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3 PRÁTICA DA AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM EM UMA ESCOLA

3.7 Ações coletivas

Uma situação importante que vivenciamos foi a aplicação das avaliações elaboradas pelos professores, das quais participamos de algumas em sala de aula. Pudemos notar a evolução dos alunos ao responderem às questões elaboradas com enfoque diferente do costumeiro; percebemos mais interesse entre os alunos em escrever as respostas e, assim, aproveitar melhor seus estudos. Após entregar sua avaliação, um aluno se manifestou: “Essa foi show de bola: fácil de fazer”. A espontaneidade e a demonstração de êxito do aluno diante

do desafio indicam que, à luz daquele diferente instrumento de avaliação, a aprendizagem seria mais interessante e prazerosa.

Em um dos encontros individuais com o grupo de cada ano do Ensino Médio, foi apresentado o vídeo Avaliação da aprendizagem (LUCKESI, s/d). Ver e ouvir Luckesi falar

dos tipos de avaliações trabalhadas hoje (tradicional, formativa, somativa, diagnóstica etc.) e, após a exibição do vídeo, debater suas considerações foi de grande proveito, pois nos permitiu rever conceitos e pensamentos sobre as avaliações que elaborávamos até então.

Ressaltando a fala de Luckesi sobre a avaliação diagnóstica, o professor C

argumentou: “[...] é difícil começar a fazer esse tipo de avaliação porque tenho que seguir o cronograma da escola e, com isso, muitas vezes não dá tempo de analisar as dificuldades de cada aluno. Até que tento, mas é complicado”. Para nós, essa dificuldade pode ser superada, mas isso requer que o professor comece a exercitar esse tipo de avaliação. Se não tem prática, é fundamental pedir ajuda ao coordenador pedagógico da escola. Em equipe, pode ser mais fácil construir conhecimentos e aprendizagens sobre a elaboração de avaliações com questões contextualizadas. As reflexões posteriores foram muito úteis para os pesquisados e pesquisador; sobretudo, no que se refere à avaliação da aprendizagem, bem como a apreensão, pelos discentes, do conteúdo ministrado.

Cada encontro com a equipe durou duas horas e meia; os encontros individuais duravam aproximadamente uma hora e meia. Todos ocorreram nas dependências do colégio.

Elaboramos 20 questões abertas e de múltipla escolha, (A P ÊN D IC E 1), sobre

elaboração de avaliações, conhecimento acerca de vestibulares, vestibulares seriados e EN EM,

para identificarmos e constatarmos o acompanhamento e conhecimento que os pesquisados têm desses exames em faculdades fora da região de Uberaba. Os questionários foram respondidos em horários vagos no colégio ou nas residências dos professores. Na entrega, comentários sobre algumas respostas foram feitos pelos pesquisados; por exemplo, ao ser indagada sobre a forma como elabora o enunciado das questões de suas avaliações, a professora C

assim se pronunciou: “Acredito que estruturo certo, pois sempre trabalhei com turmas do Ensino Médio e já tenho muita prática. Os alunos também não reclamam! Só acho que as perguntas têm que cobrar conteúdo porque o vestibular não perdoa. Seleciona”. Ao se referir à maneira como se mantém atualizada quanto à sua formação continuada, ela justificou: “Só nas férias, alguns cursos. Corro de uma escola para outra e não tenho tempo para isso. Gostaria e sinto que me faz falta mas... de vez em quando recorro a algum vídeo e um bom livro sobre assuntos ligados ao professor”.

Com base nessa resposta, foi possível estabelecer uma visão geral das facilidades e dificuldades enfrentadas pela equipe quando o assunto era avaliação.

Dentre as facilidades, o professor H citou que “[...] a questão contextualizada

possibilita ao aluno associar o conteúdo ao que ele está acostumado a fazer fora da escola; a linguagem do aluno flui melhor”. O professor I completou: “[...] o aluno, ao responder

questões que anunciam uma situação-problema, fica mais concentrado e parece que entende melhor o enunciado”. Essas evidências nos depoimentos confirmam: a avaliação que possibilita aos alunos desenvolver o raciocínio lógico, associado com práticas do seu dia-a- dia, parece seduzi-los mais.

Dentre as dificuldades, uma se evidenciou: a falta de tempo dos profissionais para elaborarem a avaliação com questões contextualizadas. O professor A argumentou: “[...]

durante as aulas, as atividades não são elaboradas dessa forma e, mesmo reconhecendo o ganho desse tipo de avaliação, tenho tido dificuldade para conciliar fatores como tempo e hábito de não saber montar questões contextualizadas”. Esse depoimento traduz o estágio de angústia por que passa tal professor: quer fazer, mas não sabe como nem dispõe de tempo para fazer. Como ele, há muitos profissionais que reconhecem suas limitações para elaborar uma avaliação nesses moldes.

A equipe se mostrou interessada em colaborar com esta pesquisa, pois suas conclusões foram devidamente socializadas entre os participantes, cujo compromisso com a educação nos mantiveram abertos a novas informações e discussões interativas. Esses professores são profissionais qualificados que, apesar das dificuldades inerentes à sala de aula e da faixa etária dos educandos, acreditaram na capacidade e no potencial de seus alunos e se dedicaram, de forma bem-humorada e prazerosa, ao seu trabalho, seguros de que os conteúdos por eles ministrados eram imprescindíveis à construção do conhecimento de seus alunos, bem como para a formação de cidadãos éticos e compromissados com as transformações sociais, a fim de melhorar as condições de vida de todos. Acima de tudo, acreditaram no diálogo e na troca constante de experiências profissionais, cientes de que esta pesquisa dialógica foi a oportunidade para se repensar o processo de avaliação em nossa escola e se buscar práticas que visem à evolução constante do processo ensino–aprendizagem.

Esse desejo e compromisso dos professores remetem a uma reflexão: desde algum tempo, as instituições de formação docente têm deixado a desejar quanto à formação do professor para atuar em sala de aula, seja na teoria abordada, sempre separada da prática, seja nos estágios, em geral, no fim dos cursos de formação inicial. O resultado era, após se formarem, a sensação de despreparo para trabalhar numa escola, de que nada aprenderam na

faculdade. Preocupavam-se muito com planos de cursos e de aula, conteúdo disciplinar. Como conjunto de recursos, métodos e experiências de êxito nas práticas pedagógicas, a didática ou ficava preterida, ou deixava a desejar. Surgiram modismos, que substituíram a didática estudada em licenciaturas. Assim, quando o professor se depara com alunos com dificuldade de aprendizagem — verificada através de avaliação, trabalho ou atividade em sala de aula —, costuma ter dificuldade em explorar recursos que os ajudem a melhorar a aprendizagem.

Como foi dito, os dados mostram incongruências no processo. Por exemplo: além da formação para uma vida cidadã, os pais querem que a escola lhes atenda, isto é, que o ensino de seus filhos lhes possibilite ser aprovados no vestibular; os alunos demonstram ter mais facilidade em construir e reelaborar conhecimentos mediante instrumentos de avaliação mais interativos, no entanto, há professores que necessitam aperfeiçoar a forma de trabalhar esse tipo de avaliação, isto é, professores que reconhecem ter dificuldade em elaborar questões que mesclem contextualização e práticas sociais; e, por fim, há o fator tempo disponível – muitos docentes não têm disponibilidade para se submeter a cursos de formação continuada. Essas incongruências repercutem no encaminhamento da proposta pedagógica da escola, às vezes de modo a desestabilizar suas práticas usuais e atropelar o processo ensino–aprendizagem.

Por outro lado, há congruências: “o fio da meada”. O interesse dos professores, o investimento requerido, o talento para, às vezes pela intuição, dar solução a situações complexas na sala de aula, sobretudo a persistência e dedicação às ações educativas na escola.

Como mudar esse quadro? É possível colocar a avaliação a serviço da transformação? Avaliação como momento de aprendizagem, que associe formação para a vida com preparação para o vestibular? Acreditamos que não só é possível, como também urgente, mudar esse quadro. Para tanto, é preciso investir na formação dos professores.

A seguir apresentamos, em gráficos, os resultados desta pesquisa, na qual buscamos, ao lado de uma equipe de professores, estabelecer um processo de elaboração de avaliações cujos enunciados fossem contextualizados, ao máximo.