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3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.6. As Perdas Reais e Aparentes nos Sistemas de Distribuição de Água

3.6.2. Ações para redução das perdas

As principais medidas para a redução das perdas reais de água no sistema de abastecimento público são descritas por Conejo et al. (1999) como sendo destinadas a reduções de pressão na rede, substituição e recuperação de redes, pesquisas de vazamentos e melhorias operacionais. Redes que apresentam altos índices de pressão tendem a apresentar elevação nos volumes perdidos de água, pois quanto maior a pressão no sistema, maiores as rupturas e vazamentos (ALVES et al., 1999). Duas alternativas são fundamentais para que se diminuam as perdas derivadas de altas pressões: pode-se delimitar áreas específicas de distribuição, por meio da setorização de distribuição, que podem ser obtidas por meio da construção de reservatórios menores que destinam águas a pontos específicos da cidade; outra alternativa é o uso de equipamentos redutores de pressão, como as caixas de quebra pressão10 e válvulas redutoras de pressão.

Cidades mais antigas, com sistemas de abastecimento de água também antigos, apresentam maiores índices de perdas por vazamentos. Este fato está ligado às condições físicas das tubulações de ferro que apresentam sérios problemas de deterioração. Além disso, outro revés enfrentado são os entupimentos e incrustações nas adutoras e redes de distribuição, o que de fato remete também ao aumento da pressão em pontos específicos dos encanamentos, favorecendo rupturas e trincas. Nesses casos, a limpeza da rede e a troca das tubulações por novas mais eficientes são medidas viáveis de diminuir os desperdícios. Esse procedimento, apesar de indicativo para melhoria do sistema apresenta altos custos, além de prejudicar a distribuição de água para a

10 Caixa de Quebra de Pressão - Caixa destinada a evitar uma pressão excessiva nas colunas de

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população no decorrer da obra, e muitas vezes não é visto com apreço pelas concessionárias e setores municipais. Nesse entendimento, outras medidas devem ser discutidas para o melhor equilíbrio correção/atendimento.

Outra alternativa é o controle das perdas reais por meio de correções em pontos de maior concentração de perdas. Isto apresenta dificuldades, pois as pesquisas e monitoramentos devem ser realizados em toda rede, a fim de identificar as possibilidades de correções. A macro e a micromedição11 tornam-se grandes aliadas na identificação das perdas no sistema como um todo e possibilitam verificar as reais magnitudes de perdas físicas, o que favorece a indução de medidas corretivas pelas empresas (Alves et al., 1999). A melhoria operacional do sistema contribui com a manutenção e menores gastos. No caso das ETAs, que de fato representam "perdas consumidas" propõem-se medidas como a recirculação das águas usadas na lavagem dos filtros. A automação do sistema, reservação e distribuição aumentam, também, a confiabilidade, diminuindo erros e garantindo maior controle sobre o processo.

As medidas de controle de perdas aparentes apresentam maior acessibilidade e garantem retorno financeiro em curto prazo. Isso pode ser conseguido a partir de procedimentos realizados pelo setor comercial, como o controle eficiente do cadastro de consumidores por categoria e da manutenção preventiva dos hidrômetros. A divisão por setores de consumo permite identificar os consumos mais elevados permitindo a cobrança de tarifações diferenciadas para grandes consumidores de água.

De acordo com Costa et al. (1999), muitos hidrômetros apresentam problemas, principalmente relacionados a sua estrutura física, e não são capazes de medir todo consumo, pois parte do volume realmente consumido escoa a uma vazão inferior à mínima de operação dos medidores. Além disso, a idade dos medidores tem influência direta com seu adequado funcionamento – hidrômetros antigos (idade > 8 anos) passam

11 Entende-se por micromedição a medição do consumo realizada no ponto de abastecimento de um

determinado usuário, independentemente de sua categoria ou faixa de consumo (Alves et al., 1999). A principal forma de micromedir a água consumida se dá através dos hidrômetros localizados nas residências, indústrias e comércios.

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a indicar erros maiores de vazões. A diferença entre a somatória dos volumes medidos pelos hidrômetros e o volume real fornecido é denominado de submedição e não pode ser considerada perda real, já que a água está sendo fornecida ao consumidor, mas não está sendo micromedida (COSTA et al., 1999). Portanto, a correção e monitoramento dos micromedidores são de fundamental importância na redução dos volumes perdidos de água no sistema.

Alguns estudos foram realizados a fim de identificar a problemática dos erros provocados por hidrômetros mal calibrados ou com defeito. Utilizando hidrômetros presentes na rede local de uma cidade, Montenegro (1987) observou que na faixa de vazão entre 0 e 20 l/h o percentual de consumo era de apenas 12,7%. Costa et al. (1999), verificou que para vazões maiores, hidrômetros mal calibrados podem atingir erros de 90%.

Outro estudo avaliou o funcionamento dos hidrômetros e sua relação com o consumo de água. Conforme explicitado anteriormente, a idade dos medidores, bem como sua vazão, podem indicar níveis irreais de consumo de água. Costa et al. (1999) fizeram a troca de medidores, previamente calibrados, em 200 pontos de consumo residenciais e comerciais. Dos resultados obtidos verificou-se que a variação total no consumo antes e após a instalação não foi tão significativa (em torno de 10%). Destaca- se, deste trabalho, apesar da diferença média não ser elevada, que ocorreram casos isolados nos quais a variação no consumo médio foi elevada (em torno de 80%). No faturamento total a variação foi ainda menos significativa, pois ela acaba por expurgar os pequenos consumidores (abaixo de 10 m3/mês).

A relevância das perdas de faturamento indica que melhorias na gestão comercial e de manutenção preventiva de hidrômetros poderiam reduzi-las sensivelmente. Esse número, altamente representativo, encontra sérias barreiras para que seja diminuído. Silva (1998) coloca que o gerenciamento integrado poderia possibilitar que medidas fossem propostas e realmente atingissem suas metas. No caso do setor de saneamento, nota-se uma estrutura administrativa com alto grau de setorização, no qual, cada setor

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tem suas próprias ações, quase sempre definidas pelo gerente da subdivisão. Esse processo não facilita a adoção de políticas de forma integrada que visem à manutenção dos recursos.

O grande desafio, então, é a integração dos setores técnico, comercial (atendimento ao usuário) e de faturamento do serviço de saneamento, envolvendo: o dimensionamento do hidrômetro e o acompanhamento de sua adequação aos consumos observados (geralmente não realizado); a leitura e emissão de contas, associada a uma política de cortes de inadimplentes (nem sempre existente); e a manutenção preventiva de hidrômetros, por intermédio de acompanhamento de seu desempenho no tempo, feito por análises de consumo, de idade e dos volumes totais medidos (frequentemente não realizada).

Portanto, especial atenção deve ser dada, quanto às perdas de faturamento, ao cadastro de consumidores e sua permanente atualização, bem como à política de micromedição e manutenção preventiva de hidrômetros.

É importante destacar que medidas no intuito de controlar as perdas de água possuem maior viabilidade quando são realizados procedimentos direcionados aos diversos subsistemas do serviço de abastecimento de água. Para isso, o monitoramento deve atingir toda a estrutura da instalação desde a captação e adução da água bruta, passando pelo tratamento na ETA, reservatórios, adução de água tratada e na rede de distribuição. Aplicando medidas neste sentido, Viegas (2006) obteve como resultados diminuição do volume produzido, das horas de operação da ETA e do consumo de insumos para o tratamento como energia elétrica e produtos químicos, com índices de 15% a menos de perdas.

O fator custo tem papel preponderante na decisão das medidas e ações para o controle das perdas. Existe um nível ótimo e viável de redução das perdas e cada concessionária estabelece uma flexibilidade dentro de sua receita anual. Destaca-se a viabilidade econômica na adoção de medidas de controle de perdas. A Figura 7 apresenta a viabilidade econômica quando adotadas medidas controladoras de perdas.

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Figura 7: Viabilidade de medidas de redução de perdas Fonte: Gomes (2005)

O que se pode observar na Figura 7 é que em termos de viabilidade econômica, acima do nível 2 as ações de combate às perdas são economicamente viáveis, de forma que os benefícios diretos superam todos os custos envolvidos no programa de diminuição de desperdícios. Entre os níveis 2 e 1, os benefícios diretos não superam os custos. Nesse aspecto, essa faixa se torna viável a partir da consideração ambiental no que tange a manutenção e conservação dos recursos hídricos. Abaixo do nível 1 situam os índices de perdas inevitáveis, que ocorrem em todos os sistemas e que, economicamente, não se torna viável combatê-las. O nível 1 geralmente comporta faixas de 10% de perdas (GOMES, 2005).

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