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1. INTRODUÇÃO

1.7. MEDIDAS DE VIGILÂNCIA, PREVENÇÃO E CONTROLE DA RAIVA

1.7.3. AÇÕES DE CONTROLE

Pela primeira vez na história, a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Organização Mundial da Saúde Animal (OIE), a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e a Aliança Global para o Controle da Raiva (GARC) assumiram o compromisso de somar esforços e prestar suporte a diversos países, principalmente nos continentes africano e asiático, com o objetivo de eliminar mundialmente até 2030 a raiva humana transmitida por cães. Para lograr êxito, o foco das ações será direcionado para a vacinação massiva de cães e ações de educação e comunicação que sensibilizem as populações locais e os respectivos serviços de saúde em relação à prevenção da raiva, tais como prevenir mordeduras, procurar assistência médica em situações de exposição de risco ao vírus e realizar o manejo populacional dos cães, entre outras.46

As campanhas de vacinação em massa atingindo coberturas vacinais de 70% da população canina conduzem à perspectiva de controle da raiva animal e, consequentemente, humana.25

Nos países em que se obteve êxito no controle da raiva transmitida por cães, são desenvolvidas ações adicionais em relação à raiva em seu ciclo silvestre, terrestre e aéreo (morcegos). As mesmas têm sido pautadas em estratégias de abordagem multifatoriais que englobam: vigilância laboratorial de animais mamíferos que se enquadram nos critérios de vigilância para raiva (agressores, sintomatologia neurológica, alterações comportamentais, óbito a esclarecer, etc.) e tipificação das variantes virais; restrições e monitoramento sob o trânsito e importação de animais; condutas profiláticas e monitoramento de cães e gatos que tiveram contato com um animal potencialmente transmissor de raiva ou positivo; ações de educação e conscientização sobre a raiva, principalmente em seu ciclo silvestre e de posse responsável de cães e gatos.3,34,47,48. A vacinação de animais silvestres através da vacina antirrábica oral também tem sido uma estratégia de ação adotada em países do oeste Europeu, nos Estados Unidos e no Canadá.26,28

No Brasil, o Programa Nacional de Profilaxia da Raiva (PNPR), criado em 1973, implantou entre outras ações a vacinação antirrábica canina e felina em todo o território nacional. As ações de campanhas de vacinação antirrábica em massa resultaram na interrupção da circulação das variantes caninas 1 e 2 do vírus da raiva (AgV1 e AgV2), típicas de cães e consideradas de maior potencial de disseminação entres cães e gatos nas áreas urbanas.37

Diante deste contexto epidemiológico, o Manual de Vigilância, Prevenção e Controle de Zoonoses do Ministério da Saúde preconiza, em todo o território nacional, independentemente da variante do vírus rábico ocorrente, as seguintes ações de vigilância e prevenção da raiva: envio de amostras para diagnóstico laboratorial de cérebros de cães, morcegos e outros animais pertinentes quanto ao risco epidemiológico; determinação de áreas de riscos; manutenção de ações entre os setores da Saúde, Agricultura e Meio Ambiente e ações educativas com a divulgação de medidas de prevenção à população.34

A Nota Técnica do Ministério da Saúde para o controle da raiva transmitida por morcegos em áreas urbanas também preconiza ações de educação e comunicação junto à população sobre os morcegos e a raiva, bem como a vacinação e monitoramento de cães e gatos contactantes de quirópteros.47

1.7.3.1.O PROGRAMA DE VIGILÂNCIA, CONTROLE E PREVENÇÃO DA RAIVA NO MUNICÍPIO DE

CAMPINAS

No município de Campinas, em 1972, foi criado o Serviço Médico Veterinário Municipal (SMV) por meio do desmembramento da antiga Divisão de Alimentação Pública. Esse serviço tinha por atribuições as ações de controle da raiva, doença que grassava na época, com ocorrências de casos na população humana e de animais.49 Com a criação deste serviço, no mesmo ano se iniciaram as campanhas de vacinação antirrábica animal e, em 1981, o município de Campinas registrou seu último caso autóctone de raiva humana.50 Já a esta época, se realizava através desse serviço a coleta e o envio de amostras de cães e gatos ao Instituto Pasteur para análise de raiva.

A partir da década de 1980, o SMV passa a ser denominado Centro de Controle de Zoonoses (CCZ). Em 2014, em consonância com as diretrizes da portaria nº 1.138 do Ministério da Saúde sobre as ações e os serviços de saúde voltados para vigilância, prevenção e controle de zoonoses,21 o CCZ de Campinas é reestruturado a Unidade de Vigilância de Zoonoses.49

Além do recolhimento, coleta e envio para análise da raiva do sistema nervoso central de cães e gatos agressores que morreram durante o período de observação de dez dias ou que se enquadrem nos demais critérios para vigilância

da raiva, o munícipio possui um serviço estruturado para o recolhimento e envio para análise de morcegos reportados pelos munícipes em situação atípica (vigilância passiva) desde 1994,50 o qual é exercido em consonância com a Nota Técnica do Ministério da Saúde para o controle da raiva transmitida por morcegos em áreas urbanas.47 Quanto ao envio de amostras de herbívoros domésticos de produção, o fluxo de rotina de envio é através da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo, por meio dos escritórios de defesas agropecuárias.

Outras ações do escopo do programa de vigilância, prevenção e controle da raiva no munícipio desenvolvidas pela UVZ incluem: a investigação epidemiológica realizada em todos os atendimentos de solicitações referentes a morcegos pelos munícipes para a identificação de pessoas, cães ou gatos expostos a esses animais e adoção das medidas de prevenção da raiva preconizadas pelo Ministério da Saúde, ou seja, o encaminhamento das pessoas expostas aos serviços de saúde e a vacinação seguida do monitoramento de cães e gatos contactantes;34 a articulação para o recolhimento ao canil municipal bem como o monitoramento durante o período de dez dias de cães e gatos agressores errantes; ações educativas e de conscientização, em conjunto com as equipes das vigilâncias em saúde regionais e dos centros de saúde, para prevenção de acidentes com morcegos, principalmente diante de casos positivos de raiva, além da coordenação municipal da campanha anual de vacinação de cães e gatos contra a raiva, a qual é realizada pelas equipes dos centros de saúde em seus territórios sob a coordenação local da vigilância em saúde regional de referência.

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