-de- açúcar, que variam de 1,0 a 1,5 metros. Leguminosas e oleaginosas poderiam ser cultivadas dessa forma para proteger o solo contra erosão, para mobilizar os nutrientes do solo e promover controle biológico de pragas. Além disso, práticas de arrendamento e meeiro devem ser incentivadas; novas técnicas (produção de álcool em micro-destilarias; agrofloresta; certificação) deveriam ser expandidas.

(3) Alto Mogi e Médio Mogi Superior: Essa região é ocupada principalmente com cana-de-açúcar e fruticultura, mas possui também silvicultura, pasto e culturas anuais em pequenas áreas. As recomendações dadas para as regiões acima também se aplicam para essa região. É muito importante introduzir o consorciamento e a rotação de culturas, principalmente para as culturas anuais. Conceitos ecológicos devem ser introduzidos na produção para todos os sistemas com o objetivo de reduzir a dependência de recursos externos, aumentar a quantidade de recursos obtidos da natureza e, como resultado, diminuir as externalidades negativas e aumentar as positivas. Esse é um trabalho muito difícil, mas necessário.

(4) Santana - Velho: Essa região plana é ocupada com pastagem, cana-de-açúcar e fruticultura. As recomendações são basicamente as mesmas que as outras regiões.

Basicamente, a agricultura sustentável deve possuir uma perspectiva sistêmica para integar mais fortemente princípios de engenharia ecológica nas práticas agrícolas (JØRGENSEN; NIELSEN, 1996). Para isso, atividades de engenharia ecológica poderiam ajudar porque investimentos apropriados em projetos ecologicamente corretos poderiam resultar em sistemas sustentáveis que fornecem uma contribuição líquida à sociedade.

Outro aspecto muito importante são as leis ambientais brasileiras que visam disciplinar a interferência do homem sobre o meio ambiente, mas é muito difícil segui-las e fiscalizá-las devido a problemas de ordem técnica. Resultados positivos estão sendo alcançados através da utilização de técnicas SIG (RIBEIRO et al., 2005).

Algumas externalidades positivas poderiam ser obtidas seguindo as leis ambientais e as recomendações dadas acima: percolação de água (maior quantidade de água da chuva infiltrada no solo); melhora da qualidade do solo; controle da erosão do solo

(diminuição do uso de fertilizantes e melhora da qualidade das águas dos rios e lagos); controle biológico (diminuição do uso de pesticidas sintéticos e, como conseqüência, redução da poluição dos recursos hídricos); aumento da flora e da fauna, melhorando os valores estéticos da paisagem e fornecendo equilíbrio ambiental; corredores ecológicos entre fragmentos de remanescentes florestais para reforçar a genética animal e vegetal; benefícios às pesquisas relacionadas à biodiversidade; etc.

Essas recomendações objetivam mudanças gerais e em grande escala para melhorar o desempenho dos índices emergéticos da bacia. É importante enfatizar que cada sistema deve ser estudado detalhadamente e separadamente para verificar suas necessidades. As mudanças nos sistemas devem proporcionar uma complexa otimização, considerando os múltiplos objetivos do produtor agrícola, englobando eficiências econômicas, sociais e ambientais. Além disso, é necessário criar um equilíbrio entre o capital financeiro, físico, humano, social e natural para encontrar a sustentabilidade.