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Análises em (dis)curso:

ÚLTIMAS PALAVRAS (POR ENQUANTO!)

Verificamos que o discurso norteador do documento oficial, visto como uma ação biopolítica, aponta para um cuidado de si que deve ser assumido pelo professor em formação, pelo professor formador e pelo professor atuante no Ensino Básico. Nesse sentido, percebemos que se quer induzir o sujeito-professor àquilo que Foucault denominou de governo de si, ou seja, cuidar melhor de si, como profissional, para cuidar melhor dos outros, os sujeitos-alunos.

Pelo que pudemos constatar por meio das análises dos documentos oficiais do corpus, no discurso que sustenta esses documentos (as DCCL e os PPC), a formação inicial – que compreende a graduação – é apenas o primeiro passo. Ou seja, a formação não termina com a colação de grau e, possivelmente, com a entrada no mercado trabalho, muito menos. Portanto, a formação inicial deve ser encarada como a primeira etapa de um processo “inacabável” de formação que deve perdurar ao longo da carreira docente e, quiçá, até mesmo ao longo da vida, porque entra em cena a formação continuada.

A formação continuada – pós-graduação lato e stricto sensu, cursos de extensão, cursos de aperfeiçoamento – já está prevista, e motivada, nos textos dos referidos documentos8. A ideia que se passa,

ou vontade verdade que norteia e fundamenta o discurso, é que a formação é contínua, ininterrupta – ela deve se configurar como uma busca constante por atualização teórico-metodológica, por parte do professor, em sua área de conhecimento e além dela, para estar sempre atualizado com os avanços das ciências da linguagem, inclusive a Linguística, e das ciências da educação. E isso requer um professor que tenha autonomia, pesquise, reflita e seja crítico e autocrítico em relação a si e ao seu fazer docente.

A imagem de um aluno/professor pesquisador, autônomo, reflexivo, crítico e autocríticoé muito recorrente nos documentos do corpus. A representação social criada pelos discursos dos documentosé a de que para ser um bom professor, competente, capaz e ser aceito no mercado de trabalho, não basta apenas ser professor no sentido estrito de dominar apenas o conteúdo de sua disciplina (no

8 Isso fica evidente na edição de 2015 das Diretrizes Curriculares Nacionais para a

Formação Inicial e Continuada em Nível Superior de Profissionais do Magistério para a Educação Básica em cuja nomenclatura aparece textualmente o termo.

143 caso de professor de Língua Portuguesa, a língua/linguagem que, muitas vezes, equivocadamente, é tomada como equivalente de ensino de gramática normativa tão somente). Professor que se quer ser inovador em sua prática pedagógica, precisa ter autonomia para ser também pesquisador, leitor reflexivo e crítico além de ser autocrítico sobre o seu próprio fazer didático-pedagógico, sobre seu objeto de ensinoe sobre o contexto histórico-social que o circunda.

Por fim, os apontamentos discursivos da governamentalidade, do biopoder/biopolítica revelam-se nas Diretrizes e nos PPC; e o cuidado de si/técnicas de si está denunciado nas orientaçõesaos alunos, e consequentemente aos professores formadores, de que eles são responsáveis por sua própria formação, pelo direcionamento dos termos muito recorrentes em todos os textos do corpus, como: autonomia, pesquisador, senso crítico-reflexivo. Em conclusão, podemos dizer os apontamentos discursivos aqui discutidos podeser assim sintetizado: “O cuidado pela sua formação é seu.”

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