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Ação anorética

No documento Diretrizes para Cessação do Tabagismo (páginas 43-46)

a seguir.

Aumento da taxa metabólica

Estudos experimentais mostram que animais submetidos ao tratamento com nicotina ou ina- lando passivamente a fumaça de cigarros não têm o mesmo desempenho quanto ao ganho de peso corporal que os controles. Uma das teorias para tentar explicar o fenômeno encontrado é a de que a nicotina age no balanço energético, pois ratos fumantes, mesmo com consumo alimentar igual ou superior, ganham menos peso corporal que os controles.(37-40) Estudos sobre os efeitos da sus-

pensão do fumo na taxa metabólica encontraram um decréscimo variando de 10% a 16% no con- sumo de oxigênio entre fumantes que deixaram de fumar. Uma das explicações para que isto ocorra seria que a nicotina ativa os centros hipotalâmi- cos e acelera a atividade simpática, o que aumen- ta o gasto energético, reduzindo o peso corpo- ral.(41,42)

Mudanças na ingestão energética

Com relação à ingestão energética, as altera- ções que o tabagismo pode provocar têm sido

objeto de muita polêmica. Em animais de labora- tório tem sido mostrado que a nicotina e a expo- sição à fumaça do cigarro levam a perda de peso com diminuição, manutenção ou aumento do con-

sumo alimentar dos mesmos.(39,43) Geralmente ocor-

re aumento da ingestão com a parada de fumar, principalmente de alimentos doces, atribuído às modificações nos níveis de substâncias regulado- ras que afetam o consumo alimentar e à compen- sação de uma necessidade psicológica daqueles

que deixam de fumar.(34)

O trabalho de Lemos-Santos et al.(44) destaca,

além das diferenças quantitativas no padrão die- tético de fumantes e não fumantes, a variação no consumo de determinados grupos de alimentos, quando se considera o tabagismo dos indivíduos. Com relação à ingestão energética, nota-se ten- dência a maior consumo calórico entre fumantes do sexo feminino, ao passo que para o sexo mas- culino o mesmo não ocorre. Não foi observada esta tendência para os ex-fumantes.

Ação anorética

Alguns trabalhos citam a ação anorética como um dos mecanismos da nicotina interferir na re- lação tabagismo e controle do peso corporal. Mos- traram que com a administração da nicotina hou- ve redução significativa do consumo alimentar, com conseqüente diminuição do ganho de peso. A seguir, com a interrupção da nicotina aumenta a ingestão energética, ficando evidente a prefe- rência por alimentos e soluções doces de alta ca- loria. Apesar dos resultados conflitantes não se pode, até o presente momento, afastar a ação ano- rética da nicotina como partícipe na dinâmica do controle do peso corporal dos indivíduos fuman- tes.(45,46)

Conclusões

Em nível individual, o sucesso da cessação do tabagismo está relacionado com o balanço entre a motivação, grau de dependência nicotínica, perfil de personalidade e a gravidade da síndrome de abstinência, tendo como base a sua carga genéti- ca. No coletivo, dentro dos programas de cessa- ção, encontra-se em destaque: pessoal técnico bem preparado para identificar as características determinantes dos diversos grupos de fumantes; infra-estrutura de apoio, segurança da continui- dade do programa e a oferta gratuita de medica- mentos.

5 "# Devemos lembrar que os indivíduos considera-

dos como fumantes leves ou moderados têm pouca motivação para abandonar o tabaco, pois acham que podem parar quando bem o quiserem. En- quanto isso, os fumantes pesados apresentam-se, também, com pouca motivação devido à falta de confiança em conseguir o intento, acham-se in- capazes e têm medo do sofrimento que a síndro- me de abstinência produz, pois já tentaram e fra- cassaram outras vezes. Reforçar a motivação desses fumantes é imprescindível; para isso devemos tra- balhar em conjunto com os familiares e amigos, no sentido de encorajá-los. A falta de motivação é uma das razões por que muitos fumantes ten- tam parar de fumar e somente pequeno percen- tual consegue.

É possível afirmar que o conhecimento sobre os fatores psicológicos e/ou psiquiátricos asso- ciados ao tabagismo são importantes para fins prá- ticos, podendo ser incorporado ao tratamento do indivíduo dependente da nicotina. Sugerimos que passem a valorizar mais as características da per- sonalidade individual como um dos fatores de- terminantes da iniciação e da manutenção da de- pendência, adequando as condutas terapêuticas específicas para cada indivíduo. Assim, todos os pacientes devem ser avaliados quanto ao perfil de personalidade e a presença ou não de algum dis- túrbio psiquiátrico associado, antes de iniciar o processo de abandono, pois a falta da nicotina poderá exacerbar os sintomas da síndrome de abs- tinência e até mesmo favorecer o aparecimento e/ou agravamento das doenças psiquiátricas. Aqueles pacientes com perfil psicológico depressivo ou com alguns sintomas mais graves, denotando doença psiquiátrica, devem ser encaminhados para trata- mento especializado antes mesmo de tentar dei- xar o tabaco.

Como na síndrome de abstinência da nicoti- na, a fome excessiva destaca-se como causa do elevado índice de recaídas na cessação do taba- gismo, é importante o controle do peso corporal no planejamento das ações a serem efetivadas. Neste sentido, já que o ganho de peso que o in- divíduo possa ter é determinante para o abando- no da dependência, é preciso que nos programas e nas ações de abandono do tabagismo este fato deva ser lembrado. Assim, sugere-se a inclusão de controle dietético rigoroso, combinado com au- mento da atividade física, iniciando antes da to- tal parada de fumar, como forma de diminuir os

altos índices de recaídas existentes por este mo- tivo.

A maioria dos fumantes que experimentou re- duzir o uso do tabaco descreve vários sintomas de abstinência, que se instala se o consumo for reduzido em apenas 50%. Quanto mais elevado o consumo maior a gravidade da síndrome, podendo os sintomas persistir por meses. Muitos pacientes referem grande sofrimento individual e familiar e pouca tolerância à síndrome de abstinência, de- vido à gravidade dos sintomas apresentados, o que dificulta sobremaneira manter-se sem o tabaco.

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Introdução

As crianças começam a fumar em resposta a influências sociais de amigos, pais e familiares fu- mantes e pela repetida exposição a mensagens para fumar na mídia. Pais fumantes não só geram mo- delo de comportamento, mas com freqüência dei- xam o cigarro disponível no lar. A publicidade do tabaco na mídia inclui gastos, nos EUA, de 10 bilhões de dólares por ano, porém ainda chega a ser mais importante o modelo de comportamento induzido por ídolos no cinema e na televisão. Uma vez que as crianças comecem a fumar, a maioria perde rapidamente a autonomia sobre o compor- tamento. Os jovens podem ser fisgados pelo ta- baco após fumar apenas alguns cigarros. Mais de 80% dos fumantes, na maioria dos países, inicia-

ram-se antes dos 18 anos.(1) O número de jovens

que se iniciam no hábito de fumar vem aumen- tando desde a última década, a despeito das res- trições impostas à publicidade do tabaco. Estu- dos de prevalência têm revelado um início cada vez mais precoce de jovens fumantes. Na Grã-Bre- tanha, em 1988, a proporção de fumantes entre 11-15 anos era de 8% e, em 1996, este percen-

tual aumentou para 13%.(2) Pode-se esperar que,

em países em desenvolvimento, este percentual seja ainda maior. Nessas áreas as populações ca- rentes vivem sob diferentes pressões, como baixa escolaridade, desemprego, pouca oportunidade de inserção social, violência, desnutrição, além de ou- tros fatores. Esse regime de estresse, comum às comunidades de baixa renda, é um estímulo ao tabagismo, seja como fuga ou como estratégia de enfrentamento. Entre os moradores de rua, o ta- bagismo pode alcançar percentuais de 90% dos indivíduos.(2)

No Brasil, pesquisa do CEBRID, em 2001, re- velou que o uso de tabaco na vida, foi de 41,1%. Para os adolescentes (12-17 anos) a taxa foi de 15,7%, o significou uma queda em relação às pes- quisas anteriores, podendo estar relacionado ao

impacto das campanhas contra o tabaco realiza- das nos últimos anos. O desejo de parar de fumar foi de 5,3% na faixa de 12-17 anos e chegou a 20,8% naqueles com idade acima de 35 anos. Esse aspecto pode estar refletindo o aumento dos prejuízos que o uso de cigarros provoca ao longo do tempo e que são percebidos pelos entrevista-

dos tardiamente.(3)

A prevalência do tabagismo em uma amostra de adolescentes escolares em Salvador - BA, foi de 9,6%, sendo maior entre os rapazes. A experi- mentação e a influência dos pais estiveram asso-

ciadas ao tabagismo nesses adolescentes.(4) Um

grupo de adolescentes é duplamente afetado pelo tabagismo. Trata-se da adolescente grávida, si- tuação cada vez mais comum nos países em de- senvolvimento, inclusive no Brasil. O tabagismo nesse grupo de jovens assume características pe- culiares, pois além dos danos a saúde para a pró- pria gestante, somam-se os efeitos deletérios para o feto, já bem conhecidos.

Um dos aspectos do tabagismo entre adoles- centes é que seus hábitos são irregulares, dife- rentemente do que ocorre com os adultos. Esse aspecto pode ser um dado favorável para iniciati- vas e estratégias de prevenção; por outro lado, muitos jovens também se deixam viciar pelo ál- cool e outras drogas. Entre os jovens as campa- nhas contra o tabaco que se ocupam apenas de informação, surtem pouco resultado. Porém, cam- panhas educacionais que orientem os adolescen- tes a resistir às pressões sociais que os levam a

fumar são mais efetivas.(2)

Existe pouca informação na literatura sobre in- tervenções para deixar de fumar nos adolescen- tes. Não existem estudos clínicos controlados nesse tema e, além disso, a bupropiona não é liberada para menores de 16 anos. Não se pode considerar que a adaptação de programas de cessação de fumo dirigidos a adultos tenham bom resultado com jovens. Por isso, nos países desenvolvidos, os

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APÍTULO

8.1

Abordagem de grupos especiais:

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