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2.2 Tutela jurisdicional civil

2.2.2 Ação civil pública

A ação civil pública é a mais utilizada para a defesa do direito ambiental, em razão de ser uma das atribuições do Ministério Público e, por isso, ter acompanhamento dos entes deste órgão.

30 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico – edição universitária. Rio de Janeiro: Forense. 1989.

Aliás, em se falando em Ministério Público, cumpre salientar que este é o titular do direito de instauração do Inquérito Civil, no qual faz investigações acerca da possibilidade de estarem sendo praticadas condutas lesivas ao meio ambiente. Tal inquérito serve para a colheita de provas acerca de eventual dano e pode ser instaurado em razão do conhecimento do ente ou de denúncia feita por qualquer pessoa (física ou jurídica) e ainda em razão de remessa de documentos por parte do judiciário. Em sendo, ao final do inquérito, juntadas provas que evidenciam a existência de lesão ou ameaça de lesão ao meio ambiente, o Ministério Público poderá propor ao agente causador do dano a firmatura de Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta (TAC) que obriga o compromitente a reparar o dano causado, bem como a evitar danos futuros; ou, em não sendo aceita tal obrigação, de forma consensual, poderá ajuizar a Ação Civil Pública. Em caso de o Promotor de Justiça não reconhecer o dano, encaminhará os autos ao Conselho Superior do Ministério Público para homologação da decisão de arquivamento do inquérito civil. Neste caso, o Conselho pode homologar ou não. Concordando com o arquivamento, será homologada a decisão e arquivado o Inquérito Civil. Não concordando com o arquivamento, o Procurador Geral de Justiça designará outro Promotor de Justiça para que ajuíze a ação civil pública.

Conforme dito, em caso de colheita de provas que remetam a existência de dano ambiental, o Ministério Público, um dos legitimados ativos para a propositura da ação civil pública ajuizará a mesma. Entretanto, se o Ministério Público entender ter provas suficientes para a propositura da ação mesmo sem a instauração de um Inquérito Civil, poderá dispensá- lo. Ou seja, o Inquérito Civil não é pré-requisito e sim uma faculdade para o Ministério Público. Nesse sentido, Oliveira (2004, p. 190) 31:

Embora se traduza em instrumento de real valia em mãos do órgão ministerial, o seu uso ou não estará na dependência da oportunidade ou conveniência da instauração. Oportunidade e conveniência colocadas em mãos do Ministério Público, único dos legitimados (art. 5º da Lei 7.437/85) a gozar da prerrogativa, mercê do seu preparo técnico e jurídico. É, pois, uma faculdade.

Além do Ministério Público, outros legitimados para a propositura de Ação Civil Pública são, de acordo com o artigo 5º da Lei 7.347/85, a Defensoria Pública; a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; a autarquia, empresa pública, fundação ou

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OLIVEIRA, Francisco Antonio de. Ação civil pública. 2. ed. rev., atual. E ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004.

sociedade de economia mista e as associações que tenham sido constituídas a mais de um ano (esse requisito pode ser dispensado pelo Juiz quando haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido) e incluam entre suas finalidades institucionais, a proteção ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.

Sobre a atuação do Ministério Público, importante lembrar que, nos casos em que não for o autor da ação, obrigatoriamente atuará como fiscal da lei. Ainda, em caso de abandono da ação por algum dos outros legitimados, o Ministério Público tem o dever de assumir a titularidade ativa da ação. E em caso de o próprio Ministério Público abandonar infundadamente a ação, qualquer dos outros legitimados assumirá o pólo ativo da demanda. Nas palavras de Mazzili (2007, p. 85) 32:

O princípio da obrigatoriedade ilumina não só a propositura como a promoção da ação civil pública pelo Ministério Público, em cada uma de suas etapas. Por isso, não poderá desistir arbitrariamente do pedido, ou deixar de assumir a promoção da ação em caso de desistência infundada de um co-legitimado, ou deixar de recorrer quando identifique violação da lei ou deixar de promover o oportuno cumprimento da sentença.

A legitimidade dos entes acima elencados é concorrente, podendo ainda, qualquer deles atuar como litisconsorte em caso de outro haver proposto a ação. Entretanto, com exceção do Ministério Público, os demais legitimados devem demonstrar o interesse processual.

No que se refere à legitimidade passiva para a Ação Civil Pública, qualquer pessoa natural ou jurídica que cause dano ao meio ambiente pode figurar como parte passiva. Nas palavras de Milaré (2005, p. 942)33: “qualquer pessoa física ou jurídica, inclusive a Administração Pública, que venha a infringir normas de direito material protetoras do meio ambiente, pode ser parte passiva da ação ambiental”.

O foro competente para o julgamento da causa será o do local do dano que terá competência funcional para o julgamento da ação. Em caso de o dano abranger mais de um

32 Ob. Cit. 33 Ob. Cit.

município a competência se dará pela prevenção. Já em caso de o dano ser regional (abranger mais de um estado-membro), a competência será da Justiça Federal.

De acordo com o artigo 3º da Lei da Ação Civil Pública (7.347/85), o objeto da ação pode ser tanto a condenação pecuniária quando a obrigação de fazer ou não fazer. Quando entre os pedidos estiver este último, pode o Juiz conceder liminar para evitar que o possível dano se estenda no decorrer do processo.

Todavia, Milaré (2005, p. 932 e ss) 34, afirma que esse objeto foi ampliado com o advento do Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90), sendo agora qualquer espécie de ação capaz de propiciar efetiva e adequada defesa ao meio ambiente.

Para exemplificar o uso dessa espécie de ação, colecionamos alguns julgados:

MEIO AMBIENTE E CONSUMIDOR. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. CAPTAÇÃO DE ÁGUA DE POÇO ARTESIANO. AUSÊNCIA DE LICENÇA OU OUTORGA DO PODER PÚBLICO. TAMPONAMENTO. CABIMENTO. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. INDENIZAÇÃO POR DANOS AMBIENTAIS E AO MERCADO DE CONSUMO. INOCORRÊNCIA DE DANO. Afigurando-se incontroversa a ausência de licença ou outorga do Poder Público para captação da água, como exige o artigo 12, II, Lei n.º 9.433/97, cabível o tamponamento do poço artesiano, mantido o prazo para tanto fixado na sentença, já que nada foi carreado aos autos para evidenciar a efetiva impossibilidade do seu atendimento. Em se tratando de debate em torno de danos ao meio ambiente e ao consumidor, viável a inversão do ônus da prova, forte no artigo 6.º, VIII, CDC e no princípio da precaução. Despropositado raciocínio quanto ao cabimento de indenização por danos ambientais e ao mercado de consumo, já que, quanto ao primeiro, mostra-se suficiente o tamponamento para estancar eventual contaminação da água, uma vez não verificada maior extensão no comprometimento da sua qualidade, e, em relação ao segundo, não evidenciada a sua efetiva utilização na fabricação dos alimentos congelados, o que não foi atestado pela vigilância sanitária. (Apelação Cível Nº 70046997573, Vigésima Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Armínio José Abreu Lima da Rosa, Julgado em 18/04/2012)

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANO AO MEIO AMBIENTE. ALAGAMENTO DE VIA PÚBLICA. LEGIMITIDADE DO MUNICÍPIO. DESCABIMENTO DO CHAMAMENTO À LIDE DO LOTEADOR. PRESCRIÇÃO. INEXISTÊNCIA. Não há omissão no julgado. A discussão estabelecida na lide diz com a legitimidade do Município de figurar em ação civil pública que visa reprimir dano ao meio ambiente. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público o dever de defendê-lo e preservá-lo, de acordo com o art. 225 do CF. Disso resulta a legitimidade do Município para responder a demanda. São requisitos

urbanísticos do Loteamento aqueles descritos no art. 4º na Lei n. 6.766/79, considerando-se equipamentos urbanos, o abastecimento de água, serviços de esgotos, energia elétrica, coletas de águas pluviais (art. 5º da Lei n. 6.766/79). Em se tratando de dano ao meio ambiente (alagamento de via pública) é meramente facultativa o chamamento ao processo do loteador porquanto a responsabilidade civil por danos ao meio ambiente é objetiva e solidária, nos termos do art. 14, § 1.º da Lei n. 6.938/81. Não há prescrição da ação civil pública porque o dano ao meio ambiente se renova dia a dia. Embargos de declaração rejeitados. (Embargos de Declaração Nº 70045965274, Vigésima Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Marco Aurélio Heinz, Julgado em 23/11/2011)

Ainda, verifica-se a possibilidade de concessão de antecipação de tutela:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO PÚBLICO. AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. VAZAMENTO DE PRODUTOS QUÍMICOS UTILIZADOS NA PRESERVAÇÃO DE MADEIRA. CONTAMINAÇÃO DO SOLO, CURSOS DÁGUA E ÁGUAS SUBTERRÂNEAS. POSSÍVEL CONTAMINAÇÃO DO RIO TAQUARI. PRODUTOS UTILIZADOS NO TRATAMENTO DE POSTES DE ILUMINAÇÃO. ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA. DECISÃO CONFIRMADA. ASTREINTE. REDUÇÃO DO VALOR. PRINCÍPIOS DA PROPORCIONALIDADE, RAZOABILIDADE E SUFICIENCIA. EXCLUSÃO DA CEEE-GT DO PÓLO PASSIVO. 1. Exclusão da CEEE-GT do pólo passivo. Considerando que o órgão do Ministério Público, ao ajuizar a Ação Civil Pública, não direcionou a lide contra a CEEE-GT, mas apenas à CEEE-D e AES SUL, dentre outros, descabe a inclusão da mesma, de ofício, pelo magistrado a quo, sobretudo quando esta não era a intenção do autor da ação. 2. Mérito. Em evidenciado iminente perigo de irreversibilidade do dano ambiental, o qual se perpetua há longa data, considerando ainda que a ação fora ajuizada em 2008 e, de lá para cá, muito embora as tratativas extrajudiciais, inclusive com pedidos de suspensão do processo, nada fora feito, não se tem mais como aguardar o final da lide para agir em defesa do meio ambiente. O processo se encontra em fase de produção de provas, especialmente a pericial, o que, sabe-se, é extremamente demorado, justamente em razão da complexidade da matéria. Muito embora não se tenha nos autos laudo atualizado da FEPAM, tal não se mostra suficiente para o indeferimento da medida. Primeiro porque eventual inércia da Fundação Estadual de Proteção do Meio Ambiente não implica no afastamento da urgência e no impedimento do agir do Poder Judiciário. Ao contrário, exige deste um olhar ainda mais atento para situações tão calamitosa e danosa como a que se apresenta. Segundo, há nos autos laudos do Batalhão Ambiental da Brigada, dando conta da contaminação da área, cujos efeitos vêm se proliferando e causando danos a cada dia mais irreversíveis, ou de difícil reversão. Laudos que vieram acompanhados de fotografias que bem retratam o abandono e a precariedade da área contaminada. Contaminação esta que não é negada pela parte demandada. Contaminação do solo, cursos dágua e águas subterrâneas por diversas substancias químicas, como metais e compostos orgânicos semi-voláteis - SVOCs. 2.1 Prazo para cumprimento. Razoabilidade dos prazos fixados, sobretudo face à urgência e o perigo iminente de irreversibilidade dos danos causados, com grande possibilidade, ainda, de existência de focos ativos de contaminação. Agir dos réus que vem sendo protelado desde o ano de 2007. 2.2 Valor da astreinte. Natureza coercitiva, e não punitiva. Visa um fazer por parte do Poder Público. Incidente, portanto, a regra do art. 461, §4º, do Código de Processo Civil. Valor adequado, haja vista a natureza do direito em discussão. Redução do valor, de R$ 10.000,00 para R$ 5.000,00 ao dia. RECURSO PROVIDO EM PARTE. (Agravo de Instrumento Nº 70046163093, Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Carlos Roberto Lofego Canibal, Julgado em 21/03/2012)

Como podemos verificar, são julgados recentes que mostram que a ação civil pública vem sendo usada para coibir a degradação dos recursos hídricos.

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