• Nenhum resultado encontrado

3 A ESCOLA ESTADUAL MARTA DA CONCEIÇÃO SITUADA NA

3.1 A Ação judicial proposta pelo Ministério Público em prol dos alunos da

O Ministério Público do Estado do Pará (MPE), através da 3ª Promotoria de Justiça Cível de Icoaraci, com atuação na Infância e Juventude, ajuizou em abril de 2013 uma Ação Civil Pública, tipo de ação com efeito mandamental com obrigação de fazer ao réu, no caso, o Governo do Estado do Pará e a Secretaria de Estado de Educação (SEDUC), para garantir reforma física, serviços de qualidade educacionais e funcionamento regular da EEEF Professora Marta da Conceição na ilha de Cotijuba, Distrito de Icoaraci, em Belém, Pará, Amazônia, com fundamento no art. 129, inciso III da Constituição Federal; art. 210, inciso I; 208, parágrafo único e art. 201, inciso V, do ECA.

Nessa ação o Ministério Público afirmou que, em outubro de 2009, o Conselho Tutelar de Outeiro, localizado no Distrito de Icoaraci, em Belém, encaminhou ao MPE uma ata da assembleia geral do Conselho escolar da Escola Estadual de Ensino Fundamental Professora

94 Paulo Freire, em Pedagogia do Oprimido, RJ: Paz e Terra.2005, p.58/59, diz que ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho, somente quando os oprimidos descobrem, nitidamente, o opressor, e se engajam na luta organizada por sua libertação, começam a crer em si mesmos, superando assim, sua convivência com o regime opressor. O diálogo crítico e libertador, a reflexão e a ação, são fases e momentos para a libertação desses oprimidos e a transformação da realidade.

Marta da Conceição, denunciando algumas irregularidades no seu funcionamento; que a citada ata apontava para a falta de professores e aula, que vinha se agravando desde 2007; professores destratados sem reposição de novos, segurança na área da escola, falta de quadra de esportes e de lazer; remoção de banheiros localizados próximos a cozinha e área de refeitório e o não-funcionamento da sala de informática, fora carteiras quebradas e condições insalubres nas salas de aula onde ficavam os alunos infantes.

Em razão disso o MPE instaurou um procedimento administrativo (PA) (cópia anexa) para apurar a falta de professores, bem como a precária estrutura física da escola. O citado procedimento foi convertido em Inquérito Civil nº 032/2011. O Promotor de Justiça que subscreveu a ação judicial, solicitou vistoria técnica na escola em 29 de novembro de 2012, realizada em 01 de fevereiro de 2013. A vistoria referida, então concluiu:

[...] que a escola possuía quatro (4) anexos naquela época; que somente tinha sido possível a visita na sede na Ilha de Cotijuba e no Centro Comunitário onde estariam estudando os alunos do anexo Tiradentes, pois o prédio da escola já estaria em reforma e os demais anexos são afastados da Ilha de Cotijuba; que a estrutura física da escola é composta por sete (7) salas de aula, uma (1) secretaria e arquivo; uma sala onde funcionam a direção e a coordenação conjuntas; uma (1) sala de informática, uma (1) sala de SAPE para alunos com necessidades especiais; três (3) depósitos, três (3) banheiros e uma (1) copa. Há um anexo que serve de sala dos professores e de apoio aos docentes que não residem na Ilha de Cotijuba. A escola funciona nos três (3) turnos e oferece à comunidade os ensinos de Educação Infantil, Fundamental I e II e Médio, nas modalidades regular e EJA. Informou, ainda, a vistoria, que a escola não estava autorizada a funcionar, pois não é reconhecida pelo Conselho Estadual de Educação do Estado do Pará, o que já teria sido solicitado no mês de dezembro de 2012, que a escola funciona com 865 alunos, 33 professores, 2 técnicos e 9 servidores de apoio; que em 2012 houve a falta de professor na disciplina língua portuguesa; que, segundo a direção, faltam servidores (2 merendeiras e 2 porteiros); que os professores existentes, com exceção dos lotados no Ensino Fundamental I, todos, possuem nível superior, mas não há programa de formação continuada; a escola não possui biblioteca e o laboratório não funciona pois nunca foi lotado um professor para ministrar aulas, desde 2009; que, quanto a estrutura curricular, foram detectadas algumas irregularidades, como a falta de carga horária para a EJA, Ensino Médio e Fundamental II (a escola está trabalhando com um número deficitário de aulas para determinadas disciplinas), contrariando a legislação educacional que prevê o mínimo de carga horária semanal e mensal, bem como o número mínimo de dias letivos a serem cumpridos; o calendário escolar não observa os 200 dias letivos; os recursos pedagógicos são insuficientes ou inexistentes, sendo também precária a prática de esportes; que há pendência nas prestações de contas de 2009, que implica na falta de verbas para a escola (as prestações de contas não são encaminhadas em tempo hábil) e que o mobiliário é precário e insuficiente.

Apesar de todas essas dificuldades, e devidamente notificado, o Estado do Pará, através da SEDUC, sem qualquer motivo plausível, ficou inerte, descumprindo preceito legal ao deixar de prever no orçamento, aprovado para exercício daquele ano de 2011, verba destinada a educação infanto-juvenil, omitindo-se de praticar atos de sua competência, o que

poderia caracterizar, em tese, ato de improbidade administrativa. Relevante frisar que a criança tem prioridade absoluta, por força do art.227 da Constituição Federal, além de que o ensino fundamental é obrigação do Estado oferecer, com base no art.205 da mesma Carta Cidadã.

Sem êxito na atuação extrajudicial, o Ministério Público, em 9 de abril de 2013 ajuizou ação civil pública, cujo processo tem número 00018947220138140201, e foi distribuído à 3a. Vara Cível Distrital de Icoaraci-PA (peças anexas), onde o Estado, como réu, deveria realizar uma reforma geral na escola com salas adequadas, bebedouros, banheiros acessíveis, além da criação de espaços com mobiliário adequado para a direção, a secretaria, o setor pedagógico e o corpo docente, a reordenação do número de alunos matriculados a fim de regularizar a situação dos mesmos no período escolar em andamento, assim como para regularizar a situação da escola no censo escolar.95

No dia 06 de setembro de 2013, o Juiz da referida 3ª Vara de Icoaraci acatou a ação do Ministério Público e determinou no prazo improrrogável até então de 60 dias que o Estado do Pará providenciasse a reforma estrutural, com o caráter de urgência do prédio onde funciona a instituição, além das condições mínimas para o atendimento educacional dos alunos matriculados, dentre eles, os alunos com deficiência. Passados sete meses da decisão, e com novas denúncias de precariedade da escola, uma inspeção pelo próprio Juiz, acompanhado pelo Ministério Público, foi realizada no dia 11 de abril de 2014, e o magistrado verificou que as decisões anteriores não haviam sido cumpridas em sua integralidade. E, em nova sentença do dia 15 de outubro de 2014, o juiz destacou que a situação encontrada na escola era estarrecedora. E resolveu determinar novo prazo de 60 dias e nova multa, agora mais alta, no valor de R$ 3.310 milhões, ao Estado do Pará para garantir o mínimo de funcionamento à escola e condições dignas aos alunos e professores. A reportagem do jornal “O Diário do Pará” esteve em 23 de novembro de 2014 na Escola Marta da Conceição, na Ilha de Cotijuba, e constatou a precariedade em que viviam os alunos e funcionários. E afirmou a reportagem que não havia o mínimo de condições estruturais e administrativas, e que a instituição abrigava 700 alunos, divididos em três turnos. Na reportagem o representante da comissão de estudantes da Escola Maria da Conceição, Alessandro Oliveira, desabafou:

95 PARÁ. Ministério Público. ICOARACI: MP ajuíza ACP contra o Estado por condições precárias em escola na

Ilha de Cotijuba. 12.04.2013. Disponível em: http://www.mppa.mp.br/index.php?action=Menu.interna&id=2182

Hoje, estudar na escola Marta da Conceição está quase impossível. E isso porque a estrutura é precária. Nós não temos material escolar, ventiladores, biblioteca, banheiro, e nem uma quadra para fazer educação física. Os estudantes aqui não têm quase nada. Nem merenda, nem água para tomar. Hoje tomamos água da torneira, porque não temos filtro. A situação é tão séria, que não temos nem diretora.96 Nos autos do referido processo judicial, o Juízo da Vara Cível de Icoaraci, distrito de Belém-Pará, emitiu liminar em 2014 para o Estado do Pará e SEDUC e a direção da escola Estadual Marta da Conceição cumprirem o seguinte:

Determino LIMINARMENTE e sem prévia justificação, com fundamentação no art. 123 e respectivos parágrafos, do Estatuto da Criança e do Adolescente, e antecipação do provimento final, consistente em, no prazo de 15 dias úteis:

a) Revisão do Projeto Político Pedagógico em sua essência;

b) Regularização da escola junto ao Conselho Estadual de Educação, nos prazos estabelecidos;

c) Cobrança da Secretaria de Educação quanto ao retorno da prestação de contas do Conselho Escolar;

d) Reeleição para o Conselho Escolar;

e) Aquisição de recursos pedagógicos e tecnológicos diversos e em número suficiente; f) Construção e implementação de biblioteca onde possa contemplar os alunos com

novas e diversificadas bibliografias; g) Capacitação docente;

h) Reforma geral da escola, segundo relatório da Técnica do CAO’s que será objeto de

outra ação civil;

i) Construção de espaço poliesportivo;

j) Criação de espaços com mobiliário adequado para direção, secretaria, setor pedagógico e corpo docente;

k) Reordenação do número de alunos matriculados a fim de regularizar a situação dos mesmos no período escolar em andamento, assim como regularizar a situação da escola no que concerne às informações de censo escolar e outros;

l) Cumprimento efetivo da estrutura curricular para os níveis de ensino praticados na escola no que diz respeito ao número de horas dispostas para cada disciplina; m) Cumprimento por parte da Secretaria Executiva de Educação da lotação docente

completa da escola e seus anexos, em todas as suas disciplinas e crga horária semanal;

n) Criação de política de incentivo ao docente lotado em zonas de carência como a Ilha de Cotijuba;

o) Concedida a LIMINAR ou com a sentença final, pleiteia-se a imposição de multa diária ao Estado do Pará, conforme o art. 11, da Lei 7.347, de de 24 de julho de 1985, equivalente a 200 (duzentos) UFIR, em caso de não cumprimento da liminar e não providenciado o repasse das verbas pecuniárias previstas no orçamento;

p) Requer a determinação de outras medidas provisórias que forem adequadas, pois há fundado receio de que o Estado do Pará, antes do julgamento da lide,cause prejuízo aos direitos da infância e juventude lesão grave e de difícil reparação (art. 798, do CPC).

Novamente, e por duas vezes notificados, e em segunda decisão judicial, provocado pelo Ministério Público, que referendava a medida judicial anterior, o Estado do Pará e

96 EDUCAÇÃO: escola estadual é visão do purgatório. Diário do Pará on line. 23.11.2014. Caderno Atualidades.

Disponível em: http://www.diarioonline.com.br/noticias -interna.php?nIdNoticia=310135&idrand=156. Acesso

SEDUC continuaram omissos às providências em relação a escola pesquisada, em prejuízo dos alunos, principalmente crianças e aquelas com deficiência, e a comunidade da ilha de Cotijuba. Foi necessário a intervenção do Tribunal de Justiça do Estado do Pará, ao final de 2014, ao compelir o Governo do Estado, sob pena de multa e ato de improbidade administrativa de seu gestor, para que se iniciasse efetivamente providências de construção, adaptação e preservação do prédio da escola, além de equipar a escola de condições mínimas e dignas para o alunado, docentes e corpo diretivo. O que foi incluído e oportunizado no orçamento e 2015 com processo licitatório para que empresa terceirizada iniciasse trabalho de reforma da escola, ao mesmo tempo que o Estado adquiriu carteiras, materiais pedagógicos, equipamentos de refrigeração e novas instalações sanitárias.

As obras efetivamente só iniciaram em agosto de 2015 quando das primeiras visitas desse pesquisador e em conclusão este ano de 2016, e ainda, sem garantia de que essas reformas abranjam os dois anexos de Urubuoca e Pedra Branca, que se encontram ainda em estado precário de conservação.

Tal fato reforça nossa tese de que o problema maior na garantia da educação dos infantes com deficiência está na política, no cumprimento das políticas públicas prescritas nas leis e programas estatais. O estado dá com uma mão, ao garantir os direitos formalmente, e retira com a outra, ao não implementá-los por ação ou omissão dos órgãos responsáveis pela execução das normas.

A educação, assim como a saúde incluem-se entre os direitos essenciais e fundamentais ao cidadão por força da Constituição Federal e dos princípios que regem os direitos humanos de segunda geração. Gilmar Mendes e Paulo Gonet Branco, ao afirmarem a educação como direito fundamental e essencial ao ser humano assim prelecionam:

Dentre os direitos sociais, o direito à educação tem assumido importância predominante para a concretização dos deveres tutelados pela Constituição e, principalmente, para a construção de patamar mínimo de dignidade para os cidadãos. [...] A necessidade de consolidar o direito à educação como direito fundamental foi bastante discutida no processo constituinte. A preocupação co m a concretização desse direito social e a busca para superar a ineficiência do modelo educacional brasileiro acabaram por dar origem ao mandado de injunção. Concebido para a proteção do direito à educação, objeto desse novo instrumento passou a

compreender ouras omissões do estado. 97

97 MENDES, Gilmar; BRANCO, Paulo Gonet. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, 2015,

Lauro Ribeiro, também reafirma esse posicionamento ao declarar que educação e a saúde são as únicas áreas sociais a receber tratamento distinto da regra geral de vedação constitucional de vinculação de receita pública (art. 167, IV e art. 218, § 5º)98. Tal argumento é reforçado por Fábio Konder Comparato e Élida Graziane Pinto que em trecho de recente artigo dizem:

Interessante aqui retomarmos a perspectiva de que o princípio geral de não afetação da receita de impostos admite a exceção aberta pelo artigo 167, inciso IV, em sua parte final, em favor da proteção aos direitos fundamentais à saúde e à educação. Em uma interpretação sistemática, depreendemos que os patamares de gasto mínimo em favor de tais direitos, de fato e de direito, já são considerados como conteúdo imutável das legislações orçamentárias, até para que se possa aferir a aventada restrição da “reserva do possível” para fazer face às demais políticas públicas. Estamos em pleno processo pedagógico e civilizatório de assegurar a saúde, a assistência e a previdência social, bem como de educar nossos cidadãos, o que não pode ser obstado ou preterido por razões controvertidas de crise fiscal. Hoje, mais do que nunca, o mínimo de vida digna passa pela garantia dos direitos fundamentais em comento. Nada há de mais prioritário nos orçamentos públicos que tal desiderato constitucional, sob pena de frustração da própria razão de ser do Estado e da pactuação social que ele encerra. 99

Importante neste diapasão, registrar o voto do Ministro Celso de Melo do Supremo Tribunal federal na Ação de descumprimento de preceito fundamental (ADPF n.45), que foi acompanhado pelos demais ministros daquele excelso Tribunal, no sentido de dar essencialidade e prioridade orçamentária e fiscal as políticas públicas da educação e saúde, principalmente em direitos prioritários como a da criança e pessoa com deficiência. Neste belo voto vencedor e paradigmático assim preleciona Celso de Melo:

Impende assinalar que a regra legal em questão - que culminou por colmatar a própria omissão normativa alegadamente descumpridora de preceito fundamental - entrou em vigor em 2003, para orientar, ainda em tempo oportuno, a elaboração da lei orçamentária anual pertinente ao exercício financeiro de 2004. Conclui-se, desse modo, que o objetivo perseguido na presente sede processual foi inteiramente alcançado com a edição da Lei nº 10.777, de 24/11/2003, promulgada com a finalidade específica de conferir efetividade à EC 29/2000, concebida para garantir,

98 RIBEIRO, Lauro Luiz Gomes. Direito Educacional: Educação Básica e Federalismo. São Paulo: Quartier

Latin, 2009.

99Comparato, Fábio Konder; Pinto, Élida Graziane. Custeio mínimo dos direitos fundamentais, sob máxima

proteção constitucional. Disponível em: http://www.conjur.com.br/2015-dez-17/custeio-minimo-direitos- fundamentais-maxima-protecao-cf. Acesso em: 04.07.2016.

em bases adequadas - e sempre em benefício da população deste País - recursos financeiros mínimos a serem necessariamente aplicados nas ações e serviços públicos de saúde. Não obstante a superveniência desse fato juridicamente relevante, capaz de fazer instaurar situação de prejudicialidade da presente arguição de descumprimento de preceito fundamental, não posso deixar de reconhecer que a ação constitucional em referência, considerado o contexto em exame, qualifica-se como instrumento idôneo e apto a viabilizar a concretização de políticas públicas, quando, previstas no texto da Carta Política, tal como sucede no caso (EC 29/2000), venham a ser descumpridas, total ou parcialmente, pelas instâncias governamentais destinatárias do comando inscrito na própria Constituição da República. Essa eminente atribuição conferida ao Supremo Tribunal Federal põe em evidência, de modo particularmente expressivo, a dimensão política da jurisdição constitucional conferida a esta Corte, que não pode demitir-se do gravíssimo encargo de tornar efetivos os direitos econômicos, sociais e culturais - que se identificam, enquanto direitos de segunda geração, com as liberdades positivas, reais ou concretas (RTJ164/158-161, Rel. Min. CELSO DE MELLO) -, sob pena de o Poder Público, por violação positiva ou negativa da Constituição, comprometer, de modo inaceitável, a integridade da própria ordem constitucional: "DESRESPEITO À CONSTITUIÇÃO - MODALIDADES DE COMPORTAMENTOS INCONSTITUCIONAIS DO PODER PÚBLICO. - O desrespeito à Constituição tanto pode ocorrer mediante ação estatal quanto mediante inércia governamental.100

Verifica-se, assim, que se não fosse o movimento da sociedade da ilha de Cotijuba, corporificado na representação ao Conselho Tutelar, que chegou ao Ministério Público e Judiciário, a escola pesquisada continuaria funcionando precariamente sem instalações físicas e de pessoais adequadas. Não que hoje esteja em ótimas condições, mas já em condições satisfatórias para o transcorrer do ano letivo, principalmente no ensino fundamental obrigatório, e para o atendimento regular dos alunos com deficiência e os demais, incluindo os docentes e corpo diretivo da escola.

Encerramos este capítulo, citando mais uma vez o jurista Lauro Ribeiro, que bem diz em seu Direito Educacional, às fls. 304:

Há um longo caminho a ser percorrido para uma melhora na educação do povo brasileiro, que passa pela priorização absoluta do ensino fundamental, tanto da criança como do jovem e do adulto, que a ele não tiveram acesso na época

apropriada – obrigatório na “sociedade educativa” preconizada por Delors -, que

significa o aprender a escrever a própria vida, conscientizar-se, permitindo que se pense o mundo sob a perspectiva de poder julgá-lo. Esta fase é a porta de entrada para uma educação universal, isto é, organizada e ampliada de maneira que seja possível ministrá-la a todos, sem distinção de qualquer ordem, eliminando-se os preconceitos e os estereótipos de qualquer natureza e, com ela, a emancipação do povo, cartão de embarque para uma verdadeira viagem democrática que terminará num mundo de paz, onde impere a solidariedade internacional , haja relações econômicas honestas e equitativas e em que o direito de fruição de uma vida digna seja privilégio de todos e não de poucos ou muito poucos. 101

100 MELO, Celso, Rel. ADPF - Políticas Públicas - Intervenção Judicial - "Reserva do Possível" (Transcrições) ADPF 45 MC/DF. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil. Brasília, 14 de julho de 1990. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069.htm. Acesso em: 04.05.2014.