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3 PROCEDIMENTO ANTERIOR DE RECONHECIMENTO DA

3.1 A ação de usucapião e sua natureza

Preliminarmente, cumpre gizar que a ação de usucapião, nada mais é do que uma ação meramente declaratória, na medida em que seu objetivo é declarar a aquisição de um direito real por usucapião. Não se adquire o bem com a ação, posto que o bem já foi adquirido pela usucapião.

Nunca é demais registrar que a ação de usucapião é uma ação para reconhecer que o autor (possuidor) é titular de qualquer direito real (enfiteuse, usufruto, propriedade, etc). Trata-se de uma ação real, que pode ser mobiliária ou imobiliária, conforme o bem usucapido.

À vista disso, segundo o disposto no Código de Processo Civil de 1973, o possuidor com posse ad usucapionem pode ajuizar ação declaratória (CC, art. 1241), regulada pelos Arts. 941 a 945 do Código de Processo Civil, sob o título de ―ação de usucapião de terras particulares‖, que será clara e precisamente individuada na inicial. Deve o autor além de expor o fundamento do pedido, juntar planta da área usucapida. A sentença que julgá-la procedente será registrada, mediante mandado, no registro de imóveis. O Ministério Público intervirá em todos os atos do processo na qualidade de custos legis.

Devem ser obrigatoriamente citados para a ação: a) aquele em cujo nome estiver registrado no imóvel; na falta desse registro, juntar-se-á certidão negativa comprobatória do

42 fato; b) os confinantes do imóvel; c) se estiverem em lugar incerto, serão citados por editais, o mesmo ocorrendo em relação a eventuais interessados. Se o autor é casado, deve intervir no feito sua mulher.

Frise-se que o espólio do possuidor tem legitimidade para propor ação de usucapião. A usucapião por condômino é possível, desde que a posse seja exercida com exclusividade sobre o bem almejado.

Por sua vez, a jurisprudência dominante tem proclamado que o valor da causa, na ação de usucapião, é o valor do bem usucapiendo. À vista disso, cumpre ressaltar que em tema de ação de usucapião é viável adotar-se como valor da causa a estimativa pecuniária de que se vale a municipalidade para o lançamento do imposto predial e territorial urbano — denominado valor venal do imóvel — uma vez que silente, a respeito, o Código de Processo Civil de 1973. A jurisprudência proveniente do E. Tribunal de Justiça do Ceará contribui para firmar esse posicionamento:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. IMPUGNAÇÃO AO VALOR DA CAUSA EM AÇÃO DE USUCAPIÃO. APLICAÇÃO ANALÓGICA DO ARTIGO 259, VII, DO CPC. CABIMENTO SE OBSERVAR O CONTEÚDO ECONÔMICO DA DEMANDA. REGRA GERAL PARA FIXAÇÃO DO VALOR DA CAUSA. PRECEDENTES. AGRAVO PROVIDO PARCIALMENTE. 1. Trata-se de agravo de instrumento para reformar decisão final de incidente processual que visa alterar o valor atribuído à demanda. 2. Em ações possessórias não cabe aplicação do artigo 259, VII, do CPC como parâmetro para fixação do valor da causa, por se tratar de regra específica para ação que discute a propriedade. 3. É cabível a utilização do valor de lançamento do imposto como valor da causa, se o objeto da prescrição aquisitiva é a nua - propriedade, sem benfeitorias. Precedentes. 4. Havendo melhorias no imóvel usucapido, o valor da causa deve se submeter à regra geral para demonstração do conteúdo econômico contido na pretensão do autor. AGRAVO PROVIDO PARCIALMENTE.(Agravo de Instrumento 7252407201080600000, Relator: Des. Francisco Auricélio Pontes, j. em: 15/04/2013 – TJCE).

A propositura da ação de usucapião, segundo alguns doutrinadores, somente é permitida a quem tem posse atual do imóvel. Se o usucapiente, depois de consumada a usucapião, sofre esbulho e perde a posse, terá que recuperá-la mediante ação publiciana, uma espécie de reivindicatória sem título, para poder ajuizar a ação de usucapião e obter uma sentença favorável, que lhe servirá de título. A sentença será de natureza meramente declaratória.

No tocante à usucapião especial parece não haver dúvida que somente o possuidor único e atual, ou seja, somente aquele que se encontra na posse do imóvel pelo prazo mínimo exigido por lei, ou seus herdeiros, podem requerer o reconhecimento da prescrição, sendo vedada a soma de posses anteriores, evitando, assim, a comercialização da posse.

43 Assevera a súmula 263 do STF: ―O possuidor deve ser citado, pessoalmente, para a ação de usucapião‖. Observa Theotonio Negrão (1993, p. 243) que ―... normalmente, só o possuidor pode ingressar com ação de usucapião; mas, se após haver preenchido todos os requisitos para a prescrição aquisitiva, perdeu a posse, também poderá mover ação de usucapião; nessa hipótese o possuidor atual deverá ser citado‖.

Em suma, a ação de usucapião, em verdade, é apenas um meio de se levar ao conhecimento dos órgãos estatais a situação de domínio sobre o bem em que se encontra o usucapiente. Esta relação de domínio sobre o bem é a que fundamenta a ação de usucapião, a qual se dá perante a sociedade inteira. O proprietário anterior, no entanto, faz parte do processo de usucapião necessariamente, pelo evidente interesse que tem no deslinde da questão.

Portanto, pode-se afirmar que, no que tange aos elementos da ação, a usucapião tem como partes o possuidor (usucapiente), no lado ativo e a sociedade, no passivo, bem como apresenta como causa de pedir a perfeição (combinação da posse mais decurso do tempo) e como pedido o reconhecimento da aquisição pela via usucapiente. Tal ação, por óbvio, tem como objeto o próprio bem usucapido.

Caminhando lado a lado com os elementos da ação, temos as condições da ação, cujo preenchimento condiciona o ingresso do juiz no exame do mérito. As condições são, análogas aos elementos da ação. Segundo o CPC de 1973, são elas: a legitimidade ad causam, a possibilidade jurídica do pedido e o interesse de agir, que serão analisadas nos tópicos a seguir. Frise-se que o Novo Código de Processo Civil as alterou, visto que não há mais referência à possibilidade jurídica do pedido como uma das condições da ação.