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Capítulo IV – A Teoria das Representações Sociais:

Classe 2 Ações distintas para

classes diferentes Industri Segmento Residenci Comerci Concorda

1 – Diretrizes para as ações de eficiência energética: - combate ao desperdício - divulgação 2 – Sobre as ações de eficiência energética em unidades consumidoras: -Concorda porque traz vantagens para a empresa - Concorda para os segmentos residencial, comercial e industrial 3 – Sobre não orientar o

cliente:

- Discorda; só concorda se for para super contratação de suprimento e retorno de investimento

Síntese:

- Preocupação com a saúde financeira da empresa; - Concorda/discorda de

acordo com os segmentos de clientes.

122 22,93%

Classe 3 Interface entre as áreas de eficiência energética e comercialização Área Isto Prejudica Atividade Produtiva 1 – Ligação entre as áreas: - Não prejudica a produtividade, mas as relações precisam melhorar Síntese: Relacionamento entre as áreas de eficiência energética e comercialização e a necessidade de melhorar 2 201 37,78%

O dendograma põe em evidência as associações e as dissociações significativas entre as classes de uma mensagem, mostrando a organização simbólica do pensamento dos indivíduos sobre o tema. O grau de aproximação entre as classes varia de 1 a 0; quanto mais próximo de 1, maior a aproximação entre as classes; e quanto mais próximo de 0, maior o afastamento entre elas.

Nesta pesquisa as associações mais significativas são entre as classes 1 e 4, significando que os discurso dos indivíduos de ambas têm pontos em comum. No dendograma as classes 1 e 4 estão mais próximas e ligadas de tal forma que há um espaço comum, onde os vocabulários da classe 4 interpenetram na classe 1. Os afastamentos mais relevantes são entre as classes 1 e 3; como mostrado graficamente, o que evidencia maneiras de pensar bastante distintas.

O dendrograma e a figura 6.8 mostram que não há um antagonismo semântico entre as classes; pelo contrário, observa-se que estão embricadas, são interdependentes. Todas manifestam representações sociais que são a favor da eficiência energética na empresa, porém com graus e argumentos diferentes.

Cada classe é um núcleo de sentido, que compõe um conjunto peculiar de pensamentos, representações, valores e atitudes sobre o objeto de estudo. Cada uma significa uma representação social sobre o tema conservação de energia elétrica.

Os sujeitos da classe 1 são, em sua maioria, de nível superior, e trabalham na área de eficiência energética. O discurso é totalmente favorável às ações de eficiência energética e ao papel que cabe à concessionária, no sentido de orientar o cliente para o uso racional de energia. Em síntese, a representação social desse grupo compreende a idéia central de que eficiência energética traz vantagens para ambos – concessionária e consumidor. Essa representação inclui também a preocupação com a manutenção de um

bom relacionamento entre a concessionária e os clientes, e defende a necessidade de integração de esforços entre as áreas de eficiência energética e comercialização.

Os sujeitos da classe 4, formada pelo grupo de engenheiros, apóiam-se no conhecimento tecnológico que possuem, para realçar a necessidade de atendimento ao cliente com qualidade técnica, e a busca por resultados financeiros positivos para a concessionária. Assim como os pertencentes à classe 1 , seu discurso é favorável à eficiência energética. Esse discurso configura uma segunda representação social sobre a conservação de energia.

Os discursos das classes 1 e 4 propagam o uso racional de energia, havendo uma inserção de sujeitos e palavras pertencentes à classe 4, na classe 1. Embora ambas as classes partilhem da mesma opinião, observa-se uma diferenciação na argumentação sobre o uso racional de energia elétrica. Assim, a classe 1 enfatiza os aspectos relativos a responsabilidade social da empresa em relação aos clientes e à conservação do meio ambiente, e assinala as conseqüências positivas para ambas as partes. A classe 4 realça os aspectos técnicos, mostrando que uso racional de energia significa uso correto dos equipamentos, bem como o fornecimento de energia com qualidade. Isto levará a resultados positivos para a empresa. Ambas as classes partilham do posicionamento que as áreas de eficiência energética e comercialização têm função complementar e necessitam de maior integração, bem como da preocupação em oferecer o melhor produto para o cliente.

A classe 2 aproxima-se das duas anteriores, na medida em que apóia a eficiência energética, mas desde que as ações sejam apropriadas a cada segmento de clientes. Acredita que as diretrizes da concessionária sejam pró-eficientização energética. Sendo uma classe composta por empregados de cargos administrativos da área de comercialização, mais familiarizados com as características de cada segmento de cliente, seu foco de preocupação é tratar de forma diferenciada cada um deles, atendendo suas

necessidades específicas. Entretanto, prevalece na essência uma preocupação com a saúde financeira da empresa. Como exemplo, argumentam que discordam da falta de orientação ao cliente, com a ressalva de que é necessário para a empresa em algumas circunstâncias. A idéia central dessa representação social é a de que a eficiência energética requer ações diferentes para classes distintas de clientes. Um ponto em comum entre as classes 1, 2 e 4 é o argumento sobre a importância de relacionar-se de uma forma satisfatória com os clientes, orientando-os sobre o uso racional de energia elétrica.

A classe 3 distancia-se mais das anteriores, pois sua representação está voltada para as relações entre as áreas da organização, mostrando que a falta de interação entre elas é prejudicial à empresa e aos empregados. Seus integrantes constatam que há um relacionamento insatisfatório entre as áreas de comercialização e de eficiência energética. A comunicação entre elas é quase nula. Em conseqüência, isto impossibilita uma atuação mais integrada e com maior consistência entre essas duas unidades organizacionais. Não rejeitam a função eficiência energética; pelo contrário, advogam maior entrosamento entre ambas, em benefício dos clientes.

Outra representação gráfica processada pelo Alceste compreende a intersecção entre dois eixos, formando quadrantes, nos quais estão dispostas as palavras e sujeitos de cada classe e como essas classes estão relacionadas. São as mesmas unidades de sentido, mas colocadas de uma forma espacial, que facilita a compreensão das interfaces e dos afastamentos entre elas.

6.2.2 – Discussão dos resultados do Alceste:

A análise de conteúdo das respostas aos questionários mostrou a formação de quatro grupamentos de representações em torno do tema conservação de energia elétrica. Essas representações foram engendradas na prática de trabalho desses profissionais, ao compartilharem experiências e conhecimentos, que resultaram num saber diferenciado do conhecimento científico formal.

O homem não vive num vazio social (Jodelet, 2001); experimenta o mundo com os outros seres humanos, numa dinâmica de influência mútua, interpretando e representando o meio que o rodeia. As representações apreendidas no grupo estudado constituem um saber do senso comum, que organiza as idéias, opiniões, imagens, valores e atitudes sobre um fato social e interferem nas ações e julgamentos profissionais dos sujeitos pesquisados. Propiciam uma leitura particular da realidade eficiência energética x comercialização e ajudam na adaptação do empregado ao seu ambiente social e profissional; “as representações individuais ou sociais fazem com que o mundo seja o que pensamos que ele é ou deve ser”(Moscovici, 1978: p.59). São tão importantes quanto o saber científico, e tornam-se úteis nas interações sociais, pois propiciam o sentimento de pertencimento a um grupo social.

Nesta pesquisa, embora exibindo níveis de escolaridade e formações profissionais diferenciados, os sujeitos da amostra demonstraram que compartilham um saber do senso comum relativo à eficiência energética. Os engenheiros possuem o conhecimento científico, o qual é re-significado pela práxis diária e no contato com profissionais de outras formações. Os engenheiros, administradores, economistas e eletrotécnicos juntam o saber oriundo de suas profissões, o que resulta numa nova compreensão do objeto. Nem todos têm as mesmas informações sobre o objeto e focalizam diferentes aspectos em

função de seus interesses e experiências, o que concorre para a emergência de múltiplas representações. Jodelet (2001) mostrou a importância da comunicação, que fornece as condições que afetam o cognitivo e possibilita a formação das representações e do pensamento social, com a dispersão e a defasagem de informações sobre o objeto representado. O conceito de representações sociais proposto por Abric (2001) retrata bem esse processo, como se segue:

“Representação social é um conjunto organizado de opiniões, atitudes, de crenças e de informações referentes a um objeto ou uma situação. É determinada ao mesmo tempo pelo próprio sujeito (sua história, sua vivência), pelo sistema social no qual está inserido e pela natureza dos vínculos que mantém com esse sistema social” (p.156).

Como observado anteriormente na análise dos resultados desta pesquisa processados pelo SPSS, os dados gerados pelo Alceste também revelaram os dois processos atuam para a formação das representações sociais: a objetivação e a ancoragem (Moscovici, 1978)

Adotando uma linha de raciocínio equivalente à usada por Palmonari,A.e Zani, B (2001), em sua pesquisa sobre as representações sociais dos psicólogos, pode-se observar que o material discursivo dos eletricitários pesquisados gira em torno de elementos que aparentemente se opõem: empresa x cliente, lucro x responsabilidade social, foco na organização x foco no mercado. Esses elementos constituem as estruturas em torno das quais se organizarão as representações sociais, formando uma “esquematização estruturante”, que ajuda a objetivar os conceitos até então abstratos, materializando-os. Inicialmente o conceito de conservação de energia elétrica é abstrato, porém é associado a palavras que vão lhe fornecer uma concretude, e assim vão se produzindo as representações. Os resultados do Alceste revelaram quatro classes de representações sociais sobre a conservação de energia elétrica, objetivadas pelo pensamento focado no

cliente e/ou na empresa, nas ações de eficiência energética específicas para cada segmento de cliente, e nas condições internas necessárias para concretização das mesmas. O SPSS mostrou que a objetivação que origina essas classes se dá em torno das palavras ecologia, empresa e cliente. Os dois grupos pesquisados tentam relacionar esses núcleos de forma a romper com o status inicial de conceitos abstratos que apresentam num primeiro momento. Transformam tais idéias no contexto social e histórico em que interatuam, em representações materiais que servem de base às tomadas de decisões e ao desempenho profissional e pessoal dentro da empresa.

Os respondentes da área de eficiência energética e que não eram engenheiros (classe1) alicerçavam-se em argumentos generalistas e ideológicos, como responsabilidade social e ecológica, que lhe são mais familiares. Os engenheiros (classe4) faziam a ancoragem em aspectos tecnológicos e de gestão, mais afetos ao campo da engenharia elétrica. A classe dos ocupantes de cargos administrativos de nível médio (classe 2) apoiava-se na vivência com os clientes, pois seu trabalho é na área comercial. A ancoragem da classe 3 é no relacionamento funcional entre as duas áreas (comercial e eficiência energética), que de certa maneira justifica o pouco conhecimento que têm das ações da empresa sobre o assunto. Certamente esses resultados mostram como se realiza o processo de ancoragem, como os atores tornam o objeto desconhecido em conhecido, transformando-o em familiar e integrando-o aos existentes.

A representação gráfica das classes tanto no dendograma quanto a representação das relações entre as classes em um plano fatorial – análise fatorial de correspondência (AFC), torna visível que as representações sociais que emergiram não são excludentes. Elas partilham uma interface, que as torna interdependentes. As diferenças observadas podem ser creditadas às ancoragens diversas realizadas pelos grupos. Como exemplo, verificou-se que os respondentes de nível médio da área comercial mostravam maior

empatia com as necessidades dos clientes; como também, as argumentações dos grupos da eficiência energética apoiavam-se significativamente na ecologia e na responsabilidade social da concessionária.

O gráfico mostra também que algumas palavras perpassam as quatro classes e agrupam-se em torno do centro do gráfico AFC, no ponto de intersecção entre os eixos vertical e horizontal. As palavras mencionadas são: social, bem, além, conscientiza, também, questão, futuro, ter, toda, outro e pode. Essas palavras suscitam a idéia da energia elétrica vista como um bem, e a responsabilidade social da concessionária na conscientização para o uso racional, para evitar faltar no futuro. Esse resultado confirma as conclusões da pesquisa efetuada por Rossi (2002) sobre as representações sociais da população do Distrito Federal, cujo núcleo central representado foi a essencialidade da energia elétrica e sua importância para a vida das pessoas.

6.3 –Comparação dos resultados do SPSS e Alceste: Tabela 6.11: As análises do Alceste e SPSS

Alceste

Classe 1: Vantagens da eficiência energética para a empresa e o cliente;

Síntese: preocupação com as necessidades básicas do cliente, mas sem perder de vista os aspectos positivos para a empresa; preocupação com a melhoria do relacionamento cliente x empresas.

SPSS

- Grupos de comercialização: em sua residência a orientação dada aos

membros da família sobre o consumo de energia elétrica é..usar de forma inteligente e adequada os equipamentos elétricos

- Grupos de eficiência energética: não apresentou uma tendência

dominante

- Grupos de comercialização: se a empresa deve orientar aos clientes

sobre como evitar o desperdício no consumo de energia elétrica e porque: vantagem da orientação para equilibrar o mercado, e para preservar o meio ambiente

- Grupos de eficiência energética: se a empresa vende energia ao cliente,

deve orientar sobre o bom uso; uma das causas da inadimplência é o uso desordenado da energia elétrica; e também a orientação para preservar o meio ambiente.

- Grupos de comercialização: para a concessionária, as ações de

eficiência energética significam. redução de investimentos e a melhoria no relacionamento com cliente.

- Grupos de eficiência energética: não apresentou uma tendência

marcante

- Grupos de comercialização: sobre a ligação entre as áreas de produção

e/ou comercialização e eficiência energética, considerou nula.

- Grupos de eficiência energética: considerou nula.

Classe 4: Qualidade técnica e bom financeiramente para a empresa e o cliente;

Síntese: As duas áreas se complementam, sendo bom para a empresa e os clientes.

- Grupos de comercialização: uso racional de energia é o uso de forma

inteligente, sem desperdícios.

- Grupos de eficiência energética: o uso de forma inteligente, sem

desperdícios; preservação do meio ambiente; e forma de evitar o desperdício para não faltar energia.

- Grupos de comercialização: comercialização na empresa: um negócio

com foco no mercado

- Grupos de eficiência energética: distribuem-se em todas as alternativas,

sem um predomínio

- Grupos de comercialização: o fato das funções de eficiência energética

e comercialização coexistirem na empresa representa .um negócio para a empresa e complementaridade de atitudes, com o objetivo de expandir o mercado consumidor

- Grupos de eficiência energética: pode haver posições conflitantes

cliente.

- Grupos de comercialização: eficiência energética é fonte de fidelização

do cliente; é um negócio; responsabilidade da empresa para evitar o desperdício e racionamento futuro; e uso eficiente que atenda ao maior número de consumidores

- Grupos de eficiência energética: não há diferenças significativas. Classe 2: Ações distintas para

classes distintas;

Preocupação com a saúde financeira da empresa; concorda/discorda de acordo com acordo com os segmentos de clientes.

- Grupos de comercialização: as diretrizes atuais para ações de eficiência

energética são realização de planejamentos específicos e atendimento às metas de responsabilidade social.

- Grupos de eficiência energética: atendimento às exigências legais junto

à ANEEL.

- Grupos de comercialização: sobre uma possível iniciativa da

concessionária em executar ações de eficiência energética em unidades consumidoras.demonstram maior concordância com a eficientização em todos os segmentos de consumidores.

- Grupos de eficiência energética: os grupos foram favoráveis às ações

em todos os segmentos das unidades consumidoras

- Grupos de comercialização: as justificativas para executar ações de

eficiência energética em unidades consumidoras são responsabilidade da concessionária para com os clientes e um negócio que traz retorno financeiro para a empresa.

- Grupos de eficiência energética: responsabilidade com os clientes.

- Grupos de comercialização: os motivos para a concessionária não

orientar o cliente são: não há motivos, a não ser se ocorrer uma eventualidade em que a situação financeira da concessionária esteja em déficit, ou uma visão mercadológica equivocada, significando consumir mais e vender mais.

- Grupos de eficiência energética: não há uma tendência dominante nos

grupos de eficiência energética. Classe 3: Interface entre as

áreas de eficiência energética

e comercialização; relacionamento entre as áreas

e a necessidade de melhorar.

- Grupos de comercialização: comparando as ações de eficiência

energética e comercialização, há uma desarticulação das ações entre as áreas e necessidade de melhoria .

- Grupos de eficiência energética: há uma desarticulação das ações entre

as áreas.

A escolha dos programas eletrônicos SPSS e Alceste para o processamento dos resultados da pesquisa enriqueceu o trabalho, pois enquanto o primeiro mostra a

apontando as escolhas efetuadas pelos estratos da amostra, a análise do Alceste permite uma compreensão mais clara das representações sociais que emergiram.

Os resultados complementares de ambos permitiram alcançar os objetivos geral e específicos da investigação, base para a verificação da hipótese proposta. Assim, mostram que não há contradição entre as representações sociais dos eletricitários sobre a conservação de energia elétrica.

O SPSS evidenciou que os eletricitários da concessionária engendraram representações favoráveis às ações de orientação aos clientes, mas sempre buscando equilibrar as vantagens para os clientes e a concessionária. O Alceste revelou as quatro matrizes de sentido, que correspondem às representações sociais elaboradas pelos pesquisados, mostrando que são interdependentes e todas vêem de forma positiva a conservação de energia.

Da mesma forma, houve uma concordância nos resultados apontados pelos dois instrumentos de análise, em relação às representações sociais dos grupos de eficiência energética e da comercialização. Não há diferenças significativas entre os dois grandes grupos de pesquisados, apenas uma variação nas argumentações, o que mostra o processo de ancoragem específico para cada estrato. Exemplificando, o grupo da eficiência energética ampliou essa visão, com as preocupações ecológicas, que extrapolam a especificidade do setor elétrico.

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